O outro mundo
img img O outro mundo img Capítulo 3 A prisão do rei
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Capítulo 6 Terra de ninguém img
Capítulo 7 O chamado para o abismo img
Capítulo 8 Presságio img
Capítulo 9 O retorno da praia img
Capítulo 10 Visão do fim img
Capítulo 11 Luz na escuridão img
Capítulo 12 Estrada de outro mundo img
Capítulo 13 A dívida da alcateia img
Capítulo 14 Chamas na floresta das flores img
Capítulo 15 Emboscada img
Capítulo 16 Ela é minha img
Capítulo 17 Meus amigos estão curados img
Capítulo 18 A humana que veio de longe img
Capítulo 19 Quero mandar meus amigos para casa img
Capítulo 20 A rainha da luz e Escuridão img
Capítulo 21 O portal img
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Capítulo 3 A prisão do rei

Cem mil anos atrás, em algum ponto esquecido da vasta Floresta dos Sonhos, uma reunião sem precedentes estava prestes a acontecer. Os ventos sopravam com tensão, as árvores sussurravam segredos antigos e até os animais silenciaram diante da magnitude daquele encontro. Reuniam-se ali os líderes das quatro grandes raças da luz: o Rei dos Magos, o Rei das Fadas, o Rei dos Elfos e o Comandante Supremo dos Caçadores Humanos.

Esses quatro eram conhecidos como os Reis da Luz, os seres mais poderosos das raças ditas civilizadas. Embora não fossem aliados naturais - e, na verdade, muitas vezes inimigos - uniam-se agora por um único objetivo: aprisionar o mais perigoso e cruel ser já surgido no mundo de Lunares - o Rei das Trevas, Maginos Lúcidus.

Maginos era o terror encarnado. Um antigo anjo caído, agora transformado em demônio, governava com punho de ferro sobre um exército de criaturas sombrias: bruxas, vampiros, lobisomens e até magos corrompidos. Sua ambição não conhecia limites, e seu poder ameaçava destruir o equilíbrio do mundo. Se ele não fosse contido, tudo seria consumido pelas sombras.

Os Reis da Luz arquitetaram um plano arriscado e cruel: selar Maginos para toda a eternidade. Sabiam que, se falhassem, todos estariam condenados. Mesmo desconfiando uns dos outros, concordaram em unir suas magias. O local da armadilha seria uma caverna profunda, escondida sob as raízes da Árvore do Tempo, uma entidade viva que conectava todos os planos mágicos.

A criação da prisão exigiria um sacrifício imensurável: o uso das últimas gotas de poder de três dos Reis e um selo de sangue - o mais antigo e poderoso feitiço de contenção. Esse selo só poderia ser ativado com o sangue puro de uma virgem humana, alguém sem vínculos familiares, completamente inocente. Para garantir que sua linhagem jamais pudesse libertar o demônio, toda a família da garota foi exterminada, incluindo crianças, primos, tios. O ato foi frio, mas necessário. O mundo dependia disso.

O Rei dos Caçadores, um humano imune à magia, executou o ritual com precisão. Seu sangue, misturado ao da virgem, ativou um círculo de contenção impossível de ser quebrado - nem mesmo por Maginos.

A arrogância do Rei das Trevas selou seu destino. Ele foi sozinho ao encontro de seus inimigos, certo da vitória. Quase conseguiu. A batalha foi lendária, travada durante três dias e três noites sem cessar. As forças da luz estavam em desvantagem, mas o Rei dos Magos usou seu último suspiro para invocar a Magia do Esquecimento, lançando um véu sobre a memória de todos os que não participaram diretamente da guerra. O local da prisão foi apagado da mente dos sobreviventes. Quem ficou nas aldeias jamais saberia o que realmente aconteceu.

Todos os Reis morreram naquela batalha. Sabiam que não voltariam vivos. Sacrificaram-se por um bem maior. Com a prisão criada, Maginos foi selado nas profundezas da caverna, envolto em cristais de contenção e preso por uma magia alimentada com o sangue da virgem até o fim dos tempos.

Mas o fim da guerra não trouxe a tão sonhada paz. As raças nunca mais se uniram. Passaram a se odiar ainda mais. Os elfos se isolaram nas montanhas, desconfiados de todos. As fadas recuaram para a Floresta das Flores, guardando seus segredos e protegendo seus pequenos reinos com encantamentos poderosos. Os humanos, vulneráveis, foram forçados a se refugiar entre a Floresta dos Uivos, território dos lobisomens, e os limites dos antigos reinos mágicos.

Vampiros - civilizados, porém cruéis - fundaram uma cidade sombria nas proximidades das ruínas do castelo de Maginos. Vivem à margem da guerra, mas nunca deixam de caçar. Adoram o sangue de humanos e fadas. E, mesmo após milhares de anos, alguns ainda veneram o antigo rei, esperando seu retorno.

Havia uma regra antiga, escrita em pedra, cujos autores já não eram lembrados. A regra dizia:

"Jamais procriarás com outra espécie."

A miscigenação era proibida. Casamentos inter-raciais eram tabu, considerados abominações. Aqueles que ousavam desafiar essa norma eram perseguidos, mortos ou banidos. E, mesmo assim, mestiços nasceram, escondidos nas sombras, rejeitados por ambos os lados.

Dizem que em algum lugar, distante da civilização, a linhagem da virgem sacrificada sobreviveu em segredo, preservada por aqueles que sabiam que um dia o selo poderia enfraquecer. Porque toda prisão mágica, por mais poderosa que seja, está sujeita ao tempo.

A lenda diz que o selo de sangue será corrompido se for contaminado com emoções humanas - especialmente o amor. E o que era eterno pode se romper, caso uma descendente da virgem original deseje libertar o que há de mais sombrio dentro de si.

Hoje, Lunares vive fragmentado, à beira de um novo conflito. Magia e tecnologia coexistem de forma instável. As florestas já não cantam como antes. Os caçadores tornaram-se mercenários. Os magos vivem reclusos em torres distantes. As fadas se tornaram agressivas. Os lobisomens dominam as rotas noturnas. E os vampiros... bem, os vampiros esperam. Pacientes.

Eles sabem que o selo enfraquece.

Sabem que a princesa perdida existe.

E sabem que os sonhos são o primeiro sinal.

Porque é através dos sonhos que Maginos Lúcidus toca a mente das suas descendentes.

            
            

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