Eu olho para baixo nos meus tênis esfarrapados, não querendo que mamãe visse as lágrimas de tristeza, formando em meus olhos. É sempre a mesma resposta. Os brinquedos que eu tenho são de segunda mão ou alguma merda que encontrei nos becos. Mamãe trabalha muito, mas eu quero me encaixar com o resto das crianças.
Preciso de uma bola de futebol, quero uma bola de futebol. Estou indo para o colegial. É o começo do ano onde eu posso entrar para o time da escola. Todos os meus amigos já se inscreveram e estão treinando com chuteiras de marca. Eles também têm pais e amigos na vizinhança, com quem eles jogam a bola depois das aulas ou nos finais de semana.
Vivendo em motéis numa base semanal e mensal torna impossível sair com os amigos depois da escola. Os motéis são sempre nas partes decadente de Houston. Tenho um saco cheio de roupas, um punhado de brinquedos quebrados e minha mãe, ela dá o seu melhor para me manter seguro, mas não é fácil. Eu não sou nenhum tolo e sei exatamente como ela faz para ganhar a maior parte do seu dinheiro. Ouvi o colchão rangendo e gemidos de noite na minha cama improvisada na banheira.
Eu tenho a minha mãe. Eu não desistiria dela por todo o dinheiro do mundo, porque ela é meu mundo. Embora de uma vida doméstica estável fosse bom, juntamente com um quarto.
-Amarre seus sapatos, J.J. E vamos embora! Eu tenho dois turnos hoje à noite no restaurante, e então Rodney está vindo.
Eu me inclino, impedindo que minha lágrima caísse. Eu me recuso deixá-las caírem. Estou me tornando um homem, não sou mais um garotinho, e preciso começar a agir como tal, ou pelo menos é o que todas as figuras paternas dizem a seus filhos nos livros que li. Os livros são a únicas coisas que posso pegar em minhas mãos e me perder. Está tornando mais difícil de esconder o fato de que se aproxima o ensino médio. A leitura não é legal para os garotos com quem eu ando.
Kemp meu melhor amigo, sempre me apoia, assim como a sua família. Nós somos opostos em todas as formas possíveis.
Eu tenho o cabelo escuro, ele tem claro. Ele tem uma mãe e pai, uma casa de dois andares e chuteiras de futebol. A mãe dele, Faye, é a minha segunda pessoa favorita no mundo. Ela me convida para sua casa o tempo todo, coloca em segredo livros e lanches na minha mochila e está sempre lá para mim. Quanto mais velho fico, é mais embaraçoso encarar o fato de que minha mãe não pode nem cuidar de mim.
Não vai me dar uma bola de futebol americano e nunca dará. A vida é assim. Você tem que lidar com isso.
Um dia.
Eu vou ser alguém. Nunca mais usarei jeans rasgados com buracos nos joelhos, sapatos de segunda mão que nunca cabem direito e ir para a cama com fome. Um dia.
Mamãe termina de contar seu troco para pagar pelo punhado de mantimentos e sutiã de renda que ela comprou. Eu ando atrás dela para encontrar o nosso carro.
-Com licença? -Mamãe e eu viramos para ver um homem segurando uma bola de futebol no meio do estacionamento.
Ela levanta uma sobrancelha, mas não diz uma palavra. Meus olhos se arregalam em choque. É a mesma que estava implorando para mamãe hoje cedo na loja. Ele caminha até nós.
Ele está fora do lugar em um Walmart em seu elegante terno de grife e botas brilhantes.
-Ouvi sua conversa lá e pensei em comprar isso para o garoto. -Ele se aproxima, estendendo a bola para mim.
Eu sei que não devo tirá-la de suas mãos e olho para mamãe. Sua mandíbula aberta e seus olhos brilham intensamente. Finalmente, ela concorda e acena com a cabeça.
-Obrigado, senhor. -Eu aceno com a cabeça e agarro a bola.
A melhor coisa que alguém já fez por mim.
-Por nada. -Ele me presenteia com um largo sorriso. - Tem boas maneiras também.
-Isso foi muito gentil de sua parte. -Mamãe estende a mão para ele, apresentando-se. -Eu sou Margo.
-Preston Charles.
Naquela noite, não só ganhei uma bola de futebol como também um jantar de buffet com Preston. Mal sabia eu que este homem mudaria o rumo da minha vida para sempre.