Capítulo 4 Anthony

Agora, estou colocando minhas esperanças na Jasmine. Apesar de sua inexperiência, ela parece ter algo que me intriga, talvez uma determinação em se provar, ou simplesmente a coragem de encarar o desafio.

No entanto, a adaptação não será fácil. Minhas filhas já reagiram mal a duas outras babá antes dela, e temo que essa história se repita.

Por enquanto, concordei em dar-lhe uma chance. Ela terá alguns dias para se mostrar capaz, mas, mais importante, terá que conquistar o coração das minhas meninas. De nada adianta sua competência se Isabelly e Mikaelly não se sentirem confortáveis em sua presença. Elas choraram ao ver as babás anteriores, e, como pai, essa cena é insuportável para mim.

Jasmine deixou claro que não pode dormir no trabalho por precisar cuidar da mãe enferma. No entanto, expliquei que isso seria essencial para o cargo. Trabalhar como babá na minha casa requer dedicação integral, com folgas apenas quinzenais.

Talvez tenha sido egoísta ao insistir nisso, mas a segurança e o bem-estar das minhas filhas vêm antes de tudo. No fim, ela aceitou as condições, e ficou combinado que traria sua mãe para conhecer a casa na próxima segunda-feira.

Enquanto isso, minha mãe tem estado sempre por perto, me ajudando com as meninas. Sua presença é um alívio, mas não posso depender dela para sempre. Tenho que encontrar alguém em quem confie plenamente, alguém que possa preencher a lacuna deixada por Carminha.

Hoje, enquanto brincava com Isabelly e Mikaelly, tentei esquecer as preocupações e apenas focar no momento. Suas risadas são a única coisa capaz de aliviar o peso que carrego desde a partida de Isadora.

Elas são tudo o que me resta da mulher que amei com toda a minha alma. Quando minhas filhas olham para mim com aqueles mesmos olhos azuis, vejo fragmentos dela. É uma lembrança dolorosa e, ao mesmo tempo, a maior força que tenho para seguir em frente.

O maior desejo do meu coração agora é que Jasmine consiga tocar o coração das minhas meninas. Que elas a aceitem, se sintam seguras e, quem sabe, voltem a sorrir com a mesma facilidade que tinham quando estavam com Carminha. Tudo o que quero é que elas sejam felizes – mesmo que, para mim, a felicidade plena seja algo que talvez nunca volte a existir.

- Filho, já se passaram quatro anos desde a partida da Isadora. Chegou a hora de seguir em frente e reconstruir sua vida! É importante encontrar uma nova companheira e voltar a ser feliz. A vida não se resume apenas a cuidar das meninas. Busque a felicidade, encontre uma esposa e recupere a alegria que sempre te caracterizou. Não suporto te ver nesse estado...

As palavras da minha mãe me atravessaram como uma faca. Sua preocupação era verdadeira, mas ela não compreendia a profundidade do meu luto, o vazio insuperável que Isadora deixou em minha vida.

- Mamãe, estou satisfeito com minha situação atual! - respondi, com mais firmeza do que pretendia. - Trato a todos com gentileza e o que a senhora espera que eu faça? Ainda não me interessei por ninguém, não consigo ter sentimentos por outra pessoa. Até agora, nenhuma mulher me chamou atenção e acho que nunca ninguém irá!

Minha voz vacilou ao pronunciar as palavras seguintes:

- Isadora nunca será substituída, jamais! Vocês sabem o quanto eu a amava... Isadora era minha vida! Após sua partida, decidi nunca mais me relacionar com outra pessoa! Prometi ser fiel a ela até a morte no altar.

Minha mãe me observava com uma mistura de tristeza e preocupação.

- Mãe, não adianta insistir para que eu encontre alguém... Vocês dois ficam incomodando com isso, mas não pretendo me casar novamente!

Ela suspirou profundamente, balançando a cabeça.

- Anthony, a cada dia que passa você está acompanhado por uma mulher diferente, sempre com uma nova ao seu lado a cada hora. É necessário que você pare com esse comportamento e se decida por uma mulher só, meu querido. Isso não condiz com quem você é de verdade...

As palavras dela me deixaram atordoado. Eu? Acompanhado por várias mulheres? De onde ela tirou isso?

Foi então que me ocorreu uma possibilidade... Meu irmão. O idiota do meu irmão fofoqueiro devia estar espalhando essas mentiras, provavelmente para "me ajudar".

Senti o sangue subir.

- Quem anda dizendo isso para a senhora? - perguntei, tentando manter a calma.

Ela hesitou por um momento antes de responder:

- Bem, seu irmão comentou algumas coisas...

Pronto. Era ele. É claro que era ele!

Minha mandíbula travou, e eu mal conseguia conter a raiva.

- Vou dar um soco naquele idiota! Ele não tem o direito de ficar bisbilhotando minha vida e espalhando mentiras por aí!

Minha mãe arregalou os olhos.

- Anthony! Controle-se!

Respirei fundo, tentando me acalmar. Não seria um soco que resolveria isso.

Mas uma coisa era certa: eu não precisava que ninguém, muito menos meu irmão, se intrometesse na forma como escolhi viver. Eu sabia como cuidar da minha vida. Mesmo que ela fosse um caos, ainda era o meu caos. E ninguém tinha o direito de tentar rearranjá-lo.

Enquanto fechava a porta do banheiro, sentia o peso de mais uma conversa desgastante com minha mãe. A água quente escorria sobre mim, mas não era capaz de lavar a frustração que pulsava em meu peito.

Essa insistência em me "fazer seguir em frente" é uma ferida que eles parecem adorar cutucar. Como explicar que, para mim, seguir em frente não significa substituir Isadora?

Minha mãe acredita que o vazio deixado por ela pode ser preenchido com outra pessoa. Luana, por exemplo, alguém que claramente tem interesse em mim e que, segundo minha mãe, seria "perfeita" para minhas filhas. Mas como explicar que eu não procuro perfeição, que eu não procuro nada?

Não vejo sentido em criar esperanças em alguém quando sei que não posso oferecer nada além de breves momentos de satisfação física. Não busco vínculos emocionais, compromissos, e muito menos uma segunda esposa. Isadora era única. Não há espaço para outra figura materna na vida das minhas filhas, nem para outra mulher no meu coração.

"Superar o passado", ela disse. Como se o passado fosse algo que eu pudesse simplesmente apagar ou deixar para trás. Não, o passado vive em mim. Ele está em cada riso das minhas meninas, em cada memória de Isadora, em cada promessa que fiz a ela no altar.

Quando minha mãe mencionou meu irmão, tive que morder a língua para não explodir. Ele sempre foi assim, o tipo de pessoa que adora "resolver" a vida dos outros, mesmo quando ninguém pediu sua opinião. É claro que ele foi quem plantou essas ideias na cabeça da nossa mãe, provavelmente com suas observações exageradas sobre minha vida.

Sim, tenho buscado uma válvula de escape. Algumas noites com mulheres diferentes, sem promessas, sem planos para o amanhã. É uma forma de anestesiar a dor, mesmo que temporariamente. Mas isso não faz de mim um monstro, nem significa que estou descartando ninguém. Não prometo o que não posso cumprir.

Por que ninguém entende que minha vida é assim porque eu escolhi que fosse? Que, apesar das falhas, dos tropeços e das noites solitárias, eu estou lidando da única forma que sei?

Saí do banho com a cabeça ainda cheia de pensamentos. Minha mãe estava na sala com Isabelly e Mikaelly, as duas riam enquanto ela as fazia cócegas. Essa visão, por um breve momento, trouxe paz.

Ainda assim, a conversa ecoava em minha mente. Precisarei falar com meu irmão. Não será hoje, mas em algum momento, ele precisará ouvir que minha vida não é um tabuleiro de xadrez para ele manipular.

E, quanto a Luana, sinto muito se ela tem expectativas, mas meu coração já tem dona, e essa dona não está mais aqui.