Capítulo 2 A volta do passado.

Caren fitava a notícia de meses atrás com o coração acelerado, lá estava a foto daquele que havia destruído a sua vida anos atrás. Amassou vários jornais os jogando na lata de lixo da sala dos professores, se recompondo a guardar no fundo da memória as cenas do passado vivido no quartinho dos esqueletos dos erros e más escolhas. Respirando fundo, penso o quanto havia sido uma tola por fugir de casa aos dezoito anos para se casar com ele.

Sendo abandonado um ano depois com um filho no ventre. Pensava ela ao fitar a parede. Somente o seu pequeno Miguel era seu consolo. Era um garoto amável, responsável e bondoso. Sorriu ao pensar no filho.

Ali na pequena cidade todos sabiam a sua história e como ela superou o abandono com um filho nos braços graças ao apoio da sua tia Marie que a protegeu da boca ferina das beatas fofoqueiras e pessoas maldosas.

Mulher de fibra, apoiou a sobrinha neta, entrando em conflito com os seus pais que a repudiaram. A velha senhora chegou a se mudar com ela para Califórnia para que ela poder cursar a universidade e voltar com o seu diploma em matemática e física.

Graças à força da veterana de guerra, o concelho da cidade se dobrou a permitir a entrada da sua sobrinha no colégio no cargo de professora de matemática.

A velha senhora era uma rocha naquela cidade preconceituosa e mesquinha. Ela era uma liderança feminina com poder de voz devido a sua grande influência política. Cristã verdadeira sem denominação protegeu a jovem Caren com o coração partido da pressão dos pais da jovem que a tentavam induzir ao abordo.

Forte e determinada, denunciou a hipocrisia do casal perante o reverendo da cidade em meio ao culto de domingo. Rompendo de vez com o sistema religioso da cidade, fundando um centro de apoio para jovens, mães, adolescentes e mulheres vítimas de violência doméstica.

A velha era um modelo de mulher forte e piedosa. Era temida pelos hipócritas e políticos, pois era atuante no cenário local por sua luta contra as leis mesquinhas da pequena cidade. Seguia o exemplo dela não permitindo que ninguém abalasse sua determinação em seguir.

Pensava Caren ao fitar a lata de lixo. Aquilo não passava de uma provocação de alguns que se incomodavam por estar a lecionar. Saiu pelo corredor encontrando Mercedes uma velha conhecida sua do colégio, a mesma a fitava com desdém acreditando ter lhe abalado com os jornais.

Sabia das intenções baixas dela que tentava de todo modo criar problemas para si, já que era bem vista por seu profissionalismo e capacidade profissional.

Ignorou a megera rumando para sua sala de aula, sendo abordada no caminho pelo professor de educação física recém-chegado.

_ Pode me ajudar?

Perguntou ele colocando uma das mãos na cabeça passando pelo cabelo preto liso, o corte militar realçava a beleza do rosto quadrado os olhos verdes esmeraldas traziam expectativa.

_ Claro. Qual é a dúvida?

Perguntou ela aproximando-se dele que trazia nas mãos uma folha de papel com cores diversas. Sorrindo, Caren pegou uma caneta da bolsa e identificou cada turma conforme a cor para ele.

Agradecido, reparou na beleza da pele morena e olhos escuros. Ela era linda e bondosa. Pensou ele fitando o rosto da jovem professora.

_ Não entendo essa organização confusa. Não era mais fácil colocar os nomes das turmas e grupos de alunos!

Exclamou ele sorrindo para Caren, que somente riu com os olhos. Mercedes, que o observava o casal no meio do corredor, correu até eles e falou:

_ Sou responsável pela organização dos horários.

Disse ela numa voz melosa tentando chamar atenção do homem.

Tomas fitou a outra mulher sentindo a energia pesada dela. Fechou o cenho e falou:

_ Agora entendo o motivo dessa folha ser uma desorganização completa.

Disse ele fitando a mulher que ficou em choque vermelha como uma pimenta.

_ Insinua que sou incompetente?

_ Não sou eu que estou dizendo. É você!

Exclamou ele cruzando os braços sobre o peito largo.

Mercedes, enfurecida, correu para sala do diretor. Caren o fitou cansada.

_ Acabou de arrumar uma inimiga mortal.

Disse ela com pesar.

Ele riu e apontou para a porta que a outra havia passado há pouco.

_ Estou acostumado com baratas. Venho da grande maçã lá é cheio desses bichos nojentos.

Disse ele fazendo uma careta de nojo.

Caren sorriu da comparação. O sino tocou a avisar o início das aulas.

_ Se me der licença, preciso assumir a turma.

Disse ela sorrindo a deixar o homem sozinho rumando para sua sala.

Tomas ficou impressionado com a beleza da mulher, passou o dia a observar as atitudes dela. Ficou encantado com o modo que tratava a todos e por sua simplicidade. Tratava todos os alunos com respeito e carinho, sendo um exemplo de profissional.

No final da tarde, Caren estava a se despedir do último grupo de alunos quando foi abordada pelo professor iniciante.

_ Desculpe não me ter apresentado, sou Tomas Parque e você?

Perguntou ele estendendo a mão.

_ Sou Caren Wesmith professora de cálculo.

Disse ela sorrindo.

_ Por ter-me ajudado mais cedo, gostaria de retribuir a gentileza com um café.

Caren o fitou sem graça ia responder o convite quando uma criança os alcançou. O menino sorriu a abraçar a mãe.

_ Mamãe consegui nota máxima na soletração.

Dizia ele sorrindo.

_ Parabéns, querido! És muito inteligente.

Disse ela abraçando a criança. Olhou para o rapaz que a observava e falou:

_ Obrigada pelo convite, mais tenho que ir para casa.

Disse ela pegando o menino pela mão, deixando Tomas chateado a olhar para o chão. Havia esperado a tarde toda para conversar com ela.

Mercedes, que viu a cena, chegou perto dele mexendo nas unhas vermelhas.

_ Mais um fisgado pelos encantos da rapariga. Disse ela levantando a sobrancelha delineada.

_ A única rapariga que vejo está aqui do meu lado.

Disse ele fitando-a com enfado.

_ Está a me chamar vagabunda?

Perguntou ela indignada.

_ É você que está dizendo.

Disse ele saindo pela porta deixando a mulher indignada.

            
            

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