Encarei os olhos castanhos e não consegui pensar em nada que desse alguma firmeza a minha opinião.
- Ah, mas eu acho errado...
- Vem...
Ele me puxou pelas mãos, e mesmo relutante entrei, quando pisei dentro do parque, meu coração pareceu bater mais devagar, como se meu corpo lembrasse a minha pouca idade, e de tudo que eu não vivi, um namorado firme, que me enviasse flores, me levasse para passear, olhei para as costas de Miguel que comprava tickets, e aquele medo me assombrou, entretanto naquela vez, eu o engoli, precisava aproveitar meu amor ao máximo, porque as nossas horas juntos estavam contadas.
Andamos na roda gigante, não antes que ele me comprasse um algodão doce cor de rosa, sentamos lado a lado e quando paramos no topo ele me beijou com carinho e calma.
- Olhe à sua volta - abri os olhos e olhei ao meu redor - Lindo né, cada luz acesa representa um universo, uma casa, um apartamento, às vezes em uma dessas luzes, tem algum casal que pode estar fazendo amor, pensando que são as pessoas que mais se amam no mundo, no entanto é mentira...
- Mentira? - tremi um pouco pelo vento gelado, ou talvez eu soubesse o que ele me falaria a seguir.
- Sim, a pessoa que mais ama outra no mundo sou eu... Eu te amo!
O grito dele ecoou pelos ares, eu o puxei para mim e o beijei no momento em que a roda gigante voltou a funcionar, rimos com nossos narizes colados. Meu bonitão era mais do que eu sonhei, era exatamente o que eu precisava.
Nunca gritei tanto como na montanha russa, de repente eu tinha apenas vinte anos, e minhas costas estavam leves como nunca tiveram antes. Não me esquecerei jamais daquele passeio.
Saímos de lá rindo feito duas crianças, entramos no carro e Miguel colocou um som bem suave. Conversamos sobre as coisas que gostávamos quando crianças.
- Ah! Eu tinha um quarto todo cor de rosa, meu pai me tratava como uma princesa, claro que perto de você eu tive uma infância pobre, mas te garanto que era confortável e deliciosa.
- Sempre quis ser médico, não sei te dizer até onde é influência da minha família e até onde é dom, mas quando era pequeno adorava ganhar ursinho de pelúcia, para operá-los depois.
- Que fofinho!
- Fofinha é você. Quais eram seus planos? Porque você tinha dezoito anos, então devia ter um namoradinho, não quero nem pensar nisso - a careta que ele fez me deu um ataque de risos - E planos.
- Havia um carinha, mas não era nada sério. E eu queria ser enfermeira, mas não estava em meu destino.
- Ainda bem que eu estava no seu destino porque imagina como seria triste sua vida sem mim.
- Ou a sua sem mim.
- Devo confessar que realmente sem você minha vida de rebelde perante minha família não é nada agradável. Mal posso falar com a minha mãe, não que ela não queira, mas primeiro vem o meu pai, e aí já viu.
- Tenho medo do seu pai...
- Queria dizer que não precisa, mas meu pai é tão cheio de preconceitos, conta status social, árvore genealógica, linhagem. Ele será contra a gente. Vai falar para mim que você é diversão. Que moças que não são da nossa classe você dá uma joia de médio valor e come, com essas palavras.
Afundei-me no banco do carona.
- Não sei se a gente devia ter algo assim...
- Eu não quero ter "algo". Eu quero que você seja minha mulher.
- Sua mulher?
- Quer ouvir minha música favorita? - desconversou mexendo no rádio - Você vai amar.
Um rock inundou o carro, Miguel balançou a cabeça no ritmo da música, o que acabou quebrando minha tensão, amava vê-lo tão leve, tão livre.
Chegamos a casa dele por volta da meia noite, por mais que eu insistisse que queria ir para casa, a desculpa dele nem tão convincente mexeu comigo.
- Ih gatona, um frio desses e nós dois vamos dormir sozinhos, ao invés de ficarmos agarradinhos, espantando o frio?
Ele fez pipoca de micro-ondas e assistimos a um filme, a mão dele começou a passear por sobre a minha blusa, enquanto os olhos estavam fixos na tela. Notei que sua respiração acelerou, no momento em que a mão desceu até meu cós, seguindo para minha boceta, o indicador brincou com meu clitóris através da renda da lingerie que eu usava.
Abri um pouco as pernas involuntariamente, o convite foi aceito e a mão dele foi mais invasiva, explorando o meu corpo, me fazendo estremecer. Um gemido involuntário escapou de meus lábios, enquanto meu corpo arqueou-se como se esperasse por aquele toque.
- Miguel.
- Geme meu nome, eu adoro ouvir meu nome saindo da sua boca.
Meu bonitão tirou minha roupa, enquanto beijava minha pele, a boca demorou sobre os mamilos rosados, de auréolas claras. Um deles ficou marcado pela sucção de sua boca.
Ajoelhei-me diante dele e abri seu zíper, a sua ereção me surpreendeu, lambi a cabeça e pude sentir seu gosto pela lubrificação que começava a se apresentar, e o gosto do meu grandão era perfeito.
- Gostosa, vem cá, fica de quatro no sofá.
Obedeci, me empinando para receber sua língua que quase me matou de tesão. Notei que ele ficou de pé, e logo senti minha boceta sendo invadida, gemi baixinho com seu pau estocando, e as suas bolas batendo na minha bunda. Quando achei que ele não poderia me levar mais longe, senti um tapa sendo desferido na minha nádega direita, aquilo me levou para outro nível, eu praticamente rosnava, quando ele segurou minha garganta e apertou me fazendo ficar sem ar, ao mesmo tempo em que estocava com força e num ritmo bastante acelerado. Foi tão rápido e tão forte que achei que perderia os sentidos, entretanto o orgasmo foi estarrecedor, meu corpo perdeu o controle de si mesmo e encharquei a cama. Miguel desceu a mão pela minha cintura, me liberando a respiração.
- Linda, perfeita - ele ainda metia, com uma força capaz de quebrar-me ao meio.
- Amor...
- Diz meu nome, diz...
- Miguel - gemi ante a pressão com que me penetrava.
Fiquei de quatro novamente, e meu bonitão pegou um ritmo mais acelerado, logo ouvi um grunhido enquanto ele mordia meu ombro.
- Eu te amo pra caralho - a voz dele encheu meu corpo de amor.
Só quem já amou ou foi amado pra caralho, sabe do que estou falando, e assim caí no sono
Senti meu pé esquerdo sendo puxado, fazia tempo que não era acordada por outra pessoa me tocando, e dei a sorte dessa pessoa ser meu bonitão.
- Vai trabalhar?
- Claro que sim.
Levantei correndo e fui tomar banho. A água quente ardeu em certas partes doloridas do meu corpo, lembrando como era ser amada por Miguel. Corri com a ducha, mesmo estando excitada pela lembrança.
Quando voltei para o quarto, uma troca de roupas esperava-me, tudo novo, um jeans escuro, uma bata branca e uma jaqueta da cor exata dos meus olhos, assim como a lingerie.
- É uma pena eu não poder tirar essa lingerie, já que você hoje trabalha nos dois empregos.
Mal o ouvi, o puxei para uma cadeira que estava encostada num canto, e comecei a abrir seu cinto, estava com muito tesão, não conseguiria fazer nada se ele não me fodesse.
- Preciso de você.
- Vamos perder a hora - ia dizendo quando o abocanhei - Foda-se a hora vem cá, vem.
Sentei-me em seu colo e o cavalguei, enquanto Miguel mordiscava meus seios, o ritmo era intenso e constante. Estremeci quando o orgasmo veio, e se ele não me segurasse teria caído.
- Te amo Miguel.
- Também te amo, gatinha sou louco por você.
- Tenho tanto medo de te perder que às vezes me dói até o peito, sei que não te mereço, sei que devia me afastar, mas você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida.
- Já entendi tudo, você está com medo do meu pai. Andreia, eu sei que não é justo te pedir isso, você tem sua mãe, tem milhares de problemas, porém eu quero muito ficar com você, então eu te peço confia em mim, segure a minha mão, porque nem meu pai, nem ninguém vai destruir o que eu sinto por você.
- Eu...
- Não fale mais nada, fique sentada. Eu ia te dar isso na próxima vez que nos encontrássemos, mas não vejo sentido para esperar.
Enquanto eu fiquei olhando para o teto, Miguel saiu do quarto, eu respirei fundo como se meus pulmões precisassem de todo o ar que estava naquele cômodo, e enrolada num lençol, eu rezei, entretanto nada aconteceu. Eu pedi tão pouco, só queria ter coragem naquele momento. Sei que nada vai justificar o que eu fiz, nem mesmo o que eu sentia, sempre soube que mentir é errado, mamãe me criou dentro da igreja e apesar de não partilhar mais a fé dela eu sabia, aliás, eu sei que a lei divina existe.
E que cedo ou tarde eu seria castigada.
Acordei do devaneio com aqueles olhos escuros me olhando.
- Andreia, quer casar comigo?
- Miguel...
O anel era dourado com uma pedra do tamanho de uma uva passa, o tom era entre o azul e o esverdeado.
- Não comprei esse anel, era da minha avó materna. Ela me deu um pouco antes de falecer, disse que eu deveria dar para uma mulher que me fizesse esquecer como era a vida sem ela.
- Miguel, eu amo tanto você.
O abracei apertado, segurei o choro, aquele era o momento de contar a verdade, porém minha garganta fechou. Eu estava perdida, de todas as formas que uma mulher pode se perder.
- Isso é um sim?
Concordei com a cabeça e o anel foi colocado em meu dedo, e como um sinal dado pelos céus, ficou perfeito.
Beijamo-nos no exato momento que meu celular tocou, era Clóvis. Vesti-me em um minuto e Miguel seguiu meu ritmo.
- O que acha de largar esses empregos e estudar algo que goste?
- Preciso bancar o tratamento da minha mãe, fora de questão.
- Sou herdeiro daquele lugar, eu não quero minha mulher se matando de trabalhar, se eu posso cuidar de vocês duas, quero que você estude, seja quem você quer ser...
- Eu não te mereço, você é tão bom e eu sou uma...
- Uma? Gatinha, não quero que você se sinta obrigada a casar comigo, é um pedido.
- Quero casar com você.
- Ótimo, é tudo que mais quero. Você liga de casarmos primeiro no civil?
Quero meus pais no religioso, mas sei que meu pai vai tentar de tudo para não casarmos, mas se já formos casados...
- Do jeito que você quiser - aceitei ciente de que aquele casamento não aconteceria.
Saímos em cinco minutos, ele me deixou escolher a trilha sonora, mas criticou todas as músicas.
Éramos um casal como todos os outros, mesmo não podendo ser.
Descemos do carro assim que chegamos ao hospital, estávamos atrasados cerca de meia hora, todavia não aceleramos o passo.
- Miguel - um rapaz loiro de cabelos arrepiados e intensos olhos verdes, veio sorrindo em nossa direção.
- Lucão, cara quanto tempo. Essa é minha noiva, Andreia.
- Miguel, uau que gatona. Apesar de que acho que a conheço...
- Você trabalha no hospital?
O loiro riu como se eu tivesse contado uma piada muito engraçada.
- Lucão não trabalha - Miguel sussurrou em meu ouvido - A vida dele é
noitada.
- Trabalhar faz mal à saúde, moça. Mas eu olho para você e sinto que conheço e muito você.
- Pouco provável, pois Andreia é só trabalho.
- Que seja, mas eu vim aqui por um motivo que vi que não faz sentido. - Lucão olhou dentro dos meus olhos.
- Por quê?
- Fernanda.
- Pois é, fora de questão.
Miguel apressou o passo e me levou com ele.
- Amor, seu amigo...
- Depois eu falo com ele, estamos atrasados...
- Quem é Fernanda?
- Minha ex-noiva, já falamos sobre ela.
- E ela te manda recados? - perguntei no momento em que cheguei à porta da lanchonete.
- Às vezes. Mas ela sabe que não temos mais nada. Andreia eu te amo, gatinha. Não precisa ter ciúmes, se bem que você está linda com esse ar zangado.
- Bobo.
Despedimo-nos e seu Clóvis me olhou satisfeito quando entrei na lanchonete, o dia passou rápido e quando saí Miguel estava em cirurgia e, como toda segunda-feira, eu tinha ensaio e distribuição de coreografias.
- Rainha, Milu trouxe um modelito lindo, oriental, você parecerá uma gueixa.
Entrei e vi a costureira ajustando novos figurinos nos corpos perfeitos das
dançarinas. Como cheguei por último, fiquei aguardando enquanto Bovary me contava novidades.
- Kathryn está grávida, aquela cabeçuda.
Pensei na Rose, Kathryn era o seu nome de guerra, era uma excelente dançarina, ao contrário de mim, fazia pelo dinheiro. Era uma ruiva natural, de olhos escuros, tinha um ar de mulher de alta classe, o que lhe rendia programas com altos executivos e políticos influentes.
- E aí?
- Decidiu ter o bebê, o pai é um prefeito do interior de São Paulo. Vai assumir e ela será primeira-dama de uma família tradicional - Bovary riu cheia de malícia.
Fiquei com certa inveja, queria ter metade daquilo, não que o amor de Miguel fosse fraco, longe disso, ele me oferecia coisas que eu mal podia imaginar.
Mas eu tinha consciência de que ele merecia a verdade.
Quando Milu me entregou a lingerie nova para ajustes, vi os olhos de madame Bovary se arregalarem.
- Ametista, você tem um boy!
Olhei-me no espelho, as nádegas ainda estavam levemente avermelhadas, mas não era isso, Miguel marcou meu colo, com deliciosos chupões.
- Tenho um noivo...
- Ele sabe? - vi a boca formar um traço fino.
- Eu estou tentando contar.
- Quando Milu terminar vou dispensar as meninas e nós duas conversaremos.
Respirei fundo e torci pelo melhor, no entanto sabia que aquela conversa seria uma bomba...