Capítulo 2 Pai, e agora mãe.

No dia seguinte, acordei com uma dor de cabeça insuportável, tomei um café rápido com minhas filhas e avisei a Susan que iria ao bar buscar o carro para levar as crianças para escola, ainda não tocamos no assunto do divórcio, mas compreendo que já passou da hora de colocarmos um ponto final nesse casamento já que acabou há muito tempo, é a melhor coisa a ser feita visando o bem estar de nossas filhas.

Entro no bar, procurando por Savannah que ficou com as chaves do meu carro, a encontro atrás do balcão de madeira, usando um avental, os cabelos cacheados presos por uma fita quadriculada, e porra, não tinha a lembrança do rosto dela, e ela é linda. Rosto delicado pele cor de jaspe, olhos castanhos, lábios carnudos e um sorriso encantador.

- Savannah? - Digo, e ela se vira para me encarar.

- Você é o cara do Honda, Ethan seu nome né? Aqui sua chave. - Ela diz, tirando a chave do bolso traseiro da calça jeans que usa.

- Obrigado, e desculpa por ontem, sei que fiz uma bagunça aqui ontem, espero que não tenha causado problemas para você.

- Tudo bem, vejo que fez um curativo no machucado. - Ela diz, apontando para o esparadrapo sob a minha testa.

- Ah é, foi um pequeno incidente ontem.

- Espero que esteja tudo bem agora, nos vemos qualquer dia. - Ela diz, dando um sorriso antes de se afastar indo em direção a porta dupla atrás do balcão.

Deixo o bar e volto para o estacionamento, entro no carro e dou partida no motor, o trajeto até em casa é curto, dura cerca de 25 minutos, chego em cima da hora de levar as meninas para escola, por sorte elas já estavam prontas e esperando por mim na calçada sob o olhar irritado de Susan as garotas entram no carro e dou partida outra vez, levando as crianças para escola.

Hannah e Holly cantam o tempo inteiro no banco traseiro, amo minhas filhas e daria o mundo a elas, são as melhores coisas que eu tenho na vida e ser pai é uma das pouquíssimas felicidades que eu tenho.

Estaciono o carro em frente à escola das meninas me despeço de ambas e volto para casa, tenho assuntos pendentes com Susan, e se ela quer realmente o divórcio, eu não vou me opor, o nosso casamento acabou quando Holly nasceu, ou seja, há 4 anos, então estamos levando apenas para disfarçar as evidências.

Assim que entro em casa, Susan está sentada no sofá, abro o último botão da camisa social que estou usando e me sento na poltrona entre as estantes de livros e cruzo as pernas, esperando que ela dê início a nossa conversa.

- Ethan, eu vou pedir realmente o divórcio, nosso casamento já acabou há muito tempo, e precisamos aceitar isso.

- Claro, não vou me opor a essa decisão.

- E não vou querer brigar pela guarda das meninas, você pode ficar tranquilo, você nunca foi um pai ruim, na verdade, é um excelente pai. - Susan diz, e dou um riso nasal, já suspeitava que ela gostaria de viver sua vida após o nosso divórcio como uma mulher solteira e sem filhos.

- Tudo bem, você só precisa dizer isso ao juíz, você já entrou com o processo de divórcio?

- Sim, na verdade, essa pasta em cima da mesa são os papéis, basta você assinar e estaremos oficialmente separados.

- Você foi realmente muito rápida! Mas tudo bem, vou assinar, assim que eu voltar do consultório. Já comunicou as meninas?

- Não, ainda não. Preciso saber como estão as coisas na Itália, após o divórcio vou voltar para Roma.

- Então você realmente vai abandonar as suas filhas Susan?

- Não vou abandonar Ethan, quando você for assinar, verá que eu estou abrindo mão da guarda delas, porém eu vou vim visitar-las durante as férias.

- É abandonar sim Susan, mesmo que você seja essa mãe horrível que é, elas sentirão sua falta, e você não estará aqui, estará há milhares de quilômetros de distância. Então é abandonar! Mas não esperava outra atitude sua além dessa.

- E você queria que eu fizesse o quer? Eu nunca quis ter filhos Ethan, NUNCA! - Susan diz, com um tom de voz alterado. - Eu nunca quis ser mãe, eu queria continuar com minha carreira de modelo em Milão, as duas gravidezes foram indesejadas Ethan, e você sabe disso.

Um silêncio desconfortável paira no ar, se perpetuando por minutos a fio, até que me levanto, recolho a pasta com os papéis de divórcio me dirigindo a saída.

- Para onde você vai Ethan? - Susan pergunta, e eu a olho por cima dos ombros.

- Trabalhar Susan. - Digo, passando pela porta sem olhar para trás.

Entro no carro e dirijo o mais rápido que posso para o consultório, quando chego verifico com a recepcionista quantos pacientes terei hoje e peço para que ela cancelasse qualquer outro paciente a partir das 14:00.

Trabalhei o dia praticamente inteiro com o assunto do divórcio na cabeça, as palavras de Susan não me machucam mas me fazem pensar em como as minhas filhas ficarão, Susan não é uma mãe exemplar mas ainda assim é a mãe deles, a única que elas tem, não tenho um relacionamento muito bom com a minha mãe, sendo assim as garotas raramente vão visitar a avó, temo não ser capaz de suprir todas as necessidades das minhas filhas, mesmo fazendo de tudo para vê-las felizes.

Ao início da tarde, estou sozinho, a recepcionista já foi embora, aproveito o tempo sozinho para ler os documentos do divórcio e realmente constato que Susan abriu mão da guarda das crianças, então a partir do momento que eu assinar esses papéis, seremos só nós três, eu, Holly e Hannah.

Suspiro pesadamente, e assino a lista abaixo da assinatura de Susan, em seguida ligo para o meu pai e peço para que ele vá buscar as garotas na escola, e vou direto para o mesmo bar que eu estava horas atrás.

Ao chegar ao bar, sento-me novamente no mesmo banco junto ao balcão, peço uma dose de uísque cowboy, e viro o copo de uma vez só, olho por cima dos ombros e vejo Savannah, de costas, usando uma calça jeans azul escuro justa que demarca cada curva do seu corpo curvilíneo e me pergunto como nunca havia reparado nessa garota antes?

- Limpa a baba grandão! - Carl, o barman e amigo de longa data diz, me tirando do meu estado de transe. - Ela é realmente muito gostosa, desde que começou a trabalhar aqui aumentou bastante o número de clientes, jovem, com uma bunda incrível, tem cara que vem aqui só pra admirar essa oitava maravilha do mundo.

- Eu não estava olhando para bunda da garota, você que é um depravado. - Respondo, e Carl gargalha, me servindo outra dose de uísque.

- E como vão as coisas em casa? - Carl pergunta, e eu viro o copo antes de responder.

- Assinei meu divórcio há algumas horas atrás, já sabíamos que isso ia acontecer, então estou aqui, afogando as "mágoas".

- Que merda cara, e como as garotas reagiriam sobre isso? Quando eu me separei da Melinda, meus filhos ficaram arrasados!

- Não sabem, e no processo ela abriu mão da guarda das garotas.

- Porra, e você vai saber se virar com duas meninas sem a mãe por perto?

- Não sei, e para ser sincero isso me assusta um pouco.

- Carl, uma dose de vodka e um mártir por favor. - Savannah diz, interrompendo a nossa conversa. - Oi Ethan, não esperava te ver tão cedo por aqui. - Ela diz, virando ligeiramente o rosto para me encarar, e sinto o cheiro de baunilha do perfume que ela usa invadindo as minhas narinas, sem querer parecer invasivo meu olhar descer para o colo dos seios do Savannah, comprimidos numa regata preta com decote em V.

- Já conhece o Ethan, Savannah? - Carl diz, colocando os pedidos da garota de olhar intenso sob o balcão.

- É, nos conhecemos na noite passada, ajudei ele com um porre, o de sempre. - Savannah responde, e eu dou um riso sem graça. - Nos vemos por aí, Ethan. - Ela diz, colocando os copos sob a bandeja de metal e se afasta requebrando os quadris.

- Se eu fosse 20 anos mais novo, eu faria uma investida. - Carl diz, e me faz rir.

- Qual a idade da garota? - Pergunto, pegando um dos amendoins na tigela disposta diante de mim.

- Dezenove anos, uma ninfeta! - Carl responde, me fazendo engasgar ao ponto de tossir e lacrimejar os olhos.

- Carl, a garota tem idade para ser sua filha, tenha modos.

- Mas você tem chances, agora está divorciado, eu jogaria uma isca. - Carl diz, e eu balanço a cabeça em negação. - Qual é Ethan, quantos anos você tem? 36? 38? A Susan te deu um pé na bunda, mas olha aquela beldade ali. - Ele diz, e outra vez olho por cima dos ombros e vejo Savannah sorrindo enquanto conversa com um casal.

- Acho que você está ficando caduco, Carl, cala a boca e coloca mais uma dose. - Digo, e Carl rir dando de ombros e colocando mais uma dose de uísque no copo sob o balcão, e entre uma dose e outra, conversas triviais eu vou esquecendo o assunto do divórcio, a Susan abandonado as garotas e me deixando sozinho com a responsabilidade de ser pai e mãe ao mesmo tempo, sem ao menos ter a certeza de como vou conseguir desempenhar esses dois papéis.

Já é começo da madrugada, dessa vez não estou tão bêbado quanto a noite passada e tenho condições de voltar para casa, me ergo do banco e estou prestes a passar pela porta dupla do bar, quando ouço a voz de Savannah.

- Não tenho interesse, e tira suas mãos de cima de mim, não te dei o direito de me tocar. - Olho por cima dos ombros e vejo um cara tentando segurar a garota pela cintura, contra a vontade dela que tenta se desvencilhar a qualquer custo.

- Qual é gatinha, eu vou te pagar bem pelo serviço. - O cara diz, e mais uma vez Savannah tenta se livrar das investidas, e resolvo me aproximar.

- Solta a garota cara, ela já disse que não quer e não tem interesse em seja lá qual foi a proposta que você fez.

- Não se mete grandão. - O cara diz, me dando um empurrão e num reflexo retribuo o gesto com um soco de direita logo abaixo do queixo dele, fazendo-o tontear e cair ao chão sem sequer conseguir se reerguer.

Savannah me olha com os olhos arregalados e rompe em riso, me fazendo rir também.

- Você matou o cara?

- Acho que não, ele só deve ter desmaiado.

- Obrigada, mas eu sei me virar sozinha Ethan. - Ela diz e eu ergo as mãos em forma de rendição.

- Eu sei que você sabe. - Respondo, me virando para sair, indo em direção ao carro parado no estacionamento, estou prestes a abrir a porta do carro quando ouço a voz melódica de Savannah chamar meu nome.

- Você esqueceu isso em cima do balcão, parece ser importante. - Ela diz, me entregando os documentos do divórcio. - Sinto muito pelo seu casamento, não tive como não ler do que se tratava. - Savannah fala, colocando um cacho do seu cabelo atrás da orelha.

- Tudo bem, obrigado. - Respondo, pegando a pasta das mãos da garota.

- Se você quiser conversar, meu expediente já acabou, há uns dez minutos.

- Seria ótimo. - Respondo, com as mãos no bolso da calças.

            
            

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