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Encarei a praia em frente a casa de Claire como se conseguisse encontrar ali todas as respostas para as perguntas que haviam em meu peito. Eu ainda conseguia sentir os roxos em meus braços – doer.
Eu havia deixado muita coisa para trás e não me arrependia disso.
Havia um motivo para isso, é claro..., mas sinceramente? Eu não quero falar sobre por agora.
- Olá? Acorda do mundo da lua, princesinha. - A voz de Claire me chamou e eu ri, não era mais uma surpresa ter Claire me zoando mesmo quando o sol ainda estava nascendo, na verdade eu as vezes ficava agradecida por ela não me tratar de forma diferente.
- Acho que levamos o rolê de acordar cedo muito a sério.
- Jura?
Ela acendeu um cigarro e se debruçou na varanda do seu apartamento.
Tinha sido engraçado no fim das contas.
Eu entrei nessa de ir embora sem olhar pra trás e a Claire apenas me segurou pela mãozinha e resolveu me ajudar.
- São 3 horas até a sua entrevista, como se sente?
Suspirei.
- Ansiosa. Muito ansiosa.
- Deveria estar mesmo, já viu os boatos sobre os gêmeos malucos? São tão bons quanto o falecido velho Valentin.
Certo, até mesmo eu sabia quem era a família Valentin, mas isso não estava mais no meu círculo social, não fazia mais sentido.
Era cansativo e não era meu problema.
Eu seria apenas a baba do pequeno futuro herdeiro, apenas isso.
- Você realmente tem experiência com crianças?
Não contive a risada e ela me olhou com uma sobrancelha erguida.
- Sim, eu tenho e gosto de crianças.
- Certo.
Sua descrença era óbvia demais.
Seis horas depois, eu estava ali. No escritório luxuoso de Alejandro Valentin, o filho mais novo e também aquele que herdou toda a fortuna e as empresas após o incidente com seu pai.
A porta de vidro se abriu tão rápido quanto se era humanamente possível e um homem alto de cabelos negros e olhos azuis entrou; ele era realmente inconfundível. Tinha aquele ar de superioridade que poucos seres humanos eram capazes de possuir.
Endireitei minha postura e o vi sentar a minha frente.
Graças a Claire eu tive a chance de ser entrevistada em seu escritório particular no lugar de ir até a empresa.
- Senhorita... Blanchard?
Suas sobrancelhas estavam curvadas como se ele tentasse entender o que estava acontecendo. Qual seria as chances de que ele me conhecesse?
Poucas, tentei me convencer antes que meu nervosismo estragasse tudo.
- Sim?
- Tem experiência com crianças?
- Sim, dos primeiros 6 meses de vida até os 14 anos. Trabalhei na instituição Rossian durante a adolescência.
Era meu alibe perfeito e minha melhor chance.
Seu rosto se ergueu em minha direção.
- E por que se mudou pra Itália?
- É uma cidade bonita e..., eu queria começar outra vez.
Não era uma mentira total. Apenas parcial.
O moreno a minha frente examinou minha ficha outra vez.
- Sabe que precisará se mudar para a mansão e que seu trabalho seria em tempo integral, não sabe?
Acenei com a cabeça.
- Sim, senhor. Tenho plena consciência disso.
- Estará disposta a abdicar de toda uma vida externa com uma idade tão jovem pra cuidar de um bebê? Meu filho merece toda a atenção e sinceramente não quero ter que arrumar uma babá extra sempre que você resolver sair com amigos ou tiver algum imprevisto.
Senti minha garganta apertar. Seu tom era levemente rude e era óbvio que ele não acreditava em mim sobre desejar esse emprego, devia pensar que o estava aceitando apenas pelo valor que eles estavam dispostos a pagar.
Suspirei.
- Senhor, eu entendo quais são os meus deveres e não pretendo ir contra eles. Estou ciente de que isso requer que eu dedique tempo a criança e como falei anteriormente, gosto de cuidar de crianças. Diferente do que pensa, não costumo sair e como viu em meu currículo, não tive tempo para criar laços aqui e muito menos tenho amigos para sair para festas, mas ainda assim, mesmo que tivesse, não sairia. Detesto barulhos altos e músicas que se resumem a batidas.
Ele ergueu uma sobrancelha, o rosto tomado com certa surpresa e pela primeira vez desde que entrou - pareceu me olhar diretamente.
- Certo... senhorita Blanc. Entrarei em contato.
"Estou fodida", foi tudo que pensei enquanto saia dali e voltava para casa sem a menor esperança de conseguir aquele trabalho.
Mal cheguei na casa de Claire e me joguei no sofá tão cansada que mais parecia ter saído de uma luta de box do que de uma entrevista.
Havia odiado Alejandro Valentin, tanto quanto havia odiado o noivo que minha mãe me havia apresentado quando criança.
Ele era como eles, como todos eles. Um estúpidos riquinho que só vê o próprio umbigo. Mas por que eu havia esperado algo diferente? Por que ele odiava a mídia e havia sido chamado de ovelha negra? Bom, não dá pra esperar demais de alguém assim.
Um banho, sim. Eu preciso de um banho.
Me levantei sem pretensões, sem a menor expectativa, mas ao voltar do banho, havia um email em meu celular.
"Gostariamos de informar que a senhorita passou na entrevista.
Se dirija ao endereço anexado ao email e traga consigo suas malas. Deve conhecer o jovem-mestre Valentin e se instalar em seus aposentos."
- Eu... consegui - disse a mim mesma enquanto abraçava o celular - é hora de começar a viver a minha própria vida.