O outro mundo
img img O outro mundo img Capítulo 5 A floresta dos sonhos
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Capítulo 6 Terra de ninguém img
Capítulo 7 O chamado para o abismo img
Capítulo 8 Presságio img
Capítulo 9 O retorno da praia img
Capítulo 10 Visão do fim img
Capítulo 11 Luz na escuridão img
Capítulo 12 Estrada de outro mundo img
Capítulo 13 A dívida da alcateia img
Capítulo 14 Chamas na floresta das flores img
Capítulo 15 Emboscada img
Capítulo 16 Ela é minha img
Capítulo 17 Meus amigos estão curados img
Capítulo 18 A humana que veio de longe img
Capítulo 19 Quero mandar meus amigos para casa img
Capítulo 20 A rainha da luz e Escuridão img
Capítulo 21 O portal img
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Capítulo 5 A floresta dos sonhos

Antigamente, a Floresta dos Sonhos era o coração pulsante de Lunares. Um santuário de magia viva, onde os véus entre os mundos eram finos e os espíritos da natureza dançavam em perfeita harmonia com os seres mágicos. Ali, árvores falavam em línguas esquecidas, os ventos traziam profecias, e a luz da lua era tão intensa que desenhava símbolos sagrados sobre as águas.

Foi ali que Canios, o Grande, arquimago dos reinos da luz, escolheu construir o selo final para aprisionar o Rei das Trevas, Maginos Lúcidus. Canios conhecia os segredos antigos. Ele foi o arquiteto da prisão, o estrategista do sacrifício e o condutor da magia que uniu os últimos reis. Em uma caverna profunda sob a floresta, escondida por ilusões tão poderosas que nem o tempo poderia corromper, Maginos foi selado.

Mas a vitória teve um preço.

Canios e seus discípulos deram tudo. Muitos morreram naquela noite. Os que sobreviveram estavam marcados, física e espiritualmente. Canios, em seu último ato de poder, lançou um feitiço de esquecimento, apagando das mentes de Lunares qualquer traço da prisão e de sua construção. Apenas Elga - por ser mais antiga que o próprio Canios - resistiu ao encantamento e manteve viva a memória dos fatos.

Com o tempo, os magos remanescentes se dispersaram. Tentaram viver entre os povos, mas nunca mais formaram uma ordem forte como no passado. Seus conflitos com outras raças continuaram, principalmente com os elfos, que viam nos magos uma ameaça ao equilíbrio da magia natural.

E então, milhares de anos depois, uma nova tragédia atingiu a Floresta dos Sonhos.

Uma guerra irrompeu entre os magos e os elfos.

O motivo real se perdeu entre as versões contraditórias. Uns dizem que os magos tentaram construir um novo núcleo de poder na floresta, violando as leis naturais. Outros, que os elfos queriam expulsá-los por puro orgulho. Mas o que se sabe é que a batalha foi brutal. Um verdadeiro massacre.

Os elfos, numerosos e habilidosos com arcos encantados e feitiços naturais, dizimaram vilarejos inteiros de magos. Nem crianças nem mulheres foram poupadas. Os magos, em menor número, resistiram como puderam, mas foram vencidos. Apenas um pequeno grupo conseguiu escapar, exilando-se junto aos vampiros, em zonas protegidas pelas sombras da noite.

Desde então, a Floresta dos Sonhos caiu em ruínas. Árvores milenares foram derrubadas, nascentes sagradas secaram, e os santuários foram reduzidos a escombros. As aves mágicas migraram, os espíritos silenciaram. O que antes era pura beleza e equilíbrio, tornou-se um lugar melancólico e assombrado.

Mas a magia não morreu.

Mesmo entre as cinzas e a decadência, a floresta ainda pulsa com poder antigo. Um poder selvagem, não controlado, deixado ali como resquício dos rituais mais profundos e dos sacrifícios mais cruéis. A terra guarda memórias, e a magia nunca esquece.

Foi esse lugar - amaldiçoado e mágico - que uma jovem meia-fada chamada Liro escolheu como o local ideal para abrir seu portal dimensional.

Liro acreditava que a magia da floresta era natural, ancestral, e que poderia usá-la para escapar de Lunares com seus amigos mestiços. Não queria participar das guerras das raças puras, nem estar no meio do retorno profetizado do Senhor das Trevas. Para ela, a floresta era a última esperança de uma fuga. Um lugar suficientemente poderoso para abrir passagem para outro mundo.

Mas ela estava enganada.

Ao manipular a magia concentrada nas raízes da floresta - magia que tinha sido selada por Canios e reforçada por sangue, sacrifício e feitiços proibidos -, Liro quebrou um selo adormecido. Um selo que não fazia parte da prisão de Maginos, mas sim da barreira entre planos espirituais e mágicos.

E, sem saber, ela despertou uma criatura ancestral.

Não se sabe o nome verdadeiro da criatura. Era anterior até mesmo à ascensão de Maginos. Dormia sob as camadas mais profundas da floresta, entre rochas encantadas e ossos esquecidos. Seu corpo era formado de sombras e sua mente, livre, vagava entre as dimensões. Com a ruptura do selo, ela percebeu Liro. Sentiu sua energia, sua essência partida entre dois mundos, e reconheceu nela a alma gêmea de uma entidade poderosa: Maginos Lúcidus.

Essa criatura, então, estabeleceu conexão com Maginos, que ainda dormia em sua prisão mágica. A ponte foi criada. Frágil, mas real. O selo ainda o mantinha preso - mas agora, ele tinha uma âncora. Um chamado. Um eco do lado de fora que podia ouvir.

E, mais do que ouvir, sentir.

A criatura usou a ruptura causada por Liro para enviar fragmentos de si mesma em forma de sonho e desejo, atravessando a barreira entre Lunares e o outro plano - o mundo dos humanos. Ela procurava o outro lado de sua alma, o elo perfeito: alguém com o sangue da virgem original, alguém capaz de libertar Maginos e despertar o antigo reinado das trevas.

Foi assim que os sonhos começaram.

Foi assim que Gabriela, no mundo humano, começou a vê-lo todas as noites.

Liro, por sua vez, não tinha ideia do que havia feito. Continuou tentando abrir o portal, sem perceber que era manipulada, usada como catalisadora para um plano muito maior do que poderia compreender. A criatura ancestral, agora desperta, não queria apenas liberdade. Queria vingança. E a jovem meia-fada se tornaria o primeiro passo.

Enquanto isso, as energias na floresta começaram a se transformar. Plantas mortas floresceram com veneno. Animais silvestres começaram a agir de forma estranha. A própria terra tremia durante a noite, como se algo sob o solo estivesse tentando subir. Runas antigas começaram a brilhar nas pedras, sinais de que a barreira entre os mundos estava prestes a se romper.

E Liro, apesar de sua bravura e inteligência, não poderia impedir o que já havia sido desencadeado.

A floresta, que antes protegia Lunares com sua pureza, agora se tornava um portal vivo, pulsando com a energia da sombra e do desejo de liberdade de Maginos.

O despertar havia começado.

E nenhum canto de Lunares - ou do mundo dos humanos - estaria a salvo do que estava por vir.

                         

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