Capítulo 2 Era saudade

A realidade ia chegando mais próxima de Elisa. Algum tempo já havia se passado enquanto escrevia atentamente cada detalhe do que se lembrava. Porque esse sonho havia mexido com ela dessa forma? Ela não conseguia se lembrar de sonhar antes algo tão envolto em sensações e emoções, e então se lembrou daquele aperto no peito. Não compreendia o que era aquilo, mas já havia sentira isso antes em sua vida. Após uma breve revisão de suas memórias, chegou à conclusão: era, saudade.

Um sorriso surgiu no canto de sua boca, e agora balançava a cabeça de forma negativa, como se reprovasse aquele pensamento. Como poderia sentir saudade do que não viveu? Como poderia sentir saudade de quem nunca conheceu? Não poderia ser real.

"Não é real", disse Elisa em voz alta se levantando com um ímpeto de coragem repentina. Dobrou a folha escrita e a guardou em um de seus cadernos, apressadamente o junto com alguns livros, e colocou tudo na mochila. Não fazia sentido gastar mais tempo com aquilo e ela precisava se arrumar, estava atrasada para a aula.

Elisa era apenas uma garota de 17 anos, mas era madura para a idade. Possuía um senso de responsabilidade muito grande, porque já havia passado por coisas na vida que poucos naquela idade passaram. Algumas experiências foram antecipadas a ela: desamparo, insegurança, incertezas, o luto. Mas a vida tinha melhorado e ela tentava esquecer o passado, enquanto suas energias se concentravam em estudar. Ela tentava sempre dizer a si mesma que o passado não estava ao alcance de suas mãos, mas o futuro poderia ser diferente, e para o futuro ela desejava independência. Independência financeira, mas também social. Garantir que ela não precisaria de mais ninguém para viver uma boa vida e ajudar aqueles que precisam e que ela amava.

Apesar de possuir planos para sua vida e ser muito dedicada em seus objetivos, quem a via, não imaginava a força de Elisa. Pequena em estatura, se escondia atrás de uma grande timidez e de seus grandes óculos de grau. Na escola, era conhecida na biblioteca por estar entre os leitores mais assíduos, de literatura nacional a estrangeira, de poemas a livros de filosofia. Suas notas eram exemplares, mas ela gostava de passar desapercebido. Vestia roupas sempre simples, e usava o mesmo corte por anos, mantendo os fios sempre presos.

Elisa ouvia mais do que falava, e nos corredores da escola, escutava diversas experiências, sobre aventuras, amizades e romances. A maioria dos adolescentes já haviam namorado, a maioria participavam de festas e se dedicavam muito tempo no âmbito social. Mas Elisa não tinha grande pretensões ali, nem na escola e nem naquele tempo. Desejava se formar o mais breve possível e mudar para a faculdade que escolhera.

Ao chegar no corredor da escola mais uma vez, ela apressou-se em guardar seu material no armário, pois o tempo era curto. A aula de inglês começaria em breve. Ela levou consigo então apenas um caderno e sua bolsa de canetas. Elisa não percebeu que o papel que mais cedo havia colocado dentro do caderno caíra no processo. Para trás, no chão ficou escrito, o sonho.

            
            

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