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Anahí Orlov
Depois de rodar por quase todo o grande centro comercial de Chicago atrás de emprego naquela maldita terça feira de dez de janeiro. Finalmente chego em casa, mas agora, olhando bem, deveria ter passado todo o restante do dia fora, mas as minhas irmãs já haviam chego da faculdade, que por mérito delas, estavam no terceiro período do curso, o que me enchia de orgulho mesmo que passávamos por tantas coisas em casa.
- Nana!
Desvio meus olhos da cena ridícula à minha frente e olho para as duas loiras idênticas.
- Não brigue com a gente, mas tivemos que colocar um boa noite Cinderela na bebida dela.
Serena informa de olhos amedrontados.
Nossa mãe estava desmaiada no sofá, nua.
Olho com nojo, soltando o ar, calmamente.
- Vocês fizeram o certo - comento.
- Acredita que saímos e quando voltamos já tinha outro homem aqui com ela? O expulsamos, mas eu senti medo.
Serena diz e Sy revira os olhos.
- Isso está passando dos limites Nana. Estou cansada de passar fome enquanto ela gasta o que era para estar sendo investido em nós e não com os vícios dela.
Syena com ódio no olhar.
Das gêmeas, Syena ainda se destacava por sua raiva, roupas pretas, frieza e as frustrações sempre sendo camufladas por sua ignorância, mas comigo nunca conseguiu ser assim. Porém, ela nunca escondeu seus sentimentos ao chegar e ver a mãe drogada, bêbada e se vendendo em troca de drogas.
Subimos as três em silêncio como sempre, entramos em nosso quarto e trancamos a porta. Retiro minhas roupas e vou para o banheiro. Tomo um banho rápido e decido fazer a bendita ligação que tanto temia fazer, se algum dia precisasse.
Mas chega!
A situação estava descontrolada.
Saio do banheiro vendo Serena com fones de ouvido, usando seu MP3 que a implorei para não vender. Syena pintava as unhas de preto. Procuro por algo no guarda-roupa encontrando um vestido surrado que ganhei do meu pai antes dele morrer. Peguei um conjunto de calcinha e sutiã que caísse bem com o vestido e saio do quarto pensando se essa seria mesmo a minha melhor escolha.
Foda-se.
Essa não seria a primeira vez que me sacrificaria por minhas irmãs, elas são e sempre serão minha prioridade.
- Serena... - Chamo, tocando em seu ombro. - Precisamos conversar - digo assim que ela retirou os fones.
Syena se sentou ao meu lado na cama.
Olhei bem para os olhos azuis das duas a minha frente, percebendo a diferença evidente entre nós três. Era que sou ruiva, sardenta e de olhos verdes, baixinha. E as minhas irmãs são loiras, quase albinas, de olhos azuis e pele branca, quase pálida, eram mais altas que eu e a cópia de Asaph.
- Eu sei o que fazer para nos tirar dessa casa. E, se tudo der certo em menos de um mês sairemos daqui.
Afirmo sem entrar muito em detalhes.
- Quero que vocês continuem estudando. Eu vou descer para ver se tem algo para comer, e se encontrar trarei para cá - oriento.
- Caso não encontre venderei meu celular na lojinha que vendemos o de vocês.
Finalizo sentindo o peso de ficar sem celular – o que era uma verdadeira tragédia, pois não teríamos como receber nenhuma ligação de oferta de emprego –.
Recebo o olhar de pena das minhas irmãs. Era duro desfazer de tudo que tínhamos para podermos comer. Tudo por culpa daquela que esconde os cartões sabe Deus onde.
Desço com o celular na mão.
A mulher que um dia tanto amei estava jogada sobre um sofá outrora tão limpo e cheiroso, agora fedia muito, provavelmente devia ter vomitado algo pela cor escura.
Desbloqueio o celular, entro na lista de contatos e busco o nome de quem não gostaria de pedir ajuda. Há semanas atrás Hannah não me atendeu, mas agora era emergência. Eu me obrigava a tomar essa iniciativa por ser a mais velha das meninas. Encontro o número de Hannah, e clico esperando chamar já que há meses não me atendia.
Uma... duas... e na terceira escuto a voz da mulher.
- Anahí! - atende.
- Consegue descolar o seu emprego pra mim? - pergunto, e ela solta o ar, frustrada.
- Tem certeza disso? Você sabe que não tem volta.
- As minhas irmãs estão passando fome. Preciso fazer algo por elas.
Comento, sentindo meus olhos arderem.
- Ok! Passo na sua casa às nove.
Responde, desligando na minha cara, sem esperar uma resposta.
Algumas lágrimas escorrem, mas logo trato de secá-las. Procuro nos armários algo para comer e só encontrei um restinho de cereal.
Abro a geladeira vazia, nem água tinha.
☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆
A noite chega, assim como o peso das minhas escolhas.
Olho mais uma vez no espelho enorme do quarto da Hannah, enquanto destila o olhar reprovador a mim.
- Hannah, sei que você não gosta dessa vida, mas me entenda. Estou entrando nisso porque preciso e não por vontade - digo, tentando não soar desesperada.
- Eu não consigo aceitar isso Anahí.
A tristeza estampa os olhos da morena à minha frente.
- Eu posso aumentar meus programas para sustentar vocês três até conseguirem um emprego decente. Você só tem vinte anos garota, quer mesmo ganhar dinheiro vendendo o seu corpo? O que vai dizer as suas irmãs? Pelo amor de Deus, pensa!
Argumenta na tentativa de me fazer mudar de ideia.
- Vamos lá! Não pode ser pior que passar fome - falo mais para mim que para ela. - E você fala como se fosse uma velha sendo que é apenas dois anos mais velha que eu!
Retruco e Hannah me olha irritada.
Dou de ombros, acompanhando-a até o carro, usando um vestido curto quase mostrando a beirada da minha bunda, mesmo diante o frio leve que fazia naquela noite. Eu não me sentia confortável, nem mesmo deixei que minhas irmãs vissem aquilo ou se envergonhariam de mim.
Eu estava desconfortável, mas era preciso, tinha que arranjar dinheiro, pelas minhas meninas.
- Eu te passarei apenas para um homem. Eu não sei se ele será grosso ou violento com você! Acho bom se conformar em receber quatrocentos dólares.
Resmunga e eu analiso a mulher atrás do volante.
A morena era linda, de cabelos longos e negros, olhos escuros, o batom vermelho destaca seus lábios carnudos.
- Sabe que esse caminho é sem volta, não sabe?
Questiona novamente, antes de estacionar o carro na garagem de um prédio incrível.
- Que lugar lindo!
Resmungo, ignorando o que ela falava, admirando o enorme prédio, era melhor assim para que não me sentisse ainda pior.
Ela estaciona, saímos do carro.
Ela me guia até o elevador e quando entramos observo que ela apertou o botão do último andar, o da cobertura.
- Como ele é? Como é o meu primeiro cliente?
Quebro o silêncio.
- Você vai saber quando chegarmos!
Responde sem vontade.
- Só uma coisa, não enrole. Ele não gosta de preliminares - diz, antes das portas do elevador abrir.
Assim que entramos no apartamento fico admirada com tamanha beleza. Tudo decorado em branco e vermelho com alguns quadros pela parede da sala. Suponho ser a sala de estar. A enorme TV se destacava a frente de um sofá elegante de cor vermelha que julgando pelo brilho devia ser de couro.
Esse homem parecia rico. Sim, ele deveria ter muito dinheiro a julgar pela grandeza do lugar.
- Por que demorou tanto?
Saio dos meus pensamentos ao ouvir a voz grave ecoar pela sala.
O homem era muito mais jovem do que eu esperava. Tinha um corpo atlético que deixava evidente os seus músculos saltados, ele trajava apenas um short vermelho. Os seus olhos eram tão azuis que me prenderam mesmo sem querer manter contato visual.
Ele era familiar, mas da onde?
- Trouxe a nova garota para você...
Hannah olha para mim.
O loiro de cabelos bem cortado e a pele branca me encarou de tal forma fazendo com que desejasse sumir dali, mas era como Hannah havia dito: Não tem mais volta.
- Passou as informações necessárias para ela?
Pergunta a Hannah e a vejo assentir.
Antes de sair, Hannah me olhou chateada, deixando evidente sua revolta por eu preferir esse caminho que aceitar sua ajuda. Ela saiu sem despedir, me deixando sozinha diante de um estranho de olhos frios.
- Venha comigo - chama, caminhando por um longo corredor, abrindo a última porta do enorme apartamento.
Fico admirada com tamanha beleza.
O quarto é simplesmente magnífico e enorme.
Uma grande janela se encontrava coberta por cortinas da cor creme. A única cor que fazia diferença dentre as paredes brancas e o carpete vermelho. A enorme cama que sem dúvidas devia ser uma super King de tão grande. Sua base era preta com um lençol branco sobre ela. Os travesseiros estavam com fronhas vermelhas.
Faço uma nota mental notando o quanto esse homem era obcecado por coisas vermelhas.
Diante da cama ele arranca seu short e a cueca mostrando suas curvas torneadas e o membro atraente. Por um momento pego admirando sua nudez, observando o quanto era lindo e gostoso.
Ele engatinha sobre a cama e meu coração acelera, meu corpo esquenta, e pela primeira vez, faço jus ao que estava fazendo ali.
Ao vê-lo nu, os meus pensamentos me acusavam, era uma verdadeira estranha ali, como se não soubesse quem era. O homem a minha frente me via como a garota de programa que estava ali para abrir as pernas e levar o seu dinheiro.
E, no fim, ele estava certo.
Isso era uma troca.
Uma troca injusta, que no final dessa noite perderia algo que deveria ser muito precioso para mim, mas diante das necessidades me via perdida, sem escapatórias.
Afasto meus pensamentos antes que começasse a chorar, com as mãos trêmulas retiro minhas roupas sobre o olhar penetrante em meu corpo.
Nua, fico em pé, vendo-o me devorar com os olhos.
Assusto quando o vejo se levantar e caminhar em minha direção, por um instinto protetivo as minhas mãos cobrem meu corpo. O constrangimento de estar pelada na frente de um homem estranho me faz tremer.
Ele para à minha frente e ergo a cabeça para encará-lo.
Ele tinha no mínimo vinte centímetros a mais que eu.
- Você parece uma criança na minha frente.
Ele sorri, e me pego admirando seu sorriso branco alinhado.
- Me diga, você realmente é maior de idade certo?- questiona e eu assinto. - Tire a mão, pequena.
Pede, e como estava sendo paga para obedecer, faço o que pediu, deixando-o admirar meus seios pequenos. E num ato incerto ele os massageia com os dedos, acabo gemendo, ele abaixa levando meu seio esquerdo a boca.
- Perfeitos!
Resmunga baixo, mas o suficiente para eu escutar.
Com seu corpo ele me fez cair na cama, e em seguida se deita sobre mim.
Ele afasta minhas pernas e olha em meus olhos.
- Odeio preliminares...
Expõe, olhando em meus olhos e se afastando para pegar um preservativo e o desenrolando em sua espessura endurecida.
Quando subiu em cima de mim, fechei os olhos, mordi meu lábio inferior fortemente esperando que me possuísse e isso não demorou acontecer nos segundos seguintes.
Gemi alto cada vez que sentia romper minhas extremidades, e minuto após minuto ia perdendo a minha pureza.
- Ah. Isso dói.
Pronuncio baixinho, enquanto ele segurava minha cintura apertando-a forte, se movendo dentro de mim.
De olhos fechados sentia tudo que estava acontecendo, e sabia que quando abrisse os olhos choraria loucamente por ter me submetido a algo tão sórdido por dinheiro.
Não sei ao certo se havia passado segundos, minutos ou horas, mas sentia ele se movimentar cada vez mais duro e fundo, as suas investidas me faziam sentir cada vez mais dor.
Hannah estava certa.
Saio dos meus pensamentos quando o sinto sair de dentro de mim.
Abro meus olhos, vendo-o segurar a base de seu membro ainda de olhos fechados. Ele geme baixo como se uma pedra tivesse saído de suas costas.
O seu olhar voltou para mim junto de um sorriso debochado.
- Para uma garota que vive de sexo, você é extremamente apertada...
Questiona sem olhar para mim, mas o sorriso morre quando encara a camisinha suja de sangue.
Ele pragueja entrando na porta que deveria ser o banheiro. Suspiro me deitando na posição fetal me permitindo chorar.
Chorar por ter feito isso.
Pelo maldito vício da minha mãe.
Pelas necessidades das minhas irmãs.
Por minhas escolhas e o menos importante, a ardência entre as minhas pernas.
Viro escondendo o meu rosto porque não queria que ele me visse chorando.
- Eu te machuquei?
Pergunta, e posso sentir o olhar dele queimando meu corpo nu.
- Não! - sussurro.
Eu queria gritar e dizer que sim, que ele havia me machucado. Que ele havia me rasgado por dentro, mesmo sem saber, mas não, eu me controlo, porque sabia que não estava em condições de dizer nada, muito menos de exigir qualquer coisa ao homem.
Eu queria muito que esse momento tivesse sido melhor, ou que ele fosse menos intenso. Mas, também, eu não disse que era virgem, o que retira parte de sua culpa por ter sido uma experiência ruim para uma primeira vez.
Alguns minutos depois a porta se abre e o homem sai enrolado apenas numa toalha branca, descalço, com os cabelos molhados e foi ao guarda-roupa pegando uma boxer preta.
- Tome banho, que estarei te esperando na sala!
Procuro respirar devagar quando o vejo abrindo porta abrir.
Entro no enorme box, ligo o chuveiro na água fria e deixo água escorrer pela minha pele, diminuindo um pouco a dor no quadril junto com as lágrimas que escorriam pelo ralo.
- Como dói...
Digo entre soluços ao tocar minha intimidade vendo o sangue escorrer entre meus dedos.
Mordo meu lábio inferior aguentando a dor.
Quando termino ouço fortes batidas na porta.
- Eu já estou saindo!
Grito e as batidas cessam.
Desligo o chuveiro saindo do box enrolada na toalha que ele havia deixado na bancada.
Abro a porta, vendo-o homem sentado na cama me analisando com o corpo enrijecido.
- Você era virgem, não era?
Questiona, travando o maxilar.
- Sim! E não era assim que eu sonhava em perdê-la!
Respondo firme vendo-o disparar diversos palavrões, negando com a cabeça.
- O seu pagamento está em cima da mesa de cabeceira.
Ele se levanta da cama visivelmente nervoso.
- Pegue o seu dinheiro e vai embora da minha casa.
Sai do quarto sem dizer nada.
Me visto o mais rápido que posso, pego o dinheiro e coloco na bolsa sem conferir o valor.
Passo pela sala vazia e não o procuro.
Saio o mais rápido que posso daquele lugar.
Chego ao hall respirando fundo, não acreditando no que havia acabado de fazer e deixo o luxuoso hotel erguendo a mão para qualquer táxi que parasse.
E assim que para, passo o endereço ao motorista.
Encosto a cabeça na porta traseira, permito que as lágrimas rolem.
Penso em como seria a minha vida se não tivesse escolhido entrar nesse caminho.
Essa era a história de uma jovem que iniciou na vida cruel da prostituição por não ter escolhas, ou melhor, que optou pela errada - que pensava ser a certa -, a dificuldade nos leva a situações tão drásticas e cruéis que nos restam apenas o peso e a culpa por nossas próprias decisões.