- Meu amigo, às vezes acho que ao invés de ser um adulto de trinta e cinco anos é apenas um adolescente com uns planos nada a ver. Você é o que? dez anos mais velho do que ela? O que te faz pensar que isso dará certo?
- Quer apostar? - disse confiante.
- E ainda dizem que eu sou o mais infantil de nós dois. Sou mais mulherengo, mas infantil, não!
- Tá com medo de perder?
- Tá, vamos supor que você consiga conquistá-la e depois... irá beijá-la mesmo sabendo que ela é a culpada da morte da Lisa? Conseguirá ir para cama com alguém que tem odiado por tanto tempo? Me desculpe, mas esse plano é falho, meu amigo e você sabe disso.
Diante das palavras do seu melhor amigo, Carlos apenas permaneceu calado.
Já era noite e Ana estava pronta para dormir quando seu celular tocou.
- Número desconhecido... alô.
- Oi, Ana! Desculpe incomodar a essa hora.
- Quem é?
- Carlos.
-Ah, senhor, digo, Carlos...o que deseja?
- Liguei para informar que seu pai e eu somos oficialmente sócios e que preciso que você se faça presente amanhã aqui no meu escritório.
- Amanhã?
- Sim, algum problema?
- Não é que foi tudo tão rápido.
- Como eu disse...estou sem secretária.
- Me passa o endereço e amanhã estarei lá.
- Não se preocupe, mandarei um carro para ir buscá-la.
- Não... desligou na minha cara? O que tem de bonito tem bruto.
Deitado sobre sua cama Carlos pensava nas palavras do seu melhor amigo, "conseguirá beijá-la ou dormir com ela?" Ele não sabia se conseguiria, mas era um sacrifício a ser feito e quando ela estivesse apaixonada a humilharia e a deixaria como se fosse um lixo a qual não pode ser reciclado.
Ana praticamente madrugou no dia seguinte deixando sobre sua cama algumas roupas que pretendia usar no seu primeiro dia de trabalho.
- Quem é a essa hora? - seu celular estava tocando- Oi, Clara.
- Amiga, você nem me ligou.
- Desculpa, estava muito cansada.
- Então, viu sua mãe?
- Ainda não. Meu pai disse que não era um bom momento.
- Como ele está?
- Apesar de querer parecer está bem sei que ele não tá.
- E você? Tem tido pesadelos?
- Só no dia que eu cheguei.
- Qualquer coisa me diz que eu pego um avião e vou até você.
- Eu sei.
Desde que Ana se mudou para França que Clara se tornou um pilar que na maioria das vezes a impedia de cair. Eram como irmãs sempre apoiando uma à outra.
- Amiga, depois nós falamos...preciso me arrumar para ir trabalhar.
- Já?
- Pois é...irei trabalhar como secretária do sócio do meu pai.
- Hum?
- Bom, é uma longa história, mas resumindo, enquanto presto serviços de secretária ele me ensinará como se administra um hotel.
- Tomara que ele não seja como aquele velho decrépito do seu antigo chefe.
- Bom, pelo menos ele não é.
- E como ele é.
- Bonito, muito bonito...eu preciso ir.
Assim que terminou a ligação, o telefone do quarto tocou informando que havia um homem esperando lá fora.
- Bom dia!
- Quando me disse que mandaria alguém vir me buscar não esperava que esse alguém fosse o senhor, digo, você.
- Sou tão velho assim?
- Desculpa, força do hábito.
- Relaxa, estava apenas brincando.- ele abriu a porta do carro.
Antes de chegarem à empresa, Carlos entregou sua agenda.
- Todos os meus compromissos estão aí, se tiver dúvidas me chame.
- Agora pela manhã terá um café da manhã com o senhor William.
- Que droga.
- Hum?
- É sempre um desprazer me encontrar com ele...nunca nada tá bom.
Era nítido o descontentamento dele em ter que se encontrar com William.
- Tem algo que eu preciso saber sobre ele?
Ana estava com uma certa curiosidade.
- William tem uma agência de turismo que indica o nosso hotel para os turistas, mas ele é sempre tão exigente em tudo que se torna um estorvo.
- Ah, mais alguma coisa?
- Certamente ele a convida para sair, mas não se preocupe cuidarei disso. Agora me diz essa ou essa?- perguntou apontando para duas gravatas, uma preta e uma azul.
- A azul!
- Pode me ajudar a colocá-la? Nunca fui bom nisso, então quem me ajudava antes era a Alice, minha antiga secretária.
- Senhor, já chegamos!
- Assim que Ana terminar de colocar a gravata sairemos.
- Sim, senhor. - o motorista os deixou às sós
- É, licença.- ela pegou a gravata e se aproximou dele.
- Que perfume você usa?
- Hum? - aquela pergunta a fez perceber que ele a olhava fixamente e não podia negar que a sua voz de certa forma era um tanto sedutora o que a fez perceber que provavelmente estava diante de um mulherengo.
- Não é perfume.- respondeu olhando em seus olhos, mas logo desviou o seu olhar.
- E esse cheiro é o quê? - desviou seu olhar para os lábios dela.
- O meu hidratante...se não gostar...-ela percebeu que os olhos dele estavam sobre os seus lábios.- É...se não gostar eu...
O seu olhar a deixava desconcertada.
- O que foi?- Carlos percebeu que a deixou nervosa.
- Nada! - Ela se afastou- Se não gostou, não usarei novamente.
Tentava evitar olhar para ele.
- Pelo contrário...gostei bastante -- ele sorriu.
- Perfeita.- disse olhando para sua gravata.
-Vamos.
Ele novamente abriu a porta do seu carro e a esperou sair.
Antes de irem se encontrar com William, Carlos a levou até a sua sala.
- Ana, esse é o Marcos, Marcos essa é a Ana.
- Seja bem-vinda.
Marcos não sabia como deveria agir diante de Ana, mas tentou agir o mais natural possível.
- Obrigada.
Ana só conseguia pensar em como tinha homem lindo naquele escritório diferente do seu antigo emprego.
- E onde eu ficarei?
- Aqui na minha sala.
- Por que? - sua voz saiu um pouco alta.
-Desculpa!
- Sei que deve estar estranhando, mas como você também veio aprender como administrar um hotel o melhor é ficar aqui perto de mim, não acha? - ele a observava enquanto ela olhava para a sala.
- Bela sala.
- Obrigada! Marcos, iremos nos reunir com o William, então deixo com você o trabalho de providenciar uma mesa para Ana.
- Ok.
- Vamos?
- Sim.
Carlos a levou para um dos hotéis de seu pai.
- Sabe o que não entendo...
- O quê?
- Como alguém que administra vários hotéis vira sócio da sua concorrência.
- Até hoje só tenho administrado os hotéis do meu pai. Então queria experimentar administrar algo meu, mas como eu não teria todo esse tempo o melhor é ser apenas sócio ao invés de dono. E você, por que ser secretária ao invés de administrar os negócios da família?
- Não pretendia voltar, mas meu pai ficou doente e aqui estou eu tentando recuperar o tempo perdido.- sorriu sem graça.
- E por quê não queria voltar?
Antes que Ana pudesse responder foram interrompidos por William.
- Vejo que está bem acompanhado.
William puxou a cadeira e se sentou ao lado de Ana. - Como se chama?- jogou o seu corpo para o lado dela.
- Você nunca muda, não é William!
Carlos a puxou para perto de si.- Agradeceria se não assustasse a minha nova secretária justo no seu primeiro dia de trabalho.
- Todas as suas secretárias são umas beldades, um verdadeiro colírio para os olhos.
Ana podia sentir-se despida apenas pela forma que William a olhava.
- Bom, aos negócios. - ele tirou uma pasta da sua maleta e colocou sobre a mesa. - Como sabe próximo mês será um mês bem movimentado e gostaria de saber qual será a minha porcentagem dos clientes que irão se hospedar no seu hotel.
- Sabe que a porcentagem é de 10%.
William movimentou a sua cabeça em sinal de negação.
- 15% o que acha?- tentou negociar.
- Não mesmo!- Ele riu.
- Menos que isso eu não negocio.
- Se é só isso, vamos Ana.
Carlos se levantou e enquanto arrumava o seu paletó William voltou atrás com suas palavras.
- 12% que tal?
- Tá bom! Vamos Ana!
Aquela foi a negociação mais rápida que já ela participou em toda a sua vida.
- Faça um contrato com essa nova alteração e envie para o escritório dele.
- Tá bom.
Tudo foi tão rápido que nem sequer deu tempo deles tomarem café.
Já era quase a hora do almoço e Ana se perguntava quando ele a liberaria para comer, pois estava com muita fome já que nem café eles tomaram.
- Carlos, não vai sair para almoçar?
Marcos tinha o costume de entrar na sala sem se anunciar e isso fez com que Ana se assustasse já que a sala estava em silêncio desde a hora que eles chegaram.
- Me desculpa! Eu a assustei?
- Sem problema -- respondeu com um sorriso.
- A hora passou tão rápido que nem percebi.
Carlos olhava para o relógio em seu pulso.
- Só se for para você porque pra mim quase que ela não passa.- pensou consigo.
- Ana, você não vem?
Sua voz a tirou de seus pensamentos.
- Para onde senhor Carlos?
- Almoçar, você não vem?
- Com vocês?
- Sim, algum problema?
- Não é que prefiro ir sozinha.
- Sem problema! A vejo mais tarde.
Marcos e Carlos se direcionaram até o elevador.
- Senhor Carlos? Acho que seu plano não está dando certo- Marcos brincou.
- Calma, é só questão de tempo.
- Cara, outras mulheres ficaria super felizes em ser convidada para almoçar com um de nós dois, mas ela não parecia tão contente assim.- ele riu.
- Tá rindo do quê? Nem com você ela ficou animada, acho que está perdendo o seu charme senhor Marcos.- ironizou.
- É porque nunca joguei o meu charme para ela, caso contrário ela já estaria na minha. Já você tenho certeza que tentou e o resultado não foi tão bom assim...pelo menos foi o que percebi.
Carlos e Marcos eram bastante conhecidos por serem bastante cobiçados pela mulherada e que nenhuma mulher havia resistido ao charme e ao dinheiro deles.