-Só me explica porque um homem bonito e aparentemente rico, está desesperado o suficiente pra tentar casar com uma estranha - encaro o homem com cara de pokerface - Porque pelo que eu me lembro da noite de ontem, você é perfeitamente saudável e não tem motivos pra isso. - Ele ensaia um sorriso, que logo morre quando ele senta do meu lado
-Eu não quero me casar - ele se justifica - Mas eu preciso.
-Porque?
-Digamos apenas que meu futuro profissional depende da droga de uma aliança no dedo, e eu tenho exatos três meses contados da próxima segunda pra aparecer com uma noiva, ou a minha nomeação na empresa da família vai ser cassada pelo conselho.
-Isso não é meio antiquado?
-É, mas meu pai é daqueles que acreditam que pra gerir uma empresa você precisa antes saber gerir a própria família,e pelo visto o conselho concorda com ele.
-Mas porque eu?
-Você acabou de sair de um relacionamento, e provavelmente não vai querer entrar em outro tão cedo - ele explica - eu também não quero me relacionar intimamente com ninguém e preciso de alguém que não crie expectativas acerca de um casamento que tem data pra começar e acabar,
-Então é um casamento falso?
-Basicamente sim. Você vai precisar ficar casada comigo por um ano, obviamente depois disso você sai com dinheiro o suficiente pra viver confortavelmente o resto da vida, e durante o contrato só vai precisar manter as aparências, a parte financeira será de responsabilidade minha.
-Aí nós teríamos um problema - encaro o homem à minha frente, que tem a testa franzida - Eu adoro meu trabalho e não pretendo largá-lo.
-Você vai ter dinheiro pra não precisar trabalhar, e está dispensando? - ele me olha incrédulo
-Vamos ser práticos, você precisa salvar sua nomeação e eu preciso salvar a minha mãe, certo? - pergunto e ele assente - então vamos chegar a um acordo. - Arrumo a minha postura antes de continuar - Eu quero continuar com o meu trabalho, sem tentativas de me fazer virar uma boneca de luxo, porque eu não sou. Também quero que seja incluída uma cláusula de fidelidade, já que não quero mais um par de chifres mesmo em um casamento falso, então se houver traição, o contrato acaba. E não quero dinheiro nenhum além do necessário para tratar a minha mãe.
-Posso fazer todas as concessões, menos a do dinheiro ao final do contrato. Beatrice, você vai estar casada com um bilionário e sair do casamento após um ano sem ter dinheiro, vai levantar suspeitas.
-Todo o resto vai ser respeitado? - pergunto e ele concorda - Então eu aceito.
Leonardo sorri agradecido e pega o telefone ligando pra alguém, que ele chama de Renzo e pede que o contrato seja modificado de acordo com a minha vontade, e pede também que todo o histórico de saúde da minha mãe seja levantado e que o dinheiro que ela precisa seja depositado imediatamente na conta que eu indicar. Ele passa quase meia hora no celular, e assim que ele desliga a camareira toca a campainha trazendo o café que nós tomamos em silêncio, trocando apenas alguns olhares hora curiosos hora apreensivos.
Quando finalmente o café acaba, eu resolvo quebrar o silêncio:
-Quanto tempo nós temos até o casamento? - pergunto e ele me encara sério
-Nos casamos hoje ao anoitecer. - ele responde sucinto
-O que? como assim? - pergunto assustada - Você sequer tem uma namorada, e vai aparecer com uma esposa do dia pra noite?
-É por isso que nossa mente vai precisar ser bem ensaiada - ele pousa seu guardanapo elegantemente sobre a mesa - Você é uma amiga do trabalho, nós nos apaixonamos e resolvemos deixar a relação em segredo por um tempo, mas não conseguimos mais esconder e resolvemos nos casar logo.
-E você acha que isso será convincente? - olho incrédula o homem tranquilo a minha frente
-Acredite, vindo de mim, a justificativa será perfeitamente aceitável. - ele dá de ombros - Agora vamos, preciso te apresentar a sua mais nova família e esse é o horário perfeito.
-Espera ai, eu não posso ir conhecer meus "futuros sogros" - faço aspas com as mãos - Com roupa de balada - argumento e ele sorri
-Só vai dar mais veracidade ao personagem - ele segura a minha mão, me puxando pra for do quarto - Só confia em mim, eu sei o que estou fazendo. - ele pisca - A propósito, sua tatuagem do Queen é linda. - sorrio sem graça e saio com ele em direção ao seu carro
Ele dirige rapidamente pelas ruas de São Paulo, ao som de Numb, canção de linkin park, e eu não resisto quando começo a cantar o refrão sendo surpreendida pela voz que me acompanha na letra:
-Eu me tornei tão entorpecido, não posso te sentir aí
Fiquei tão cansado, tão mais consciente - canto a primeira parte do refrão distraída
-Estou me tornando isso, tudo que eu quero fazer
É ser mais eu mesmo e ser menos como você - ele me acompanha sorrindo da minha cara de surpresa
-Você tem um bom gosto musical - constato e ele me olha altivo
-Eu sei que tenho - franzo a testa diante da petulância dele, que sorri - Chegamos.
Logo um grande portão de metal é aberto revelando uma mansão digna de filmes de Hollywood. Leonardo cumprimenta os seguranças na guarita e segue até a entrada que tem grandes arcos brancos sustentados por colunas jônicas dignas dos templos gregos. Estou boquiaberta com o tamanho do exagero desse lugar, e só volto a realidade quando Leonardo chama a minha atenção
-Eu sei, é um exagero enorme - ele dá de ombros - Isso é obra da minha avó, ela adora exibir o casarão nas festas da empresa. - ele sorri me estendendo a mão - Não se esqueça, nós somos um casal apaixonado, namoramos escondidos a algum tempo e agora resolvemos nos casar, ok?
-Eu estou nervosa - confesso e ele aperta mais a minha mão
-Pensa no tratamento da sua mãe, e foca no que precisa ser feito. - Assinto colocando um sorriso no rosto e o seguindo em direção a porta de entrada da casa.
Assim que adentramos no ambiente, vozes animadas soam na direção do que parece ser uma sala de jantar enorme. Nela, Um casal de velhinhos está lado a lado com as mãos cruzadas por cima da mesa, um pouco mais a frente uma menina que parece ter uns dez anos está brincando com uvas em seu prato, e do lado oposto da mesa, um homem que pela semelhança deduzo ser o Pai do Leonardo, está sentado ao lado de uma mulher loira e muito linda. Travo por um momento no lugar, e Leonardo aperta a minha mão me encorajando a continuar, e assim que chegamos próximos à mesa, a voz da garotinha gritando quebra um pouco da minha tensão:
-Léo, você veio hoje! - Ela levanta rapidamente da mesa correndo e se jogando nos braços dele que a levanta sorrindo - Que moça linda, é sua amiga? - O olhar de todos queima a minha pele e eu tenho certeza que estou vermelha feito um tomate
Leonardo vai até os avós, dando um beijo na testa de cada um, depois faz o mesmo com os pais, e volta até onde estou, segurando a minha mão e me fazendo sentar ao seu lado na mesa:
-Lais, essa é a Beatrice - ele fala olhando a menina - Bea, essa é a minha irmã mais nova, Lais - sorrio pra menina que me olha com um brilho nos olhos
-Oi Lais, tudo bem? - pergunto e ela assentiu sorrindo
-Vô, vó, mãe, pai - ele começa a falar - Essa é a Beatrice, minha namorada, e a partir de hoje, minha esposa.
Leonardo solta tudo de uma vez, atraindo olhares incrédulos de todos na mesa, um silêncio incômodo toma conta do ambiente, até que a voz do pai soa forte feito um trovão:
-Até ontem você não queria ouvir falar em casamento, e agora já chegou noivo?
-Nós namoramos a quase um ano, pai - ele mente - Mas Bea não queria ser vinculada a nossa empresa, tampouco casar por uma imposição do conselho, então preferimos o sigilo, até agora.
-E o que mudou? - ele pergunta pousando a xícara de café na mesa e cruzando os braços
-Nós decidimos que é melhor que todos saibam, porque não dá pra dois adultos viverem escondidos a vida inteira, não é, meu amor? - Leonardo me força a entrar na conversa
-Claro - sorrio - Uma hora todos iam saber, então resolvemos fazer as coisas da maneira correta.
-Isso está muito estranho - ele me esquadrinha com o olhar
-Meu filho - a senhora chama a atenção do homem bravo a nossa frente - Os jovens de hoje são assim mesmo, olha as roupas dela, eu enxergo o Léo antes de ser obrigado a ir pra empresa, eles combinam perfeitamente, e me parecem bem apaixonados, então para se ser amargo e deixa as crianças! - ela me lança um olhar amigável - Meu bem, eu me chamo Rute, e sou avó do Léo, seja bem vinda, e não liga pra o mau humor do Giorgio, isso é só chatice de quem está ficando velho.
-Bom, já que as apresentações foram feitas, se preparem, porque nos casaremos hoje ao anoitecer, aqui mesmo na nossa capela - Leonardo explica - Papai, se desejar, pode convocar o conselho. Vamos Bea? - ele me chama pelo apelido que ele mesmo me deu - Quero que você conheça o meu quarto.