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» Nicole davis
- 20 de dezembro, sábado.
Após ter deixado tudo conforme o que era esperado, a minha única decisão foi ajeitar as malas e partir no único vôo disponível para o dia.
Preferia viajar a noite para poder chegar durante a manhã, mas se apenas o contrário poderia ser feito, não cedi muita importância ao assunto. Voltar a pôr os pés em território brasileiro era aquilo realmente desejado, então o tempo estimado não faria muita diferença. No entanto, não conseguia deixar de pensar em qual seria a reação das minhas mães.
Em um telefonema feito há dois dias, havia ficado estipulado que o meu retorno aconteceria no meio da semana que estava por vir. Exatamente um dia antes da comemoração do Natal. Mas a verdade é que tudo já estava preparado há dias, buscar por descanso em meu país de origem era mais do que um simples momento. Era um desejo tão forte quanto a relação dividida entre mim e a minha família. Ao menos a parte que se via completamente sobre o meu mais inteiro conhecimento, tendo em mente que pouco me lembro da caçula das minhas mães. Ela tinha apenas três anos quando mamãe aceitou que eu viesse viver com o meu tio avô na Europa para a chance de um estudo mais aprofundado, para que cada conquista minha tivesse um significado ainda maior.
Tio Marcelo era alguém muito especial, ele amava a minha mãe. Fazia tudo ao seu alcance para ter a chance de vê-la sorrindo, e não escondeu a imensa felicidade que sentiu quando ela disse sim para a sua proposta de me ceder a melhor das oportunidades oferecida pela aclamada Inglaterra.
Apesar de muito jovem, me lembrava bem de sua relação com cada uma de nós, de como seus olhos molharam quando teve a pequena Ayla em seus braços pela primeira vez.
Ele parecia sentir os seus sentimentos e todos os que deveriam ser exposto pelo irmão. Dividiam toda a intensidade sobre si, mesmo que meu avô não estivese mais presente conosco. Era bonito de se ver, mas triste de se lembrar.
A perda do vovô Miguel abalou toda a família, mamãe me contava os detalhes sempre que podia. Vivia dizendo o quanto ele havia ficado contente por me conhecer, mas lamentava que o mesmo não tivesse tido a mesma oportunidade com minha irmã. Mas enfim, o passado não volta mais. Tudo o que nos resta é viver o presente pensando em criar boas lembranças para reviver no futuro.
Estava ansiosa para o momento que deixasse o aeroporto para me alojar em algum hotel pelo fim de semana, pois apesar de ter vindo dias antes do combinado. Não queria que dona Mellissa soubesse da minha presença, ou teria de preparar os ouvidos para ouvir toda a extensão de sua bronca por não ter avisado.
Segundo ela, era essencial que tivessem a oportunidade de me receberem na área de desembarque. Mas sendo a primeira vez que retorno, pensei que seria vantajoso para mim poder aproveitar esses dois dias por conta própria. Lhe faria uma surpresa na manhã de segunda. No mais, buscaria a diversão como o melhor passatempo até lá.
Devido as longas horas de vôo, havia pegado no sono durante a maior parte da viagem. Meu corpo entregava isso, mas enfim estávamos sobrevoando alguma parte do continente americano. Isso segundo a informação passada pela aeromoça a uma velha senhora ao meu lado no corredor. Não demoraria muito mais, e o meu interesse para o novo apenas aumentava.
Quando finalmente estava passando pelos portões de desembarque, respirei fundo e busquei o celular no bolso da calça jeans que vestia.
As horas marcadas não passavam das seis e meia da noite. Diferente do que cogitei anteriormente, ainda teria algum tempo para não perder todo o meu sábado. Precisaria apenas de alguém que soubesse das coisas aqui na cidade, e enquanto acionava um táxi para deixar me no hotel que mantinha a minha reserva, rolei a agenda do celular em busca de algum velho conhecido. Então encontrei aquele que não me deixava em paz um único momento nas chamadas de vídeo. Ele era um bom amigo, ao menos virtualmente. Estava na hora de pôr tudo isso a prova.
_ Leon, imagino que o seu celular deva ser colado à sua mão ou o meu contato possuí uma notificação especial. Qual dos dois é mais provável de ser constatado como a verdade? - sendo atendida logo no primeiro toque, senti a obrigação de fazer tal pergunta. Pois era incontestável a sua dedicação em estar sempre ligado ao eletrônico, principalmente em momentos tão oportunos para mim. Não me lembro da última vez em que precisei do terceiro toque ou retornar uma ligação por não ter sido atendida por você, não importa o horário.
_ Ao invés de expor a sua reclamação em forma de questionamento, Davis. Por que não me agradece por ser um amigo leal que está sempre à sua disposição para o que precisar? - não escondendo o deboche em seu tom, ele disse de maneira simples, o que me fez revirar os olhos inconscientemente. Mas não disse nada, não lhe cederia essa vitória por agora. Ainda era muito cedo para admitir tal derrota - Como parece que um gato comeu a sua língua, ou deveria dizer gata?
_ Quando foi que você começou a dizer tantas asneiras, Ortégas? - só podia ser brincadeira, ele deveria estar me testando e, o motorista a minha frente parecia se divertir com a minha frustração facial. Então o agradeci e quitei aquela dívida quando havia sido entregue ao meu ponto de destino.
Subir para o meu quarto era tudo o que teria de ser feito, as chaves entregues em minhas mãos me permitiam fazer isso.
_ Tudo bem. Mas enfim, em que posso lhe ajudar dessa vez? - a sutileza do seu tom me lembrava muito ao pisão de um cavalo. Não era muito agradável, mas dava para superar e partir para a próxima.
_ O que se tem de bom nesse país durante a noite de um fim de semana perto do fim do ano? - deixando minhas malas próximas à cama, tirei o que precisava de algumas delas e procurei o banheiro para um momento de relaxamento antes de conseguir algum lugar para ir.
_ Direta como sempre, mas porque tanto interesse? Não vai me dizer que decidiu passar as férias por aqui? - o seu descaso e descrença me faziam querer socá-lo, mas como precisava de sua ajuda com isso, não poderia ceder aos meus desejos mais profundos. Então respirei fundo e encarei o meu reflexo no espelho.
_ Na realidade, eu acabei de chegar. No entanto, entre ficar presa ao quarto e sair em busca de algo para me divertir, já deve estar clara a minha opção vencedora - analisando uma vez mais em minha vida o pingente do colar dado a mim por mamãe em meu aniversário de quinze anos, não pude evitar um sincero sorriso nascer em meus lábios. Era sempre assim quando o assunto envolvia as dras Davis e Rivera.
_ É sério? Está mesmo aqui? Não brinca com uma coisa dessas Nicole, eu sou cardíaco sua idiota. Em que hotel você está? - não me dando espaço para ceder as respostas, disparou uma pergunta atrás da outra. Então neguei a desnecessária intensidade do seu desespero e tirei uma a uma minhas peças de roupa antes de abrir a água quente.
_ Vou te mandar o endereço por mensagem, me encontra na portaria em quarentena e cinco minutos. Preciso de um banho para me sentir completamente disposta - não dizendo nada de outro mundo, esperei apenas que ele confirmasse antes de dar por encerrada aquela chamada. Assim como aconteceu com o banho quase meia hora depois.
Independente do ambiente que fosse ser escolhido por Leon, optei por vestir o de sempre. Ajeitei o cabelo a favor da exposição do corte lateral, tomei em minhas mãos a carteira junto as chaves do quarto e o celular, chequei as horas uma última vez e desci ao térreo sem pensar em muita coisa. Estava tentando empurrar para segundo plano tudo o que pudesse me servir de dor de cabeça.
Exibindo um simples sorriso para a moça que cuidava da recepção, segui diretamente para a saída do prédio, onde Leon me aguardava com o olhar fixado sobre a tela do seu aparelho digital, digitando na mesma proporção em que o meu celular vibrava indicando novas mensagens. Então me pus ao seu lado na lateral do carro e o observei por alguns segundos, esperando que ele se desligasse do eletrônico e notasse a minha presença bem ali. Mas isso não aconteceu, ele insistia em me contatar pelas mensagens.
- Se olhasse para o lado com uma frequência maior, não precisaria digitar tantas mensagens desnecessárias – enfim ganhando a sua atenção, me vi na obrigação de sorrir com toda a surpresa exposta pelo seu semblante – Você é alguém muito dependente dessa coisa, Ortégas. Daqui a pouco vai precisar de um tratamento.
- Você é ainda mais bonita pessoalmente, Davis. E com certeza esses olhos e sorriso me lembram alguém, mas esse não é o momento para uma análise tão profunda – ignorando o meu comentário, ele guardou o eletrônico e destravou o carro ao caminhar para a direção – Não estava planejando sair essa noite, mas fui convidado para uma última festa dos formandos do colegial desse ano. Então achei que poderia ser o combustível ideal. Eles decidiram curtir um pouco, antes da formatura no início da semana.
- Não que eu esteja me importando, mas como a data anual do colégio dará em uma segunda. Não seria ideal regredir tudo para o fim de semana? – era o óbvio – O que esses idiotas possuem na cabeça?
- Sendo um colégio particular, as datas pouco importam. Todos os pais possuem como se fazerem presentes no chamado grande dia, e você devia saber disso – talvez eu realmente devesse, mas não me importava o suficiente. Apenas dei de ombros para o seu comentário e aguardei em silêncio até o momento em que o vi estacionando frente a um clube lotado de jovens e adolescente.
Se minha mãe visse algo assim, cinco minutos seria muito para que tudo estivesse ganhando o seu fim. Bebida alcoólica e menores de idade não era uma combinação que servisse de agrado para uma delegada.
- Como você foi convidado para uma festa repleta de crianças? – o acompanhando pelos espaços que ainda existiam, paramos frente ao bar para uma observação mais precisa sobre o lugar e sua lotação.
- Em primeiro lugar, a grande maioria já possuí dezoito anos. E em segundo, a irmã de um amigo faz parte dos formandos – ouvindo a sua rápida explicação e modo defesa em prol daqueles que não podiam o fazer, percorri cada canto do lugar, fixando meu olhar justamente sobre uma pequena roda de garotas. Elas pareciam se divertir, todas estavam radiantes. Mas apenas uma me ganhou por completo a atenção – Por falar nele, acabei de o avistar. Você vai ficar bem sozinha?
- Não tenha dúvidas disso, vai lá – buscando me livrar de sua distração, disse exatamente o que ele queria ouvir. Então o seu olhar também vagou até o ponto que me mantinha em fixação.
- Claro que vai – não escondendo um sorriso filho da puta, me cedeu um tapa firme no ombro e desapareceu atrás do cara que ele devia estar afim.
Fazer papel de idiota não era uma qualidade minha, e estava claro o seu interesse nesse tal amigo. Mas por momento, nada disso me importa. Minhas prioridades vagavam em uma outra direção.
Pegando uma dose de whisky, virei a vodka deixada por Leon e caminhei em direção ao pequeno bolinho formado por aquela que possuía a minha atenção e suas amigas. Sendo assim, fazendo uso de toda a minha intenção, de forma sutil lhe cedi um esbarão "acidental" ao passar ao seu lado com o olhar voltado para o horizonte. Então logo a busquei com o meu olhar e um falso arrependimento.
- Peço desculpas, estava um pouco distraída – fazendo questão de ceder toda uma análise sob o seu belo corpo, notei que o líquido não havia lhe molhado – Posso lhe ceder um nova bebida?
- Está tudo bem, não será algo necessário – sorrindo para a amiga que se certificava de estar tudo okay com sua roupa, disse simples. Mas não era isso o que eu queria ouvir.
- Por favor, eu insisto. É o mínimo a se fazer para me redimir de um erro tão idiota quanto este – diante o meu dizer, ela respirou fundo, levou seu olhar de encontro a moça em minhas costas e assentiu.
- Está bem, uma bebida não irá fazer mal algum – cedendo as suas palavras, sinalizou um até logo paras as amigas e seguiu na frente. Com isso, repeti o seu ato me despedindo das demais moças e segui os seus passos até os assentos do bar.
- Então, o que desejar tomar?
- Uma dose de whisky está ótimo – analisando o seu perfil fiz um aceno para o rapaz que logo a serviu com o que foi pedido.
- Perdoe-me a invasão, mas não acha que está muito nova para uma bebida tão forte? – antes de permitir que o líquido fosse virado, acabei por sondar algo do meu interesse – Não me julgue mal, estou apenas captando o clima oferecido pelo lugar.
- Garanto que possuo idade para o que estou fazendo, minha mãe me enterraria viva se não fosse assim – sorrindo ao virar de uma só vez todo o conteúdo do copo, disse em diversão.
- Entendo bem do que está falando – associando o seu comentário as constantes ameaças cedidas por Alícia, me senti leve com a direção a ser seguida.
Ao longo do que acontecia, finalmente senti que poderia tirar algo vantajoso desse lugar.