Capítulo 5 5

As necessidades me levaram a retornar a Belém à procura de trabalho. Fui morar em Marituba. Fiquei morando na casa de uns parentes até conseguir um lugarzinho para mim e assim poder trazer meus filhos para perto de mim. Apareceu uma oportunidade de trabalho, a proposta era boa, o salário era bom. Tratava-se de um trabalho de doméstica na casa de um homem solteiro. Eu teria de morar na casa. Fui por indicação.

O apartamento onde o homem morava era no sétimo andar. O ambiente era modesto. Cheguei e acomodei minhas coisas no canto da cozinha e lá ficou o dia inteiro enquanto eu fazia as tarefas de casa. À noite ele chegou, jantou. Era gordo, aparentava ter mais de 50 anos. Conversamos um pouco. Na hora de dormir quis saber onde ficava o quarto onde iria dormir.

- Eu te levo lá, vamos... - Estendeu-me a mão, fiz movimento de repulsa e não peguei, seguiu na frente. Era o quarto dele, relutei:

- Mas o senhor me disse que iria ficar no quarto de hospede...

- Mas lá está muito bagunçado, cheio de coisas, é impossível você dormir lá.

- Não tem problema, durmo mesmo assim.

Não teve jeito. Tive que dormir lá. Pegou uma rede e atou por cima da cama. No apagar das luzes, senti uma mão passando em mim. Comecei a tremer, depois fingir que já estava dormindo. De repente todo ele estava por cima de mim.

- Vou gritar, sai de cima de mim. - Tapou minha boca.

- Não adianta gritar. Você já foi casada, sabe fazer... - Comecei a chorar - Não precisa chorar, já foi casada. - A partir daí fiquei inerte. Tirou minha roupa, sem me mover para nada, mesmo assim ele foi até o fim. Sentia nojo daquele rosto peludo relar sobre meu rosto inundado em lágrimas.

Fiquei parada, apenas chorando, depois do ato. Memórias sofridas me vieram a luz. Fiquei em claro a noite toda. Quando os olhos pesavam, os pensamentos vinham parecendo sonho, mas de sonho não tinham nada. Eram como cenas em retalhos:

- Seu pai - dizia para o Bragança - está me molestando.

- É mentira dizia ele.

Depois vinha a cena a que me referia: Eu, grávida, deitada na rede e ele passando a mão sobre minhas pernas e eu tirando com força. Dizia ele (meu sogro):

- Tu ainda vais ser minha, aqui ou no inferno.

E foram muitos outros incidentes que vinham de repente. Um deles um pouco mais longo. Eu estava na casa deles, e dizia para a minha sogra:

- Seu marido está dando em cima de mim, vive querendo me alisar.

- Sai daqui sua mentirosa - Dizia isso me expulsando de cassa.

E veio outra:

Estávamos indo a pé por uma estradinha. Ele passou a mão em mim, tentou me agarrar, tentei fugir. Agarrou-me com violência.

- É hoje que você vai ser minha. Aí sim, depois de você ser minha, vou dar a casa para vocês morarem - Tentei me desvencilhar, mas era mais forte que eu; tentei gritar, mas fechou minha boca. Derrubou-me no chão, tirou minha roupa e me estuprou. Ali, no chão duro e pedregoso. Comecei a sentir nojo, sentia ainda aquele corpo suado em cima de mim. De repente...

Despertei com ânsia de vômito, sentindo algo pesado em cima de mim. Eu estava sobre meu braço. Eram sonhos de coisas reais que me aconteceram no passado. Nunca tive coragem de contar nada para meus pais sobre meu ex-sogro, pois era tido como um homem bom, que ajudava eles. Até hoje, nunca contei.

A manhã ainda custaria a chegar. Levantei-me devagar fazendo o possível para não fazer barulho. Peguei minhas coisas e fui em direção a porta. Passei a mão, mas não havia nenhuma chave, havia tirado e escondido. O desespero aumentou, comecei a chorar mais alto sentada junto a porta. Depois de um tempo consegui conter o choro. Voltei no quarto e procurei, vez ou outra ele se mexia na cama, cada vez que isso acontecia um frio me subia a barriga. A chave estava dentro da rede enrolada em um lençol. Saí de mansinho, abri a porta e desci pelo elevador. Cheguei chorando à portaria e pedi informações ao porteiro de onde poderia pegar um ônibus para Marituba. Não fazia noção de onde estava. Apontou uma parada de ônibus e me disse qual pegar. O desespero era tanto que acabei pegando primeiro que passou.

Parecia um animal amedrontado. Depois de um tempo, fui falar com o cobrador, relatei o que havia acontecido e para onde pretendia ir. Ele escreveu algo em papelzinho e entregou ao motorista. O motorista leu, olhou-me de soslaio, pediu para que eu sentasse na primeira cadeira. Em torno de 30 minutos ele parou, escreveu em outro papelzinho e pediu para me entregar para o outro motorista, apontou-me outro ônibus. Fui até o ônibus, ele fez sinal para o outro motorista, este recebeu o papel e leu. Pediu para que sentasse na primeira cadeira. Sentei. Algum tempo depois, pediu para descer. Desci exatamente na casa onde estava abrigada. Relatei o que havia acontecido. Quando ainda estava relatando, o telefone tocou, apenas escutei quem atendeu falar:

- Ué, quem deveria saber era o senhor, pois ela está sob seus cuidados, está trabalhando na sua casa.

Depois fomos a delegacia. Ao chegar no apartamento com a polícia, este se encontrava vazio. Havia fugido. Depois desse episódio voltei para junto de minha família novamente.

                         

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