Capítulo 4 Lembranças

Me afastei mais que depressa ao perceber o que estava fazendo.

Yeonjun me olhava confuso.

- desculpa... Acho que fui rápido demais - falou Yeonjun se afastando.

- tudo bem... Só estou confuso... - falei voltando para de baixo das cobertas. - por quê? - pergunto de olhos fechados.

- Beom... Eu te conheço desde que você tinha 8 anos...

Em um pulo, saio de baixo das cobertas olhando confuso para Yeonjun.

- como assim? - pergunto tentando me lembrar de algo.

- quando você estava machucado atrás de umas árvores do pátio da escola chorando... - falou Yeonjun. - talvez você não lembre, mas eu estava lá ajudando você...

Assim que o mesmo disse aquilo, lembrei desse horrível dia.

Os valentões amigos do meu irmão haviam me encurralado atrás da árvore do pátio da escola, ninguém conseguiu ver. Naquele dia, eles me machucaram muito.

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- por favor parem! - pedia já com os pulmões e a garganta doendo de tanto gritar...

Um dos valentões chuta minha barriga com força fazendo com que eu cuspisse sangue.

Então meu irmão chega.

- o que estão fazendo? - o mesmo pergunta não parecendo preocupado com o que via.

- apenas nos divertindo - respondeu um dos meninos.

- ata, só não acertem o rosto, ele tem que parecer "bem" quando chegarmos em casa. - falou meu irmão se afastando.

Por quê? Por favor mano, volte!

Minha cabeça pedia socorro, mas minha voz já estava falha, e eu não conseguia mais chamá-lo.

Com a visão já embaçada, vejo um dos meninos tirando um alicate do bouço, congelo na mesma hora.

- p-por favor me deixem em paz... O que eu fiz...? - dizia com a voz rouca.

- relaxa, não vai sentir nada! - outro garoto diz puxando meu meu cabelo fazendo com que eu ficasse de joelhos.

Então sinto uma dor muito forte em minha clavícula, um dos meninos tampa minha boca para que eu não berrasse. Eu não tinha mais forças, só sentia aquela dor insuportável junto com lágrimas que escorriam rapidamente em meu rosto.

Acabo desmaiando. Depois de um tempo, acordo. Tenho dificuldades para levantar, mas consigo me sentar e alcançar minha camisa que não estava muito longe, a coloco com dificuldade de levantar os braços que estavam doloridos e cheios de hematomas. Limpo minha boca suja de sangue e me levanto indo mancando até o banheiro.

Ao entrar no banheiro, tranco a porta e tiro minha camisa com dificuldade.

Me olho no espelho do banheiro e sinto uma largrima escorrer com a imagem que via.

Meus olhos estavam roxos, profundos e um deles estava muito vermelho, meu corpo todos cheio de hematomas e alguns cortes, em minha clavícula, estava escrito "erro", isso me fez desabar, chorei mais ainda, mas logo me levantei tentando limpar o local que escorria sangue. Ardia muito, principalmente porque o local do machucado estava muito aberto, e eu podia ver a carne viva, não aguentava mais aquela dor; me sentei apoiando as costas na parede.

- você está machucado?

Escutei uma voz rouca saindo de uma das cabines, me assustei e levantei com dificuldade me aproximando.

- q-quem está aí? - perguntei com medo que fosse um dos valentões.

- está tudo bem, não vou te machucar... - depois de uma longa pausa. - queria poder te ajudar... Mas acho que não seria uma boa ideia você me ver agora.. - falou o garoto da voz rouca.

- por que? - perguntei ficando de frente para cabine fechada onde o garoto estava.

- não precisa saber. Tome - o mesmo jogou alguns analgésicos e faixas. - isso vai te ajudar.

- obrigado, da onde tirou isso? - perguntei.

- sempre tenho nos bolsos, não se sabe né. - respondeu o garoto.

Achei estranho, quem andaria com analgésicos e faixas corativas nos bolsos?

- aah, eu agradeço de verdade, mas eu não sei fazer corativos...

Depois de um silêncio constrangedor o mesmo joga uma faixa preta por de baixo da cabine.

- coloque isto, assim posso sair e te ajudar - falou o mesmo em um tom sério.

- desculpe, mas tenho medo que...

- acha que vou te machucar? Kk eu já poderia ter feito isso, olha seu estado, todo machucado, eu posso muito bem sair daqui e te matar. Vai confiar em mim ou não? - disse o garoto sem paciência.

- ok... - coloquei a faixa com medo e nervoso ao mesmo tempo.

Escuto a porta sendo aberta e dou uns passos para trás.

- se você tirar a faixa, te jogo pela janela. - disse o garoto.

O mesmo segurou minhas mãos delicadamente me guiando até a pia do banheiro e delicadamente, pegou em minha cintura e me colocando com facilidade em cima do balcão da pia.

- me avise se doer... - disse o garoto.

O mesmo passava primeiro o analgésico para depois fazer o corativo. Seu toque era delicado, ele parecia ter medo de me machucar.

- quantos anos você tem? - perguntei.

- sou mais velho do que possa imaginar.

- como assim?

- deixe isso.

Depois de um tempo, o mesmo terminou o corativo e voltou para dentro da cabine.

- já pode tirar a faixa do rosto. - disse o garoto e assim fiz.

- obrigado...

- Yeonjun - falou o garoto.

- obrigado Yeonjun - fui até a cabine onde o mesmo estava e estendi minhas mãos por debaixo da porta em sinal de comprimento.

O garoto apertou minha mão, senti um friozinho percorrer pelo meus braço indo para meu corpo. Suas mãos eram frias, muito frias, não consegui vê-las, porque estavam por dentro da cabine.

Então o garoto se afastou.

- até, espero te encontrar pessoalmente alguns dia! - falei sorridente já saindo do banheiro.

- até...

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- v-você era aquele garoto...? - pergunto sentindo uma lágrima escorrer pelo meu rosto.

- Sim... - respondeu abaixando a cabeça. - desculpa nunca mais ter aparecido... Sabia que você precisava de mim e eu não estava lá nesses momentos...

Não falei nada, porque ele estava certo, esperei tanto tempo por ele... Me levantei e fui até o mesmo o abraçando.

- mas você está aqui agora... - falei deixando outras lágrimas escaparem.

O mesmo retribuiu o abraço, deitamos na cama e acabamos dormindo daquele jeito. Abraçados.

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