Capítulo 7 Laços do destino

O sol nasceu timidamente sobre a aldeia de pescadores de Cassis, espalhando seus raios dourados sobre as pequenas ruas de paralelepípedos. O céu estava pintado com nuances suaves de azul e nuvens brancas flutuavam preguiçosamente, emoldurando o horizonte pitoresco do mar Mediterrâneo.

A manhã estava calma e serena, com apenas alguns murmúrios ecoando pelas ruas estreitas. O aroma salgado do oceano se misturava com o perfume das flores coloridas que pontilhavam as janelas e varandas das casas tradicionais. O som das ondas quebrando suavemente na praia oferecia uma trilha sonora tranquila para a cena.

Evelyn venceu a preguiça e, finalmente, saiu debaixo dos cobertores. Ela olhou para a poltrona com encosto em capitonê branca onde viu um belo vestido florido de mangas longas. Após se banhar e escovar os cabelos, ela pôs a roupa. Ainda estava perdida naquela pousada com uma decoração rústica da região. Os interiores tinham uma atmosfera acolhedora e relaxante que combinavam elementos tradicionais com toques contemporâneos.

Passando por uma recepção charmosa, com móveis de madeira escura e detalhes em ferro forjado, ela encontrou Genevieve conversando com a funcionária que recebia um casal de hóspedes. A dona da pousada pediu licença e foi para perto de Evelyn.

- Como passou a noite?

- Graças ao seu bom coração, eu dormi bem.

- Deve estar com fome! - Esboçou um sorriso indulgente.

Sim! O estômago dela estava roncando, mas a garota não falou. Já tinha abusado da hospitalidade daquela senhora altruísta. Após examinar o rosto pálido de Evelyn, a anfitriã a convidou:

- Venha comigo!

Alguns hóspedes estavam sentados em suas mesas conversando distraidamente quando Genevieve se sentou à mesa com Evelyn.

O petit déjeuner tinha uma seleção de pães frescos, croissants, baguetes e brioches, acompanhados por manteiga, geléia, mel ou Nutella. Além disso, havia café ou chá, suco de laranja fresco e iogurte. Ambas faziam uma refeição leve, porém satisfatória.

Evelyn ouviu atentamente as palavras de Genevieve enquanto saboreava o café da manhã na área gourmet de frente para o mar. A senhora de rosto marcado tinha uma sabedoria e educação adquirida ao longo dos anos e suas palavras e atitudes ressoavam profundamente em Evelyn.

- Preciso ser sincera com a madame!

- Fique à vontade, Chérie, - encorajou-a a continuar enquanto se servia de um pouco de chá-preto com um pouco de leite e uma fatia de limão.

- Vim para cá porque meu marido me expulsou de casa. Pensei que meu irmão pudesse me ajudar, - a voz falhou, - mas ele me enxotou quando contei que eu estava grávida.

Houve um longo tempo de silêncio entre as duas, Genevieve sorveu um gole de seu chá quente. Por dentro, Evelyn já estava se preparando para ser expulsa da pousada.

- Preciso ir, - fez menção de se levantar, mas sentiu o toque da mão de Genevieve que a impediu de sair da mesa.

- Termine o seu desjejum, - apontou para o croissant intocado no prato.

Enquanto comiam, Genevieve começou a compartilhar histórias de sua própria experiência com um marido obtuso, da força que encontrou para superar as situações e buscar uma vida melhor para sua filha. Sua fisionomia alegre mudou repentinamente para triste.

- A sua filha vive aqui?

- Ela morreu!

- Sinto muito, - Evelyn tinha um semblante pesaroso.

A mão com pequenas manchas marrons tocou na asa da xícara, Genevieve olhava pensativa para a garota do outro lado da mesa de madeira redonda.

- Onde estão os seus pais? Não posso acreditar que te deixaram se casar com um homem sem escrúpulos.

- Estão mortos, - disse, cabisbaixa.

- Lamento, Chérie! - Pôs a xícara de volta ao pires.

Mudando de assunto, Genevieve começou a falar com entusiasmo sobre as outras pousadas que possuía em Marselha e que precisava de alguém para cuidar dos quartos e para servir as mesas quando estivessem lotados de hóspedes.

Evelyn começou a enxergar uma nova oportunidade se desenhando diante dela. A ideia de trabalhar em um lugar novo, onde poderia cuidar do bebê que estava esperando, era maravilhosa. A pousada Le Bungalow parecia ser o lugar perfeito para recomeçar.

- Posso me candidatar a essa vaga de trabalho?

- Oui, Chérie! - Genevieve afirmou com alegria. - A pousada recebe muitos turistas e sempre tem vagas disponíveis para os que estão dispostos a trabalhar. As tarefas variam desde a limpeza dos quartos até servir as mesas durante o café da manhã e no almoço. Você aceita?

- Claro! - Levantando-se, Evelyn expressou sua gratidão quando abraçou a idosa com ternura.

A perspectiva de refazer a sua vida em Marselha era como uma lufada de ar fresco após tantos dias de incerteza e sofrimento. Evelyn sentia uma nova força dentro de si, alimentada pela compaixão e apoio de Genevieve.

- Agora, sente-se e termine de comer. - Fitou a barriga de Evelyn. - Você precisa se alimentar bem.

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Naquele mesmo dia, os pescadores estavam ocupados preparando os seus barcos com redes e equipamentos, prontos para mais um dia de trabalho árduo. O som dos motores roncava lentamente à medida que eles se afastavam do porto, navegando em direção às águas cristalinas.

Evelyn entrou no táxi enquanto o sol delicadamente iluminava os transeuntes. Apesar de ter tido tão pouco tempo para conhecer aquela aldeia, ela aproveitou o passeio de carro para observar os moradores locais que começavam a sair de suas casas, cumprimentando-se com sorrisos e acenos amigáveis.

Os turistas exploravam as ruas, maravilhados com o charme pitoresco que a aldeia oferecia. Caminhavam pelas ruelas estreitas, admirando as fachadas coloridas e lojas de artesanato local.

O automóvel fez o percurso em menos de meia hora. Ao chegar a Marselha, ambas aproveitaram a tarde no Café-Bistrot Chez Léon onde turistas se reuniam nas mesas dispostas ao ar livre. Todos conversavam animadamente enquanto saboreava o café forte e croissants recém-assados, compartilhando o bom humor típico do sul da França.

Genevieve sorriu ao vê-la tão animada. Ela não tinha reservas quanto a apoiar aquela jovem que lembrava a sua filha quando estava grávida de sua neta há alguns anos. A vida foi injusta ao levá-las de uma maneira tão brusca, mas, ao mesmo tempo, colocou Evelyn em seu caminho. De alguma forma, as duas estavam interligadas pelos laços do destino.