Capítulo 9 Não quero ser sua °

Acordo devido às luzes que entram pela janela, me irrita acordar assim. Levanto e decido tomar banho, deixo a água encher a grande bacia e tiro minha roupa, logo depois a faixa do curativo e entro na banheira, sem dor alguma nas costas ou no braço, que maravilha. Aquela mulher é realmente poderosa. A única dor que sinto é da fome por não comer nada até o momento.

Quando termino, me levanto e levo um susto quando o homem entra no quarto, eu estava de costa para ele e por isso, saio rápido da banheira e me enrolo na toalha. Fico de frente para onde ele está, completamente assustada, não confio nele. Vive dizendo que vai me devorar, não sei como entender essas palavras. Não me parece que ele come pessoas no sentido de comer mesmo.

Ele vem andando em minha direção, fico com medo do que pode vir a seguir, seu rosto é de surpresa e espanto. Conforme ele se aproxima, recuo até que minhas costas encostaram na parede. É o meu fim. Ele para em minha frente e fica me encarando, sua boca se abre, mas fecha novamente, procurando o que falar, não entendo, só aperto mais a toalha em meu corpo.

- Como suas costas estão ... - Fica mudo e me vira com brutalidade para a parede, paro de respirar quando segura em meu cabelo e joga para o lado. Agarro a toalha, ele não pode me ver sem roupa, não somos casados. Ele vive fazendo isso, é errado. Escuto ele bufar quando aperto mais a toalha, impedindo que me deixe nua. - Abaixa a toalha. - Ordena com um tom assustador.

- Não, por favor. - Suplico.

- Não irei fazer nada, só abaixe a toalha e deixe apenas suas costas de fora. - Seu tom parece mais calmo. Não quero fazer isso, mas se eu não fizer, ele pode me machucar novamente. Não quero sentir mais dor.

Solto um longo suspiro e faço o que pediu, abaixando lentamente a toalha e deixando ela cobrindo apenas minha bunda. Arqueio o corpo quando sinto o dedo dele tocar o centro de minhas costas, isso causa um certo nervoso que não sei explicar.

- Vai colocar a roupa. - Ordena e não penso duas vezes, corro para o trocador e coloco uma outra camisa dele. Quero vestir algo que me cubra mais, porém tenho medo de pedir e ser punida por isso. Minhas pernas ficam totalmente expostas e não gosto disso perto dele. Não tenho problemas em ficar nua, mas é quando estou sozinha, com Nana ou minhas empregadas.

Tomo coragem e saio do trocador, o homem que estava sentado na cama, apenas se levanta e vem em minha direção, me deixando acuada perto da parede. Só a presença dele no mesmo ambiente que eu, me deixa trêmula, quando está perto, é mais assustador ainda.

- Como suas costas já estão curadas? - Não entendo o tom de raiva que pergunta.

Não é minha culpa caso esteja curada, é até algo bom, foi a tia dele e não eu, ou seja, é culpa dele. Tenho medo dele querer me marcar novamente, por causa dessa cura rápida.

- Não sei, sua tia passou um remédio e disse que em três dias ficaria boa. - Respondo olhando para ele, já sei o que pode fazer se não o olhar. - Ela fez a dor sumir e foi o que aconteceu. - Termino e espero por uma reação. Meu corpo fica tenso e agitado quando ele está por perto, acho que é o medo.

- Quanto tempo você leva para se curar quando se machuca? - Pergunta passando a mão nos cabelos, jogando-os para trás.

- Não sei. - Dou de ombros sinceramente. - Nunca me machuquei, essa é a primeira vez que eu me machuco, ou melhor, alguém me machuca.

- Estranho, deve ter sido o remédio mesmo, cada dia que passa minha tia fica melhor em suas magias. - Diz se virando para ir embora.

- Meu pai vai mandar os guardas atrás de mim e quando eles te encontrarem, você vai ser um homem morto. Vou ficar feliz quando isso acontecer. - Levo a mão à boca, cobrindo e querendo saber de onde veio essa coragem.

Ele se vira novamente para mim, vem andando em minha direção até me prensar na parede, eu não suporto o fato dele encostar em mim.

- Eles nunca vão te encontrar, sabe por quê? - Pergunta abrindo um sorriso. - Minha querida tia fez um feitiço de proteção, então, sabe aquela caverna para sair daqui? Na verdade, qualquer um que passa por ali vê uma enorme montanha, tudo isso aqui para eles, é como uma montanha inacessível. Esse lugar não existe, por isso, queridinha, ninguém vai nos encontrar. - Segura meu queixo com força e deixa a boca bem próxima a minha enquanto fala. - Acho que fui claro quando disse que agora você é minha e farei o que quiser com você, quando eu quiser e da forma que eu quiser. Você nunca mais verá seu pai! - Comprimo os lábios.

- Não quero ser sua mulher! Não quero ser sua! - Grito em seu rosto. - Tira as mãos de mim! - Tento afastá-lo, mas ele apenas pressiona o corpo contra o meu e vira meu rosto para a parede, deixando meu pescoço exposto para roçar os lábios.

- Calma, princesa. Cada coisa no seu tempo. - Sinto seu nariz deslizar em meu pescoço. - Não tente apressar algo que está próximo de acontecer. - Sinto um beijo na curvatura de meu pescoço e me encolho. - Talvez não demore muito, seu cheiro me enlouquece de desejo. - Fecho os olhos com força.

- Não aguento ficar presa nesse quarto, estou me sentindo fraca, por favor, pode colocar a corrente em mim se quiser, mas eu preciso sair e pisar na grama. Me deixa ir lá fora? - Mudo de assunto, fazendo com que minha voz saia mais alta que o normal enquanto tento ignorar a proximidade dele. - Pode me privar de comida ou até me machucar, mas não me proíba de ter contato com a natureza. Eu te Imploro.

Parece que todo o ar de intimidação some, e fico feliz, pois o homem se afasta e me encara confuso. Ele apenas balança a cabeça em negativa, parecendo voltar ao seu normal e se afasta.

- Não! Tenho coisas mais importantes para fazer. - Diz voltando a ir em direção a saída. Corro em direção a porta e fico na frente, impedindo que passe.

- Por favor. - Imploro, mas ele parece prestes a perder a cabeça. - Preciso de roupas femininas. - Tento uma outra abordagem.

- Por quê? Minhas roupas em você proporcionam uma ótima visão. - Engulo seco e respiro calmamente.

- Certo. - Balanço a cabeça. Preciso focar em uma coisa apenas e é sair. - Eu realmente preciso ir lá fora, estou sentindo que vou desmaiar, você me sequestrou e fez coisas horríveis comigo, não custa nada fazer isso, por favor, se você não deixar eu ir, vou morrer e não vai ter adiantado nada essa vingança toda. - Termino de falar e cruzo os braços, como se o que eu estivesse falando fosse a coisa mais natural do mundo.

O olhar do homem foca no meu, arregalo meus olhos quando os dele começam a oscilar entre o vermelho e azul, seu rosto começa a ficar com veias roxas, dentes afiados aparecem e fico em desespero. Acabo gritando e cubro a boca para abafar mais gritos de pavor.

- Se você tentar fugir, tudo que fiz até agora não vai ser nada perto do que farei com você, estou falando sério. Vou seguir seu cheiro até te encontrar e te fazer sofrer como nunca imaginou, o banho de sangue que acontecerá, será por sua culpa. - Sua voz havia fica rouca e ofegante, ameaçadora, assinto ainda com as mãos na boca, meu coração está acelerado. - Agora sai daí e me deixa passar, estou sem paciência. - Obedeço no mesmo instante. Ele abre a porta e sai. - Me segue. - Escuto a voz dele quando se afasta o suficiente para que não o veja, começo a segui-lo.

O mais estranho disso tudo, foi que fiquei assustada pelo impacto de não estar esperando aquilo, o rosto dele ficar daquele jeito, mas me senti estranhamente confortável com ele daquele jeito, o que quer que seja, não me deixou com medo, somente a ameaça sim. Qual é o sentido disso?

Saímos pela porta principal, antes de começar a ponte, tem uma escada que desce em direção a um jardim maravilhoso e enorme, com uma vista incrível para o extenso mar a frente e grandes árvores que rodeiam esse lugar.

Não espero que me permita sair, apenas passo por ele, correndo para o jardim e sentindo uma sensação boa quando meus pés descalços encontram a grama.

Abro os braços e rodopio pelo lugar, me sinto revigorada, como se minha energia tivesse sido restaurada e até a fome foi dissipada. O cheiro maravilhoso das plantas, das flores, das árvores e até do mar invadem meu nariz, é algo que me deixa feliz. Meu cabelo parece ter se modificado também com o ambiente, já que o alaranjado apagado que antes estava, dá lugar a um vermelho vivo como o fogo. Deve ser pela claridade do dia.

- Isso é tão bom. - Encaro o céu, fecho os olhos, abro os braços e um sorriso enorme.

Corro até uma árvore e decido subir, mas paro quando lembro que não estou vestindo nada por baixo e o homem ainda está aqui. Olho para ele, seu semblante está esquisito, parece preocupado. Será que vai ficar ali até eu entrar? Não irei fugir, irei obedecer e torcer para meu pai me encontrar o mais rápido possível, isso tudo sem irritar esse homem.

Percebo que não ficará quando me dá as costas e volta a entrar no casarão, que se assemelha a um pequeno castelo, com algumas partes em ruínas. Espero um pouco para ver se voltará, mas isso não acontece e subo na árvore, sentindo-me como se fizesse parte dela. Amo estar em contato com a natureza.