Capítulo 5 Dois

Em um pequeno vilarejo, enquanto todos os outros habitantes dormiam. Em uma das casas, uma criança pequena com aproximadamente cinco ou seis anos fitava seriamente o teto acima de sua cabeça.

Sob o luar cristalino que invadia o pequeno cômodo em que ela se encontrava, os estranhos cabelos azuis do garoto adquiriam um tom prateado.

Na escuridão, sendo iluminados apenas pelo luar, seus olhos dourados brilhavam como faróis.

Esse garoto era Leng Sihan, ou melhor dizendo, seu nome agora era Kayden.

No começo Kayden estava muito cético sobre toda essa situação, ele achava que coisas como renascimento e transmigração só existiam em livros e filmes, e apenas com o intuito de encantar um certo público alvo.

Seu primeiro pensamento foi achar que alguém estava lhe pregando uma peça. Mas esse pensamento foi logo descartado, nenhuma pegadinha no mundo poderia transformá-lo em uma criança.

Ele também descartou a possibilidade de estar em coma, uma vez Kayden "acidentalmente" se afogou em uma bacia quando sua... Mãe se descuidou dele por um minuto, e por muito pouco ele não morreu uma segunda vez. A partir daí ele e sua mente cética pareceram convencidos de que aquilo era de alguma forma real.

Toda vez que se lembrava de como ele aceitou rapidamente a situação atual, Kayden sentia vontade de se bater. Parece que depois de morrer sua resistência a coisas que desafiam a lógica foi pro ralo!

Mas não era como se existisse algo que ele pudesse fazer a respeito, então a única alternativa era aceitar a realidade. Também não era como se ele tivesse deixado para trás pessoas importantes em sua outra vida.

Então por que ele ficaria se prendendo e remoendo algo que ele não poderia mudar?

Se Kayden fosse ser sincero, ele estava muito feliz com sua nova identidade, ele era apenas Kayden do reino de Katrus. E seus pais eram Khalil e Adel.

Nessa vida ele podia ser quem era, não existia nenhuma pressão, nenhuma expectativa. Absolutamente nada que o fizesse tentar ser quem ele não era.

Claro, nem tudo eram rosas. A vida era bem difícil, e o dinheiro escasso.

Seu pai atualmente era um marceneiro, contudo os negócios iam de mal a pior e nós últimos tempos todos os trabalhos que recebeu eram apenas coisas simples, e que não rendiam muito. Então eles precisavam se virar como podiam.

Mas não foi sempre assim, não passado seu pai já fora um comandante do exército imperial. Ele era muito popular, e seus feitos eram lendários.

Porém os tempos de glória duraram menos que o esperado, e após perder uma importante batalha, a mesma que lhe deu várias cicatrizes e que quase lhe custou a vida, ele foi jogado para escanteio. Agora o povo praticamente se esqueceu dele.

Claro, ele só foi dispensado depois que a corte "confiscou" quase todos os seus bens. Sob o pretexto de que ele como comandante, devia se responsabilizar pelo dinheiro que a coroa investiu nele.

Mas Khalil não achou que isso foi um incomodo, pelo contrário ele tirou o máximo de proveito da situação. Ele pegou o pouco dinheiro que lhe sobrou, e se mudou com sua esposa para um vilarejo afastado, onde ninguém o reconhecia e recomeçou sua vida do zero.

Logo eles tiveram um filho, e ele não poderia estar mais feliz. Khalil agora tinha tudo o que sempre desejou, e apesar da vida ser mais dura, ele estava feliz com o rumo que as coisas estavam tomando.

Mas alguns fantasmas se recusam a ficar no passado, e as sombras de novas guerras pareciam cobrir lentamente Katrus como um manto sombrio, mergulhando a população em tempos de incerteza e medo.

Alheio a crise que se aproximava rapidamente de sua casa, Kayden continuava a listar tudo o que conseguia pensar. Porém nada parecia adequado para uma criança.

Suspirando, ele revisou suas únicas opções outra vez. As únicas coisas que ele podia fazer, eram as que davam menos lucro.

Atualmente Kayden se encontrava no meio de uma "crise". Ele estava empenhado em arrumar formas de conseguir dinheiro rapidamente.

Claro, não era como se seus pais fossem discutir com ele "problemas dos adultos". Ele apenas escutou casualmente enquanto estava acordado um dia.

Sua mãe parecia preocupada, assim como seu pai. Foi nessa hora que Kayden chegou a conclusão que o problema deveria ser sério, seu pai era do tipo que ficava satisfeito mesmo recebendo uma pedra de presente.

Então Kayden se decidiu, ele acharia meios de tirar sua família da pobreza!

Contudo ele não havia calculado que agora era uma criança, e crianças nunca eram levadas a sério.

Depois de observar por um tempo quais eram os negócios mais lucrativos e que não continham muitas taxas de perda, além de serem mais fáceis de gerenciar. Kayden foi contar as boas novas para seus pais, porém foi completamente ignorado da primeira vez.

Mas ele não desistiu, e passou a apresentar diversas soluções de negócios. Contudo foi ignorado todas as vezes.

Kayden até tinha tentado convencer seu pai, Khalil, a se tornar um comerciante ou a tentar fundar seu próprio negócio, talvez abrir uma loja de marcenaria em uma cidade grande. Claro os negócios não seria muitos bons no começo, mas depois que fosse amplamente conhecidos melhorariam.

Mas seu pai apenas riu dele, dizendo que para ambas as opções eles precisariam de uma grande quantidade de dinheiro, coisa que eles não possuíam. Não era como se não soubesse disso, mas ele não podia pegar um pouco de dinheiro emprestado?

Bem... Seu pai disse que podia, mais se o fizesse ficaria com uma dívida enorme e teria que vende-lo para quita-la.

Kayden inflou suas bochechas aborrecido, porque ninguém o levava a sério!?

Foi a mesma coisa quando tentou convencer sua mãe a abrir um pequeno restaurante, a comida da mulher era muito boa e ele acreditava que seria um sucesso!

Porém ele só conseguiu que rissem dele. De novo!

Foi só depois de muito debate mental que Kayden, mesmo a contra gosto foi perguntar uma forma de conseguir dinheiro rapidamente. Mas só conseguiu que sua cabeça fosse esfregada, fazendo seu cabelo já rebelde se voltar em todas as direções.

Então quando já estava quase desistindo desse pai barato, foi a hora que o homem resolveu respondê-lo.

- se Kayden quiser ganhar dinheiro rapidamente, se tornar um explorador pode ser a solução.

- explorador- Kayden se interessou e sua orelhas ficaram em prontidão para não perder uma só palavra do homem a sua frente.

- sim, explorador!- vendo como seu filho parecia interessado ele o pegou no colo, se sentando com ele logo em seguida – os exploradores na verdade são uma espécie de mercenários, mais ao invés de serem responsáveis por escoltar pessoas ou as matar, eles lidam com monstros.

- monstros?

- sim – Khalil pensou em um jeito melhor para explicar – você se lembra daquela centopeia gigante que o papai matou ano passado?- vendo que a criança balançou afirmativamente a cabeça ele continuou – aquilo era um monstro, e existem monstros maiores e mais perigosos. E os exploradores são contratados para lid...

- eles ganham bem? – Kayden interrompeu, aquilo parecia ser lucrativo. Talvez ele devesse investir nisso.

- bem... Sim, mas também é muito perigoso. Por isso os exploradores são bem remunerados, muitos poucos estão dispostos a arriscar a vida por baixas quantias. Além disso as pessoas que vivem nos lugares onde esses monstros aparecem, juntam desesperadamente suas economias para conseguirem contratar alguém.

- eles não podem resolver sozinhos, como o papai fez?- não era como se Kayden não tivesse chegado a conclusão sozinho, porém ele tinha que agir como uma criança. E crianças são muito curiosas.

- eles não podem – Khalil falou desamparadamente, bem não era como se as aldeias mais pobres não tentassem lidar com o problema sozinhas. Mas muitas das vezes não terminava bem, e algumas das aldeias eram completamente dizimadas.

- Porque?

- porque... – o homem pareceu pensar um pouco, depois abriu um sorriso maroto -... Claro que é porque nenhum deles é tão incrível como seu pai!

O semblante de Kayden escureceu. Esse pai barato, eles estão no meio de uma discussão séria!

Khalil riu um pouco, mas parou quando viu a expressão do filho escurecer. Ele sentiu que se continuasse provocando-o, seu filho o ignoraria pela próxima semana.

Parando de provocá-lo, Khalil retomou mais uma vez o assunto.

- na verdade o motivo é bem simples, eles não são capazes de enfrentá-los. Mesmo se tentassem, muitos deles morreriam. Então a única saída é buscar ajuda de fora para lidar com o problema. Além do mais, ninguém está disposto a viver com a ameaça de um perigo constante.

- entendi!- Kayden balançou a cabeça como se reafirmasse o que havia dito- como eu me torno um explorador?

-hum? Você quer se tornar um explorador?

- sim!

            
            

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