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Roger chegou à pequena cidade seguindo pelas ruas tão familiares com o coração apertado e a mente a mil por hora com o coração acelerado.
Cada esquina era uma lembrança. Passou pela casa do antigo sogro um casarão da era vitoriana em esplendor e glória. Viu a janela que era do antigo quarto dela, por sua mente passou às cenas das noites que ela fugia para estar com ele. De como ria no carro e de como ela se rendia ao amor que sentia por ele. De como ela confiava plenamente nas promessas que nunca iria deixá-la.
A dor cortou a sua alma. Respirando fundo, deixou a casa para trás e rumou pela via principal, chegando à antiga casa luxuosa do antigo prefeito que seria sua nova casa, olhou para o céu.
_ Seja feita a sua vontade.
Disse ele entrando pela porta pesada de madeira. A noite passou entre remorsos e tristeza. O seu coração angustiado tomava conhecimento das consequências dos seus atos no passado. Rolava na cama a pensar como teria sido sua vida se não tivesse se rendido ao acordo nefasto com o seu sogro. Imaginava uma casa simples com um ou dois filhos e a mulher amada. Dormiu em meio às lágrimas e sonhou com um menino de cabelos castanhos escuros. Acordou num salto com a imagem da criança na mente. Passou parte da manhã tentando entender a mensagem do sonho quando batidas na porta chamaram a sua atenção.
Era um sábado ensolarado e os escoteiros foram lançados à disputa da venda de biscoitos para a arrecadar fundos para caridade.
Miguel e o seu grupo de escoteiros arrastavam um pequeno carrinho de mão cheio de caixa de biscoito.
O menino observou o carro luxuoso parado na porta da casa do antigo prefeito. Visionário imaginou que o novo morador deveria ter muito dinheiro pelo carro de luxo.
Os companheiros de seu grupo o olharam imaginando o mesmo e numa corrida alucinada os três meninos bateram juntos na porta. Uma figura exótica os recebeu com cabelos loiros longos soltos, vestido com calça jeans rasgada e uma camiseta preta com os braços de fora. Era um visual estranho para os meninos que estavam acostumados com as vestimentas formais da pequena cidade.
Um dos meninos o reconheceu pulando de alegria já que a frente de ambos estava a lenda viva do rock nacional.
_ Você é Roger, o vocalista da Thunder?
Perguntou o menino rechonchudo para Roger que não tirava os olhos de Miguel que constava
que o homem a sua frente era o famoso cantor que estampou as manchetes no jornal meses atrás.
Roger fitou o menino e reconheceu na criança sua própria imagem no passado, reviu a imagem do sonho e o seu coração disparou.
Miguel, sem notar o que se passava com o homem, começou a falar sobre o objetivo da venda:
_ Somos os escoteiros mirins e buscamos ajudar aqueles que necessitam. Estamos vendendo biscoitos caseiros para arredar fundos para nova construção de um abrigo para animais abandonados.
_ Compro seu estoque inteiro!
Exclamou Roger emocionada ao ver a determinação do garoto em mudar a sorte de vários animais abandonados.
_ É sério, senhor!
Exclamou o menino maravilhado. Passando as mãos pelos cabelos num gesto familiar a Roger.
Os outros garotos o fitaram alegres.
_ Sim.
_ Teremos que buscar na base _ Disse o menino coçando a cabeça.
_ Sem problemas eu levo vocês.
Disse ele tirando a chave do carro sem pensar.
Ao longo do percurso o coração de Roger dizia que aquela criança o pertencia. Era um pensamento louco que assolava a sua mente. Olhou para o céu e o seu coração aqueceu-se, estava perante o mistério do Senhor.
Os meninos seguiram o homem ao grande veículo e foram com eles sorridentes apontando o caminho.
Caren ajudava a montar a barraca de venda com alegria. Ria da cara da amiga Rita que resmungava por estar grávida aos quarenta anos.
_ Sei que filhos é uma benção mais os meus pés estão-me matando.
Disse a mulher colocando a mão na cintura. De repente ela ficou branca como um papel fitando o horizonte. Caren se voltou para o que a amiga observava e ficou igualmente pasma. Seu filho vinha seguido da figura que evita há anos. O coração de Roger acelerou ao ver a mulher que lhe tirava o sono há anos a sua frente. Os olhos escuros dela o fitavam incrédulos e o seu rosto era uma máscara de pavor.
A dor cortou a sua alma ao ver aquele homem que brotava das profundezas do seu passado. Como um demônio pronto para lhe levar ao abismo do desespero e dor.
_ Mamãe consegui vender todo o estoque de biscoito. Teremos o dinheiro para expandir o espaço de tratamento dos animais abandonados.
Dizia o menino fitando a mãe preocupada.
_ Mamãe está bem?
Perguntou ele tocando o rosto da mulher que saiu do seu estado de pânico fitando o menino com olhos arregalados.
Retomando o controle, fitou o garoto e falou:
_ Somente tive a impressão de ver um fantasma.
O menino riu e falou:
_ Não existem essas coisas.
Ao longe, uma idosa fitava a cena com o coração aos saltos.
Marie viu que Roger fitava a sua sobrinha e a criança e constatou o olhar de compreensão no seu rosto. Antes que ele fizesse uma burrada, foi até ele.
_ Querido deixe que vovó assuma a venda daqui!
Disse ela puxando o homem para longe de mãe e filho o levando para uma sala privativa na construção da base dos escoteiros.
_ O que faz aqui?
Perguntou a velha fechando a porta atrás de si.
_ Comprando biscoitos. _ Disse ele virando para mulher em pânico.
A velha o fitou e o seu coração encheu-se de misericórdia. Ali estava um homem que estava se deparando com as consequências dos seus pecados do passado.
_ Sente-se garoto.
Disse ela puxando uma cadeira para ele que desabou a fazer a cadeira ranger.
_ Quantos anos ele tem?
_ Dez anos.
Roger fez os cálculos mentais e fitou a senhora que assentiu num gesto silêncio que a criança era sua.
Ele fitou o alto e falou:
_ Foi por isso que me trouxe de volta!
Disse ele pondo as duas mãos na cabeça, fitando a senhora a sua frente com os olhos arregalados.
_ Foi por isso que ele me trouxe de volta!
Repetiu ele rindo.
Marie reconheceu que algo havia se passado com ele em no momento do acidente.
_ Conte o que houve com você e o nosso Senhor.
Disse ela sentando na outra cadeira apoiando as mãos sobre a mesa.
_ Ele deu-me uma segunda oportunidade.
_ Como?
_ Vivi uma vida miserável após partir daqui. Tinha sucesso e dinheiro e um vazio na alma. No dia do acidente perdi a consciência e me vi em uma sala escura nua perante um juiz sentado em um trono. Não conseguia ver o seu rosto, somente seus pés de ouro puro. Vi minha vida pelos seus olhos como em um filme. Vi cada acerto e erro. E no final senti como se tivesse desperdiçado minha vida inteira. Senti um remorso profundo e pedi uma chance para fazer diferente. Fazer valer a pena minha existência.
Disse ele fitando a velha com os olhos assustados.
Marie riu e olhou para o alto e apontou o dedo dizendo:
_ Senhor, obrigada pela graça recebida.
Roger fitou a mulher com os olhos assustados.
_ Rapaz passei anos pedindo por você.
Aquilo o surpreendeu e o emocionou, pois, acreditava estar só na vida louca.
_ O que faço? Tenho um filho!
Perguntou ele olhando para o alto.