/0/6313/coverbig.jpg?v=6723b1cc9cc5b82db974225d14e5f655)
Ele só ficou inseguro por um momento se ele era o único, ou o verdadeiro demônio ali...
Com ambos em meio a pensamentos profundos. O silêncio tomou conta da sala escura. Ao ponto que mesmo a esfera de luz brilhando em seu centro parecia enfraquecer em meio a toda aquela tensão, permitindo que as sombras se tornassem ainda mais profundas.
Ao menos até que uma luz azul celeste brilhou abaixo do rosto de ambos, iluminando suas feições magras e criando sombras sob seus olhos.
O rosto do jovem tinha um leve sorriso, enquanto observava tudo com curiosidade.
A luz vinha da elegante jaqueta, bordada em couro e tecido pretos, que o demônio usava. Parecia ter algo brilhando dentro do bolso em seu peito.
O demônio estreitou os olhos ao ver, mas logo suspirou e enfiou a mão no mesmo bolso, tirando um cristal da mesma cor de seu brilho e um pouco menor que um punho.
Ele parecia ter feito algo por um momento, então apenas esperou, a observando fixamente. Quando de repente um som grave e irregular tocou.
- Eu lembro de ter dito... - o demônio disse, antes de ser interrompido pela voz ansiosa que veio do cristal.
- P-perdão, meu lorde! Estamos sob ataque, todas as entradas estão! Nem um inimigo foi morto ainda e eu calculo que eles alcançarão... porra! - a voz de repente ficou em silêncio, logo sendo seguido pelo som de um baque forte de queda. Ecoando ao fundo, muitas vozes soavam raivosas e assustadas, alguns gritos de dor terríveis em meio a elas.
Porém, aos poucos aquele silêncio foi aumentando cada vez mais à medida que os sons arrepiantes ao fundo desapareciam.
E assim, logo a luz do cristal se apagou novamente, tornando a tensão anterior ainda mais densa. Já que parecia que aquele lugar era isento de toda a morte acontecendo lá fora.
- Esses insetos não servem para nada... - com uma aparência sombria e cansada, o demônio suspirou e comentou com desdém. - Mas tudo bem, eles sempre foram peões descartáveis desde o início. Mas no futuro isso vai mudar - ele murmurou confiante, se preparando para se levantar.
Porém, prestes a colocar a caixa e o espelho que estavam em seu colo no chão, ele congelou por um segundo. Ele não entendia aquela sensação ou sabia de onde vinha, mas por um momento sentiu que estava esquecendo de algo importante e seu instinto pareceu concordar com isso.
Normalmente, ele não teria ignorado essa dupla sensação. No entanto, agora não era o momento. Então, completando o movimento, ele se levantou.
De pé, lançou um pequeno sorriso para o jovem o observando e recobrou sua compostura. Ele já esperava que o lugar fosse atacado, era uma base temporária, afinal e poucos dentro dela detinham sua confiança.
Ele não duvidaria que um líder vingativo ou mesmo outro demônio, tivesse subornado alguns dos defensores em troca de informações sobre como invadir o lugar.
Isso também explicaria a queda rápida das defesas.
- Peço desculpas por isso, meu amigo, mas infelizmente nós vamos ter que deixar nossa conversa para depois e usar o portal para sair daqui - ele explicou em um tom gentil e educado, com uma expressão aparentemente culpada.
‟Oh! Então tem um portal aqui, que bom!..."
‟Por um momento me preocupei em ter que andar. Sabe, mesmo que eu não seja tão velho, meu corpo não parece me obedecer como antes de eu chegar aqui."
Os lábios do demônio tremeram por um instante, ouvindo o tom venenoso e alegre da voz. Ele pensou por um momento na ironia daquelas palavras antes de retrucar:
- Não diga isso, meu amigo. Colocando desse jeito, meu coração dói e me faz suspeitar da minha hospitalidade. Além de quê... - dando a volta no trono de pedra enquanto falava, ele se agachou e começou a retirar as correntes que prendiam o jovem.
- Pensando sobre isso pelo lado bom, fazer uma pequena mudança de ares pode me ajudar a entender essa sua fase rebelde... e já que nossa convidada não virá, parece que vou ter que convidar seus amigos pra nos fazer companhia, o que acha? - ele perguntou gentilmente, com um sorriso sombrio e entusiasmado sobre a perspectiva.
Bastava apenas uma ordem dele, para que seu subordinado os trouxesse depois de quase mortos pelos monstros.
‟Nah... Não acho que eles iriam querer me visitar agora... não depois daquela atuação ridícula na peça que você montou. Provavelmente, eles estão envergonhados, escondidos debaixo de uma pedra."
Ouvindo a voz risonha porém fria vindo do outro lado do trono, o silêncio reinou enquanto o demônio parava seus movimentos de soltá-lo e pensava no significado daquelas palavras.
Novamente, ele podia sentir que o que o jovem estava dizendo era verdade, sua habilidade garantia isso. Mas ele não teve mais que alguns segundos para entender a perspectiva disso antes que a voz, ainda mais fria, falasse novamente.
‟Ou talvez eles não fiquem com tanta vergonha e estejam lá em cima procurando por nós."
Aquelas palavras simples e aparentemente inocentes fizeram o demônio sentir uma sensação de mal estar... Uma sensação que aumentou para seriedade fria quando sua habilidade confirmou aquelas palavras.
'Ele quem causou esse ataque? Mas co...'
‟Sim, eu fiz isso... Mas não ia ser divertido te explicar como." - interrompendo os pensamentos do demônio, ele comentou com um riso melodioso.
Estreitando os olhos para as costas do trono como se quisesse perfurá-lo com o olhar e entender o que se passava na mente daquele jovem, os pensamentos dele aceleravam mais rápido do que uma mente normal poderia acompanhar.
Várias ideias se formaram, mas nenhuma sólida o suficiente para ele entender como tudo aconteceu. Então, no fim ele desistiu.
Nada disso importava, afinal.
No estado em que estava, o jovem não poderia fazer nada e no momento ele deveria se concentrar em sair daquele lugar primeiro. Com ele indo junto, tirar as respostas que ele quisesse depois seria simples.
‟Ei demônio, já que só eu recebi presentes e abusei da sua hospitalidade esse mês. Eu decidi te dar um presente também, como símbolo da nossa amizade... Espero que goste."
Enquanto o ouvia falar, o demônio sentiu um arrepio correr pela sua espinha e toda a sua guarda ser levantada por uma energia densa, de repente.
Ele se moveu em um instante aparecendo no centro da sala, porém, ele havia focado no lugar errado.
A porta ainda estava selada, sem qualquer sinal de movimento. No entanto, com seu rosto sendo iluminado levemente em um brilho azul, ele moveu o olhar.
‟Não vai doer. Provavelmente." - sentado e olhando para ele com um largo sorriso, o jovem tinha uma bela chama azul celeste flutuando sobre a palma da sua mão e abaixo dela, uma pedra pintada em um mosaico de cores era a origem de toda a energia que ele havia sentido antes..
O demônio conhecia a pedra e sabia do que era capaz, afinal, a pedra era dele. Assim, como o anel onde ela ficava guardada. E esse mesmo anel estava agora em um dos dedos da mão que segurava a pedra.
Logo que a mente dele processou toda a cena com um resultado terrível em mente, ele se moveu. Porém, foi tarde demais.
E ele só podia assistir paralisado a chama azul celeste se espalhar pela sala e sua cor escalar para tons cada vez mais escuros e um calor terrivelmente mais perigoso, enquanto no último segundo, quando toda a sua visão foi bloqueada pela chama, ele ouviu uma única palavra vinda daquela bela voz. Uma palavra que ressoou com toda a mana na sala e transformou a dor excruciante que ele sentia no pior momento da sua vida, antes de todo o seu corpo e existência ceder e desaparecer sem deixar uma única cinza para trás.
‟Fiégeton" - assim que a palavra terminou de ser dita, todo o mar de chamas azuis paralisou e em seguida recuou. Se tornando uma pequena chama novamente em poucos instantes e parando sobre a palma da mão do jovem, enquanto iluminava o lugar.
Exceto o silêncio e a escuridão que tomou a sala, ambos por causa da morte do demônio, tudo na sala parecia exatamente como a alguns segundos atrás.
Sem nenhum sinal de que um fogo real passou por ali, nem mesmo um leve cheiro ou mudança no ar fresco da sala, tudo estava como antes, tudo... a não ser a bela jaqueta preta, que caiu frente ao trono de pedra logo depois que a chama recuou, sem nenhum sinal de queimadura.
Observando ela por um momento com um olhar ganancioso, o jovem fez com que ela se erguesse no ar usando telecinese e a soltou sobre seu corpo.
‟Era pra eu ter dado o presente, mas no fim acabei recebendo... Ah! Todo o dia, sempre que eu via essa jaqueta eu ficava tão invejoso. Eu não podia deixar o fogo queimá-la." - comentou o jovem com um suspiro aliviado, enquanto apreciava o toque macio do tecido e o ajeitava sobre seu torso.
- É, com certeza daria uma história épica... O dia em que a chama de Flegetonte foi usada para roubar uma jaqueta... Ao menos você deixou o resto queimar. - concordou uma figura sombria sentada no encosto do trono.
Alguém que estranhamente possuía a mesma aparência do jovem preso ao trono e até um momento atrás não estava lá.
- Então... o que vem agora. Eu preciso assinar um contrato? Nem consigo acreditar que deu certo, mas porque vocês demônios sempre querem a alma ou corpo de alguém, afinal? Isso é algum tipo de fetiche? – ele perguntou, olhando para o que deveria ser seu corpo e estranhamente recebendo um sorriso malicioso em resposta.