Encosto na porta e coloco a mão no peito em sinal de alívio. Estava preocupado. Ainda bem que deu tudo certo.
Agora tenho que saber o que o treinador quer comigo. Bom, não devo me preocupar, sei que ele gosta de mim,afinal, sou seu melhor jogador.
Guardo o celular no bolso e bato na porta.
- Pode entrar! – Grita.
Abro e vejo ele sentado em sua mesa, olhando alguns papéis. Será que foram as provas deste semestre?
Quando termina o semestre, o treinador vê as provas para saber como anda as notas dos jogadores. Se um jogador vai mal, está fora do próximo jogo, essa é regra aqui da faculdade. Uma merda de regra, na minha opinião.
Fiquei parado no meio da sala. Antes estava preocupado com a Carina, agora era comigo que eu estava preocupado.
- Bruno, por favor, feche a porta depois de sentar aqui. – Disse ele com uma voz um pouco áspera. Balancei a cabeça afirmativamente e fui fechar a porta. Andei até a cadeira de frente a mesa em que estava o treinador, joguei a mochila no chão e sentei. Caralho! Estava suando e minha garganta começou a ficar seca. Acho que estou ferrado!
- O... O... O que... – Respiro fundo, solto o ar e paro de gaguejar. - O que foi, treinador? Algum problema? – Pergunto de uma vez.
- Problema? Eu teria motivos para ter algum problema, senhor Dantas? – Levanta-se vindo na minha direção, depois se senta na mesa, fica na minha frente e me encara. Porra! Sinto até um calafrio, ui!
- Eu... Eu não sei. O... O senhor que sabe... – Encolho os ombros.
- Beleza... Sim, tenho um problema... Estava olhando as provas, vendo as estratégias para o próximo jogo. Lembra do próximo jogo? – Merda! Está falando do mundial daqui a três meses. A porra do calafrio aumentou. Tô fora da competição. Puta que pariu!
- Claro que sei... São as semifinais do mundial... – Digo. Tento parecer calmo, mas falhei miseravelmente. Droga!
- E te disse que talvez possa aparecer algum olheiro, lembra? – Indaga.
- É... Lembro-me disso. No último jogo, você disse que havia a possibilidade de um olheiro vir no próximo jogo. – Encaro o meu treinador com brilho nos olhos. Começo a me tranquilizar. Porra, essa pode ser minha chance ser um jogador profissional e jogar fora do Brasil.
- Vou falar, Bruno. É tão certo, mas tão certo que vai ter um olheiro no próximo jogo. – Levantou-se da mesa. - Mas não é pra jogar nesse time aqui no Brasil e sim, para fora do país. O que você acha do Barcelona? – Toca no meu ombro.
- O QUÊ? SÉRIO? – Dou um pulo na cadeira com aquela informação. Não estava acreditando. Andava de um lado para o outro.
- Bruno? Bruno? Acorda garoto! – Segurou pelo braço, começou a me sacudir para eu voltar à realidade.
- Oi? Isso é verdade mesmo? – Tiro seu braço do meu, ponho a mão no cabelo, colocando-o para trás, para olhar bem para meu treinador.
- Claro que sim, garoto! – Põe a mão no meu ombro. - Acha que eu ia brincar com uma coisa dessas.
- Caraca! – Olhei para meu treinador. Coloquei as mãos na cabeça, ainda não estava acreditando. Estava muito feliz, era a melhor notícia que poderia receber. Porém ele mudou de fisionomia, estava sério. Parei de comemorar.
- Sabe o problema? Então... – Deu uma pausa. - Vou ser curto e grosso! É você, Bruno Dantas. – Olhei para ele. Não acreditei no que disse. Nessa hora subiu uma raiva e não aguentei.
- EU SOU SEU PROBLEMA? SÉRIO? PUTA QUE PARIU! – Levantou-se da mesa veio na minha direção, tentou segurar, mas dei um empurrão. - SOU SEU MELHOR JOGADOR! SEM MIM O TIME NÃO IA CHEGAR NEM NAS SEMIFINAIS. – Chutei a cadeira que estava do meu lado de tanta raiva. Ele pegou no meu braço com força, por sinal.
- OLHA AQUI MOLEQUE! NÃO VEM SE SENTINDO O REI DESSA PORRA, PORQUE VOCÊ NÃO É! – Gritou. Depois me soltou, respirou fundo. Colocou a mão no rosto, esfregou os olhos. - Você é um bom jogador, mas quero que lembre quem é que deu essa oportunidade. Antes era uma perna de pau, não era um nada. Um na-da! Ou esqueceu-se disso? – Quando disse aquilo, abaixei a cabeça. - Quero respeito, ouviu moleque?
- S... Sim, senhor... – Resmunguei baixinho. Ele se aproxima e segura meu rosto e aperta.
- Hã? Não ouvi. – Retruca.
- Sim... Senhor! – Eu disse.
Depois ele me solta, aponta pra cadeira que eu havia chutado, me manda levantá-la e sentar. E claro que fiz, mas ainda estava puto da vida.
- Depois que você controlar sua crise de nervos... Podemos conversar como pessoas civilizadas. – Ele se senta em sua cadeira. - Como eu estava dizendo, vai ter um olheiro no próximo jogo. E tenho que resolver...
- O problema! – corto. - Que seria eu? – O encaro. - O senhor disse.
- Caralho, garoto! Cala a porra da boca e me escuta! – Ele dá um salto e bate na mesa, fazendo com que eu encoste na cadeira e cruze os braços. - Então tenho que resolver o problema que seria você, mas não é o que está pensando. – Continuo olhando para meu treinador. - O diretor não quer você no time, até que melhore as notas e que pare de faltar as aulas.
- Filho da puta! Velho desgraçado! – Bato no braço da cadeira de raiva. Volto a olhar para meu treinador. - Mas o senhor disse que ia dar um jeito?
- Sim. Eu disse isso, mas você tem dado bandeira também. Tem três faltas nesta semana, quando não falta chega atrasado, sem contar as notas baixas. Ele está na sua cola. – Mostra o boletim do semestre passado. Ele tem razão, as notas estão baixíssimas. Estou na merda! - Ele deu um ultimato: no final deste período você tem que tirar pelo menos nove nas provas e não faltar mais às aulas.
- Nove? Está zoando? – Cruza os braços com aquele olhar que conheço bem, de quem vai me dar um belo soco só por falar isso. Encolhi os ombros, dei um chute na mesa, de leve, mas dei. - Esse filho da puta do Sr. Roriz! - Sussurrei para ele não me reprovar pelo que acabei de dizer.
- Por que não pede ajuda pra algum amigo? O Erick, por exemplo? – Olho para ele e começo a rir. - Qual é a graça?
- Você... Falando pra pedir ajuda ao Erick. Sério?
- Ok. Ok... Pede ajuda para aquela sua amiga? Qual o nome dela mesmo... Patricia? – Arrumou a papelada que estava na mesa, mas na verdade está entupindo tudo numa gaveta. Essa era a arrumação do meu treinador.
- É Carina. – Corrijo.
- Essa mesmo! Peça a ajuda dela. Com certeza ela vai te ajudar. – Acenei com a cabeça como confirmação, não queria encher minha amiga com isso. Então levantei da cadeira, peguei minha mochila que estava ali perto. Já estava saindo e dando um ponto final daquela conversa. Ele se levanta, vem na minha direção.
- Ei... Espera... – Põe as mãos no bolso da calça, parecia sem graça. - Me desculpa ter falado daquele jeito... Mas você... Também é difícil... – Concordei e baixei a cabeça. - Vem cá... Me dá um abraço?
- Ok... E peço... – Gaguejo. - Desculpas pelo o modo como falei com... Senhor... Pai. – Dei um abraço nele, não é todo dia que ele é assim atencioso. Deu dois tapas nas costas e abriu um sorriso.
Afastei-me, abri a porta e me despedi. Fui pra aula, já que para continuar no time não podia mais faltar.
Parei no corredor, Um pensamento aterrorizador veio na minha mente. Então nada de noitada com a rapaziada? De curtir a mulherada? Estou fu-di-do!