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Enquanto Reynolds se aproximava, tentei encontrar alguma maneira para sair daquela situação. Pensei em fingir desmaio, ataque de histeria, sair correndo ou eu mesma chamar um rapaz para dançar comigo, (não imagino escândalo maior) mas eu permaneci estática observando o meu primo rabugento vir para me atormentar outra vez.
- Querida, me concede a...
- Ouvi boatos impressionantes sobre uma das prendas de uma debutante presente aqui hoje. Esses comentários me impressionaram tanto que me despertaram uma curiosidade que não cabe mais em mim. Tratam-se da srta. Morrison e de seu natural e encantador talento com o piano. Srta, será que poderia nos dar a honra de tocar um soneto? - sim, o músico o interrompeu, me salvando de uma semana terrivelmente aborrecedora. Todos ficaram imediatamente em silêncio e olharam para mim, apreensivos, percebi os olhares de desdém de algumas jovens, mas todos estavam aptos por uma resposta de minha parte.
- Eu ficaria lisonjeada.
O percurso de onde eu estava até o palco parecia o mais longo caminho que eu havia seguido em minha vida. Eu parecia uma noiva, caminhando num tapete vermelho em direção ao altar. Todos me olhavam como se isso realmente estivesse acontecendo e o músico me encarava com um sorrisinho que seduziria até as velhas senhoras mais conservadoras da alta sociedade.
- Por favor. - ele fez um gesto com as mãos, indicando que eu sentasse atrás do piano, ficando parado ao meu lado, exibindo uma postura galante apoiando uma das mãos no instrumento.
- O senhor vai ficar aí? - perguntei baixinho, não fazendo contato visual para evitar comentários.
- Sim, quando vejo uma obra-prima, gosto de observá-la de perto. - mordi o lábio inferior para conter um sorriso convencido e enfim comecei a tocar.
Depois de aplausos, assobios e gritos de elogios, consegui me dirigir a um lugar com menos pessoas para que pudesse agradecer melhor ao meu salvador.
- Obrigada. Você salvou a minha vida.
- Sim, vejo que alguém está te perseguindo desde que o baile começou. Mas não agradeça, no fim, todos nós saímos ganhando, você realmente é uma garota talentosa, Amber. - hesitou - posso te chamar assim?
- Você sempre é sempre informal com as pessoas?
- Só com as mais charmosas. - ele disse olhando no fundo dos meus olhos. Eu senti meu rosto queimar, com certeza estava corando.
- Ah... É...- pigarreei. - Como sabe... como sabe o meu nome? Como soube que eu toco? - eu disse desconcertada.
- Ah... Sobre o seu nome...- hesitou novamente - há um falatório sobre você. Aliás, sobre seu casamento.
- Mas eu não estou noiva! - bufei, parecendo uma criança birrenta.
- Bem, estando noiva ou não, algumas senhoras comentaram seu nome várias vezes, e mencionaram diversas vezes um casamento. Mas a julgar pela sua expressão toda vez que aquele homem chega perto, estive certo de que não quisesse se casar. Por isso o interrompi. Sei que três danças numa só noite tem um significado para a alta sociedade. E sobre saber que você toca, eu apenas deduzi que uma moça bem educada da elite londrina certamente dominaria a arte do piano.
- Bem, não vou me casar com aquele homem! Se ele me chamar de "querida" mais uma vez, juro que sou capaz de cometer um assassinato! - ele me encarou de maneira divertida. - Perdão, esse certamente não é o comportamento de uma moça bem educada da elite londrina.
- Não precisa se preocupar comigo. Para mim, você será uma dama até mesmo depois de cometer o assassinato. - eu sorri genuinamente.
- Você deve ter se apresentado em muitos bailes. - Observei.
- Eu diria que presenciei muitos deles durante toda a minha vida.
- Você já foi da alta sociedade? - quando perguntei isso, vi a expressão dele mudar. De repente parecia distante, triste.
- E então, você irá votar em mim? - perguntei, com o intuito de desviar do assunto que parecia tanto lhe incomodar.
- Perdão?
- Sabe, aquela coisa de escolher a jovem mais graciosa da temporada... - respondi sem jeito.
- Ah... Eu ouvi dizer que a votação era de forma anônima. - ele brincou, se fingindo de desentendido.
- Certo. Ah... Eu devo ir. Não é correto que uma moça fique tanto tempo a sós com um homem desconhecido. Eu apreciei a conversa, obrigada, senhor. - eu não sabia o porquê, mas aquela resposta era, de alguma maneira, desconcertante para mim. Então segurei a barra do vestido, me afastando do rapaz.
- Amber? - o músico chamou e eu o olhei por cima do ombro. - Você toca maravilhosamente bem. - eu apenas sorri como resposta.
Para minha sorte, depois daquele momento não vi mais o meu primo. Acredito que a interrupção tenha lhe desagradado de tal forma, já que todos os olhares estavam sobre nós, que não viu outra maneira a não ser inventar uma desculpa para fugir, eu fiquei satisfeita, pelo menos não mais naquela noite eu teria qua tolerá-lo. Mas que os céus protegessem os meus ouvidos de seus comentários de descontentamento nos dias que seguiriam.
- O rapaz fez um favor ao impedir que meu sobrinho a convidasse para dançar. Todos já comentam que você está quase noiva de seu primo e três danças numa noite certamente geraria ainda mais burburinhos, o que te impediria de ser cortejada por outro cavalheiro. Eu realmente apreciei o gesto. O Sr. Reynolds é um homem de posses e é somente isso que as pessoas irão levar em consideração. Mas observei os dois quando se esconderam para conversar. Eu devo lhe pedir, minha filha, que se afaste do jovem músico. Para o bem de sua impecável reputação.
- Não sei se compreendi o que está tentando dizer, mamãe.
- Veja você mesma. - ela disse apontando com o queixo para a cena de Jamie e Marry Steel tendo uma conversa, aparentemente muito íntima. Os dois estavam consideravelmente próximos, ela sorria bastante e ele praticamente não tirava os olhos dos lábios dela. - Ele é só um músico. Não tem raizes ou dinheiro, não tem uma casa. Ela é uma dama respeitável, seus pais esperam um casamento vantajoso, sem dúvidas. Mas se alguém apenas sonhar que a honra dela foi corrompida, tudo isso irá por água abaixo, é um homem na posição dele certamente não se casaria. Ela estaria arruinada pro resto de sua vida. Não quero que minha filha acabe assim. Você deve se casar muito bem, com um homem de valor. Deve evitar qualquer chance de cair em línguas venenosas. - minha mãe completou.
Eu não sabia como me sentir sobre aquela situação. É claro, Jamie foi muito galante ao me livrar das mãos de Henry e seus elogios causaram alguma sensação em mim. Mas naquele momento, eu preferi acreditar que eram só palavras de um músico libertino, e que com certeza ele não podia ser uma boa pessoa, já que parecia ter prática em seduzir donzelas. Pensei que talvez receber um elogio e ter uma conversa de verdade ao menos uma vez na vida pudesse ter me causado esse frio na barriga, e que seria fácil esquecer desses sentimentos. Afinal, como minha mãe deixava claro desde o meu nascimento, eu deveria ser a lady de uma casa, condessa ou duquesa.
Mais tarde, duas filas foram formadas: uma composta apenas por cavalheiros e outra por apenas damas. Cada um escrevia num pequeno pedaço de papel o nome da jovem que acreditavam ter potencial e o colocavam numa decorada caixa de metal. Depois que todos depositaram suas apostas, os criados carregaram o objeto para verificar a grande vencedora.
- Antes de conhecermos o nosso modelo de graça e pureza, devemos fazer com que o nosso convidado dê o seu palpite abertamente. O que acham? - Lady Campbell sugeriu.
- Sim! Com certeza! - As pessoas gritaram em uníssono.
- Bem, o senhor é o protegido da rainha, deve com certeza saber quando uma dama é ou não adequada. Então, Sr.Young, para quem foi o seu tão precioso voto?
O salão ficou tão silencioso que eu podia ouvir cada uma das respirações. Algumas mais aceleradas que outras, mas por incrível que parecesse, a opinião de um mero músico importava naquele momento.
Jamie parecia constrangido, hesitou por um momento e...
- A minha aposta foi na tão divertida a srta. Steel. - Apesar de não estar muito surpresa, meu queixo caiu automaticamente. As mulheres Steel comemoravam como se tivessem ganhado a vida, e lançaram olhares às outras com um quê de superioridade.
- Muito bem, obrigada sr. Young. Mas agora chegou a hora de realmente sabermos quem será o diamante da temporada. Rufem os tambores! - a anfitriã ordenou, enquanto o mordomo trazia um envelope numa bandeja. - A jovem ganhadora é... - o barulho dos tambores ficou ainda mais alto. - Eu sabia. Senhorita Amber Morrison! Meus parabéns!
Todos os olhos se voltaram para mim, eu tinha certeza de que se estivesse em seu poder, as Steel me esganariam bem ali.
- Venha, querida. Deixe-me apresentá-la melhor. - Lady Campbell disse estendendo o braço direito.
Quando cheguei até a anfitriã, três rapazes se aproximaram.
- Senhoras e Senhores, esta é a senhorita Amber Morrison. O tesouro imensurável da temporada. - ela anunciou. - E bem, veja quem já está aqui! O Conde de Trouble, O Conde de Villamar e o duque de Sandringham! Minha jovem Morrison, a quem irá conceder a honra de sua última dança?
- O duque de Sandringham, Milady.