Mais uma vez uma onda de pena preencheu meu peito. Ele não tinha ninguém, eu sentia isso, mas também sentia que isso poderia ser um caminho tortuoso com diversos percalços.
- Eu aceito.- Agi por impulso, mas algo me dizia que eu precisava ajudá-lo, segui minha intuição.
Ele levantou a cabeça com um sorriso modesto e eu senti como se tivesse dado esperança para um inocente garotinho.
- Jura? Não acha bizarro? É que eu acho que falei...
- Faz sentido dado ao que estou vendo, a sua família e ao que você me contou. Eu sinto que posso confiar em você, mesmo com medo de algo tão inusitado.
- Eu juro que jamais farei mal a você. - Disse ele com olhar preocupado.
- Não é de você que tenho medo.
Eu não sabia o nome da sua noiva mas já me causava aflição pensar. Não sei como ele esconderia esse tipo de relação ou trabalho que eu e ele teríamos.
- Ela não é louca. - Disse ele baixo entre dentes com uma sútil raiva que me intrigou. - Eu não vou mais tomar seu tempo.
- Não quer saber mais?
- Você esqueceu do nosso acordo? Você será a minha contratada. Talvez falte um pouco de formalidade, farei um contrato, podemos negociar.
- Espere. - Disse levantando minhas mãos. - Não pense nisso agora.
- Me passa o número da sua conta. - Ele parecia nervoso e ansioso.
- Calma, Pablo.
- Eu estou com pouco tempo. - Disse ele olhando para o relógio de pulso e pegando o cel do bolso.
- Certo, te passarei.
Me levantei novamente com pressa, fui até minhas bolsa que estava na mesa ao lado do bebedouro, sentindo novamente timidez pelo jeito que eu estava vestida, peguei meu celular voltei para mesa.
- Seu vestido é muito bonito. - Elogiou ele com um tom tímido na voz.
- Ah. - Senti meu rosto queimar. Penso que não é uma boa ideia vê-lo novamente vestida assim, ou eu ia acabar me irritando com tantos elogios ou simplesmente os banalizando. - Obrigada. - E me sentei.
Mostrei o celular para ele com minha conta e o observei fazendo a transmissão. Eu sinceramente não sabia como cobrar ou o que dizer. Meu preço era fixo e uma hora e meia poderia durar a sessão.
- Me diga seu número para contato.
Eu disse a ele e logo peguei meu celular e verifiquei a quantia que ele havia depositado, eu fiquei em choque. Não fazia sentido, eu me senti até mal, talvez fosse a quantia de um ano de trabalho ou dois.
- Porque esse valor exorbitante!?
- Você vale um preço que jamais poderei pagar, você sabe disso, não é? Salvou a vida do meu tio.
- Não salvei, foi apenas os exames preventivos que o salvaram.
- Foi a sua dedicação. Deu dom, e isso vale algo.
Vale algo, mas não era com dinheiro. O que eu pedia em troca para o universo era proteção, apenas proteção da minha vida e de todos que eu amava e o máximo de pessoas à minha volta.
- Sim. Muito obrigada. - Disse de cabeça baixa olhando para a tela do meu celular, me sentindo confusa.
Eu vi ele se levantando e eu o acompanhei.
- Bom... - Disse ele colocando a mão nos ombros e tirando o óculos e guardando o celular. - Eu posso te pedir uma coisa, mas por favor, se você se sentir desconfortável eu nunca mais apareço, não tem problema.
- Diga.
- Eu gostaria de um abraço.
Eu entendi, eu aceitei.
Eu me dirigi para a porta e ele também. O olhei com uma certa timidez, dada a nossa diferença de altura, mas tomei iniciativa de dar um abraço nele que foi retribuído com carinho. Parecia muito fraternal mas a parte do perfume me pegou. Sua cautela em deixar as mãos sobre o ponto mais alto das minhas costas foi algo que me conquistou junto à distância do nosso corpo, foi um abraço formal. Achei sensato e muito gentil.
O larguei com vergonha de olhar seu rosto, afinal ele já estava novamente com óculos e isso me desconcertava. Abri a porta e ele saiu primeiro e eu logo após. No corredor o barulho do meu salto fazia eu me sentir patética diante da grandeza de quem eu tinha atendido.
Eu não sabia exatamente o que ele fazia, mas com certeza ele era importante.
Na frente da porta ele parou e se virou. Mariah estava no balcão com os olhos um pouco arregalados, provavelmente curiosa.
- Bom, Mariah. - E olhou para a funcionária atrás do balcão. - Bom dia para as duas. Desejo boas vendas e - voltou a olhar pra mim estendendo a mão em cumprimento - uma excelente semana de trabalho.
Eu o cumprimentei e ele se foi, saindo tranquilamente pela porta comigo o seguindo pelo olhar.
Sentia que aquele homem tinha relação ao sentimento esperançoso que eu estava sentindo de manhã. Algo iria mudar na minha vida, meus caminhos, meu destino, e eu só poderia esperar ele aparecer novamente. Eu iria aguardar o seu retorno ou ligação ansiosa, isso com certeza aconteceria.