Capítulo 7 Três

Como fogo que se espalha rapidamente ao sopro de uma leve brisa. Em apenas uma semana, todas as cidade de Katrus foram "agraciadas" com o decreto do Rei.

Incluindo o pequeno vilarejo onde Kayden e sua família morava.

A notícia chegou pela manhã e pegou todos de surpresa.

Em um primeiro momento, o pequeno vilarejo que costumava ser silêncio, ficou em completo alvoroço.

Kayden acordou atordoado com o barulho, que que parecia estar a sua volta. Como havia dormido tarde novamente na noite anterior, sua mente cansada não soube registrar a situação.

Foi apenas depois de forçar sua mente a ficar lúcida, que os barulhos que ouvia começaram a fazer sentido.

Pessoas falavam fortemente e também pareciam discutir umas com as outras. Kayden podia até distinguir choros altos e claros. O que parecia extremamente lamentável.

Porém foi a discussão que acontecia ao lado que surpreendeu Kayden. Em todo o tempo que esteve aqui seus pais nunca discutiram. Nem mesmo uma única vez.

Descendo lentamente da cama, Kayden andou sobre as pontas dos pés e se aproximou lentamente da parede, colocando um dos ouvidos na mesma

Desse modo a algazarra vinda do lado de fora, não o impediria de ouvir corretamente a conversa.

- Você não pode ir! Khalil por favor! – a voz desesperada de sua mãe penetrou seus ouvidos – o que nós vamos fazer ?

Ir embora? Seu pai... Os estava abandonando?

Não... Kayden se recusou a acreditar, ele não era esse tipo de pessoa!

- eu não tenho escolha Adel – A voz do homem parecia cansada – se eu não for, seremos punidos com a lei marcial.

Kayden travou, um segundo depois de escutar "lei marcial", ele já havia analisado a situação. Parece que no final ele estava certo, um decreto deve ter sido emitido, convocando todos os homens para o exército. Aqueles que se recusarem serão mortos juntamente com suas famílias.

- nós podemos fugir, nos esconder! – Adel chorou – eles não devem mais se lembrar de você, nós só precisamos ir embora.

- não podemos, e você sabe...- fazendo uma pausa Khalil continuou- ... Eu sou um antigo comandante, e você conhece a personalidade de sua majestade. Ele consideraria nossa fuga uma afronta, e não descansaria até ter nossas cabeças. Não quero que você e Kayden vivam uma vida assim.

- eu posso aguentar Khalil... Eu não me importo de viver assim, contanto que nós continuemos juntos...

- mas e ele? – o homem interrompeu – você realmente quer expor nosso filho a tanto perigo? Como nós olharíamos nos olhos dele e contaríamos que agora ele precisaria viver fugindo e se escondendo, e que a qualquer momento assassinos virão tentando matá-lo? – como um suspiro a voz do homem se tornou mais gentil – eu não me importo com isso Adel, contanto que eu possa manter vocês seguros de algum jeito, eu faço qualquer coisa.

Com um baque a mulher caiu de joelhos no chão, agarrando seus cabelos rosados, enquanto chorava fortemente. Os soluços faziam seu corpo tremer violentamente.

Khalil não aguentou ver sua esposa daquele modo, então se ajoelhou ao lado dela, a abraçando fortemente.

Um silêncio pesado pareceu se estabelecer no recinto. Sendo cortado vez ou outra pelos soluços da mulher.

Kayden por outro lado sentiu como se seu chão tivesse desabado. Claro, ele tinha previsto que algo assim podia acontecer em um futuro próximo. Mas não achou que seria tão rápido!

Ele foi pego desprevenido!

Kayden não sabia o que pensar a respeito, ele havia escutado a conversa e entendia a situação atual. Isso não significava que ele queria que o homem que chamava de pai fosse arriscar sua vida em uma guerra sem sentido.

Ainda mais ele, cuja saúde se deteriorou muito ao longo dos anos, devido aos inúmeros ferimentos que recebeu em seus anos servindo ao exército.

Seus sentimentos eram contraditórios, Kayden entendia a situação atual e sabia que não havia nada que ele pudesse fazer para ajudar.

Contudo não existia nada que pudessem fazer. E seu pai tinha razão, mesmo que ele tenha sido "descartado", e muito provável que o rei se enfurecesse depois de descobrir que ele havia "fugido".

Claro, se fosse qualquer outra pessoa o rei não se importaria muito. Perseguir cada um dos desertores era algo que demandava tempo e recursos, e a coroa não estava disposta a gastar tanto com apenas algumas pessoas sem importância. Executar suas famílias por descumprimento da lei imperial era mais que suficiente.

Agora a estória seria completamente diferente se um ex-subordinado "desafiasse" sua autoridade desse modo.

Em resumo não existia nenhuma válvula de escape a qual eles pudessem se agarrar. Se fugissem, eles seriam caçados pelo resto de suas vidas. E não importa o quão forte seu pai fosse, ele não conseguiria protegê-los para sempre. Uma hora ou outra a sorte deles acabaria, e eles seriam localizados e mortos por assassinos enviados pelo Rei.

Isso no melhor cenário! O pior seria todos serem usados como "exemplo" para as demais pessoas.

Então, ao invés de ver sua família sendo torturada, e executada em praça pública. Seu pai optou pela solução mais "fácil", mesmo que isso signifique que ele nunca mais volte para casa.

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Enquanto via o homem arrumar suas coisas, Kayden sentiu como se uma pedra tivesse sido alojada em seu estômago.

Abaixando as olhos ele pensou no que poderia falar para quebrar aquele clima pesado que se estabeleceu no recinto.

Ele queria falar alguma coisa, qualquer coisa. Porém ele não sabia o que dizer, e mesmo se soubesse as palavras pareciam estar presas em sua garganta.

- Kayden

Ouvir seu nome sendo chamado o fez levantar a cabeça, apenas para perceber que Khalil havia se aproximado dele em algum momento. E que agora estava ajoelhado a sua frente.

Em suas mãos ele carregava algo embrulhado em um pano azul de aparência desbotada. Kayden não sabia o que poderia ser, ele nunca havia visto o pai com aquele objeto antes. Contudo, parecia ser algo extremamente precioso, isso se levar em conta o cuidado e a delicadeza com que era segurado.

                         

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