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Quarta-feira, 04 de fevereiro
Estou assustada e não consegui dormir direito.
O que o homem de terno disse, não fez o menor sentido pra mim. Se ele não é namorado da minha mãe, como ele poderia me adotar?
Vai ficar tudo bem, respira Cecília, talvez seja uma brincadeira, essa é muito boa, um homem que não fala português direito querendo me adotar. Porque ele não adota uma criança órfã? A forma que ele insistia que iria me adotar, falou sobre os meus sonhos e que voltaria a me procurar, queria me contar detalhes, isso só pode ser uma brincadeira.
Com certeza é uma brincadeira, essas pegadinhas de tv, minha mãe não me entregaria pra adoção. Talvez os meus irmãos (brincadeira). O certo seria falar com a minha mãe, mas é bobagem, ele devia estar estressado e fez essa brincadeira.
Como me sinto: Não sei o que está acontecendo.
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Quarta-feira, 04 de Fevereiro às 5:40 PM
O que raios está acontecendo com o mundo? O que esse homem quer? Deus, isso não faz sentido! Não bastasse ontem, ele tinha que vir atrás de mim hoje. Não sei mesmo o que fazer, não é que ele quer me fazer mal, mas o que ele quer é impossível e mais, eu não sei o que ele quer de verdade, pronto eu já estou toda confusa por conta do nervosismo. Hoje ele veio com uma história triste, até que pareceu verdade, mas como diz minha avó:
"Quando a esmola é grande o santo desconfia"
Ok, eu tenho que manter a calma. Vamos por partes:
• Ele precisa de um herdeiro.
• Eu tenho a idade certa para ser treinada.
• Ele é estéril e precisa saber como é ser pai.
De acordo com o pouco conhecimento que eu tenho, por ter apenas treze anos, ele pode achar uma órfã da minha idade em qualquer orfanato. Me sinto comovida com o fato dele não poder ter filhos, mas eu já tenho uma família e não vou abandoná-los. Depois de ter dito isso pra ele, acho que agora ele me deixa em paz, eu espero.
Como me sinto: Sentindo que o mundo tá louco.
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Quinta-feira, 05 de fevereiro.
• Tomei meu café e ajudei nas tarefas de casa.
• Estudei as atividades da escola.
• Briguei com o Guilherme.
O dia começou normal, eu deveria comemorar e soltar fogos, porque aquele homem não apareceu hoje. Mas sinto que ele não está longe; às vezes sinto que sou observada. Pode ser loucura, estou com tanto medo que devo estar vendo coisas. Essa história absurda de adoção não sai da minha cabeça, fica girando e brincando com a minha imaginação, que posso dizer é louca, começo a achar que vou ver ele todas as tardes, vir sozinha da escola está sendo difícil. Hellen estranhou que esperei por ela hoje.
Decidi que não vou mais chamar tanta atenção, como já estou fazendo; não posso assustar minha família.
Como me sinto: nervosa e em um beco sem saída.
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Sexta-feira, 06 de fevereiro
Conheço algumas garotas, que sofrem por serem tratadas como segunda opção, tanto na família ou pelo garoto que gosta.
Eu: sou tratada como segunda opção pelo meu primo Guilherme, Quando a minha prima Hellen não pode conversar com ele, ele faz de tudo pra chamar a atenção dela, ele vem me procurar para desabafos e a maioria deles é sobre Hellen. Faltam duas horas para eu ir para a escola e o Guilherme já me estressou.
Porque eu tenho tanta falta de sorte? Chutei algum cachorro na rua? Não!
Hellen está na casa de uma amiga, hoje ela não vai à escola, dormiu fora e eu tenho que aguentar as histórias fantásticas do nosso primo.
Normalmente é Hellen que dá atenção pra ele.
O único momento em que ele lembra da minha existência é? "Todo dia", na hora de pedir café, ele é viciado, me pede café de dez em dez minutos.
─ Prima do meu coração, me traz um café.
"Ahhhhhhhh", queria apenas gritar.
Hellen acha que tenho ciúmes da amizade deles, melhor do Guilherme.
─ Jura?!
Como me sinto: um estepe
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Sexta-feira, 06 de Fevereiro às 08: PM
Consegui fugir do Guilherme. Hellen não vai voltar esse fim de semana, parece que a Natália vai fazer uma "reunião de amigas".
O que vai acontecer mesmo é uma festa do pijama, mas Hellen acha esse título muito infantil.
Hellen é cheia de frescuras!
Infelizmente a "reunião das bff", prejudicou as minhas listas de tarefas, que preparei para mim mesma, agora tenho que ouvir 24h o meu primo com os seus problemas. Nesse momento estou escondida, consegui alguns minutos mas já ele me descobre.
A sensação de estar sendo observada não passa, se eu contar pra minha mãe, ela vai chamar a polícia ou vai ter um infarto, não quero que isso aconteça, eu não sei o que aquele homem pode fazer se eu chamar a polícia, ela já tem tantos problemas.
Pronto! Já estou ouvindo a voz do Guilherme.
─ Já vou Guilherme! Quanto assunto você tem.
Como me sinto: Acho que virei um kit de emergência.
Ps: Guilherme é a versão feminina das mulheres, gosta de falar e criticar o trabalho dele. Fala dos colegas que gostam e não gostam dele, eu gosto de conversar com ele, mas ele só consegue me ver se a Hellen não estiver em casa, com a Hellen é diferente, ele ajuda ela, faz o que ela pede e faz porque realmente gosta. Se algum dia eu precisar de ajuda, quero muito que tenha outra pessoa pra chamar, dependendo da situação posso até morrer. Hellen tem toda ajuda que precisar, eu se quiser que me ajude sozinha.
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Domingo, 08 de fevereiro.
Minha mãe resolveu ligar a tv hoje, o que me deixou nervosa era a notícia que estava passando bem na hora em que ela ligou.
Noticiário: " sequestro de uma adolescente, deixa uma cidade inteira em alerta"
Porque justo essa notícia?
Ontem vi aquele homem passando em frente à minha casa, quando me viu baixou o vidro e me encarou, minha alma saiu do corpo.
Eu nunca fui uma pessoa medrosa, mas nesses dias estou com muito medo.
Hoje meu pai veio nos visitar, pena que eu não estava, o mundo não conspira ao meu favor, quando vou visitá-lo ele não está e quando ele vem sou eu quem não estou, já os meus irmãos tem sorte, a maioria das vezes se esbarram com ele na rua. Desde que ele foi embora, eu tenho dificuldade pra ver ele. Eu tinha sete anos quando meus pais se separaram, nunca soube o motivo, minha mãe se irrita quando pergunto, ela muda o estado de espírito muito rápido.
Como me sinto: confusa e com muito medo.
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Segunda-feira, 09 de fevereiro.
Tenho que apresentar um trabalho de geografia no primeiro tempo. Isso quer dizer que a minha tarde vai começar a todo vapor, e não estou nem um pouco feliz.
• Hellen voltou da casa de Natália.
• Guilherme já me abandonou, graças a Deus! Já não aguentava mais o falatório.
• Mateus quebrou minha maquiagem, queria fazer uma pintura para o trabalho de artes, minha mãe me prometeu outra, mas só mês que vem, vou ter que usar as cores que sobraram.
• Bati no Mateus, mamãe disse que vai pensar se eu ainda vou ganhar a maquiagem nova.
• Vou doar o Mateus.
• Bruno no momento esta quieto, isso me da medo.
Lembrei agora que tenho uma prova oral. Será que se eu voltar pra cama, fingir que estou acordando agora e descer com o pé direito, o meu dia melhora? Tenho quase certeza que não.
Como me sinto: como alguém que acabou de quebrar um espelho e ganhou sete anos de desgosto.
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Segunda-feira, 09 de Fevereiro às 7:00 PM
• A professora pediu algumas pesquisas na biblioteca para o próximo trabalho, eu não posso usar a internet; ela exige as referências do livro pesquisado.
• Não fui a biblioteca, sai cedo da escola e tinha tempo para pesquisar, mas não pude ir.
Hellen saiu cedo também, resolvi voltar com ela. O homem de terno estava me esperando na porta da escola, tinha um semblante de felicidade que me deu medo, ficou lá me encarando. Foi por isso que eu não fiz o trabalho da escola. Vou tentar ir com os meus amigos, eles tem que fazer esse trabalho também. Definitivamente não estou podendo sair sozinha.
Como me sinto: Quero fugir! Mas pra onde?