Forasteiro Abastado - Recompensa Maldita
img img Forasteiro Abastado - Recompensa Maldita img Capítulo 2 ◇◇Um Real Pesadelo◇◇
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Capítulo 6 ◇◇A Espanhola No Ônibus◇◇ img
Capítulo 7 ◇◇Confusão Na Agência◇◇ img
Capítulo 8 ◇◇Ladras E Belas◇◇ img
Capítulo 9 ◇◇Caso: Cristina Rocha - Desfecho◇◇ img
Capítulo 10 ◇◇Descobrindo O Prazer◇◇ img
Capítulo 11 □■Recompensa□■ img
Capítulo 12 ◇◇Arruaça na Pensão Part. 1 img
Capítulo 13 ◇◇A leoa Ferida Arruaça Part. 2 img
Capítulo 14 O Leão e o lobo Arruaça part.3 Final img
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Capítulo 2 ◇◇Um Real Pesadelo◇◇

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Onze anos depois...

Marina havia saído do banho cantarolando como normalmente fazia quando estava feliz com o seu dia. Colocou um short curto e ainda só com o sutiã, secava os cabelos com o secador, assentada de frente para a penteadeira. Estava tão absorta em seus pensamentos que nem percebeu um movimento repentino atrás de si...

Um par de mãos negras a surpreendeu tapando os seus olhos com delicadeza mas, com uma destreza que a fez despertar de forma apreensiva à realidade. Ela se assustou e deu um saltinho no mesmo lugar. Com calma desligou o secador, o colocando em cima da penteadeira e pôs suas mãos sobre as que cobriam seus olhos sentindo o calor da sua pele.

__ Duvido que saiba quem é! - Falou o dono das mãos que ela acariciava fingindo tentar descobrir de quem eram. O moreno alto e de pele negra com aqueles olhos negros como a noite, com impaciência na voz, esperava com expectativa a sua resposta.

__ Max... Eu já te falei que não gosto dessa brincadeira. - Falou sorrindo retirando as mãos do rapaz de seus olhos.

__ Você sempre acerta. - Ele aproximou o seu rosto do dela e lhe deu um beijo carinhoso em sua bochecha.

__ Conheço sua voz, e esse seu perfume, seu bobo! - Disse se levantando e o encarando de frente. __ Além do mais, quem mais além de você, entra sem bater no meu quarto? Quase me pega sem roupa! - Falou ainda sorrindo, mas desconfiada de quanto tempo estava ali a observando.

__ Eu bati, mas parece que o barulho do secador não lhe deixou escutar.

__ E as outras vezes foram o quê? - O fitou com olhar oblíquo e apreensiva.

__ Sua mãe disse que estava aqui e eu entrei. Achei que não teria problemas! - tentou se justificar.

__ Vou sair com a Camily. Vamos ao Shopping. Se quiser vir com a gente... É bom que nos dá uma carona. Será um máximo chegar de Mustang! - Falou Marina indo até o guarda roupas vasculhando tudo a procura de uma blusa decente. __ Queria mesmo era ir no show dos Seventeens. Vão se apresentar hoje a noite no parque. Mas, infelizmente eu não tenho ingressos. São caríssimos e já se esgotaram. - Disse escolhendo o look um tanto desanimada.

__ E quem disse que não pode ir? - Ela se virou em direção ao rapaz de rompante e teve uma surpresa. Max segurava dois ingressos do show à mostra em sua mão.

__ Háaaa! Max! Não acredito! - Falou ela soltando os cabides de repente, correndo em sua direção e quase o derrubando com um abraço quando se jogou em seus braços cheia de felicidade.

__ Hei! Calma aí...- Falou quase perdendo o equilíbrio.

__ Me dê! Quero pegá-los! Quero cheirá-los, quero senti-los...- Falou o liberando do abraço e estendendo as mãos faceira. Estava tão feliz e impaciente que mal se continha.

__ Hei, não tão rápido... - Falou Max os levantando para o alto, a fazendo ficar nas pontas dos pés e pular para tentar pegá-los.

Aquelas eram as mesmas brincadeiras de sempre entre os dois amigos, que se sentiam à vontade um com o outro. Eles gargalhavam e se divertiam muito, quando de repente o moço se desequilibrou numa das tentativas dela de pegar os ingressos e caiu para trás sobre a cama. Inevitavelmente Marina caiu sobre ele. Com os olhos vidrados um no outro, os rostos colados, eles cessaram os risos. Havia um silêncio mútuo entre eles. Um clima tenso pairava no ar com a proximidade dos corpos. Marina sorriu sem graça, sem mostrar os dentes e ergueu o corpo estando sentada sobre seu quadril.

__ Vou ter que lhe matar de cócegas pra me entregar esses ingressos, Max?! - Ela falava na intenção de quebrar aquele clima estranho entre os dois. Começou a trabalhar os seus dedos matreiros pelas costelas dele.

__ Não Mare, aí é golpe baixo! Você sabe que esse é o meu ponto fraco. - Ele falou começando a rir se contorcendo todo com todas aquelas cócegas que sentia.

__ Você se rende Max? - Marina deu uma trégua esperando a resposta.

__ Ta bom! Ta bom! Ta bom... Você venceu! Agora pare de me fazer cócegas, por favor!

__ O que está acontecendo aqui?! - Dione, seu pai, falou furioso ao abrir a porta do quarto de repente e se deparando com a visão da filha seminua sobre o corpo do rapaz em sua cama. Ficou petrificado no lugar olhando a cena com sua garrafa de cerveja nas mãos.

Foi um verdadeiro choque para ele. Ele só poderia imaginar uma coisa. O fato da filha estar seminua, reforçava aquela ideia indecente que se formou em sua mente. Os risos e gritinhos que ouviu da sala deletaram uma intimidade que ele não desejava a sua princesa nesse momento. A expressão tomada de ódio delatou à ela seu descontentamento que rapidamente tentou se justificar.

__ Pai!? Não é o que o senhor está pensando! - Ela se levantou ligeira de sobre o corpo do rapaz e vestiu logo a primeira blusa que achou jogada por ali.

__ Eu posso explicar seu Dione! - Falou Max também se levantando.

__ Você não precisa explicar nada. Eu sabia que essa intimidade com minha filha só poderia acabar nisso! - Cuspiu as palavras com rancor na direção do rapaz já se arrependendo de ter permitido essa aproximação dele na casa.

__ Nisso o quê, pai? Não estávamos fazendo nada! - Marina tentava explicar furiosa. Como ele poderia não confiar nela?

Dione, abalado com o que viu, saiu calado do quarto deixando os dois ali sem uma explicação. A garota já adivinhou o que pai poderia ter ido buscar e logo se adiantou a tentar impedi-lo.

_ Hei, pai... Aonde vai?! - Ela o segurou pelo braço tentando evitar sua saída. Marina estava preocupada, já conhece como ele fica sob o efeito da bebida.

__ Vou fazer o que eu já deveria ter feito há muito tempo. Não deixe esse cretino sair, vou pegar uma coisa e já volto . - Ele se soltou da sua pegada e apenas gritou de volta pra ela do corredor.

__ Papai, volte aqui! Não é o que está pensando! Max só veio trazer uns ingressos e... - A moça começou a se desesperar. Mas, voltou ao quarto. Precisava agir antes que ele voltasse.

__ Mari, o que ele vai fazer?

__ Você tem que ir embora logo daqui, Max! Tenho quase certeza que foi pegar a sua arma!- Assim que disse essas palavras, ouviu o barulho de uma garrafa se quebrando em outro ambiente da casa que não conseguiu identificar e logo se iniciou um bate boca do seu pai com sua mãe.

__ Mas nós não fizemos nada, Mari! - O rapaz tentava se justificar apavorado.

__ Mas, ele não entende. Ele muda por completo quando está bêbado. Você sabe muito bem disso!

__ Filha, o que aconteceu?! Dione está furioso... - Falou Helena, ao entrar no seu quarto assustada. Ela tinha cabelos loiros escuros, olhos cor de mel e era tão linda quanto as fotos que tinha espalhadas pela estante e paredes de sua casa.

Helena Machado...

Marina via nela sua própria personificação. Sentiu uma pontada no que denunciava uma saudade. Saudade?! Do quê?! O pânico do momento não a deixava concluir esse pensamento. Apenas tentou raciocinar uma rota de fuga, uma explicação plausível para que a mãe parada ali em sua frente com a expressão de preocupação a ajudasse.

__ Papai nos pegou numa posição muito constrangedora. Está imaginando coisas... - Começou com lágrimas no olhar. Podia sentir as bochechas já molhadas pela trilha que elas deixavam.- Faça alguma coisa mãe, ou ele vai matar o Max! - Falou Marina chorando já implorando pela vida do rapaz.

__ Ele não vai fazer nada disso! Eu não permitirei! Acho melhor você sair pela janela ao lado Max... - A voz protetora dela era ainda como se lembrava. Mesmo a tanta pressão, ela mantinha o controle da situação. Ela já se movia em direção a saída, tencionando mostrar o caminho ao rapaz apavorado.

Assim que deu alguns passos, já viu o marido no corredor com a arma em punho e dando um longo gole na nova garrafa de cerveja que trazia em mãos, sem tirar os olhos do rapaz. Da porta, eles vislumbraram a visão de um homem furioso disposto a lavar a honra da filha com sangue.

__ Por favor seu Dione, não aja por impulso, vamos conversar! Só houve um mal entendido... - Max falava pedindo calma com as mãos em sua frente, mas com o suor já escorrendo pela sua testa. Um misto de medo, terror e certeza de qual seria o seu veredito.

__ Isso é sério Dione?! Olha pra você? Está caindo de bêbado! Qualquer dia desses, você vai chegar em casa, e não mais vai me encontrar! - Aquela frase ecoava na mente de Marina. Parecia um mantra já repetido inúmeras vezes. __ Guarde essa arma, homem! Não está vendo que está assustando o rapaz?! - A mãe tentava colocar juízo na cabeça do marido, ainda descrente que poderia mesmo fazer o que pretendia.

Dione deu de ombros. Já tinha tomado a sua decisão. Não voltaria atrás, mesmo com os suplícios da mulher. Baixou a mão com a garrafa ao seu lado do corpo, levantou o braço direito o erguendo na direção de Max com a arma em punho e com satisfação, puxou o gatilho em pontaria certeira.

Tomada pelo instinto, sua mãe se colocou na frente do rapaz com rapidez e o empurrou para fora da mira, tomando assim, um tiro no peito em seu lugar.

__ Mãnheeee! - Marina soltou um grito gutural.

Ela via a mulher tentar se equilibrar em pé uns momentos absorvendo o impacto da bala. O olhar dela era dirigido friamente na direção do marido não acreditando no que ele acabara de fazer. Colocou a mão em seu peito, tentando assim, aplacar a dor e depois de um longo suspiro, foi caindo ao chão em um amontoado de seu próprio corpo.

Seu pai, pasmo com o que acabou de acontecer. Deixou a garrafa cair de sua mão e se espatifar no chão em mil pedaços. Não acreditava no que tinha feito. Ela era a paixão da sua vida. E ele, fora o responsável por ceifar sua vida ainda tão jovem, tão bela e com tantos sonhos à realizar.

__ Papai, você matou a mamãe! - Disse Marina em prantos, trocando olhares com ele antes de ir socorrê-la.

Dione, saiu dali descontrolado pelo corredor socando as paredes em sua volta, se segurou no corrimão da escada tentando aplacar as lágrimas que se formaram com a culpa por sua irresponsabilidade. Quase acabou rolando escadaria abaixo por causa da vertigem que o álcool e a dor em seu peito provocaram. O som da porta retumbando pela casa denunciou a sua fuga. Não demorou muito para que se escutasse o barulho da chave na ignição e o ronco do motor de um veículo saindo em disparada pela rua.

__ Isso mesmo, foge novamente como sempre faz! Eu nunca vou lhe perdoar por isso, ouviu bem?! Nunca! Nunca! - Marina gritou para o pai com a cabeça da mãe sobre o colo, em pranto, mesmo não se importando se ele ouvia ou não, o seu desabafo...

Um caminhão baú estava estacionado no acostamento de uma estrada deserta, em uma madrugada fria.

Dione dormia na boleia, de braços cruzados e com a cabeça apoiada no vidro da janela do caminhão. Os resmungos da filha que tambem dormia ao seu lado, o fez despertar. De relance, o pai observa a filha se debater no banco do carona e lágrimas a rolarem pelo rosto mesmo com seus olhos fechados. Não era a primeira vez que a via nessa situação. Isso já tinha ocorrido outras vezes. E como era o costume...

__ Você matou a mamãe e isso não tem perdão! Você matou a mamãe! Você matou a mamãe! - Marina começou a dizer ainda dormindo. __ ASSASSINO!

Ela deu um salto no mesmo lugar e se despertou gritando e chorando sem controle.

__ Hei, hei... Calma! Calma! Foi só um sonho. Vai acabar se machucando desse jeito! - Falou Dione segurando as mãos da filha, a vendo soar frio e se debater tentando se libertar da sua pegada.

__ Me solte! Você matou a mamãe! Você atirou nela! - Marina bradou se soltando abruptamente se afastando dele e se encolhendo no canto da boleia. Dione engoliu em seco e de momento não soube como reagir ao ver a cena de surto da filha.

__ Filha... Acalme-se. Eu não matei ninguém. Você só teve um pesadelo. Estamos dentro de um caminhão, na estrada, transportando a nossa mudança, lembra?

Marina Passou os olhos ao redor, tentando se ambientar e aos poucos ia voltando em si.

O que tinha visto em seus sonhos era tão real e palpável que podia sentir ainda o cheiro do sangue no ar. O desespero de Max, o calor do corpo da sua mãe em seus braços... Enxugou as lágrimas e deu uma fungada na manga da blusa. Estava perdida em sentimentos, realidade, espaço e tempo. Tentou se recompor da melhor maneira possível para encarar a realidade à sua volta.

Tal cena na realidade nem poderia ter acontecido, pois quando sua mãe sumiu, ainda era uma criança de seis anos. E ali, naquele sonho bizarro, já era uma adolescente, apenas com uma mãe mentalizada dos retratos que via espalhados pela casa. Buscar encontrar em seus sonhos e suas lembranças a resposta do que realmente aconteceu á ela no passado, era tudo que mais desejava, e desconfiar de quem quer que seja, fazia parte dessa busca.

            
            

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