Capítulo 2 Ethan

Ethan

Só existe algo pior do que deslocar seu ombro enquanto você está correndo só de cueca atrás do seu melhor amigo e é enfrentar o seu treinador. Noah Davis caminha de um lado para o outro na sua sala enquanto eu sigo sentado na cadeira de frente para sua mesa.

- Você sabe o problema em que se meteu, Lewis? Não ouso respondê-lo, porque é uma pergunta retórica. Porém, eu sei o que significa. Significa que eu estou totalmente ferrado.

- Você é o Quarterback.

- Ele se vira na minha direção e posso ver a raiva neles.

- Você é o meu capitão, minha estrela e

um dos melhores jogadores da liga universitária.

Eu suspiro, porque essa situação não é só incômoda para ele. O semestre recém começou, a temporada irá iniciar e eu estou com meu ombro imobilizado, ou seja, proibido de treinar.

- Treinador, eu prometo me empenhar Sorri irônico.

- É claro que você vai.

- Aponta seu dedo em minha direção. - Nem que você tenha que ter um treinador atlético ao seu lado vinte e quatro horas por dia. Faço uma careta.

- Não é preciso ser tão radical. Mais uma vez, Davis ri e balança a cabeça.

- Você conseguiu se lesionar em casa no meio de uma brincadeira.

- Volta a desviar o olhar de mim e passa as mãos pelos fios do seu cabelo.

- Meu capitão lesionado por causa de uma brincadeira idiota. Bufa irritado.

- Inacreditável. E sequer posso me sentir ofendido, ou tentar me justificar, porque foi uma lesão idiota. Eu jogo futebol americano desde que me conheço por gente e nunca me machuquei, então, de repente saio da piscina vestindo só uma cueca para correr atrás do meu

melhor amigo na tentativa de junto com nosso outro amigo jogá-lo na piscina, escorrego no chão e desloco meu ombro. Não há justificativas. Davis para de caminhar de um lado para o outro, apoia as mãos em sua cintura e olha para cima.

- Como vocês conseguem ser os melhores atletas dessa faculdade morando juntos? Aliás como sobrevivem? Mais uma vez, não o respondo. E parece ser o certo, porque ele não se vira na minha direção e nem me encara com raiva. Ele olha pela janela que fica logo atrás da sua mesa e depois de alguns minutos que ficamos em silêncio, ele me encara e suspira.

- Você tem noção que pode ficar de fora do primeiro jogo da temporada?

Ou seja, talvez perca o primeiro jogo da divisão Oeste, e o mais importante da temporada, contra o Auburn Tigers, nosso maior rival. Caralho!

- Quanto tempo Miller acredita que ficarei fora?

Ele se aproxima e se senta de frente para mim.

- Ele ainda não sabe, mas fará o possível e o impossível para você ficar bom logo. Sei que o nosso treinador atlético James Miller fará o melhor dele, isso significa, um tempo com ombro imobilizado, e depois horas de fisioterapia e de treinamento para não perder

peso e nem condicionamento físico.

- E eu farei o máximo para me recuperar

- Ele apenas assente.

- Jogar futebol é a minha paixão, treinador.

- Eu sei, Lewis, eu sei. Engulo em seco.

- Estou liberado?

- Está. Eu fico em pé e estendo minha mão em sua direção.

- Até mais, treinador.

Ele aperta meus dedos com os seus e balança nossas mãos unidas.

- Até mais QB. Ele utiliza a abreviação de Quarterback e a forma como todos do time me chamam, o que significa que estou perdoado, ou quase perdoado.

- Eu sinto muito, treinador.

Assente e larga minha mão, então eu me viro e caminho até a porta. Estou com a mão na maceta quando escuto a sua voz.

- Eu sei que você sente muito, Ethan.

Permaneço alguns segundos segurando a maçaneta e de costas para meu treinador, porém não encontro mais nada para ser falado e abro a porta. Deixo sua sala que fica no nosso

estádio, aqui também fica o centro de treinamento e sala de recuperação, locais onde passarei muitas horas no próximo mês.

Como eu pude acreditar que sair correndo da piscina para ir atrás de Josh seria uma boa ideia? Além de tudo, eu estava bêbado.

Estou desapontado, com um sentimento de culpa em meu peito e me sentindo extremamente mal por ter decepcionado pessoas que sempre acreditaram em mim. Treinador Davis, minha mãe e meu time. E ainda há Cooper.Saio do prédio extremamente atordoado e é assim que entro no carro de Aiden que ficou todo esse tempo me esperando.

Meu amigo olha para mim com a testa franzida.

- Você está com uma cara de derrotado, conversa difícil?

Suspiro e apoio minha cabeça contra o banco.

- Um pouco.

Aiden fica em silêncio e liga o carro, caralho nem dirigir por um tempo poderei. Merda!

- Eu sinto muito pela ideia idiota.

- Não foi sua culpa.

Não é a primeira vez que Aiden se desculpa por ter sido ele a sugerir que deixássemos a piscina e corrêssemos atrás de Josh.

- Mas a ideia foi minha. Olho para ele e balanço a cabeça.

- E eu deveria ter sido responsável o suficiente para saber que era uma péssima ideia.

Ele faz uma careta.

- Deveríamos fazer uma pausa de bebidas.É claro que ele não está falando sério. Nem quando precisamos não beber por causa das temporadas de jogos nós conseguimos.

- Eu concordo.

Sorrio debochado e ele faz uma careta.

- Eu estava brincando.

Tento dar de ombros, mas não consigo, porque um deles está imobilizado com uma tipoia preta. E o gesto faz com que até mesmo sinta dor. Caralho, nem dar de ombros conseguirei.

- Eu não.

- Resmungo.

- Estou proibido de ingerir bebida alcoólica enquanto estou tomando os medicamentos para dor e inflamação.

- Sem jogos, sem bebidas, irá ficar sem garotas também? Reviro meus olhos e ergo o dedo do meio da minha mão livre na sua direção.

- Idiota. Ele ri e fica rindo alguns segundos, apenas olho em frente e me recuso a rir com o idiota. Aiden volta a ficar sério quando entra no bairro em que fica a casa que dividimos.

- Quanto tempo longe?

Balanço a cabeça negando.

- Davis ainda não sabe, eu preciso conversar com o Miller.

- E quando será isso?

- Hoje à tarde.

Se com Davis já foi terrível, com Miller será ainda pior. O treinador atlético do Crimson irá querer me matar.

- Boa sorte.

Fala ao mesmo tempo que em estaciona em frente à casa de dois andares em que moramos, é um lugar perto do campus, mas que não pertence à faculdade.

- Obrigada.

Desliga o carro e olha em minha direção com deboche.

- Precisa de ajuda para descer?

Mais uma vez, aponto meu dedo do meio na sua direção e em seguida abro a porta do carro.

- Vai se foder, Aiden.

Saio do carro e ele também.

- Bem que eu gostaria.

Reviro meus olhos enquanto caminha na direção da varanda e escuto o som da gargalhada de Aiden. Idiota!

Eu abro a porta, entro e propositalmente, para que Aiden tenha que abri-la, eu a fecho.

- Você é uma criança, Ethan.

Ele grita e eu sorrio. E ainda estou sorrindo quando entro na sala e me deparo com Dylan e Josh sentados no sofá e jogando algum jogo de tiro no videogame.

- Como foi?

Meu sorriso se desfaz ao ouvir a pergunta de Dylan.

- Como achamos que seria.

Sento-me na poltrona que fica na lateral do sofá. Josh pausa o jogo e olha em minha direção.

- Que merda, cara.

Assinto concordando com Josh.

- E quanto tempo ficará fora?

Suspiro antes de responder Dylan.

- Ainda não está determinado, Miller só tem os exames que enviei para ele assim que saí do hospital hoje de manhã, ele não me viu pessoalmente. Assente.

- E você já contou para sua mãe e Liam?

Aiden pergunta enquanto entra na sala e se senta ao meu lado. Eu balanço a cabeça, apoio meu cotovelo na minha perna e encaro o chão.

- Minha mãe já, porque ela recebeu uma mensagem que utilizei o plano de saúde, porém ainda não conversei com Liam.

Faço uma careta. Contar a Liam será o mais difícil, ele foi meu treinador durante a escola e hoje é o meu agente.

- Tenho certeza de que ele irá entender.

Dylan tenta me confortar e Josh ri.

- Você não conhece o Liam.

- Ele não é tão ruim.

Tento defendê-lo, o que é um pouco difícil, porque Liam não tem os melhores dos humores.

- Ele é um tirano, o futebol e o dinheiro são suas obsessões de vida.

Josh revira seus olhos e eu apenas sorrio e balanço a cabeça de um lado para o outro. Ele está certo, porém Liam ainda foi quem me ajudou a conseguir a vaga no Crimson, quem enviou a minha carta de referência e é ele que está cuidado da minha carreira, é com ele que os olheiros conversam sobre mim e sobre minha transferência para um dos times da NFL assim que terminar a faculdade.

- Dylan, você sabia que foi Liam que fez Josh desistir do futebol americano?

Dylan ri e se vira para Josh.

- Achei que você tivesse partido para o beisebol, porque era melhor, não por medo de um treinador.

Debocha e Josh pega uma das almofadas e joga na direção do nosso amigo.

- Idiota. Nós quatro rimos e por fim fico em pé.

- Estou cansado e vou subir para o quarto.

- Precisa de ajuda para dormir? É claro que Dylan está debochando.

- Um cafuné talvez.

Josh segue debochando de mim.

- Uma sopinha?

Dylan complementa.

- Vocês são uns idiotas.

Enquanto eles riem, eu fico de costas, caminho na direção da escada, e ainda os estou ouvindo rir quando subo os degraus.

Eu vou para o meu quarto, arrumo alguns travesseiros para apoiar minhas costas e cotovelo, pego meu celular e me deito, ou melhor me sento na cama.

Durante os primeiros dias precisarei dormir quase sentado, o que é uma grande merda. É uma merda ter que segurar o celular e digitar com uma única mão e ainda a esquerda. Dobro

minhas pernas, apoio o aparelho em meus joelhos e sou obrigado a fazer uso da digitação por voz, e apesar da dificuldade, consigo

enviar um e-mail para Liam e minutos depois ele me liga.

- Hey, treinador.

Ativo o viva voz.

- Hey, Ethan, algo está acontecendo?

Direto como sempre.

- Sim.

- Respiro fundo.

- Um acidente.

- Que tipo de acidente? Encaro o teto.

- Ontem Dylan, um dos caras que mora comigo, soube que irá ser o novo capitão do time de basquete.

- Vá direto ao ponto, porque eu não tenho todo tempo do mundo, Ethan. Interrompe-me e reviro meus olhos.

- Nós bebemos para comemorar e quando já estávamos bêbados decidimos pular na piscina, porém Josh não foi e Aiden e eu tivemos a brilhante ideia de sair da piscina e o obrigar a entrar, mas quando estava correndo atrás dele escorreguei e desloquei meu ombro.

Não preciso explicar o que um ombro deslocado significa, ele é um ex-atleta e atual treinador da melhor escola de Brimingham. Ele fica em silêncio por alguns segundos, mas posso ouvir o som dos seus passos. Ele está andando de um lado para o outro.

- Você não pode estar falando sério.

- Sim, eu estou.

- Porra, Ethan, você é a minha principal aposta, você não pode ser um idiota irresponsável - Grita e fecho meus olhos.

-Você não pode ter atitudes idiotas como essa se quer se tornar um jogador profissional.

O pior de tudo é que ele está certo.

- Quantos dias ficará de fora?

Abro meus olhos e encaro o celular que segue apoiado em minhas pernas.

- Ainda não sei.

Ele fica em silêncio outra vez.

- Estou ligando para seu treinador atlético.

Ele encerra a chamada e suspiro. A ligação foi exatamente o que eu esperava. Volto a encarar o teto e me pergunto quanto tempo ficarei fora. Sei que não foi uma lesão tão grave e que voltarei antes do final do semestre e da temporada, porém e se algo der errado? E se diminuir meu desempenho de alguma forma? Caralho!

Estou a alguns minutos encarando o teto e perdido em péssimos pensamentos quando meu celular volta a tocar. Olho para baixo e me deparo com o nome de Miller no celular. Aceito a

ligação e ativo o viva voz.

- Hey, Miller.

- Hey, Ethan, como você está?

Alguém se lembrou de perguntar como estou.

- Bem.

- Ótimo, eu conversei com seu agente e nós chegamos à conclusão de que irá precisar de alguém para acompanhá-lo. Franzo a minha testa.

- Me acompanhar? Não é você que irá me acompanhar?

- Sim, eu estarei com você quando estiver aqui no centro de treinamento, porém precisamos de alguém com você quando estiver em casa e em aula, você sequer conseguirá fazer anotações.

- Eu não preciso de uma babá, Miller.

Suspiro. Droga, eles querem colocar alguém vinte e quatro horas no meu pé.

- Isso não está em discussão, Ethan, encontro você daqui há duas horas. Até mais.

Ele desliga a ligação. Eu suspiro mais uma vez, apoio minha cabeça contra a cabeceira da cama e fito o teto. Primeiro desloco meu braço de uma maneira humilhante, agora isso, terei que ter uma babá. Tem como minha situação ficar pior?

                         

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