Estou de pé na frente do pequeno altar de mármore branco, vestindo um smoking preto, e gravata cinza. Ao meu lado, Beatrice está usando um vestido branco que Renzo penou pra conseguir de última hora e que mesmo assim serviu perfeitamente em seu corpo esguio. Nos bancos de madeira maciça, estão alguns membros do conselho com suas esposas e filhos, Renzo com a namorada da vez, Lais ao lado dos nossos pais, e meus avós mais à frente. Vovó está radiante e por um momento eu fico triste em ter que enganá-la, mas foram as regras enraizadas pela família dela que me levaram a isso.
Como já esperado por mim, as perguntas sobre a ausência dos familiares da Beatrice foram contornadas usando a justificativa do estado de saúde dela, seguido da promessa de que assim que estivesse melhor, ela nos faria uma visita, então por hora o problema foi contornado.
Seguimos lado a lado no altar, enquanto a voz do juiz soa distante fazendo seu habitual discurso, que eu sequer estou prestando a devida atenção:
-De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados. - O juiz finaliza a cerimônia após assinarmos os documentos.
Tentando manter o personagem, eu circulo a cintura da Beatrice e a beijo, ela retribui o beijo, saindo logo em seguida.
Como já era esperado, a torrente de perguntas sobre a nossa relação desconhecida começa a causar incômodo, e combinar as respostas se torna cada vez mais difícil a medida que os urubus do conselho começam a procurar qualquer coisa para questionar a nossa união.
Meu pai segue nos olhando de soslaio enquanto minha avó é só sorrisos uma vez que ela acredita piamente no grande amor que existe entre Beatrice e eu. Aliás, em menos de duas horas de casamento, Beatrice já se mostra uma mulher de personalidade irritante, quando cria caso inclusive sobre a minha decisão de dormirmos aqui mesmo, no meu quarto.
-Boa noite, casal - Um dos dinossauros do conselho vem até nós - Recebi com muita surpresa o seu convite, qual o motivo da pressa? tem um herdeiro a caminho?
-De maneira alguma, senhor - Beatrice responde antes de mim, e com um sorriso forçado no rosto - Nós só achamos importante afirmar e tornar público nosso amor, não é, querido? - ela pergunta me olhando e eu assinto - Sem planos para ter filhos, pelo menos por enquanto.
-Se o senhor nos der licença - encerro o assunto - Precisamos cumprimentar os outros convidados.
Despisto o velho, e assim que fico a sós com Beatrice, seguro seu braço fazendo ela me olhar com raiva:
-Não entendo muito sobre ser noiva - cochicho em seu ouvido - Mas todas as que eu vi, estavam sorridentes e tratando os outros com simpatia e cortesia, e seu sorriso é mais falso que nota de três reais. - finalizo dando um beijo em seu rosto apenas para despistar mais um abutre que vem até nós
-Sua esposa é muito linda, Leonardo - o homem elogia e eu assinto - Mas não sei qual vai ser a reação da mídia diante de uma mulher de CEO tatuada, e desconhecida no meio.
-Com todo respeito, senhor - ele ensaia um sorriso - Ela é minha esposa, não ocupa nenhum cargo de diretoria na empresa, e ainda que ocupasse, as minhas tatuagens nunca foram um problema, porque as dela seriam?
-Tem razão meu caro - o homem assente envergonhado -com licença.
-Você acabou de criticar a minha falsidade - rodeio meu braços em seu pescoço assim que percebo a aproximação de seus pais - Mas sua demonstração de amor está tão forçada quanto o meu sorriso. - deposito um beijo rápido em seu lábio, deixando-o surpreso - se espera ficar um ano inteiro atuando, sugiro que você melhore, "querido - finalizo em um tom irônico bem a tempo de ver seus pais se aproximarem de nós.
-Eu juro que acreditei que você ia desistir - o pai dele fala rindo - Não sei o que você fez, menina, porque eu tento casar esse homem desde seus vinte e cinco anos, você fez rapidamente o que eu tentei por seis anos, qual o segredo?
-Muita bebida e rock triste, sr.Giorgio - abraço a cintura do Leonardo que me olha incrédulo - Não é querido?
-Beatrice é piadista além de tudo - ele ri -Mãe, pai, estamos exaustos, vamos nos despedir de todos e nos recolher, não é, Bea?
-Claro, Léo - respondo forçando o apelido, já que ele fez o mesmo comigo - estou realmente precisando descansar.
-Ah, mas antes vocês precisam dançar juntos e jogar o buquê - Dona rute aparece sei lá de onde - Vocês são jovens, mas precisam seguir a tradição, não abro mão disso.
-Tudo bem, vovó, vamos dançar, e depois nos recolhemos, ok? - ele beija a vó com ternura me fazendo sorrir
-Qual a música de vocês? - ela pergunta e Leonardo me olha pedindo ajuda
-The reason - falo a primeira que me vem a cabeça e ele respira aliviado
-Vou pedir pra o Dj tocar, esperem na pista. - dona Rute vai na direção do dj, e logo ouvimos a melodia soando pelo ambiente
The reason - A razão
As primeiras notas da música soam dando leveza ao ambiente enquanto eu me deixo levar pelos braços dele que, acabo de descobrir, é um exímio dançarino e me conduz rodeando a pista de dança, e me fazendo girar várias vezes, enquanto me olha sorrindo, agora de uma forma bem menos mecânica.
Ao final da música, eu fico de costas e seguro o pequeno buquê de rosas coloridas e jogo para as poucas mulheres que o aguardam, e sorrio ao ver a carranca se formar no rosto do Leonardo assim que sua irmã vem sorridente com o buquê nas mãos, e após mais algumas conversas chatas e alfinetadas entre meu "marido" e eu, finalmente estamos no seu quarto nos aprontando pra descansar
Leonardo é o primeiro a entrar no banheiro, e me surpreendo ao ver que ele lotou seu closet com roupas novas - e caras - pra mim, e o mais engraçado é que ele comprou tudo no tamanho correto, mesmo não tendo me perguntado sobre qual era o tamanho. Ele leva cerca de vinte minutos no banheiro, e assim que ele sai, eu vou até o box tirando a minha roupa e me jogando embaixo da ducha quente, pensando no tamanho da virada que minha vida vai dar daqui pra frente.
-Onde você vai dormir? - pergunto assim que saio do banheiro já vestida com as roupas que ele comprou e deixou em seu closet
-Essa cama é grande o suficiente pra nós dois, não acha? - ele fala desviando o olhar de seu notebook
-Se está ok pra você, por mim tudo bem - dou de ombros - Onde está a minha mala? preciso do meu notebook - ele aponta a porta do closet e eu vou até ele, pegando meu notebook e sentando ao seu lado na cama.
-Se importa se eu ficar trabalhando aqui até mais tarde? - ele pergunta - tenho documentos importantes pra entregar na segunda a tarde e estou atrasado.
-Então pelo visto nos faremos companhia durante a noite, porque preciso fazer os últimos ajustes no meu projeto, pra apresentar na segunda pela manhã.