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- É um absurdo a forma em como ele fala sobre filhos, apenas como seus herdeiros.
Refere-se a nós como se fôssemos inferiores! E aquele rosto tão feio? E seu corpo? Eu não o casaria com a mais preguiçosa criada que temos! Ah, marido, deve fazer um acordo já! Deve arranjar um marido para a nossa filha antes que tudo esteja perdido! Amber não pode se casar com aquele homem, ela não se casará com ele!! - minha mãe esbravejava sua irritação e frustração para o meu pai que acabara de chegar da Austrália, no cômodo ao lado do meu quarto, esquecendo de que o homem a quem se referia era seu próprio sobrinho.
- Filha minha não nasceu para se casar com um homem como ele, já ouviu sobre suas libertinagens? Ainda a chamou de prima o tempo inteiro em que estiveram juntos, ah, mas que heresia! Amber tem de se casar com um duque, ou um príncipe!
- Eu admiro a sua maneira de sonhar, querida esposa, mas acredito que isso não será possível.
- O Sr. e Sra. Morrison estão agitados hoje. - minha aia Gisela comentou.
- Sim, estão. Acredito que esta casa será explosiva até o final da temporada, sorte a deles por não terem tido outras filhas.
- Ou até a senhorita encontrar um marido. - Gisela me disse mostrando dois vestidos de baile brancos quase idênticos, encrustados com diamantes e renda francesa, que foi encomendado por minha tia Emilly na Italia, exclusivamente para esse dia. Era o primeiro baile da temporada e eu tinha que causar boa impressão, e capturar mais pretendentes para a minha direção.
- Só de ouvir a palavra "marido" já me dá uma dor de estômago. Tenho medo de não encontrar o amor e acabar me casando com um homem como o Henry. - fiz uma careta ao mencionar esse último nome. - ele com certeza estará lá hoje para me alugar no salão de dança, que os céus me ajudem.
- Não se preocupe senhorita, com certeza seus pais não permitirão que se case com o senhor Reynolds.
- Com certeza eles são contra isso, mas e se eu não conseguir um pretendente mais aceitável? A julgar pelo dinheiro, qualquer pretendente que vier até mim com o patrimônio menor que o do meu primo, será automaticamente rejeitado pelos meus pais e com isso, ficarei presa às garras de Henry.
- Não seja tão pessimista. A senhorita é uma moça bonita, com certeza haverá um conde ou um duque ansioso para colocar um anel de noivado em seu dedo.
- E torçamos para que ele seja minimamente agradável... - eu disse tão baixo que Gisela não foi capaz de me ouvir.
Os bailes de lady Campbell eram sempre muito refinados, pelo que eu ouvia dizer, mas mesmo assim, consegui me surpreender. Ela era uma mulher extravagante que gostava de esbanjar sua riqueza nos mínimos detalhes. Os lustres eram feitos de cristais raríssimos e as decorações foram trazidas dos museus da Grécia. Havia também um estátua da anfitriã no centro do salão, que era banhado a ouro. O que levava todos a questionarem seu nível patrimonial, mas ela mantinha segredo com relação a isso.
- Nesta noite, fico feliz em receber todos vocês aqui. Dou as boas-vindas às jovens que debutaram pela primeira vez esse ano, e desejo também boa sorte, vocês irão precisar. - ela disse num tom divertido e todos riram. - para fazer jus com a ocasião, tomei a liberdade de contratar o mais promissor músico que a Inglaterra já viu, nossa querida rainha foi gentil ao ceder para nós o jovem Jamie Young da Prussia! - o som de palmas ecoaram por todo o salão - tenho mais um comunicado a fazer. - a mulher exclamou e todos fizeram um silêncio extremo. - ao final da festa, todos deverão escolher anonimamente a moça mais graciosa da temporada, iremos fazer uma votação! - Um burburinho de várias pessoas cochichando ao mesmo tempo preencheu novamente o salão - a moça escolhida será considerada o diamante mais precioso que um homem possa conquistar, uma jovem perfeita, que certamente seria a melhor lady que a alta sociedade já viu. Mais uma vez, boa sorte e se divirtam!
- Está fugindo de alguém, senhorita? - Lady Campbell se aproximou.
- Fugir é uma palavra muito forte, eu diria que estou evitando um desastre.
- Por Deus! Diga-me criança, o que pode ser tão desastroso? - nós duas rimos, mas ela logo percebeu a minha expressão mudar quando o visconde Reynolds se direcionava a mim. - Oh sim, de fato, um desastre. E dos piores. - ela riu da minha cara e foi saindo de fininho à medida que o homem se aproximava.
- Concede-me a sua primeira dança, minha cara prima? - Depois de passar alguns segundos ponderando, decidi que a melhor decisão seria aceitar, afinal, o fato de uma dama rejeitar uma dança com um cavalheiro era visto como uma atitude arrogante e no outro dia seria um escândalo terrível. Uma dança não irá matar, pensei. Bem, talvez não de verdade.
- É claro, seria um prazer.
Apesar de estar na companhia de alguém não tão agradável, quando ouvi a primeira nota do piano, era como se eu tivesse entrado em um transe. Meu corpo estava leve como uma pluma e minha mente estava em paz. Por quatro minutos que a dança durou, eu pude esquecer tudo o que me atormentava, todos os meus medos. Era como se eu fosse uma criancinha de novo, não era como se eu estivesse ali para mudar o meu futuro e minha perspectiva de vida para sempre. Era como se a canção estivesse me carregando e rodopiando pelo salão. Eu sentia diversos arrepios no meu corpo inteiro, e de repente toda a minha alma pertencia a aquela música. Durante um dos meus rodopios, permiti-me a olhar para o pianista. Eu não sei dizer o que aconteceu naquele momento, era como se alguém tivesse jogado em meu peito uma bigorna. Eu só conseguia olhar para ele, que estava focado em seu piano, dava pra ver o fundo de seu ser cada vez que subia ou descia um tom. Quando a dança acabou, eu permaneci parada lá, o fitando. Mesmo quando a música findou. Foi quando nossos olhos se cruzaram e tudo à minha volta virou borrão. Eu sentia meu coração bater no peito, na garganta e nos pulsos, a minha boca secou. Os olhos eram verdes penetrantes, o cabelo enrolado, tinha um queixo bem marcado e uma boca perfeitamente desenhada. Era o homem mais bonito do mundo inteiro.
- Você certamente sabe apreciar música, Amber. É uma pena que irá se casar com alguém com tão pouca cultura. - A srta. Steel comenta, se aproximando de mim, percebendo que eu encarava o jovem músico.
- Se era para ser um elogio, eu agradeço, mas receio não estar noiva de ninguém, Marry.
- Ah, não precisa guardar segredo de mim! A cidade sabe que você e o sr. Reynolds estão se cortejando faz algum tempo, ouvi dizer que ele visitou a sua residência semanas atrás, com um buquê de flores.
- De fato, sim. Meu primo visitou a minha casa, mas se tratava de uma visita familiar. Receio que as más línguas que envenenaram sua mente com fofocas absurdas e sem fundamento não te contaram sobre o meu grau de parentesco com ele, que é meu primo de primeiro grau.
- Não seja tola, querida Amber, assuma! É claro que há algo nele que agradou a senhorita. E quanto ao parentesco, bem... Não há problema algum, afinal de contas, casamentos já foram arranjados com e por muito menos - riu maliciosamente. - eu não te julgaria por isso, afinal, todas nós temos de garantir o nosso futuro da maneira que pudermos.
- O que está insinuando, srta. Marry Steel? - me virei bruscamente para encará-la, já sentindo os nervos à flor da pele.
- Oh, não me entenda mal, minha amiga. Só estou dizendo que um cavalheiro que convida uma dama para dançar três vezes numa noite, está mais que interessado em apenas cortejar, ou visitar amigavelmente, como diz. - franzi o cenho, pronta para contrariá-la, mas quando abri a boca, ela interrompeu. - vocês já tiveram duas danças esta noite, e aí vem ele. - ela se retirou com um sorriso sarcástico e eu juro que quase fingi um desmaio quando vi que a figura do Sr. Reynolds realmente estava se aproximando, apenas para não ter que dançar com ele mais uma vez e gerar ainda mais falatórios. Neste exato momento, um anjo parece ter ouvido minhas preces.
- Srta. Morrison, gostaria de nos deleitar com sua música?