A Farsa
img img A Farsa img Capítulo 3 A mesma vida
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Capítulo 6 Um estranho img
Capítulo 7 Pega img
Capítulo 8 Peso na consciência img
Capítulo 9 Especial img
Capítulo 10 Amada img
Capítulo 11 Passado & Presente img
Capítulo 12 O anel img
Capítulo 13 Mentindo mais um pouquinho img
Capítulo 14 A verdade img
Capítulo 15 Descobrindo aos poucos img
Capítulo 16 Mentirosa img
Capítulo 17 Armadilha img
Capítulo 18 Vou embora img
Capítulo 19 Forte img
Capítulo 20 Sua img
Capítulo 21 Sua Ametista img
Capítulo 22 Despedida img
Capítulo 23 Esquecida img
Capítulo 24 Todo mundo mente img
Capítulo 25 A verdade sempre aparece img
Capítulo 26 Surpresas img
Capítulo 27 Segunda chance img
Capítulo 28 Sempre sempre sempre img
Capítulo 29 Epílogo img
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Capítulo 3 A mesma vida

Voltei ao camarim exausta, madame Bovary veio ao meu encontro com um robe de seda negra.

- Rainha, você estava divina! Até eu que nunca fui chegado na fruta, tenho que admitir que hoje você estava excitante.

Encarei a drag queen parada a minha frente, era uma linda mulher, os olhos bem delineados, os cílios postiços de uma coloração azulada pareciam cortinas no rosto dourado, aquilo sim era uma maquiagem perfeita.

- Ah eu sempre fui assim, esforçada.

- Esforçada pode ser, mas você tem certo distanciamento do público, mon amour, hoje foi diferente. Hoje a sua alma estava naquele palco. E foi lindo de se ver.

- Para de falar besteira!

- Besteira o caralho, sou madame Bovary, diva do show adulto. Dona do Burlesco. Rainha da porra toda. Se eu digo que foi incrível , você sorria e aceite...

- Modesta e humilde.

- E gostosa... Não se esqueça disso, rainha.

- Me dá uma carona?

- Claro.

Terminei de me trocar, e fui para o estacionamento. Madame dirigia como um piloto de fuga. Fomos cantando Lady Gaga durante a volta, eu amava estas caronas. Cheguei em casa e liguei o celular.

- Mensagem recebida.

"Bons sonhos, minha, só minha loira".

Mordi os lábios, o que estava sentindo era um sentimento avassalador, desejava demais estar com Miguel, ao mesmo tempo em que morria de medo de perdê-lo.

Era tão recente, e descompromissado. E ainda assim perfeito.

Mesmo sabendo que não era para mim, eu não conseguia dizer não e me afastar. Então comecei a contar pequenas mentiras.

"Saudades, meu grandão, aliás, preciso saber se é todo grandão mesmo" - mensagem enviada.

- Mensagem recebida.

"Essa minha namorada, acordada a essa hora pensando na extensão do meu tamanho, hahaha parece que a noite faz minha gatinha virar uma onça".

"Vou dormir pensando em outras formas de saber isso, beijinhos" - mensagem enviada. - Mensagem recebida.

"Eu só vejo uma, mas não se preocupe, terça-feira você saberá e nunca mais esquecerá, te adoro minha loira, um beijo e durma bem".

Fiquei um bom tempo rolando na cama até pegar no sono, apesar de estar muito cansada, minha mente estava em um turbilhão.

Prometi a mim mesma que eu ficaria com ele até terça-feira, nesse nosso encontro eu mataria todo o tesão que sentia por ele, e romperia de vez com aquilo. Eu precisava tê-lo. Depois disso dormi um sono sem sonhos e revigorante.

A quinta-feira passou rápido, assim como a sexta. Já o fim de semana me deixou mal-humorada, fui visitar minha mãe e não me deixaram entrar, só vê-la através do vidro. Mamãe estava entubada novamente, pegou uma infecção que segundo os médicos já estava controlada. Toda vez que eu a visitava eu me lembrava de que era impotente, por mais que eu batalhasse pelo tratamento, remédios e tudo que pudesse aumentar e melhorar a qualidade de vida dela, eu não podia fazê-la acordar.

Voltei para casa, mais uma vez com o coração na mão. Queria um abraço do meu bonitão. Porém com Miguel de plantão e eu de folga, dificultava.

Queria vê-lo, porém tinha consciência de que se eu ficasse com ele o tempo todo, me apaixonaria fácil.

Quando o domingo terminou constatei que era a primeira vez na vida que fiquei feliz por ser uma segunda-feira, fui trabalhar com gosto.

Cheguei à lanchonete cinco minutos antes do meu horário, lavei o chão, coei o café e vi Patrícia correr com o avental ao entrar atrasada.

- Loira, peguei um ônibus que não andava.

- Imagino. Seu Clóvis não está.

- Ótimo. Assim não emenda com a bronca de ontem.

- O que aconteceu ontem? - me aproximei curiosa.

- Helena foi pega dando para um médico, no estoque.

- Que médico? - não vou negar que um fio de medo subiu pela minha espinha.

- Doutor João, aquele negão absurdamente gostoso.

- Sei quem é - suspirei aliviada.

- Ficou com ciúmes do bonitão? - ela gargalhou - Loira nunca vi esse homem olhando ninguém, nem ouvi boatos na rádio corredor. Quer dizer o povo agora fala de vocês dois.

- Fala o quê?

- Que tá rolando - ela esfregou uma mão na outra num ar de pura malícia.

- Bom dia - a voz dele encheu a sala.

- Bom dia - o sorriso que se estampou na minha cara foi involuntário.

- Como você está? - ele aproximou-se de mim - Eu senti saudades.

- Eu também.

- Porque não veio me ver? Você sabia meus horários de pausas.

- Achei melhor que você dormisse.

- Eu senti que você não está mais com vontade de ficar comigo.

- Estou sim, você sabe que estou.

- Como foi seu final de semana? - quando aqueles olhos escuros pousaram em mim, eu me sentia como uma fogueira crepitando.

- Dormi de dia, trabalhei à noite.

- Pensei que não tinha trabalhado fim de semana.

- Fim de semana que é mais puxado.

- Sério? - ele arregalou os olhos - Pensava que os pais preferiam ficar com as crianças aos finais de semana.

- Não. É difícil ter folga de sábado e domingo. - me doeu dizer aquela mentira, aliás, mentir para ele era doloroso.

- E teve alguma novidade sobre o caso de sua mãe?

- Na mesma, fui visitá-la. Desta vez não pude entrar. Não vejo a hora de isso terminar.

- Quer que eu vá até lá? Eu consigo um quadro clínico. Meu pai... Ele... Bem, ele trabalha neste hospital.

- Você faria isso por mim?

- Eu faria tudo por você.

- Ih - interrompeu Paty - Parece que alguém vai casar.

- Meu Deus, Patrícia você não cansa? - casamento não podia ser pauta.

O que sentíamos um pelo outro, era atração sexual, quando transássemos passaria.

- Quem sabe do futuro? - Miguel beijou minha bochecha com malícia evidente.

- Vá trabalhar Miguel.

- Me dá um tesão louco quando você chama meu nome.

Ele saiu sem nem tomar o café, e eu fiquei molhada só de ouvir aquela voz maravilhosa.

À noite não o vi quando saí, fui direto para o trabalho. Trocariam o mastro do pole dance e Bovary queria que eu visse se o serviço fora bem executado.

- Rainha, vem ver.

Madame me levou para dentro pela mão, o palco teve seu tapete preto trocado por um de tom vermelho. Estava bem mais bonito, devo admitir.

Subi e fui até o mastro dourado, dei alguns rodopios e sentei-me no chão.

- Rainha hoje não terá ensaio, as outras meninas foram dispensadas, mas eu queria que você visse.

- Está lindo.

- Ótimo, vamos pra casa então... Meu celular tocou enquanto nos despedíamos, olhei o visor, era meu bonitão.

- Linda? Estou saindo do hospital agora, vamos nos encontrar?

- Pode ser.

- Onde eu posso te pegar?

- Vai me pegar é? - pude ouvi-lo rindo do outro lado da linha.

- Se você quiser...

- Besta, estou perto da Rebouças, me encontra perto da casa de aulas de música?

- Chego em uns vinte minutos.

Madame Bovary me encarou, porém não falou nada, desci correndo e fui caminhando apressada até nosso ponto de encontro.

Não o esperei mais que dez minutos, Miguel estava lindo, como sempre, entrei no carro, sentei-me no banco do carona, demos um selinho rápido.

- Vamos para minha casa?

Acenei concordando com a cabeça, pude sentir sua mão em minha coxa e fiquei úmida.

Seria naquela noite, se bobear naquele carro.

            
            

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