- Bom dia. - responde sorrindo ao me devolver para o chão com cuidado e dá um passo para trás. - Está feliz hoje, isso é bom porque temos muito o que fazer e você tem uma missão importante essa semana.
- Ainda bem...estava tudo tão parado nessa questão. - comento. Nos últimos dias não teve missão para mim, e eu gosto de ir.
- Vou te explicar tudo, mas antes...- retira um dardo do bolso e sorri.
- Okay...vamos lá. - Pego de sua mão andando até a linha que coloca limite entre nós e o alvo.
- Comece contando.
- Não nos vemos há....três dias então, nesses três dias eu comprei muitas roupas novas, eu saí com mais pais para jantar, pensei em bons argumentos para brigas e debates no banho... - digo jogando três dardos e dois deles acertam quase o centro do alvo e um passa longe. - Vou usar todos esses argumentos nas reuniões de negócios. - Sorrio. - E eu... decidi cancelar a viagem de formatura para Tokyo com as meninas da faculdade.
- Por quê? - Atira dois de uma vez, acertando o exato centro, e eu faço uma careta em resposta. Ele é muito bom nisso! - Voce estava tão animada para isso, e devorar a culinária local, compras...e na sua mente tão revolucionária quem sabe achar um membro da Yakuza para fazer negócios. - acerta mais um, a atenção dos olhos completamente no alvo e a mental nas palavras.
- É o Alessandro...se eu sair do país ele vai saber, e com certeza vai ir atrás de mim...isso iria dar tão errado. - erro feio o outro dardo, acertando na quarta linha.
- Já está começando a se privar da vida por causa dele. - comenta calmo.
- Não me meto, você sabe.- acerta mais um só que desta vez na segunda linha, fazendo ele alongar os ombros e o pescoço. - Só que aquela sua esperança de que isso pode dar certo em algum sentido, seja ele você aceitando isso e tendo algo saudável, ou melhor, ele te deixando livre, essa esperança está cada vez mais irreal e está cada vez mais visível que terá tudo, menos algo saudável.
- Você está sendo duro comigo. - Erro novamente, bufando.
- Não sou eu quem estou sendo. - argumenta e eu sei que ele tem razão, ele não esta...Alessandro está.- Não posso passar a mão na sua cabeça, estamos sendo sinceros, minha missão não só de trabalho quanto de vida, é te deixar pronta para tudo, e eu estou tentando te deixar pronta para seu retorno para a Rússia. Me preocupo com o que pode acontecer com você. - a voz grave fica rouca quando ele abaixa o tom devido a preocupação, ele está sendo cauteloso. - Seu pai veio falar comigo. - conta, respirando fundo e lançando mais um.
Engulo em seco.
- Sobre mim?
- Sim, queria saber se eu sabia de algo que ele não sabe, se você tinha me contado tudo a respeito do que aconteceu na Rússia. Ele sente que está escondendo algo, e está tentando descobrir o que é.
- Você contou?...
- Não. - balança a cabeça uma vez só e se vira para mim, parando o jogo e eu faço o mesmo, me viro para ele.
- Cabe a você dizer a ele, ninguém saberá pela minha boca nada sobre você que não queira, é uma decisão sua.
Para o Barry eu também contei toda a verdade, sobre a virgindade...
- Não acho que estou pronta para ir.
- passo a mão na testa.
- Quando for, saiba que se precisar de ajuda, pode me ligar. Eu vou até você, e mesmo que custe a minha vida depois que eu matar Alessandro Petrov, vou deixar você segura, posso livrar você do seu algoz. - aponta sério, eu olho para cima para alcançar seus olhos e nego com a cabeça.
- Nunca vou te pedir nada que vá te matar.
- Se as coisas saírem do controle e eu ficar sabendo, não terá nem que me pedir.
Dou um passo a frente e toco seu peito.
- Por favor...você nunca se mete, então continue assim, sei que se fosse para me salvar você se meteria sem se importar. Só que eu não consigo existir em um mundo onde você não existe mais por minha culpa, ninguém nunca cuidou de mim assim além do meu pai, nem me ensinou tanto e amou tanto, preciso de você vivo Barry.
Ele segura meu passo, afastando levemente minha mão de seu peito.
- Não é negociável.
- Por que é assim comigo? - Pela primeira vez tenho coragem de perguntar, eu sempre quis saber porque todo esse amor, cuidado, paciência. - Você nunca teve filhos...- começo uma breve sugestão.
- Não te trato assim por não ter tido filhos, sequer te vejo como filha, Angelina.
- Que bom...porque embora você aja como um, também não te vejo como um pai. - sorrio tímida.
- Talvez você ache que minhas atitudes são semelhantes a de um pai porque tenho o dobro da sua idade, e seu pai é sua referência de cuidado, proteção e amor. Você é nova, só que quando ficar mais velha vai ver que, é assim que um homem tem que agir.
Não entendo o que ele diz, franzo o cenho.
- Não respondeu minha pergunta.
- Nem vou, só quando estiver pronta para entender. - Pega mais um dardo, se virando para o alvo novamente.
- Continue contando.
Meio Hesitante, faço o que ele disse.
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Me deito na cama, cobrindo o corpo até os seios e encaro o teto, esperando o sono chegar, só que meus pensamentos, estando livres das coisas do dia, só vão para um lugar.
Minha situação de agora. O meu maior problema. Alessandro.
Flashback
- Não bate a porta, ela vai escutar. - ela diz entre dentes.
- Pois que escute! - Eleva o tom.
- É bom que assim ela já fica sabendo com antecedência e sem ceninhas que ela não vai mais se aproximar daquele moleque!
- Se controle, foi uma briga de criança... Não é pra tanto.
Encosto mais ouvido na porta do quarto, descalça no corredor para não fazer barulho.
- Ele não é mais uma criança! acha que com quinze anos, é normal um homem agir assim? Nesse auge do descontrole? Como acha que ele vai estar quando tiver vinte? Trinta?! Eu não quero que ela esteja lá para descobrir, essa obsessão dele pela minha filha já durou tempo demais. Ela não pisa mais na Rússia. - Decreta decidido e muito, muito nervoso.
- Estevan, se controle. Pense com a razão... Ela é muito amiga dele... Ela é muita amiga do Eric e da Nádia também. A Angel passa quase todos dos dias sozinha aqui... Ela conta os dias para ir a Rússia ver os amigos e a Madrinha. - Ouço ela respirando fundo, pesarosa, se vê que ela concorda com ele mas está fazendo uma média por mim, para que eu quero.
- Ela pode arrumar outros amigos, a Nádia e o Eric podem vir aqui, só que eu não quero ela perto do Alessandro Petrov, Laura! - Ele ter chamado ela pelo nome, só mostra que isso é muito sério. - Se acontecer como na família dele, será o fim pra ela! E não foi o que eu planejei para minha filha, ela tem que ser uma mulher livre!
- Ela será uma mulher livre porque daremos a criação a ela. Ela vai saber fazer se respeitar, diz que quer que ela seja livre mas quer controlar ela desde agora? Ela precisa ser livre e fazer as próprias escolhas.
- Se eu não a livrar dele agora, ela não vai ser livre nunca. Eu estou protegendo a minha filha, ela é uma adolescente, e não uma mulher que já tem que tomar todas as escolhas, cabe a mim proteger minha filha menor de idade.
- Amor... - Ouço passos a frente, indicando que ela está se aproximando dele. - Fique tranquilo, foi apenas uma briga adolescente... Nós vamos ficar de olho e se algo acontecer vamos resolver.
Silêncio.
Isso me deixa apreensiva, não ouvi respirações pesadas, nem movimentos pelo chão, nem sussuros.
- Quando esse algo acontecer, pode ser tarde demais.
- Vamos estar em alerta, vamos cria-la para o mundo e vamos cria-la bem. - A voz da minha mãe agora está bem mais paciente, tentando transmitir o mesmo sentimento para ele.
Ouço uma bufo pesado, é ele e depois mais um passo a frente, acho que ele a abraçou pois em seguida ouço um som de beijo mas não boca, na cabeça ou na testa..
Ela o convenceu porque não diz mais nada.
Fico aliviada e quase sorrio, ela consegue fazer muito bem isso, tem um poder sobre ele que é tão bom...tão bonito, esse domínio sobre ele vem do amor puro que ele tem por ela que é capaz de fazer qualquer coisa. Quero um dia ser assim para alguém, saber acalmar a pessoa no seu pior, transformar a raiva em calmaria e ver que tudo isso é devido a o grande amor que sente por mim.
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Rolo no colchão para o outro lado, achando uma posição mais confortável para segurar o celular.
- Coloca a Esther na chamada. - Peço para Nádia do outro lado.
- Espera aí, vou pôr. - a inclui no grupo e a convida para chamada de vídeo.
- Hola... - Ela atende sorrindo e nos cumprimenta em espanhol. - Angel, como está?
- Eu estou bem...bem ferrada. E você?
- Ferrada? Por que? - Pergunta curiosa depois de abrir um pouco demais os olhos por minha resposta.
- Um cara aí, disse que eu sou dele.
- Meu primo. - Nádia conta.
- Agora tenho que voltar pra Rússia e resolver isso. Nunca ...nunca deixe um russo tirar sua virgindade. - aponto para tela, batendo a unha na mesma como se estivesse no rosto dela.
- Alessandro Petrov? - Arregala os olhos ao perguntar. Então ela já o conhece, deve ser porque Nadia disse que se tratava sobre o primo dela.
- Esse aí. Conheceu o Alessandro? - sorrio abertamente. - o que achou dele?
Com certeza não deve ter achado algo ruim..
- Ele foi gentil comigo... Mas eu notei um sério complexo de deus nele. Aliás, todos os chefes ali tem... Desculpe chefinha. - Sorri sem graça ao se desculpar para Nádia. - Mas não foi dele que eu não gostei, foi da Jhoana...
- Ah...eu evito ela o máximo que eu posso.
- Pois eu não. - Diz Nádia com a voz potente e carregada de ódio e rancor sobre a mulher. - Qualquer oportunidade que eu tenho de cruzar com aquela vadia e colocar ela no lugar, eu aproveito.
Olho assustada pra Nádia mas todas acabamos rindo. Ela é assim mesmo, dura na queda, difícil, autoritária e muito sem paciência, assim como o pai, Stefan Devan. Mas a amo muito, e ela é uma ótima pessoa.
- Eu fui levar o orçamento que Nádia pediu pra ele, e aí ela estava lá no escritório dele dando ordens a secretária. Ela nem me deixou entrar, disse que iria revisar e que ela iria passar pra ele. Que ele não tinha que se incomodado com pedidos inúteis porque ele tinha mais o que fazer. - Faz uma imitação caricata da voz enjoada de Jhoana.
- Ela sempre foi bem grossa, e me odeia.
- Sabemos o por quê. - Diz Nádia e eu faço que sim. É por ciúme de Alessandro, ela parece meio obcecada por ele, e me vê como um grande obstáculo, um muro que os dividi.
- A esther já sabe...da obsessão do Alessandro por você desde criança, não sou fofoqueira, jamais...mas eu contei. - Diz ela, erguendo as mãos em rendição.
- Tudo bem...melhor ainda. - respondo sincera, eu realmente não aguento mais contar essa história.
- Comigo ela não tem essa pose toda, sabe que eu mato ela e piso igual uma barata se ousar. - Nádia volta a se referir a Jhoana, fazendo Esther sorrir antes de fazer uma cara de dúvida e perguntar a mim:
- Mas você disse que ele tirou sua virgindade e que disse que era dele? Você não quer?
- Não quero ser dele...eu quero transar com ele...tem diferença.
- Mulher...- Nádia responde com voz e expressão de admiração e surpresa com minha fala que soa extremamente estranha até para mim agora - Quem diria...você com essa carinha.
- Ainda sou humana. - sorrio. - Mas é também porque sei como são as coisas com Devan e Petrov, eu tenho medo.
- Olha pode ser problemático o que vou dizer mas vocês deveriam saber isso mais que eu... Porque nasceram aqui. - Esther começa, mudando o celular de posição. - Você não pode transar com um homem e não ser dele aqui. Perder a virgindade com um desses mafiosos é loucura, eles ganham poder sobre nós... Pelo menos é o que o Eric vive me dizendo, eu tirei sua virgindade, tenho direitos sobre você.
- É que eu fui empurrada a isso pelas circunstâncias, sabe? Preferi achar que seria o melhor caminho e que por sermos amigos, ele me pouparia de tudo isso que envolve ser dele.
- Ele não tem poupa ninguém, amor. - Nádia dispara com sua usual sinceridade.
- E agora estou lidando com isso. - dou um sorriso fraco.
- Vai dar tudo certo...não vou dizer que vai conseguir sair disso, sabe que sou sincera e sair disso você não vai, mas vai aprender a viver da melhor. Se adaptar. - Mais um disparo da sinceridade dolorosa de realista da Nádia.
- Você não é daqui. Não tem como parar isso? Não sei, falar com seu pai? - Questiona Esther.
- É que assim...- tenho explicar, respirando fundo, esse é um tópico complicado.
- No país dela as coisas funcionam da forma dela, mas a partir do momento que ela se envolve com um russo, tem que seguir as principais regras. E também, o Alessandro pode prejudicar a família dela se quiser. - Sem paciência de aguardar minha resposta, Nádia explica por mim.
É basicamente isso realmente, tem regras lá que eu não tenho que seguir, porque servem para as mulheres que trabalham lá, nasceram lá. Mas a partir do momento que eu me deitei com Alessandro, é como se eu estivesse sido integrada a eles, tenho que seguir as regras que envolvem ser de um mafioso. Porque me deixei ser parte deles. Mas quem disse que eu pensei muito nisso quando fui fazer aquilo? Pensei em mim, na minha família...
- E acredite, fora de cogitação tornar isso um problema do meu pai. Ainda não temos culhoes para lutar com a Salazar, e mesmo assim meu pai iria lutar. Por mim.
- Olha... - Esther suspira. - Estar com um cara não é tão ruim, principalmente quando disse que gostou de transar com ele.
- Estou tentando levar isso em consideração. Mas e você? Como acabou com o Eric?
- Bom... já que abriu sua vida, vou abrir a minha. -Pai ruim, dividas, traficada pra pagar a dividida do pai, leiloada por ser virgem, degustação de mulheres na Rússia e comprada por um mafioso. - Resume e a cada palavra vou ficando mais impressionada.
- O Eric?! - arregalo os olhos. - ele ficou com você quando você era...- não digo a palavra "prostituta".
- Foi a primeira vista. - explica Nadia para mim. - É...com ele também aconteceu.
Aperto os lábios, fazendo que sim.
Ele se obssecou...Eric Devan, caiu.
- É. Tive apenas uma noite de prostituta e ele foi meu único "cliente". - Faz aspas com a mão. - Ele me tirou daquele lugar horrível e me trouxe pra cá.
- Ah...até então você saiu no lucro. - dou de ombros. Superficialmente falando...não sei como Eric será com ela daqui para frente, mas prefiro pensar no melhor.
- Nada nesse mundo é de graça, Angel. - Nádia é a primeira a me lembrar.
- É...tem isso. O Eric é... terrível e apaixonado nem imagino.
- Ah...ele tem lá suas irregularidades mas...se ela domar a fera....
- Está gostando dele? - Me volto para Esther.
- No momento? Não... Ele gritou comigo, me acusou de ter dado chances pra um cara que foi fala dos meus direitos para o pai dele.
- E nos outros momentos? Antes desse...você gosta dele?
- Gosto. - Sorrio carinhosa e pensativa. - Ele é... Bom... Em muitos aspectos. - Diz meio maliciosa.
- Entendo completamente esse impasse.
- Posso falar uma coisa? - Nádia pergunta a nós duas.
- Sim...- Esther diz.
- Ainda bem que eu não sou vocês.
- Vai chegar sua hora, tá? Todos sofrem na vida amorosa. - aponto para tela.
- Não quero esse problema. Eu estou surtando nesse lugar, meu pai está me pressionando muito e hoje veio um idiota na minha sala querendo me dar ordens e me afrontando.
- Ah, sim... O Philipe... - Esther conta se lembrando e sorri - Tem que ver... Ele é lindo.
- Ele é um ridículo. - Nádia dispara com ódio.
- Ele é gostoso... Parece esculpido nos céus. Você vai concordar comigo assim que vê-lo. - Esther diz a mim.
- Fica falando isso por aí pra ver se o Eric não te pega. - aviso.
- eu disse a mesma coisa. - Nádia comenta.
- Depois mandem foto dele.
- Vai ver... Além do mais, o Eric não tem com que se preocupar. Eu posso estar louca mas vocês dois combinam. - Diz a Nádia com um sorrisinho travesso no rosto e ela não parece gostar muito da fala de Esther.
- já chega dessa conversa, eu vou voltar para o trabalho que eu ganho mais.
- Acho que alguém está afetada. - sopro fazendo um assobio.
- Tchau, meninas. - desliga a chamada, deixando apenas Esther e eu com as sobrancelhas erguidas.
- Aposto um anel de brilhantes que eles vão acabar transando.
- Se é que já não fizeram...- respondo ainda com os olhos bem abertos.
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E aí meninas? O que acharam do capítulo? Votem e comentem muito.
Mas me contem aí....e o Barry? Qual a dele com a Angel?