Capítulo 6 O bastardo da família Andreas

Mesmo diante do acontecido da noite anterior, Íris não poderia ter tido uma noite de sono tão agradável, como a que teve. Ela acordou bem-disposta e determinada, e nada ou ninguém ia estragar o seu dia: isso se ela fosse mais rápida que seu pai e saísse antes que ele a visse.

Como nenhum dinheiro do mundo era capaz de comprar a paz de espírito dela; Íris se apressou e correu para tomar banho. Depois da ducha relaxante, ela arrumou-se apressada, saiu sorrateiramente da mansão e pegou a estrada que a levaria para o hospital: seu desjejum, ela deixaria para fazer em uma confeitaria próxima ao Hospital Santo André.

A passagem dela pela confeitaria não demorou muito e isso deu a ela, alguns minutos a seu favor: ela pretendia, então, usar o tempo livre que ainda lhe restava para sondar Nikos a respeito do que ficou decidido na reunião de família.

Assim que entrou no hospital se dirigiu a recepção e perguntou ansiosa.

- O doutor Nikos já chegou?

- Sim, e está bem atrás de você. - Nikos respondeu e dirigiu-lhe um sorriso largo.

- Ótimo, pois pretendo rouba-lhe a atenção por alguns minutos. - Disse, puxando-o a seguir para a sala dele.

Como ela foi expulsa do escritório de seu pai, no meio da reunião, Íris estava muito curiosa para saber o desfecho da história e o seu querido irmão era a pessoa certa para fornecer-lhe todas as respostas. Aparentemente, Konstantinos deixou transparecer que a situação estava sob controle, ela só não sabia até que ponto.

Seja lá o que tenha ficado decidido, ela só lamentava pelas crianças e pelo pai adotivo delas. Não seria nada fácil para os seus sobrinhos lidarem com tudo o que ainda vinha a acontecer. De repente elas teriam suas vidas modificadas e suas rotinas alteradas e, no primeiro momento, essa nova fase na vida delas, poderia ser muito traumática se não lidada da maneira correta.

Tão logo eles entraram no escritório, Íris fechou a porta e o questionou a seguir.

- Como ficou o caso dos meninos? O papai já encontrou uma solução que seja boa para ambas as partes?

- Infelizmente a questão "ambas as partes" não foi levada muito em consideração. - Respondeu. - O papai está pensando apenas no lado dele e no do Leandro; que de uma hora para outra resolveu morrer de amores por aquelas crianças.

Indignada diante da postura egoísta de seu pai, Íris opinou.

- O papai não pode pensar nesta questão como se ela tivesse apenas um lado; mais do que a vontade do Leandro em assumi-las, há a questão das próprias crianças, que serão as mais afetadas... Simplesmente ele não pode arrancá-las do lar delas, sem que elas estejam preparadas para essas novas mudanças. - Acrescentou preocupada.

- Foi exatamente isso que eu falei para ele; mas era apenas eu contra o restante da família.

As palavras de Nikos naquele momento pesou muito sobre ela, e Íris lamentou ter deixado o escritório antes do término da reunião. Se ela tivesse ficado; pelo menos seriam dois contra o restante da família.

Mesmo sabendo que a sua opinião não acrescentaria em nada na decisão de Konstantinos, ela não poderia ter deixado Nikos sozinho, na jaula com os leões.

- Você sabe que se eu tivesse permanecido na reunião era bem provável eu sair de lá, expulsa de casa. - Disse envergonhada.

- Do jeito que ele estava, não duvido nada que ele tivesse feito exatamente isso. - Ele concordou.

- Qual será o próximo passo dele? Arrancar as crianças a força da casa do papai delas?

- Não. - Respondeu calmo. - Por sorte ou azar do destino, o pai dos gêmeos trabalha nos Estaleiros Varvakis: segundo papai, o homem em questão é o protegido do senhor Andreas.

- O senhor Andreas, avô da esposa do Michaelis? - Íris o questionou surpresa.

- O próprio: de acordo com Michaelis, parece que o avô de Chloe andou pulando a cerca, e o rapaz seria filho bastardo dele. - Explicou e acrescentou logo a seguir. - É claro que o senhor Andreas nega até a morte, mas mesmo assim não conseguiu convencer a família do contrário.

- Nesse caso, o papai e o Michaelis sempre souberam dessa história? - Íris perguntou incerta e mais curiosa do que antes.

- Só o Michaelis sabia: foi ele que admitiu o rapaz na empresa a pedido do senhor Andreas... O papai só tomou conhecimento desse fato, recentemente, através do Heitor Andreas, que será o advogado do papai, no caso.

- Nesse caso o próprio neto do senhor Andreas, pretende tirar os filhos do suposto sobrinho. - Constatou e acrescentou a seguir. - O papai deve ter ficado uma fera quando descobriu que o Michaelis escondeu esse detalhe tão importante para ele.

- Não apenas o papai, como a própria Chloe. Saber pelo irmão dela, que o Michaelis infiltrou o bastardo nas nossas empresas, foi como receber uma apunhalada do próprio marido.

Mesmo sem conhecer o atual pai dos sobrinhos bastardos dela, Íris estava com pena dele: Heitor Andreas - irmão de Chloe - era um excelente advogado e nunca perdeu uma causa. E se ele pegou a causa de Konstantinos, mesmo sabendo que isso implicava em lutar contra a própria família Andreas; era porque ele também não aceitava o filho bastardo de seu avô.

- Nesse caso, esse tal homem não é apenas uma pedra no sapato da nossa família, como também da família do Heitor. - Íris observou penalizada.

- Isso mesmo. Na verdade o rapaz é o calcanhar de Aquiles da família Andreas. - Observou e continuou. - Como o senhor Pietro é Ministro das relações internacionais, não seria nada bom para a imagem dele, um escândalo envolvendo o nome deles... Além do mais, tem a questão da avó do Heitor, que odeia esse filho clandestino do senhor Dionísio Andreas.

- Em resumo, não tem nada para esse homem. - Observou e prosseguiu. - O Heitor preza muito a imagem da família, e ama com loucura a avó dele.

- Você já tem ideia de como será essa disputa. - Observou. - Pena que essas crianças também estão no meio desse fogo cruzado. - Acrescentou, preocupado com a questão emocional dos sobrinhos.

A conversa entre ela e seu irmão foi bastante esclarecedora e permeada de muitas descobertas. Saber que o senhor Andreas teve uma vida dupla foi uma grande surpresa para ela, pois até então, ela o tinha como um homem acima de qualquer suspeita. Ele aparentava ser um pai de família exemplar; um homem fiel aos seus votos matrimoniais e a família que constituiu a partir de então.

Frente a essa nova descoberta, ela se questionava qual teria sido a reação de Chloe, ao descobrir que o avô que tanto amava tinha duas facetas em sua personalidade.

Apesar de ela e Thais terem suas divergências; o mesmo não se aplicava a Chloe: Íris e ela tinham um relacionamento muito bom. Mais do que cunhadas, elas eram como irmãs.

- Alguém mais tem conhecimento desse fato?

- Não. - Respondeu. - Esse era um segredo guardado a sete chaves pela família Andreas, que com a história do Leandro, veio à tona; pelo menos para a nossa família. - Fez uma breve pausa, como se pensasse nas próximas palavras e acrescentou. - Ninguém em hipótese alguma pode tomar conhecimento dessa história; primeiro porque o senhor Andreas jura de pé junto não ser o pai dele e, segundo, porque a Chloe e o Heitor pediram sigilo absoluto.

- Você sabe que por mim, essa história morre aqui. - Íris disse enquanto consultava o relógio de pulso.

- A fofoca estava muito boa, maninho, mas os meus pacientes me aguardam!

Ela disse descontraída, ao passo que Nikos deu uma sonora gargalhada.

Antes de ela o deixar, ele disse.

- Você precisa atender mais vezes na ala leste. O que tem de pacientes querendo marcar o retorno da consulta contigo, não é fácil.

- Como médica e irmã, estou inteiramente a sua disposição.

- Prezo muito em saber disso. - Nikos disse e piscou a seguir para ela.

Como profissional, ela ficou muito feliz com a aceitabilidade dela, na Ala Leste. Por ser considerada a ala dos pobres, muitos médicos atendiam de qualquer jeito, o que algumas vezes, acarretava em denúncia ou na baixa procura dos pacientes por determinado médico. Sempre que isso acontecia o hospital procura analisar os dois lados da questão, para então, tomar as devidas providências.

Ao contrário do plantão de domingo, Íris foi novamente integrada em sua equipe de origem, o que significava que ela teria uma manhã tranquila de atendimento.