Capítulo 8 Confusão

ALICIA JENKINS

O dia no estágio estava correndo super bem, eu estava me saindo bem, estava, eu disse certo, porque de repente tudo virou uma correria. Pouco depois das onze horas da manhã fomos informados de um acidente que aconteceu na ponte, e pelos comentários foi um acidente bem feio entre um carro de passeio que pertence à Construtora e um micro-ônibus.

-Todos vocês já estão cientes do que deve ser feio, certo? -A médica responsável diz quando estamos saindo. Nós entramos na ambulância e seguimos para o local. Está uma completa bagunça, a cena à nossa frente não é nada boa, tem muitos feridos e os passageiros do micro-ônibus a maioria estão em estado grave.

-Alicia, você vai avaliar os que já estão fora dos carros e depois anota tudo para os bombeiros e o resgate, assim vamos adiantar o trabalho para quando chegarem. -A médica deu as instruções e foi até o ônibus para avaliar a situação. Eu faço tudo como ela pediu. Pego meu kit de primeiros-socorros e sigo até os feridos do carro. Atendi tranquilamente o primeiro paciente, ele estava com escoriações leves e o mais problemático era seu rosto que ficou bem machucado por causa do airbag do carro. A fratura do nariz vai precisar de raio-x, anotei, dei a identificação e o mandei aguardar. Quando vou atender o segundo, esse está um pouco pior, pelo menos é o que parece pela quantidade de sangue que tem no seu rosto e também nos braços. Vou até ele e o chamo uma... duas... três vezes e ele está falando ao telefone e nem ao menos me dá atenção. Que sujeito arrogante. Ele está achando que tenho o dia todo para esperá-lo? Não mesmo. Me aproximo mais alguns passos e puxo seu braço. O homem tem a coragem de xingar e me tratar com ignorância. Tenho vontade de revidar na mesma falta de educação, mas não faço. Respiro fundo e respondo educadamente, afinal, ele está ferido, deve está sentindo dor.

-Me desculpe, mas é que eu preciso fazer meu trabalho, você não ouviu -Digo calmamente tentando me explicar.

-Você não está vendo aquele micro-ônibus ali? -Diz com a voz alterada -Lá têm muitas pessoas com ferimentos graves e que realmente precisam de atendimento! -Me encara com um olhar de nojo. Ele já havia encerrado a ligação. O homem me encara como se eu estivesse cometendo um crime. Ele só pode ser louco. Mas eu continuo mantendo a calma.

-Eu não posso atender lá, eu sou apenas uma estudante...

-Como é que é? -Ele me interrompe mais irritado ainda -Quer dizer que aqui eles mandam socorristas que nem são formados? Eu nunca ouvi um absurdo maior! -Diz com desdém. É, eu vou ter que respirar mais fundo que uma escavação ao núcleo da terra para xingar esse homem. Que sujeito insuportável.

-Eles não mandam socorristas sem capacitação, eu não sou uma socorrista, sou uma técnica de enfermagem, por isso estou apenas cuidando de feridos sem gravidade. -Respondi o mais calmamente que consigo e depois completo: -Não precisa ser mal educado -Ergo minha cabeça encarando o homem. Ele parece ser bonito sem toda aquela sujeira, mas em compensação tem uma personalidade horrível.

-Mal educado, eu? E quem você pensa que é pra falar da minha educação, sua inútil! -Diz com aquele jeito arrogante e me olha com muita raiva. Ele fica encarando fixamente os meus olhos. Ele junta um pouco as sobrancelhas e estreita os olhos. Seu rosto está coberto por uma máscara de sangue, mas os olhos com uma cor verde profunda chamam a atenção, mesmo com aquele sangue todo. Mas ele é feio por dentro, isso eu tenho certeza, é arrogante demais. Ficamos parados nos encarando até ouvir as sirenes do resgate e do corpo de bombeiros que estão chegando. Nesse mesmo tempo também chegam os carros da Construtora. Eu me afasto assim, os funcionários se aproximam do senhor arrogante.

-Ei é você, Alicia? -Ouço a voz do tio Leon me chamando.

-Oi tio, tudo bem? -O tio Leon, é o pai da Jenna. Ele trabalha há anos para a Construtora, é motorista.

-Então, onde está a Jenna? Ela não ia ter aulas no posto hoje também? -Pergunta desconfiado. Ele sempre acha que a Jenna vai aprontar alguma coisa.

-Ela ficou lá, viemos só uma parte dos funcionários do posto para prestar os primeiros atendimentos. Dessa vez ela está fazendo certinho, tio -Respondi sorrindo. Esses dois são muito engraçados, a Jenna apronta todas e o tio vive ameaçando mandá-la para fazer trabalho voluntário na África. Depois de trocar mais algumas palavras com ele, me despedir para ir ajudar a médica.

-Está tudo bem, Alicia? -A médica pergunta quando vê que voltei e os homens de resgate estão atendendo o ferido que eu tentei atender.

-Sim. Está tudo bem sim -Respondi e dei uma olhada no homem que está sendo atendido. Eu não fiz nada com ele e mesmo assim ele me tratou mal. Talvez seja porque é meu primeiro dia e eu tive um comportamento inadequado, mas eu vou melhorar com o tempo. Já esse homem, ele não tem salvação, a arrogância dele não tem cura. Nós ficamos três horas na ponte, o resto do tempo eu não fiz mais nenhum atendimento individual, fiquei apenas auxiliando a doutora, mas mesmo assim foi uma experiência incrível. Quando voltamos para o posto, eu fui liberada assim que cheguei, o que eu agradeci muito, pois estou exausta.

-Boa tarde, minha filha. Como foi seu primeiro dia? -Meu pai pergunta assim que entro em casa.

-Boa tarde, pai. Muito cansativo, eu estou quebrada! -Respondi, me jogando no sofá.

-Foi ouviu sobre o acidente na ponte?

-Ouvi só, não, eu vi, eu estava lá ajudando no socorro. -Digo orgulhosa.

-Mas já? Você já pode atender casos assim? -Me encara preocupado.

-Eu estava só auxiliando a médica, pai. Mas eu também atendi os feridos mais leve. Foi incrível! -Vou até ele e beijo sua bochecha -Está orgulhoso dos feitos da sua filha? -Pergunto fazendo charme, eu sei que ele sempre está orgulhoso de mim.

-É claro que eu estou orgulhoso, minha filha, muito orgulhoso. -Respondeu, me abraçando com carinho. Como eu sou feliz aqui, eu não consigo nem descrever o tamanho do amor que sinto por meu pai. Ele é tudo pra mim. Me levanto do sofá, com bastante dificuldade –estou realmente muito cansada – e vou até o meu quarto, tomo um longo banho e depois de xingar aquele homem mais um monte de vezes, eu caio na cama e vou dormir, amanhã é outro dia e tenho muito trabalho.

            
            

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