A Farsa
img img A Farsa img Capítulo 4 Talvez seja amor
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Capítulo 6 Um estranho img
Capítulo 7 Pega img
Capítulo 8 Peso na consciência img
Capítulo 9 Especial img
Capítulo 10 Amada img
Capítulo 11 Passado & Presente img
Capítulo 12 O anel img
Capítulo 13 Mentindo mais um pouquinho img
Capítulo 14 A verdade img
Capítulo 15 Descobrindo aos poucos img
Capítulo 16 Mentirosa img
Capítulo 17 Armadilha img
Capítulo 18 Vou embora img
Capítulo 19 Forte img
Capítulo 20 Sua img
Capítulo 21 Sua Ametista img
Capítulo 22 Despedida img
Capítulo 23 Esquecida img
Capítulo 24 Todo mundo mente img
Capítulo 25 A verdade sempre aparece img
Capítulo 26 Surpresas img
Capítulo 27 Segunda chance img
Capítulo 28 Sempre sempre sempre img
Capítulo 29 Epílogo img
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Capítulo 4 Talvez seja amor

Chegamos a casa dele por volta das dez da noite, aliás, na verdade era um apartamento modesto, porém extremamente pessoal. Havia um casaco de lã cinza pendurado em uma cadeira, podia lembrar-me de o vê-lo usando várias vezes.

Havia um sofá de chenile azul escuro encostado à janela que ele logo abriu, e na sequência o observei procurando o controle da televisão.

- Escolhe um canal que você goste, eu vou tomar uma ducha, rapidão.

O vi saindo da sala em direção ao que julguei ser o banheiro. Quando ouvi o som do chuveiro vi que estava certa. Suspirei olhando o casal que se beijava no aparelho de TV. E decidi ir até lá, se era tesão o que eu sentia eu mataria minha vontade e depois seria vida que segue.

Inspirei todo o ar que estava naquela sala e fui até o banheiro. Tirei o casaco que usava, assim como a calça, abri a porta, pude observar o corpo másculo através do vidro embaçado do box. Fui até lá e bati.

- Gata - os olhos castanhos estavam surpresos -Tudo bem?

- Cabe mais um aí?

Antes que Miguel tivesse tempo de responder abri o box e entrei, a água estava numa temperatura deliciosa, fechei os olhos e senti meus cabelos se molhando assim como a camiseta que eu usava.

Não demorou muito para que ele se aproximasse de mim, e me envolvesse em seus braços, podia senti-lo duro contra minha bunda, e agradeci mentalmente a Deus estar debaixo de um chuveiro, pois estava encharcada.

Quando a boca dele se colou em meu pescoço, gemi baixinho, eu precisava ter aquele homem. Minhas roupas pareciam desintegrar diante daquelas mãos, ficamos um bom tempo nus, apenas trocando beijos famintos.

Ajoelhei-me diante dele e o coloquei em minha boca, e posso dizer que ele era todo grandão. O chupei com gosto enquanto passava a mão pelo seu tanquinho.

- Aqui não - Miguel me ergueu e saímos do banheiro.

Fiquei um pouco surpresa, mas logo entendi ele era muito grande para fazermos qualquer coisa no banheiro, o bonitão era espaçoso.

Apesar de ele ser pesado não posso dizer que foi incômodo tê-lo sobre mim. Quando ele parou de beijar meus lábios e concentrou aquela língua na minha boceta, eu descobri que aquilo era ainda melhor que qualquer uma das minhas lembranças.

- Miguel assim você vai acabar comigo.

- Ainda nem comecei.

O vi levantar-se e pegar um preservativo, fiquei em suspenso o admirando colocá-lo.

Depois Miguel voltou a ficar por cima, e quando ele me penetrou foi como se minha virgindade tivesse voltado, doeu, ardeu, porém não voltei atrás, mexi meu quadril para que ele entrasse inteiro.

Apesar da minha pressa ele foi muito carinhoso, movimentava-se suavemente enquanto beijava as pontas dos meus dedos.

- Andreia, está doendo? - neguei com a cabeça - Então relaxa.

Realmente estava muito tensa, suspirei fundo, só então pude senti-lo duro contra as paredes de minha boceta, ah e a sensação de ser preenchida era maravilhosa, nos beijamos enquanto pegávamos um ritmo perfeito, a cama de casal rangia levemente e isso me excitava ainda mais.

Quando eu pensei que gozaria, Miguel saiu de dentro de mim, e passou a esfregar levemente seu pau na minha entrada, eu gemia baixinho, ao mesmo tempo em que o queria estocando, aquele quase orgasmo me envolvia, podia sentir o lençol molhando devido ao tesão que me dominava.

Porém não pedi por mais, como eu tinha plena certeza de que quando acabasse aquela noite perderíamos contato, então, que cada momento virasse lembrança.

Gozei no papai e mamãe, entretanto meu médico queria mais, me colocou de quatro perto da beirada da cama, e me penetrou, sua mão direita foi direto ao meu clitóris, o esfregando com seu indicador, me levando a uma área inédita, eu não sabia o que era mais prazeroso, tê-lo dentro de mim, ou a pressão que aquele dedo fazia sobre mim.

- Miguel - gritei no momento em que meu corpo virou palco para as contrações mais diversas que o sexo permite ao corpo feminino.

Deitei a cabeça na cama e mantive meus quadris erguidos, isso o fez acelerar o ritmo e atingir o ápice.

- Andreia, oh como sonhei com isso, mas seu cheiro é muito melhor do que qualquer sonho.

- Assim vou acabar acreditando.

- Não se ofenda, mas você é muito gostosa, queria dizer outra palavra, mas gostosa combina com você, com seu cheiro, com o movimento de seus quadris.

- Não me ofendeu me sinto gostosa com você, além do mais, você também é gostoso, valha-me Deus, que barriga é essa?

- Minha segunda paixão, academia. Malho pelo menos três vezes por semana, além de manter a forma, alivia a tensão da medicina.

- Sabemos tão pouco um do outro.

- Não faz mal, tempo de descobrir não faltará.

Encarei o rosto dele à meia luz me dei conta de que o que eu sentia aumentou, pensei seriamente em contar a verdade, porém o medo de ver aquele sentimento ir embora me calou.

Não que isso justifique, mas estava há muito tempo sozinha. Era muito bom ser vista como uma mulher, os homens que me olhavam com desejo enquanto estava em cima do palco dançando, não me viam como pessoa, na verdade eu era um objeto, um corpo bem feito associado a um rosto angelical, o que dava a mistura exata da luxúria. Era isso que viam em cima do palco, uma mulher perfeita para ser depósito de porra.

Miguel foi o primeiro homem para quem olhei em muitos anos, e era incrível o fato dele ter me olhado de volta. Eu faria tudo para não o perder, até mesmo mentir.

- Está tão quieta...

- Cansada. Culpa sua.

- Cansou com tão pouco? Uma moça tão jovem parecendo bem-disposta... devo confessar que esperava mais de você.

- Não seja bobo. - Puxei o lençol sobre meus seios, de modo a ficar coberta.

- Não faça isso, não se cubra. Já que está tão cansada, quero admirar você. Naquele momento Andreia sumiu, eu era Ametista, puxei o lençol vagarosamente, de maneira quase inconsciente. Expus um seio, depois o outro. O olhar dele me indicava que consegui prender a sua atenção, segurei o tecido sobre meus quadris e fiquei de pé na cama.

Miguel permaneceu sentado na beirada do móvel, ergui meu pé direito e o apoiei em seu ombro, só então soltei o lençol, o olhar dele pairou sobre minha boceta, que estava devidamente depilada, meu sexo ficou muito próximo do seu rosto.

Ele então se virou rapidamente e deitou a cabeça no travesseiro, podia ver a ereção rosada e me preparava para sentar-me sobre ela, porém para minha surpresa ele me puxou.

- Gata você vai sentar sim, mas aqui - ele levou o indicador até a boca.

Fiquei um tempo tentando me acostumar com a ideia, entretanto Miguel me puxou e instintivamente pousei meu sexo sobre aqueles lábios hábeis, a barba roçando contra a minha pele, foi como uma descarga elétrica. Segurei-me na cabeceira da cama e mantive meus quadris erguidos para que sua língua pudesse trabalhar.

Pela primeira vez em anos eu estava inteira em um lugar, meu pensamento não vagava. Tentei me conter, porém quando ele me penetrou com a língua, a única coisa que me restou foi gritar seu nome.

Estava trilhando um caminho sem volta.

O sentimento entre nós começou a crescer de modo significativo, volta e meia eu faltava no Burlesco para ficarmos juntos, fazíamos amor e conversávamos sobre o passado, o que fizemos e de onde viemos, logo soube que não seria tão simples e que minhas mentiras teriam um efeito potencializado. Foi quando Miguel me contou sobre sua família.

- Já fui noivo, mas mais por convenções do que por amor.

- Convenções? - não entendi do que ele falava.

- Sim, meu pai me pressionou por anos para namorar a filha de um sócio, quando dei por mim estávamos de casamento marcado.

- Sócio do seu pai?

- Sim, eu sou filho do grande cirurgião Hamilton Arraes, o mais velho de seus três ilustres filhos, o que ele mais sente vergonha - fiquei sem entender, não conseguia ligar o nome à pessoa - Ah, que expressão deliciosa, não conhece os Arraes.

- Não, na verdade - forcei o sotaque - Eu sou uma moça caipira recém- chegada do interior.

Meu bonitão riu enquanto passava uma mecha dos meus cabelos para detrás da orelha, quando ele me olhava assim de pertinho, eu sentia uma coisa que não sabia explicar, um nervoso gostoso, uma tensão agradável.

- Tão linda, como conseguiu ser invisível para tanta gente por dois anos? Nem mesmo os médicos te conhecem direito, lembram apenas vagamente.

- Ah Miguel, eu sou só uma como tantas.

- Duvido, você é linda. Do tipo que pode enlouquecer um homem, tem um corpo perfeito...

- Eu não quero enlouquecer os homens... - foi estranho falar algo que era tão real. Eu não queria isso, mesmo gostando de dançar, eu me sentia uma artista e não uma mulher fatal.

- Ainda bem, para mim pelo menos.

Beijamo-nos com calma, a boca dele preenchia a minha, a língua com gosto de café era como um bálsamo aliviando todo e qualquer sofrimento.

- Fiquei pensando... e se eu fosse realmente gostosa neste nível?

- Você é gostosa neste nível, mas é uma moça batalhadora, mesmo com a mãe doente, não usou a sua aparência como meio de ganhar dinheiro. Eu tenho uma admiração muito grande por você, queria ter metade da sua garra.

Engoli em seco, e puxei o lençol sobre os meus seios, como se com aquele gesto pudesse me esconder e fingir que Ametista não existia.

- É, não seria legal trocar a filha do sócio do seu pai por uma qualquer.

- Meu pai é tudo que não desejo ser, sabe? Ele visa o lucro imediato, a medicina para ele é um poço de petróleo. Ele é muito bom no que faz.

- Não entendi.

- Hamilton Arraes poderia ajudar muita gente, poderia ensinar técnicas e dar treinamentos para que outros médicos pudessem se equivaler a ele. Mas não, meu pai colocou o dinheiro na frente de tudo. Mas eu só falo de mim, e seu pai?

- Faleceu no mesmo acidente que deixou minha mãe em coma.

- Você era menor de idade? - vi nascer nos olhos dele a mesma compaixão que via em outros olhares.

- Tinha dezoito, mas foi um baque mesmo assim.

- Mas seus pais tinham um bom dinheiro guardado, o hospital não é nada

barato.

- Vendi tudo e como não tinha uma boa qualificação profissional virei garçonete.

- Eu te amo, precisava dizer isso.

- Eu também te amo Miguel, lembre-se disso.

- Se eu pudesse, apagaria este pedaço da sua vida, ou pelo menos estaria lá ao seu lado. Ninguém merece passar por isso, ainda mais sozinha.

- Não fala essas coisas para mim, eu não posso me apegar a ninguém, eu preciso cuidar da minha mãe.

- Gatinha, eu sou médico, eu posso cuidar da sua mãe. Meu pai é dono de lá, só que você precisa saber de algo chato, não contarei nada sobre nós ainda. Quando meu pai souber vai querer procurar coisas na sua vida que nos separem, se ele não achar vai te mostrar coisas da minha.

Aquelas palavras foram como um soco no meu estômago, e fui invadida por um sinal de alerta, minha mãe estava no hospital da família dele, não havia outro na cidade que pudesse recebê-la no estado em que se encontrava. Se Miguel descobrisse, ou pior, se o pai dele soubesse sobre Ametista aquilo poderia prejudicar minha mãe.

- Miguel eu preciso ir...

- Não precisa, você acabou de dizer que me ama, a única coisa que deve fazer é ficar comigo.

- Não acho que devemos ficar juntos, somos de mundos diferentes, sua família é rica, e eu não tenho nada...

- Você disse bem, minha família é, eu não. Eu sou um médico que trabalha no serviço público, tenho um apartamento modesto e do tamanho de um ovo, um carro parcelado. Não tenho muito a oferecer, mas quero te dar meu ombro... Para sempre.

- Miguel eu não posso me envolver com você, minha mãe suga muito tempo...

Ele me calou com um beijo tórrido, aquele contato me privava dos meus pensamentos, quando ele me tocava era como se meu corpo lembrasse de que eu pertencia a ele, não devia, não queria, porém ele era a peça que faltava em meu destino.

- Andreia, eu sei que você está acostumada à solidão, o baque com a morte de seu pai, o estado de sua mãe, a isolaram do mundo, e eu quero te trazer para fora.

- Você não entende... Não é isso, na verdade eu...

O telefone dele tocou e eu percebi que estava quase contando tudo para Miguel, meu peito parecia que ia explodir, respirei fundo e comecei a me vestir.

Fixei os olhos no meu All Star rosa jogado ao lado da cama e meu pensamento foi de quão velhas minhas coisas estavam, aquele tênis, por exemplo, estava mais batido que tambor de escola de samba. Ametista não me trazia nada, só o tratamento da minha mãe, então não podia abrir mão dela, se eu me abrisse ele não olharia para mim nunca mais. Sei que era o certo a se fazer, mas olhando para ele fazendo caretas ao telefone, vi que não poderia perder Miguel, estava em uma encruzilhada e, pior, o despacho era eu. Fixei meus olhos no teto, esperando uma solução divina, um milagre, qualquer coisa que ajustasse minha vida da forma menos dolorida possível.

Voltei a olhar para meu bonitão, ele parecia discutir com a pessoa do outro lado da linha, porém ao olhar para mim deu um sorriso de canto de boca, meu coração acelerou de maneira suave, ao mesmo tempo em que meu estômago respondeu com um frio na barriga que só tinha um significado, eu realmente o amava, física e emocionalmente. Não havia mais o que fazer, eu mentiria até ser pega, afinal era só

um trabalho honesto como outro qualquer, apesar das propostas que volta e meia chegavam, eu nunca fiz ou faria um programa.

Desde o acidente, ele era o primeiro homem a me tocar, o vi desligar o telefone e sentar ao meu lado, senti saudades dele, mesmo estando ao seu lado, era como um distanciamento, como se meu corpo já previsse o fim, então passei a gravá- lo em minha mente.

Então quando meu bonitão me beijou, minha alma retribuiu.

- Nossa, que furacão essa minha gatinha.

- Miguel promete que vai lembrar que eu te amo?

- Hoje faz três meses que eu te beijei pela primeira vez, está tudo indo tão rápido, ao mesmo tempo em que está tão certo...

Foi minha vez de beijá-lo, ele sorriu quando montei nele.

- Tenho que estar no hospital em três horas, gatinha.

- Então tenho duas horas!

Tirei a blusa e ele me apertou em seus braços, podia senti-lo duro embaixo de mim, a boca dele se colou em meu seio direito assim que tirei o sutiã, as suas mãos desceram pelas minhas costas, senti toda minha pele arrepiar-se.

Quando dei por mim, estava por baixo dele, nua.

Nos amamos com calma, mesmo com o tempo contado, Miguel estocava suavemente, me preenchendo, com constância.

Éramos fluidos e contrações, ele mordeu meu ombro com força, me trazendo de devaneios para o lado físico da coisa. Nossos quadris se chocavam em um ritmo perfeito, éramos um, cada vez que ele entrava firme dentro de mim, e valia a pena mentir para ter aquilo.

- Eu vou para o hospital, tenho uma cirurgia de última hora, parece que doutor Pietro faltou, devo voltar em quatro ou cinco horas, por volta do meio dia, se quiser ir cedo ver sua mãe tudo bem, mas eu ficaria muito feliz se me deixasse te levar.

Ele beijou-me antes de sair e eu fui xeretar, mexi praticamente em tudo, vi algumas fotos dele com a família, a coleção de livros policiais, os CDS do U2. Conheci um pouco mais daquele homem todo grandão de vinte e oito anos.

Depois voltei para a cama e adormeci envolta em seu perfume amadeirado, sonhei que mamãe estava acordada na hora da visita, fiquei duplamente encantada, pois poderia deixar Ametista e ser feliz. Acordei sobressaltada, e chorei ao perceber que era um sonho, Miguel veio até a cama.

- Gatinha o que foi? Fala comigo.

- Sonhei com minha mãe - mudei sutilmente de assunto - Você disse que iria demorar...

- Andreia, o paciente entrou em óbito antes de eu chegar ao hospital. Tive que ir até lá, conversar com a esposa, dar a notícia, essa é a pior parte da medicina. Voltei você estava dormindo, fiquei na sala assistindo TV.

Chorei mais ainda, se minha mãe morresse eu ficaria sozinha, Miguel não ficaria comigo para sempre.

- Amor, não tem nada a ver com o caso da sua mãe, não precisa ficar assim.

- Pareço uma chata chorona né?

- Não, eu entendo você...

- Será que entende mesmo?

-Você quer me contar alguma coisa? Tem algo que eu não sei?

- Tem sim - suspirei fundo antes de falar.

Miguel ajoelhou-se em frente à cama, os olhos castanhos estavam calmos, quando ele olhou nos meus, então o medo de ele me deixar, invadiu minha cabeça, eu sempre fui uma moça romântica, durante toda minha vida eu desejei um amor desses que atropela a gente e agora que eu tinha achado não poderia ser meu.

- Estou esperando pode falar.

- Eu... Eu... Eu te amo muito. É isso.

Ele puxou-me para ele, como se eu fosse muito pequena. O apertei com toda a força que tinha em meu corpo.

- Eu também te amo muito.

Sei que aquele era o momento para eu ser sincera, infelizmente o medo de perdê-lo para sempre sufocou minhas palavras. E tê-lo em meus braços me colocou no caminho da mentira.

Uma das coisas que a vida me ensinou foi que não posso dizer que nunca farei algo, há três anos eu desprezava as dançarinas e strippers, para mim eram todas prostitutas e não mereciam respeito. Eram produtos e não seres humanos, mas depois de a vida me olhar nos olhos e me dar uma rasteira, eu passei a entender que somos todos iguais e que não podemos julgar as pessoas, pois nunca saberemos o que as levou até onde estão e menos ainda aonde o caminho que ela traçou a levará.

A Andreia de três anos atrás era uma adolescente descobrindo o amor, experimentando o sexo, contando mentirinhas inocentes para ver o namorado, que mulher nunca fez isso?

Todas fazem, mas no meu caso a punição ficou maior que o crime, se é que havia um crime.

Minha fé em Deus ficou muito abalada, desde o início eu pensava que se era para meus pais partirem porque o acidente não foi na volta, comigo dentro do carro.

- Não fique pensando besteira - Miguel me trouxe de volta à realidade - Consiga uma folga hoje, preciso te levar em um lugar.

- Mas e a minha mãe? É o dia de visitas e eu...

- Eu vou te levar para a visita, de lá saímos. Diga aos seus patrões que é um caso de vida ou morte...

- Você não vai me apresentar para ninguém né? - Senti meu corpo congelar - Porque não tenho condições de conhecer...

- Não, eu vou te levar em um lugar.

- Não pode ser amanhã? É que hoje...

Vi a decepção nos olhos dele, e aquilo mexeu demais comigo, peguei o celular na cabeceira da cama e liguei para o telefone de Madame Bovary, ela transitava entre o masculino e o feminino, costumava me dizer: para que se escolher um gênero se pode ter-se os dois?

- Madame?

- Bovary - a voz vacilou - Rainha, tudo bem?

- Hoje eu não posso ir trabalhar...

- Tudo bem com a rainha Mãe?

- Sim, quer dizer, estou saindo agora para a visita.

- Andreia - o tom de censura estava implícito na voz - Tem um boy nisso?

- Tem, mas...

- Curta seu boy, eu peço para Vicky fazer o número de hoje. Juízo...

Ela desligou o telefone, detestei tratá-la como um homem, porém tive receio de que Bovary chamasse a atenção, eu então olhei para Miguel que estava em expectativa.

- Consegui a folga.

- Ótimo. Falta quanto tempo para a visita da sua mãe?

- Duas horas.

- Vamos tomar um banho juntos?

Ele não precisou falar duas vezes, tirei a blusa de frio que usava e fiquei apenas de calcinha, observando Miguel despir-se, o abdômen era trincado, havia uma penugem loira fazendo o caminho da felicidade, a cueca boxer continha, no entanto não escondia o volume, as coxas másculas e firmes eram de dar água na boca, as panturrilhas não deixavam a desejar, e os pés grandes me mostravam que havia um macho no recinto, meus olhos voltaram aos seus, e pela sua expressão posso dizer que ele também me examinava.

Ao invés de eu ir para o banheiro, sentei-me na beirada da cama, afastei minha calcinha de lado e comecei a masturbar-me com ele parado ao canto. Miguel parecia hipnotizado por meus dedos brincando com meu clitóris, abri um pouco mais as pernas e enfiei o indicador e o médio na minha boceta, que estava extremamente molhada, podia sentir a minha respiração alterada, mas continuei com aquela deliciosa provocação, cada vez mais fundo, o volume em sua cueca me fazia gemer, e aquilo era um círculo vicioso.

Miguel passou a acariciar o pau por cima da cueca, enquanto eu mordia os lábios, aquele ritual não durou muito, logo ele tirou o membro para fora e começou um movimento de vai e vem.

- Está brincando comigo - a voz era rouca e descompassada.

- Vem cá!

O chamei e ele veio, logo éramos um, a cama rangia diante da fúria com que Miguel me penetrava, suas mãos firmavam-se em meus quadris, enquanto seu pau surrava minha boceta sem dó, ele me ergueu em seus braços, ainda dentro de mim, me encostando junto à parede e me deixando a sua mercê.

Nunca senti tanto tesão como naquele momento, estava despudorada e implorava por mais e era recompensada, ele era grande o suficiente para me preencher e sobrar, mas agora aproveitava o fato de estarmos em pé para entrar por inteiro, não vou dizer que não doía, porque de certa forma machucava, e naquele momento soube o que era a palavra foda. E posso dizer que fui bem fodida.

Gozei encostada a seu corpo, mas ele não parou, continuava indo cada vez mais forte.

Para minha surpresa ele de repente me soltou de seu corpo e me depositou na cama, ele foi até a mesinha de cabeceira e pegou um preservativo, enquanto ele abria a embalagem fiquei observando o membro ereto e rosado, a cabeça era no formato de cogumelo e apesar de forte não havia veias visíveis, me dei conta de que estava apaixonada por aquela parte dele também. O queria dentro de mim, sempre. E não me importaria com a entrada que fosse escolhida.

Adormeci em seus braços e tentei agir o mais natural possível pela manhã seguinte, mas isso não seria possível.

- Eu estou completamente apaixonado por você - tive que sorrir enquanto colocava o cinto de segurança, ele era a perfeição.

- Não gosto nem de pensar que vamos... Podemos nos separar.

- Quer me largar?

- Para onde você vai me levar? - mudei de assunto.

- Você vai ver, gatinha.

Ele dirigia com cuidado e destreza ímpar, a mão direita descansava na minha coxa esquerda, fazendo uma espécie de carinho inconsciente, eu amava aquele gesto. Não precisei explicar o caminho, pelo contrário, Miguel me mostrava atalhos. Meu bonitão parou o carro numa rua próxima.

- Te espero aqui, gostosa. Não acho que o hospital é um bom lugar para te apresentar.

O beijei com desejo e desci do carro, caminhei até a entrada principal, palmeiras bem posicionadas faziam a fachada ter um ar alegre, entrei no ambiente que para variar tinha uma temperatura perfeita. Entreguei meu RG e subi com o cartão magnético destinado às visitas.

Lorena veio ao meu encontro, a médica cuidava do caso de minha mãe há bastante tempo, a morena de tez clara parou na minha frente, pelo sorriso estampado em seu rosto bem feito, vinham por ali boas notícias.

- Andreia, eu pensei em te ligar, mas como hoje é dia de visitas, achei melhor que você visse.

A médica abriu a porta e eu entrei, mamãe dormia, até ali não vi nada demais, mas a doutora ergueu o lençol, e enfiou a unha de seu dedão na parte inferior da planta do pé de mamãe, e ela contraiu o membro, mostrando que sentiu dor.

Arregalei os olhos, era o primeiro sinal de vida que dona Laura apresentava desde o acidente.

Quando dei por mim estávamos Lorena e eu abraçadas, com lágrimas nos olhos.

- Doutora, eu mal posso acreditar. Será que a minha vida vai pra frente?

- Claro que sim. Essa dedicação que você tem pela sua mãe, que é mais comum que os pais tenham pelos filhos, será recompensada. Agora eu vou sair e ver um paciente no final do corredor.

Ficamos a sós, mamãe e eu, as máquinas que garantiam sua sobrevida estavam desligadas, tentava manter meus pés no chão, mas era impossível não sonhar com a liberdade que o acordar dela me traria.

- Mãe eu estou namorando, nunca estive tão apaixonada em minha vida.

Eu contava tudo para minha mãe, queria que ela soubesse que ela continuava sendo minha melhor amiga, porém, eu nunca falei sobre Ametista, eu achava que se minha mãe ouvisse como eu ganhava dinheiro, ela nunca mais acordaria.

- O nome dele é Miguel, como o arcanjo, nunca conheci ninguém tão bonito feito ele... Ah ele é médico, neurocirurgião dos bons.

Doutora Lorena voltou ao quarto, pegou o prontuário na beirada da cama e anotou algo na prancheta que carregava, depois tirou um pequeno tablet do jaleco e digitou algo.

- Está feliz Andreia?

- Muito, parece que as coisas estão voltando ao normal...

- Seus esforços estão começando a serem recompensados, não foi à toa - Um frio gelado percorreu minha espinha, não era possível que ela soubesse, olhei nos olhos dela e tive certeza de que Lorena sabia da minha vida dupla.

- Eu... - chorei feito um bebê.

- Calma, não há motivos para tristeza, hoje é dia de alegria, você tem alguém para comemorar?

- Meu namorado está lá fora me esperando.

- Saiam para comemorar... Agora é só manter e evoluir...

Sai do hospital com um sorriso tão grande que deu cãibras na minha bochecha.

Quase corri até o carro, Miguel destravou a porta e eu entrei.

Contei para ele tudo, e ele pareceu se espantar com o progresso, falei para ele que a doutora Lorena estava muito otimista e notei que ele ficou pálido e visivelmente constrangido.

- Hum, que boa notícia.

- Miguel quem é Lorena?

- A médica responsável por sua mãe...

- E sua o quê? Ex? Por que tenho certeza que a conhece! - estava com ciúmes, e aquilo era horrível, como eu competiria com ela? Lorena era linda e parecia saber sobre Ametista.

- Eu não quero falar sobre Lorena, que saco - destravei o cinto e me preparava para descer do carro - Irmã, Lorena é minha irmã, agora vamos parar?

Fiquei em silêncio, a irmã dele sabia, meu corpo parecia ter sido penetrado por milhares de agulhas, agradeci a Deus por ele não ter entrado, e o pior, comecei a torcer para que ele nem falasse com a irmã, me senti horrível com este sentimento de desunião que me arrebatou.

Entretanto, meus desejos não foram atendidos, o celular dele tocou, ele atendeu pelo volante e a voz da minha cunhada invadiu o carro, enquanto eu afundava no banco do carona.

- Mano vamos nos ver hoje? Estou de folga depois das seis...

- Ih mana, estou com minha namorada.

- Leva ela lá, o Guilherme vai para casa mesmo, a gente pede pizza - desejei morrer naquele momento.

- Tem como não, vou fazer uma surpresa para ela, mas oportunidade não

faltará.

- Que bom, estou muito curiosa para conhecer a mulher que colocou cabresto

em Miguel Arraes.

- Você já conhece - ele me piscou um olho e eu tremi feito vara verde.

- Mas você disse que ela não era do nosso meio, de onde a conheço?

- Logo mais você verá, agora tenho que desligar, estou dirigindo.

Eles se despediram e eu senti que poderia morrer a qualquer momento. Miguel fazia carinho na minha coxa e aquilo foi me acalmando aos poucos, era estranho aquela proximidade com a verdade, porém não podia fazer nada além de aguardar.

- Vamos parar no caminho? Estou faminto.

- Tudo bem.

Paramos numa lanchonete e meu bonitão fez o pedido, eu estava sem fome, mas ele me forçou a comer um x-salada e um copo de refrigerante de uva.

- Você entrou no carro radiante e agora está tão cabisbaixa. Eu fiz alguma coisa? O que você tem Andreia?

- Impressão sua...

- Você tem algum problema com minha irmã? É isso? Lorena já te maltratou?

- Não, a doutora Lorena é um amor - afirmei com convicção - Perdi as contas de quantas vezes ela foi como um alicerce para mim.

- Eu tive a impressão de que você não gostou de sermos irmãos.

- Bobagem sua.

- Mas você está distante, tem algo que queira me falar?

- Não - mudei de assunto novamente - Agora coma, eu estou curiosa para saber aonde você vai me levar.

Obriguei-me a ser mais simpática e sorridente, por dentro eu era apenas uma garota tremendo de medo, por fora era uma mulher fatal.

- Acho que você vai gostar, deve sentir falta disso. Vou comer rápido porque é um pouco longe.

Logo estávamos no carro que rodou praticamente a Radial Leste inteira, quando chegamos vi as luzes néon piscando e me apaixonei mais um pouco por ele, se é que havia um jeito de meu sentimento aumentar, aquele lugar era realmente o que eu precisava.

            
            

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