Capítulo 6 Proposta de namoro

PONTO DE VISTA DE HELOÍSA

Eu estava parada na frente do meu chefe, esperando seja lá o que ele tinha pra dizer, mas ele estava pálido me encarando como se eu fosse um fantasma. Arranhei a garganta na tentativa de chamar a sua atenção e trazê-lo de volta a realidade quando o senhor Bernardi me pediu pra sentar na poltrona perto ao sofá em que eles estavam. Me sentei, porém totalmente alerta, já que nesses três anos que trabalhava pro Patife, nunca me pediram isso. Eu estava totalmente confusa com a cena na minha frente e já imaginando que seria demitida e eles estavam tentando amenizar a situação quando o advogado começou a falar:

- "Então, Heloísa, nós te chamamos aqui porque temos uma proposta de trabalho pra você." – Ah, que ótimo, pelo menos eu não seria demitida. Menos mal. – "Antes de te dar mais detalhes, preciso dizer que o assunto é confidencial e em hipótese alguma, ainda que você recuse, o assunto não pode sair dessa sala. Entendeu?" – Ok, agora eu estava curiosa, será que eu teria que cometer algum crime ou encobrir algo errado do meu chefe? Pelo amor de Deus, onde eu estou me metendo?

- "Cla.. Claro, senhor Bernardi. Eu compreendo. Não se preocupe." – Falei tentando passar toda a calma que eu não estava sentindo.

- "Ótimo! Como é de seu conhecimento, o Brian assumiu a cadeira de CEO a três anos, quando o sr Cesarini se aposentou, e a empresa cresceu três vezes nesse período." – Afirmei com um aceno de cabeça, porque meu chefe tinha muitos defeitos, mas incompetência não era um deles. – "Pois bem, também é de seu conhecimento que durante esse período ele não assumiu nenhum relacionamento serio, não é costume dele namorar, certo?" – Confirmei novamente porque isso era de conhecimento de todos. Mas senti meu rosto esquentar e com certeza estava vermelha igual um tomate. Aonde essa conversa vai chegar afinal? – "Excelente! Embora seja de conhecimento geral a competência do seu chefe e meu melhor amigo, e embora o trabalho dele não possa ser questionado por uma única pessoa, ele corre o risco de perder o cargo."

- "Como? Mas por que?" – Perguntei um pouco exaltada porque isso era um absurdo. Nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer. O meu chefe remexeu um pouco inquieto no seu lugar e percebi que ele estava nervoso. Acho que no lugar dele eu também estaria.

- "o senhor Cesar Cesarini, pai do Brian, acredita que o fato de ele não ter um relacionamento serio o desqualifica para estar a frente do grupo." – o Advogado disse e esperou a minha reação, que simplesmente não veio. Eu não tinha reação, parecia brincadeira.

- "O que uma coisa tem haver com a outra?" – Perguntei o óbvio porque pra mim não fazia sentido.

- "Exatamente, NADA!" - Foi a vez do meu chefe se manifestar e pelo seu semblante, ele estava inconformado. Eu também estaria.

- "Realmente, uma coisa não influencia a outra. Mas, infelizmente, no entendimento do sr Cesar, tem relação. E como o Brian não quer entrar em uma briga com o próprio pai, decidimos optar por um caminho mais simples. E é aí que você entra, Heloísa." – Ele disse me dando um sorriso amigável e eu fiquei ainda mais confusa.

- "E de que forma eu poderia ajudar?" – Perguntei olhando pra os dois homens na minha frente que se olharam em um gesto cumplice antes de jogar a bomba no meu colo.

- "Você será a nova namorada do CEO." – O Advogado disse.

De todas as reações que eu poderia ter, com certeza escolhi a pior. Eu estava gargalhando, não era um sorrisinho tímido como eu costumava dar no meu trabalho, eu estava chorando de rir, a minha barriga doía, mas eu não conseguia me controlar. Era mais forte do que eu. Em que universo paralelo eu tinha ido parar pra ser pedida em namoro pelo meu chefe mau humorado? E pior, nem foi ele quem pediu, foi o seu melhor amigo que estava fazendo uma ponte pra ele. Meu Deus, eu vivi pra ver isso.

- "Me desculpe, mas não estou interessada." – Foi o que respondi quando consegui respirar e retomar o controle do meu corpo.

- "A senhorita não entendeu." – O advogado disse colocando os cotovelos sobre os joelhos e me olhando nos olhos. – "Não se trata de um namoro real, será um contrato de trabalho. Estabeleceríamos um período, com direitos e deveres. E claro, uma remuneração justa. É algo que beneficiaria ambos os lados, e tenho certeza que se conversarmos com calma, acharemos um bom termo. Estamos totalmente abertos a negociação. Não é, Brian?" – Ele encerrou o seu discurso e olhou pro amigo esperando que ele confirmasse.

- "Claro." – Meu chefe confirmou com a cara amarrada de sempre, como se estivesse em condições de se manter no seu pedestal. Idiota.

- "Entendi. Bom, eu não sei o que dizer. Não sei se me sinto confortável pra enganar o sr Cesarini dessa forma, ele sempre foi bom comigo. E além do mais, ninguém acreditaria nessa história, todos sabem que eu e meu chefe não somos melhores amigos. Isso sem mencionar que eu não faço o tipo dele." – Falei tudo que pensava antes que perdesse a coragem.

- "Você é o tipo de qualquer homem, inclusive o meu." – Meu chefe falou e quando o encarei, ele estava com olhos arregalados e boca franzida, como se tivesse sido pego fazendo o que não devia. Ele pigarreou, parecendo se recompor e tentou concertar – "Quer dizer, isso não é o mais importante, temos o álibi perfeito, já que passamos boa parte do dia juntos, o meu pai te adora e não será a primeira vez que um executivo se relaciona com a secretária." – O sr Bernardi riu parecendo saber de algo que me passou desapercebido.

- "Como pode ver, Heloísa, você é a candidata ideal. Mas entendemos que se sinta confusa e queira pensar no assunto com calma. Então, por que não vai pra casa mais cedo, analisa a situação com carinho, pensa nas suas condições e amanhã nos dá uma resposta? Tenho certeza que podemos chegar a um acordo que seja bom pra ambos os lados." – Alex disse soando completamente profissional.

- "Eu tenho uma pergunta." – Eu disse e os dois homens me olharam assentindo. – "Se eu recusar, corro o risco de perder meu emprego?"

- "De forma alguma. Seu emprego está garantido independente da sua resposta." – Foi a vez do meu chefe responder e fiquei imediatamente mais calma.

Me levantei e fui em direção a porta, tentando manter minhas pernas funcionando, embora elas parecessem gelatina. Peguei minhas coisas de forma apressada e fui em direção ao elevador. Eu tinha muita coisa em que pensar, e talvez não devesse estar cogitando a possibilidade de aceitar uma proposta dessas. Mas eu estava. Eu não estava em uma situação tão difícil, mas poderia resolver a minha vida e a da Liz em um piscar de olhos. Precisava chegar em casa e conversar com a minha melhor amiga, ela saberia exatamente o que fazer.

            
            

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