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» Ayla Rivera;
- 20 de dezembro, sábado.
Após nada fazer durante todo aquele dia de sábado, tudo o que me restou foi quase implorar para que dona Mellissa me cedesse permissão para sair com alguns amigos tendo como destino a última reunião colegial do ano, e da nossa turma. Algo que se tornou um pouco menos complicado com a ajuda que a delegada Rivera decidiu me ceder. Mas nada era assim tão simples quanto se tratava das minhas mães, pois mesmo que estivesse me apoiando a aproveitar este momento, dona Alícia possuía o seu caderno de regras a serem seguidas. Então eu disse sim para cada uma delas, disse tudo o que as duas desejavam ouvir, mas infelizmente não faria questão de cumprir nem mesmo com a metade. Era a minha festa com a turma mais badalada de todo o colégio, não iria me segurar por medo delas ficarem sabendo.
Ao cair da noite, estava terminando de me vestir para descer ao térreo com a pretensão de encontrar Alisson e Felipe para que pudéssemos seguir logo para a bagunça preparada pelos mais festeiros de nós. Mas antes de ter a chance de atravessar a porta, mamãe ganhou a minha atenção ao depositar o peso de sua mão sobre o meu ombro, então respirei fundo e me virei para ela ao abrir um meio sorriso amarelo.
- Onde pensa que está indo? – a sua questão me fez engolir em seco, mas o assunto já havia sido discutido, não havia o que temer, não estava quebrando as regras da casa.
- Para a reunião de turma dos formandos, onde mais? – o olhar que me percorreu me causou arrepios, talvez tivesse que ter escolhido um pouco melhor as palavras a serem ditas – Desculpe, mas já recebi todas as regras mais cedo quando me deixaram sair sem um horário para voltar.
- Não foi exatamente o que combinamos – se unindo a esposa, dona Alícia mostrou o tom de sua voz – Você disse que passaria a noite na cada da Alisson, não em meio a aglomeração formada por jovens completamente bêbados.
- Isso é verdade, eu disse – percebendo como começava a me enrolar, recorri ao olhar pidão de sempre. Esse que na maioria das vezes conseguia tirar o que era desejado da melhor agente da lei do estado, mas infelizmente não era essa a realidade exposta pela cirurgiã chefe do hospital geral – Vocês me conhecem melhor do que ninguém, sabem que não vou fazer nenhuma besteira da qual irei me arrepender amargamente depois – tendo perdido a minha aposta, joguei o que as buscavam ouvir – Será que posso ir agora? Desse jeito vou acabar me atrasando.
- Alguém irá acompanhar vocês? – observando a dra Alícia abrir a porta pra mim, mamãe questionou ao seguir os meus passos até o lado de fora do nosso quintal, onde Felipe parecia estar perto de perder a paciência frente a direção do seu carro. Mas ao fitar minhas mães logo atrás de mim, o idiota pareceu se segurar para não rir da minha cara. Então sorriu abertamente e as cumprimentou de forma magestal. Puxa saco do caralho – Acho bom que voltem ilesos para casa, não quero ter que fazer uma denúncia de desaparecimento ou tentativa de sequestro – impondo a parte final para Felipe, foi a minha vez de me segurar para não rir.
- Mamãe, não precisa exagerar dessa forma. Ele não é louco de tirar o olho da gente – percebendo com Alisson negava a todo momento a presença delas, decidi a incorporar em meio ao assunto – Até porque ele sabe dos riscos, não é Lipe?
- Com todo certeza, agora podemos ir? Entra logo aí – Não medindo palavras, novamente sorriu para minhas mães – Mellissa, Alícia, não se preocupem, elas estão em boas mãos. Tenham uma boa noite, entrego a filha de vocês ilesa amanhã a tarde.
Após tantos dizeres desnecessários, o nosso percurso finalmente se viu sendo trilhado. O clube era o destino final, e não demorou para que estivéssemos estacionando entre os demais carros de estudantes para nos espalhar entre o restante da turma presente.
Felipe foi o primeiro a procurar pelo seu próprio caminho, quebrando a sua promessa feita às minhas mães sem nem mesmo pensar nas consequências. A sorte dele era que todos nós buscávamos por espaço, não queríamos um "adulto" preso em nossos encalços. Então o inesperado teve o seu início pouco tempo depois de nós tornarmos parte do público presente.
Estando em um assunto bem aleatório com Alisson e mais algumas colegas, notei que à distância alguém não deixava de nos observar. Mas estava tão entretida em meio ao nosso diálogo, que não me dei conta de que que esse alguém deixava o seu posto para seguir em alguma direção que nos tivesse como obstáculo. Percebi apenas quando minha bebida foi ao chão por um leve toque vindo da sua parte.
Estava claro como a água que ela não fazia parte da nossa turma, não fazia parte de nenhuma turma do nosso colégio. Deveria ser alguém convidado por fora, amiga de um dos formandos. Mas o que realmente me chamou a atenção em sua pessoa, foi a intensidade dos olhos azuis que navegavam pela situação enquanto seus lábios despejavam o pedido de desculpa junto a tentativa de se redimir pelo ocorrido. E mesmo que tivesse sido capturada pela sua postura imponente, negar a sua tentativa em me ceder um novo recipiente transbordando aquilo que eu bebia antes, havia se tornado a minha decisão. Mas diante a sua insistência, dediquei uma parte da minha atenção sobre Alisson em busca de algum apoio. Então o seu sorriso sem vergonha me disse tudo, eu deveria me arriscar ao menos dessa vez. Afinal, não teria uma oportunidade melhor do que essa.
Quando deixei a minha casa essa noite, não pensei que fosse quebrar todas as regras impostas pela minha mãe, não pensei que brincaria com a minha saúde física e mental indo contra todos os avisos da mamãe. Porém, foi exatamente como tudo aconteceu, as bebidas não eram limitadas e a idade não importava daquele portão para dentro. Por isso decidi aproveitar cada dose virada, cada palavra trocada com aquela que me roubou toda a atenção que deveria ser depositada sobre a diversão do mundo fora daquele balcão. Mas entre todas as regras quebradas e promessas jogadas ao vento, aquela imposta quando afirmei não fazer nenhuma besteira foi a pior delas.
Não me imaginei cedendo aos desejos da carne e acabar adormecendo em um hotel dentro dos braços de uma desconhecida. Tantas formas para ter a minha primeira vez, e deixei que acontecesse logo em um primeiro encontro.
- 21 de dezembro, domingo.
Ao abrir os olhos naquela manhã, senti minha cabeça pesar, a bebida deveria enfim estar mostrando o seu efeito. Então me virei para deixar a cama, mas o peso de uma braço sobre o meu abdômen me lembrou de que aquele não era o meu quarto, e com certeza aquela não era a minha casa. Dessa forma, me virando devagar, removi o seu braço de cima de mim e agradeci mentalmente por ter sido eu a primeira a despertar.
De pé naquele espaçoso ambiente, procurei por cada uma das minhas peças de roupas e quase rezei um "pai nosso" quando finalmente encontrei o meu celular. Dessa forma, respirei fundo ao lhe ceder um último olhar repleto de observações e lembranças do que ocorreu horas atrás.
Ela havia sido incrível, assim como estava bela debaixo daquele lençol que cobria o seu corpo apenas até a sua cintura. Mas eu precisava ir embora, precisava dar um jeito no meu atual estado se quisesse mesmo voltar para casa essa tarde. Minhas mães me matariam se ao menos sonhassem que acabei na cama de uma completa estranha, mas confesso que valeu muito a pena.
Do lado de fora do hotel, adentrei o primeiro táxi que avistei e passei para o motorista o endereço dos Valentin. Tudo isso enquanto dava início a chamada para a caçula da família, mas não esperava ser atendida daquela forma.
_ Em que inferno você se meteu Rivera?! - o tom de voz do outro lado da linha pareceu cortar os meus ouvidos como uma navalha afiada. Era a primeira vez que o via tão alterado dessa forma.
_ Fica calmo Lipe, já estou a caminho, devo chegar em até vinte minutos no máximo - soltando um longo suspiro na intenção de me sentir um pouco mais leve, disse aquilo que realmente estava para acontecer. No entanto, não era o suficiente.
_ Me acalmar? - o riso irônico me fez entender tudo, então me segurei para não rir, pois não havia necessidade de deixar tudo ainda pior - Você tem ideia do que vai acontecer caso uma das suas mães descubram que sofri um perdido seu e não faço ideia de onde você passou a noite, garota?!
_ Eu estou bem, não precisa se alterar tanto. Elas não precisam saber de nada disso, podemos fazer dessa situação o nosso segredo particular - deixando claro o meu ponto, esperei por um comentário que não veio - Estou falando sério Lipe, não tem que sair abrindo o boeiro pra elas. Agora devolve o celular da Ali, tenho que falar com ela.
_ Nada fica escondido da Alícia, Ayla. Você deveria saber disso melhor do que qualquer outra pessoa, então depois não venha me dizer que não foi avisada - foram as suas últimas palavras antes de finalmente entregar o celular para a irmã, e mesmo que tivesse me preocupado de alguma forma, optei por deixar o momento passar de forma leve e mencionei para a minha melhor amiga alguns dos acontecimentos da noite passada durante o que ainda restava do percurso até a sua casa.
O tempo estimado havia se cumprido, assim com o cair da tarde também não demorou para acontecer. Estava perto do horário de voltar para casa, mas ainda não queria retornar. Por mais chato que fosse ter que aturar a fase adulta do Felipe, gostava muito de estar na companhia dele e da irmã.
- Sabe o que eu acho? – atraindo a minha atenção ao me jogar uma jaqueta jeans sua, Ali impôs a questão retórica – Você ficou admirada demais para apenas uma noite, o que significa que rolou o chamado "tcham". Isso de acordo com o Hotel Transilvânia - caindo na gargalhada, ela disse fazendo o irmão revirar os olhos. Ele não estava gostando nenhum pouco do assunto trilhado até aqui, mas não comentaria com ninguém, sabíamos disso.
- Para de palhaçada, não estávamos vivendo um filme, mas sim a vida real – lhe arremessando um travesseiro, afirmei ao ter certeza de que o look vestido combinava comigo.
- Mas isso não te impede de ser pega por um romance de cinema – era só o que me faltava.
- Até você Lipe?
- Estamos apenas sendo realistas Ayla, até porque você não parou de falar nessa mulher desde que chegou aqui – apresentando o seu ponto, ele comentou terminando de ajeitar o cabelo frente ao espelho. Então me fitou com atenção.
- Podemos nos referir a ela como "garota", pois duvido que ela possua mais de 25 anos – buscando por novos termos, observei o olhar trocado entre os dois e respirei fundo quando as gargalhadas se uniram em uma só. Eram mesmo muito idiotas.
- Vamos logo, preciso te devolver para a dupla ameaça ainda hoje – retomando todo o seu controle, empurrou a irmã para fora do quarto e me cedeu espaço para seguir aquele mesmo caminho – Qual lanchonete iremos antes deixar esse ser aqui nas mãos das dras Davis e Rivera?
- Eu odeio vocês – observando a diversão no semblante de ambos, comentei ao me jogar no banco de trás do carro. Não cederia a minha opinião dessa vez, estavam me zoando demais para me cederem algum direito real.
- Não temos culpa River – se pondo ao meu lado, Ali disse ao ceder uma piscadela maldosa para o irmão. Eles estava tentando me tirar do sério, só podia ser isso.
- Você quem nos cedeu todas as informações para uma análise precisa. Então concluímos que a tal garota te tem nas mãos e você ainda não se deu conta disso – era muito para processar. Não poderia simplesmente o assassinar como se não fosse haver consequências, pois mamãe tomaria para si a responsabilidade de me levar algemada para a delegacia. Laços sanguíneos não contavam quando ela vestia o seu uniforme de trabalho, então precisava ser mais esperta do que isso. Talvez um acidente passasse despercebido, mas como também estou no carro, não é a melhor das opções. Eles estão com sorte e mal sabem disso.
- Você ainda não nos disse o nome dela – fazendo do meu colo o seu abrigo, Ali comentou esperando ansiosamente pela resposta, e ela não era a única. O olhar de Felipe se via dividido entre a rua e o espelho retrovisor que o permitia nos observar. Ambos estavam realmente muito curiosos.
- Já estão desejando a morte sem essa informação, então vamos deixar assim por enquanto – os vendo sorrir em negação, fiz da janela o meu ponto de escape. Vagando por um horizonte em constante movimento, também me perguntei qual seria o seu nome. Afinal, eu não sabia. Não sabia nem mesmo se voltaria a encontrá-la em algum outro momento na vida, pois estava claro que dividíamos uma percepção bem diferente do que era o mundo. E talvez a sua estadia aqui não fosse definitiva, do contrário não estaria em um hotel.
Minutos depois de aceitar o silêncio como a regência maior dentro do carro, Felipe estacionava frente a nossa lanchonete preferida. Ele sempre nos fazia a pergunta pra onde ir, mas o nosso destino nunca mudava. Assim como a minha pretensão em estar errada nas últimas doze horas.
- Ei, Ayla? – recebendo um leve sacolejo vindo da parte de Alisson, lhe cedi a atenção que ela procurava – Você está bem, aconteceu alguma coisa?
- Estou ótima, não aconteceu nada – ajeitando a minha postura, exibi um meio sorriso – O que diziam?
- Os pedidos, são os mesmo de sempre? – curioso com o que observou, Simeone voltava a repetir a sua questão.
- Claro, o de sempre – por mais que tentasse me controlar, era inevitável não deixar o meu olhar vagar até onde a sua presença se mantinha forte.
- O Leon está aqui, isso é ótimo – não escondendo o sorriso de satisfação, Felipe disse ao também direcionar o olhar até aquela mesa – Vamos nos juntar a eles?
- Não tenho certeza se é uma boa ideia – realmente em dúvida sobre o que fazer, cedi as costas para os presentes.
- Para de gracinha e vamos logo, Ayla. Ele está acompanhado de uma amiga, quem sabe assim você não esquece a garota do clube? – No momento em que ele disse isso, Alisson não se conteve e sorriu abertamente para o irmão que logo entendeu tudo – É ela?
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