Anjo das Sombras
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Capítulo 5 03

Escutou a música irritante vinda do celular. Tateou a cama o procurando e o sentiu abaixo do travesseiro, pegou, abriu os olhos, sua vista ainda estava embaçada, viu as horas, constatando que tinha que levantar para ir ao colégio, suspirou cansada e afundou a cabeça no travesseiro.

Respirou fundo e levantou-se a contra gosto, passou a mão no rosto bocejando e caminhou sonolenta até o banheiro, tomando um banho rápido.

Olhou o guarda roupa em tédio, nunca ligou muito para roupa, principalmente quando era pra ir à escola, se pudesse ia de pijama mesmo. Revirou os olhos pegando uma jeans simples azul toda rasgada e uma camiseta com uma estampa do Piu-Piu. Pegou o coturno preto que estava jogado em um canto os calçando.

Encarou o grande espelho em seu quarto, penteado os longos cabelos de forma preguiçosa, deixando-os soltos, passou apenas um desodorante e para si já estava bom, não gostava de perfumes fortes logo pela manhã.

Por fim pegou a mochila e o celular jogado na cama e saiu do quarto rumando às escadas. Saiu de casa esperando no mesmo ponto em que sempre pegava seu ônibus escolar. Não demorou para que ele chegasse e agradeceu, odiava esperar demais.

- Bom dia, Isabelly - Diz o motorista do ônibus.

- Bom dia. - Força um pequeno sorriso e depois caminha até sua amiga Anastácia, sentando-se ali como sempre e a mesma a olha fazendo uma careta.

- Você tá com uma cara péssima.

- Tive um sonho ruim, não dormi muito bem... - Suspira esfregando os olhos.

- Sonho ruim? - Arqueia uma sobrancelha.

- Uhum.

- Como foi?

- Sei lá, ruim, Ana.

A amiga a olhou semicerrando os olhos, mas deu de ombros.

- Bom..., mas desencana dessa, animo, chuchu - Sorri brincalhona.

- Estou animada.

- Claro, super animada, tá parecendo um Zumbi, Izzy, há quantos dias não come, ou sai de casa?

- Zumbis, são legais... E eu como todo dia, não se preocupe. - Boceja apoiando sua cabeça no banco e fecha os olhos.

- Sei... E passar uma maquiagem às vezes não mata, sabia?

- Estou indo para à escola e pra isso não preciso ficar bonita. Agora cala a boca que quero dormir.

- Não vai dormir nada. E tem que se arrumar, como vai arranjar um namorado assim?

- Não preciso de um namorado, estou ótima como estou.

- Sério, há quanto tempo você não beija?

Revira os olhos com o assunto desnecessário e bufa.

- Não é da sua conta, oush.

- Sou sua melhor amiga, então é sim!

- Bla, bla. - Boceja se remexendo no banco.

- Coisa chata. Vamos?

- A onde?

- Descer do ônibus? Acorda Isabelly!

- Poxa. - Abre os olhos olhando a sua volta e suspira se levantando.

O colégio já estava cheio. As duas caminham com calma até sua sala.

- Credo, dá um sorrisinho aí.

- Estou com preguiça.

- Você tá é péssima, está tudo bem mesmo?

- Sim, está tudo bem, só queria dormir mesmo.

- Então porque veio?

- Ficar em casa é chato. - Caminha até seu lugar na sala e senta-se apoiando a cabeça na mesa.

- Melhor do que vir dormindo em pé pra escola.

- Não estou dormindo em pé...

- Imagina se estivesse.

- Olá, meninas - Logan se aproxima, as cumprimentando - Tá tudo bem, Isa?

- Desiste Logan, ela tá morta hoje.

- Por quê? - Arqueia a sobrancelha olhando a garota com a cabeça na mesa e de olhos fechados. - Aconteceu algo?

- Só estou com sono, não dormi bem... - Sussurra sem os olhar.

- Por que, o que houve?

- Sonhos ruins.

- Aí é foda.

O professor entra na sala e Logan vai até seu lugar, as três primeiras aulas passaram tranquilamente, ainda mais para Isabelly, que passou por ambas dormindo.

- Vamos querida, acorda. Anda! - Anastácia a sacudia.

- Um... O que foi? - A olha espreguiçando-se.

- Intervalo, minha filha.

- Já?

- Já. - Se pronuncia Logan.

- Que rápido.

- Rápido pra você que dormiu as três primeiras aulas. - Diz Ana fazendo careta e Isabely sorri. - Olha já tá sorrindo, isso significa que está melhor, certo?

- Certo. - Faz um sinal de "beleza" a olhando e Anastácia encara seus dedos.

- Quando fez essa tatuagem?

- Hã? - A olha sem entender, ainda afetada pelo sono.

- Essa tatuagem aí, você não a tinha que eu me lembre.

- Ah, fiz sábado.

- E nem me conta?

- Você estava no sítio dos seus avós, como ia te contar?

- Ligando? Além do mais eu te convidei, inclusive a Vovó perguntou de você.

- Sua avó é um amor, mas você sabe que eu já tinha marcado de ir ao cinema com a Judite.

- É, eu sei.

- Me deixa ver. - Logan pega sua mão direita olhando a tatuagem, era uma pequena cobra preta, envolta do dedo do meio, sua língua apontava perto da unha. - É bonitinha.

- É mesmo - Anastácia Observa. - Agora já são nove, tá querendo virar um gibi meu amor?

- Claro. - Sorri empolgada. - Mas são dez, fiz um coração bobo no outro dedo. - Levanta o outro dedo do meio.

Logan as olha confuso, como se tentasse entender a conversa.

- Espera, como assim? Eu não me lembro de você ter oito tatuagens.

- Como não Logan? - O encara como se ele estivesse falando algum tipo de loucura.

- Não lembro.

- Meu Deus, sabe sim! Gato preto no braço - Levanta o braço esquerdo mostrando o gato preto de olhos amarelos na parte superior de seu ante braço - Frases, espinhos abaixo dos seios, lótus no pé...? Céus Logan! Não me obrigue a falar tudo. Isso é ridículo, não quero fazer igual aquelas garotas dos livros cliché que começam a se descrever.

- Okay, calma, calma, deu sete na minha conta.

Anastácia sorriu maldosa.

- A outra é escondida. - Sorri mais ainda e Isabelly a olha feio, inconveniente como sempre.

- A onde.

- Não é da sua conta, agora vamos comer, estou com fome. - Diz a ruiva, enquanto caminha até a porta da sala.

- Vai ser assim é? - Grita Logan atrás das amigas que riem alto.

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Ele estava apoiado sobre a escultura do prédio olhando as pessoas lá em baixo, quando escuta passos em sua direção.

- De novo? Vou começar a achar que está me vigiando.

- É uma opção refutável.

- E patética. - Acrescenta revirando os olhos, odiava as pessoas em sua cola. - O que você está fazendo aqui? - Diz sem o olhar.

- Eddie me deu um tempo de descanso.

- Descansar de que? Você nem faz nada. - Diz desdenhoso.

- Há, há, engraçadinho você.

- Muito.

- Eu é que pergunto o que está fazendo aqui.

- Você anda muito jornalista pro meu gosto, Diego.

- Você que anda fazendo muitas coisas diferentes ultimamente.

- Ou são coisas que você nunca notou antes?

- Me mantenho firme na primeira opção.

Maxwell suspirou, subindo no parapeito do prédio, tornando sua visão mais ampla.

- Sério, essa sua cisma comigo já está me irritando mais do que o normal, portanto pare com essa merda antes que eu faça algo que você não irá gostar.

Diego o encara diante a ameaça, não era um problema para si, não tinha medo do mais jovem, nunca teve, balançou a cabeça com um sorriso.

- Não estou com cisma nenhuma Maxwell, além do mais, você sabe que suas ameaças não surgem efeito comigo.

- Certo, mas porque está grudado em mim igual carrapato?

- Não estou grudado em você, como eu disse, tive apenas um tempo, vim para cá e você estava aqui, coincidências, já ouviu falar?

Maxwell se aproxima rapidamente, o fitando irritado, expondo seus olhos amarelos portadores de um brilho sádico.

- Eu não gosto do modo que você anda agindo, essas atitudes me irritam. Você tá brincando com fogo Diego... Depois não venha reclamar, pois você está procurando essa porra.

- Ameaça de novo, Maxwell? - Observa com um semblante sereno.

- Caralho! O que você quer? Tá nessa porque acham que você pode fazer algo? Não haja como se só você me conhecesse, Diego, pois não é! Diga para aqueles tolos, que você, nem ninguém, irão mudar isso e se pensam o contrário, são apenas idiotas.

Diego sorriu, havia verdade em certas coisas dita pelo outro, mas não admitiria, não agora pelo menos.

Concordou com a cabeça, se afastando.

- Meu tempo aqui já deu.

- Ótimo!

- Até.

Diego sai dali o deixando sozinho novamente. Bufou irritado, passando a mão no cabelo de forma exasperada, queria esmagar algo.

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Após o intervalo as aulas passaram rapidamente, já que Isabelly havia dormido novamente mesmo com os amigos reprovando o ato.

Chegou em casa suspirando agradecida, poderia dormir melhor ainda. Antes de subir até o quarto caminhou até a cozinha pegando uma fruta, Judite não estava ali, então provavelmente tinha saído para algo.

Caminhou pela sala, a casa estava silenciosa, como sempre, já que seus pais raramente estavam em casa, pois as viagens a negócios lhes tiravam todo o tempo que deveriam dar a filha que tinham.

Não os julgava totalmente, já que tudo de bom que tinha era graças a eles. Mas era ruim estar sempre sozinha, tinha Judite, mas não era sempre a mesma coisa, apesar de se sentir grata pela companhia da mesma.

Suspirou, após sua maioridade raramente via seus pais, às vezes chegava a pensar que nem de fato os tinha mais.

Olhou o chão e suspirou de forma cansada, se sentia péssima e sua amiga tinha razão, ela estava horrível. Os olhos da jovem lacrimejaram e uma lágrima sorrateira escorreu por sua bochecha.

- Droga... - Enxuga a lágrima, balançando a cabeça, então sobe as escadas com pressa, indo até seu quarto.

Jogou a mochila no chão e depois se jogou na cama, olhando o teto branco que a incomodava tanto.

Ficou um tempo fazendo isso até que teve uma ideia. Levantou-se com calma, indo em direção ao guarda roupa e tirou de lá uma caixa mediana de veludo, na cor preta, que estava escondida dentre as roupas.

Voltou para a cama, se sentou de forma relaxada com o objeto no colo, o olhou pensativa. Era a onde guardava lembranças suas com seu irmão, fazia tempo que não mexia ali e nem sabia ao certo porque estava fazendo isso agora.

Pegou uma foto observando-a, ela e seu irmão sorriam em frente à paisagem de uma linda cachoeira.

Lembrava-se perfeitamente do dia, seu irmão a irritava incansavelmente dizendo que a mesma deveria sair mais, tomar sol, já que para ele ela era branca de mais e em sua concepção homens gostavam de garotas mais morenas. Claro que não passa de pura irritação, mas mesmo assim ficava xingando enquanto ele ria.

Revirou os olhos e sorriu, ele era terrível. Mesmo indo contra a vontade ao passeio, não negou que havia sido ótimo, afinal, foi a melhor férias que já teve ao lado de alguém que amava.

Guardou a foto pegando outra, nessa eles estavam em um parque. Oh! Esse dia, não conseguiu evitar a risada que veio após ver a foto, ela havia feito o irmão ir a uma montanha russa extremamente grande e assustadora, o que foi bem interessante já que o mesmo odiava altura.

Isabelly pensou que veria o irmão ter um infarto no brinquedo, foi simplesmente hilário, mas claro que não foi só isso, já que ela também tinha medo de altura, entretanto seu irmão a superou no quesito surto.

Sorriu novamente, daria tudo para reviver aquele dia.

Cada foto continha uma lembrança mais especial que a outra, com momentos incríveis. "Fazia tanto tempo que eu não às via." Pensa com uma expressão triste.

Olhou as fotos, era estranho ver todas ali, já que antes de seu irmão sumir cada uma tinha seu cantinho especial em um quadro no quarto, e a cada dia que passava ela ia tirando aos poucos, dizendo que as fotos a fazia triste e a colocava para baixo, porque se lembrava de algo toda vez que as via e para si isso era horrível.

Talvez não fosse mentira, já que no começo era assim e até perdeu a conta de quantas vezes havia chorado olhando as fotos. Mas ela apenas se negava que também gostava, pois mesmo apenas em fotos, toda vez que as olhava não se sentia sozinha, mesmo que fosse chorando, a lembrança presente era como algo confortável, que a fazia chorar, mas lhe preenchia de alguma forma e depois que tirou os quadros foi como se o cômodo tivesse perdido a vida que tinha.

E as lembranças fossem se apagando, como ela foi ingênua, tentando esquecer o próprio irmão. Ou talvez nem fosse realmente pra esquecer ele, já que após perder o mesmo e seus pais se afastarem mais ainda começou a fazer coisas que ele não aprovaria nem em brincadeira, olhar as fotos era se lembrar disso. E ela estava "afogada" demais pra se sentir julgada a cada foto.

Era algo ridículo, porém inevitável, fungou não tentando conter as lágrimas.

Mexeu novamente na caixinha tirando de lá um colar que havia ganhado do irmão no aniversário de seus treze anos.

Na verdade, eram dois colares, um para si e o outro para ele, era de prata, sua parte era um coração médio, não era completo, tinha um desenho de metade de uma chave e escrito em letras pequenas à palavra "Forever", já a parte do irmão era a chave e nela tinha escrito "Together".

Eles nunca tiravam, mesmo quando alguns dos amigos universitários de Joseph o zoavam e Isabelly pedia para que ele deixasse de usar, mas conseguia apenas irritar o irmão que era teimoso e dizia que nunca tiraria e pedia para que ela fizesse o mesmo.

Levou o pequeno colar próximo ao peito e fechou os olhos respirando fundo.

- Desculpe por tirar... Desculpe-me... -

Levantou indo até o espelho, pegou o colar o abrindo e o colocou, continuava com o mesmo aspecto de novo, sorriu minimamente tendo outra ideia.

Decidiu que colocaria as fotos de volta a seus respectivos lugares e então assim começou sua nova missão, procurando por quadros pela casa, já que não sabia a onde estavam os antigos.

Levou um tempo relevante até achar todos os quadros, mas isso não a desanimou e após ter todos em mão começou a distribuir as fotos pelo quarto, na penteadeira, estante, parede.

Pegou o ultimo quadro e parou o olhando, era o mais simples, a onde ambos estavam em quatro fotos com caretas diferentes.

Era impossível negar que mesmo sendo o mais simples, era o seu favorito, se aproximou do criado mudo e o colocou ali.

Suspirou cansada, pegou o celular olhando as horas notando que já passava das sete, foi até o banheiro tomando um banho de banheira bem demorado.

Após sair colocou um filme e fez uma pipoca de micro-ondas, deitou-se assistindo e assim mesmo adormeceu.

                         

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