Capítulo 8 Capitulo 07

Rose

Pela manhã já pensei em como encontrar John, sua mãe Celina é costureira, papai não pode discordar que preciso de um vestido apropriado para o baile de noivado de Daisy, afinal ela irá se casar com um Conde. Aproveito quando todos estão na mesa para colocar meu plano em prática.

- Papai, estive pensando sobre a festa de noivado de Daisy, não tenho um vestido apropriado para ocasião e pensei se poderia ter um novo. - Falo com a voz doce.

- Não sei se esse gasto é necessário. - É claro que não, comigo ele só gasta o essencial.

- Eu também preciso de um vestido lindo papai, quero estar deslumbrante. - Daisy está quase pulando na cadeira, isso é bom, ele não vai negar um pedido dela.

- As meninas estão certas, Karl, não podemos fazer feio, principalmente agora que nossa filha irá se casar com um nobre importante. - Sinto que mamãe sabe que vou fazer algo.

- Está bem, vocês podem comprar os vestidos.

Depois do almoço, mamãe nos leva para encomendar os vestidos, olhamos os tecidos que Celina nos mostra e escolho um tecido vermelho e já vou tirando as medidas enquanto Daisy não escolhe o seu. Peço licença e vou procurar John.

- Boa tarde, John, como vai?

- Rose. - Ele sorri ao me ver. - Que surpresa lhe ver aqui.

- Vim encomendar um vestido para o noivado da minha irmã.

- Daisy vai se casar? Mas como? E você?

- Longa história, agora não tenho tempo para contar, vim lhe procurar porque no baile você disse que vai embora no próximo navio para América, é verdade?

- É sim, quero ver o mundo.

- E quando o navio parte?

- No dia seguinte ao Natal.

- Que horas?

- Qual o motivo desse interrogatório todo?

- Porque eu vou fugir, e será nesse navio, então preciso saber o horário para poder organizar meus planos.

- Tem certeza que quer fazer isso?

- Absoluta e preciso saber se aceita me ajudar.

- Claro que ajudo no que precisar. - Seu sorriso aumenta, ele está com esperanças, o que me faz querer desistir, mas sigo em frente. - Aliás, o que precisa?

Se eu tiver o máximo de ajuda dele, posso deixar Nathally de fora dos planos e assim não corro o risco de papai descobrir e nem de criar problemas para ela. Com isso em mente decido compartilhar um pouco de meus planos com John.

- Bem, eu pensei que como você tem um cavalo, podemos marcar uma hora e lugar para me pegar e vamos para o navio, mas para isso preciso saber a hora que o navio parte.

- Gostei da ideia, o navio vai partir no início da noite. Quando será o baile de noivado?

Esse horário vai ser mais fácil fugir, será durante a recepção do casamento, posso aproveitar que papai estará ocupado e ir até algum lugar para encontrá-lo.

- O baile será na próxima sexta e o casamento no dia 26, vou fugir durante a recepção e te encontro atrás da igreja para irmos ao porto.

- Perfeito, e como pegarei sua mala?

- Não tenho, irei fugir apenas com a roupa do corpo.

- Você é doidinha mesmo, vamos fazer assim, você vai arrumar uma mala pequena e deixar em seu quarto, deixe a janela aberta que eu subo e a pego antes de ir te buscar.

- Ótima ideia, agora tenho que voltar para sala, já devem estar sentindo minha falta.

Volto para sala e Daisy finalmente escolheu um tecido azul claro, Celina avisa que entrega os vestidos na quinta e então vamos para casa, mamãe a todo momento me observa, mas não pergunta nada.

(...)

Os dias passaram de forma tranquila, hoje é finalmente o noivado de Daisy, termino de me arrumar para o baile, Celina fez um trabalho incrível, meu vestido é lindo, as alças são apenas uma tira no ombro, com um laço dando um toque especial, o decote singelo, a parte de cima é justa e vai até na altura dos quadris, onde tem mais um laço e depois se solta formando a saia. Sei que ele irá na minha mala, pois o amei.

Vamos ao salão onde ocorrerá o baile, o lugar está muito bonito, por questão de cortesia, tenho que ficar ao lado de mamãe e papai recebendo os convidados, Dimitri chega junto com o pai e fica ao lado de Daisy para continuar a receber os convidados. O salão começa a ficar muito cheio e isso me incomoda um pouco, não me sinto bem em lugares apertados ou com muitas pessoas.

Quando Daisy e Dimitri vão à pista de dança, Ronald me pede para dançar com ele, pelo canto do olho, vejo papai sorrir pelo convite, espero que ele não tente me casar com o sogro de minha irmã. Após a dança peço licença para ele, pois estou me sentindo tonta e vou até a varanda tomar um ar, fico olhando as estrelas e respirando o ar puro, se pudesse ficaria aqui até o fim do baile.

- Finalmente te encontrei. - Reconheço a voz de Nathally.

Apenas nos cumprimentamos quando ela chegou com tia Sophie, sei que ela está brava pelo meu sumiço, mas preciso mantê-la afastada mais um pouco, é mais seguro assim, respiro fundo antes de me virar para encarar ela.

- Bom lhe ver também, Nathally.

- Não me venha com essa, você sumiu desde o Baile dos Lírios, que por sinal, você foi, quando o combinado era não ir.

- Sinto muito por sumir, estive ocupada com o noivado da Daisy, e eu fui ao baile porque Daisy tomou o suco por acidente e fiquei sem opção.

- Ela é mesmo uma mimada, mas Rose, nós temos um plano de ir embora e você não foi mais atrás para saber detalhes dele.

Nathally sempre foi a pessoa mais próxima que tive em minha vida, e saber o quanto estou lhe magoando, me parte o coração, e sei que terei que piorar ainda mais a situação ao mentir para ela, mas se tem algo que aprendi, é que esses salões tem muitos ouvidos, foi assim que papai descobriu sobre minha fuga.

- Isso porque não vou mais seguir ele. - Não é uma mentira afinal.

Vejo o choque em seu rosto, e sei que ela interpretou minha fala como se eu não fosse mais fugir.

- Você só pode estar de brincadeira, pensei que não queria se casar e passar pelo mesmo que sua mãe.

- É claro que não quero, não vou me casar, para não perder o pretendente de Daisy, papai inventou uma desculpa ao Duque e isso me deixa livre do casamento, pelo menos por um tempo.

- Rose, por favor, não faça isso, sabe que tio Karl vai infernizar sua vida até que consiga te casar, vamos fugir e ser livres juntas. - A voz dela está trêmula e isso me magoa, mas não posso desistir agora.

- Nathally não insista, já tomei minha decisão, por favor, me deixe sozinha. - Se ela ficar sei que irei falar a verdade e não quero correr o risco.

Ela sai sem dizer mais nada, me viro e deixo algumas lágrimas rolarem por saber que a magoei essa noite, mas espero que quando ela souber tudo, consiga me perdoar. Escuto passos e limpo as lágrimas para que não me vejam chorar.

Dimitri

Assim que chego ao salão, a primeira coisa que noto é o contraste das duas irmãs, não sei por que, mas isso ainda continua me atormentando, e não é apenas na aparência, é no modo de se vestir, enquanto Daisy está com um vestido luxuoso, Rose está com um mais simples, mas que ainda sim, a deixa bela.

Após o anúncio oficial do noivado, tiro Daisy para uma dança, é a primeira vez que dançamos juntos e ela tem leveza ao dançar, minha atenção, no entanto, vai para meu pai dançando com Rose, desde o jantar venho notando como ele gostou dela, desconfio que seja por ela lembrar de minha mãe.

Ao final da dança, Karl toma a vez com sua filha e vejo que novamente Rose vai para a varanda do salão, porque essa mulher prefere ficar mais lá fora a ficar aqui dentro? Será que ela passa mal em locais cheios, afinal, no outro baile quando saiu, ela não parecia bem.

Encaminho-me para lá, porém uma moça entra primeiro, e quando me aproximo consigo ouvir o final da conversa delas, pode ser errado ficar aqui ouvindo, mas tenho a sensação que poderei descobrir algo importante. Ouço Rose dizendo que não vai se casar e que o pai mentiu para nós, apenas para não correr o risco de me ver cancelando o compromisso, não posso acreditar que aquele homem teve audácia de mentir para nós, e ainda mais de forma tão convincente que me fez acreditar. Já escutei demais e penso em me afastar, mas desisto ao ouvir a moça falando em fugir, porque será que Rose é tão contra se casar a ponto de querer fugir? Ela deve saber o peso que sua decisão terá. A moça sai após o pedido de Rose e vejo que vai direto para saída, me viro e entro na varanda, ela está de costas para mim, pelo modo que levanta o rosto, desconfio que estava chorando.

- Desculpe-me, senhorita. - Falo para me anunciar. - Não pude deixar de ouvir o final de sua conversa. - Eu poderia, mas não o fiz. - Então não é por um ato nobre que está deixando sua irmã se casar primeiro?

Rose enfim se vira para mim, como pensei, ela esteve chorando, posso ver o caminho que as lágrimas fizeram, o que me chama atenção, no entanto, é que em vez do calor que costuma ter em seu olhar, ela parece estar queimando, e eu diria que é de raiva, a discussão com a outra moça, deve ter lhe abalado muito.

- Até poderia ser, se um dia eu pretendesse me casar, o que não pretendo. - Vejo a determinação que ela tem, e isso me intriga.

- Posso saber o porquê?

- Porque homens são mesquinhos, só pensam em si mesmos, para vocês as mulheres são apenas objetos que precisam possuir, para fazerem o que bem quiserem, sem ao menos se importar se é isso que elas querem.

Não esperava ouvir isso, o que pode ter acontecido para ela pensar assim dos homens? Seja o que for, a marcou ao ponto de fazê-la rejeitar o matrimônio, me incomoda o fato de ela pensar assim, pois jamais trataria uma mulher como objeto, pelo contrário, luto para elas serem mais ouvidas.

- Senhorita, nem todo homem é assim... - Começo a dizer, mas ela me interrompe.

- Não acredito nisso, todos são iguais sim, ou o senhor vai dizer-me que está casando com minha irmã, pois está perdidamente apaixonado por ela e não consegue se imaginar vivendo sem ela em sua vida.

Penso em como lhe mostrar que está errada, sei que não estou me casando por amor, mas também não vejo Daisy como uma posse minha, e sim como uma companheira, alguém com quem irei dividir meus dias e de quem terei apoio para lutar por meus objetivos, e no futuro construir uma família.

- Foi o que pensei. - Dizendo isso, ela volta ao salão e me deixa sem poder lhe dar uma resposta.

Volto ao salão também, e vejo que ela já foi se sentar a um canto, Lady Alice está com ela, mas logo se levanta, pelo visto Rose não está tendo uma boa noite, decido não ir até ela e expor meu ponto de vista sobre a questão que falamos, não quero atenção para isso no salão. Vou em busca de minha noiva e a tiro para outra dança, mas vez ou outra meus olhos vão para onde Rose está sentada, o modo como ela falou comigo na varanda, com tanta determinação, me fascinou, nunca vi uma mulher assim, mesmo Daisy, que é minha noiva, não me olha nos olhos para falar.

Em alguns momentos, noto que ela percebe que estou lhe olhando, e mantém meu olhar, posso sentir novamente o calor de seu olhar, pelo menos até ela abaixar a cabeça. Saber que para evitar se casar ela é capaz de fugir, me faz pensar que Karl não deve ouvir as filhas dentro de casa, e me pergunto como ela agiria se lhe fosse dada a chance de ser ouvida.

Por mais que tente, em diversas vezes me via observando Rose, que não dançou com ninguém a noite toda, com exceção de meu pai. Enfim o baile termina e posso ir embora, preciso colocar meus pensamentos no lugar, para entender porque não consegui parar de olhar para ela, eu deveria estar olhando minha noiva, e, no entanto, o foco de minha atenção era minha cunhada, isso não está certo.