Capítulo 3 A vila Matigua, relatos do passado.

CAPITULO 3 - A VILA MATÍGUA, RELATOS DO PASSADO.

"Venha, venha comigo garoto, não precisa mais fugir, esta noite tomarei sua alma como prêmio e reinarei sobre toda Antares, e depois disso, derrotarei um a um os reis das nações. Não seja tolo, não tente resistir..."

- Não!

- O que há de errado rapaz? suas memórias não te deixam em paz?

- Sr.Ramaris? não é nada de mais, são sonhos que tenho, não consigo entende-los.

- Fique tranquilo rapaz, nos próximos dias tudo voltará a seu lugar, mas antes disso, vou lhe contar uma história, está pronto para ouvir?

- Sim.

- Há muito tempo atrás, meus antepassados faziam parte do cotidiano do castelo de Briá, minha mãe era serva de companhia da Rainha regente na época, a rainha Kitara, meu pai comandava os soldados que seriam treinados para lidar com magias, estas magias servem para manter o castelo e suas riquezas seguros, a salvo. Meu pai era o terceiro membro da ordem dos magos, foi uma ordem que acreditava nos poderes do espaço e do tempo. Eles tinham em seu poder, um artefato chamado de " fragmento das estrelas ", segundo a crença deles, este artefato seria capaz de fazer coisas inacreditáveis, pois bem, no exército de soldados que meu pai comandava havia um em especial, ele ficou sabendo da existência deste artefato e decidiu que não mediria esforços para tentar obte-lo, este soldado então com a ajuda de rebeldes iniciou uma perseguição aos magos da ordem, isso desencadeou uma guerra entre o conselho dos magos e o castelo, que por sua vez foi iludido pelas palavras daquele homem, que foi nomeado como novo comandante da guarda, tendo conseguido fazer uma divisão entre eles, os magos e a Rainha, os outros dois magos se dispersaram mas meu pai ficou para defender a memória do castelo, mas ele não obteve muito sucesso, o novo comandante capturou a ele, e o assassinou em meio a praça pública, dizendo que era somente o exemplo de uma lição e que ninguém poderia se opor aos ideais do castelo de Briá. O tempo então passou e os outros dois magos desapareceram, nunca mais se ouviu falar no " fragmento das estrelas " e nem tão pouco nos outros dois magos, o comandante se tornou General da guarda Real e protetor único da filha da rainha, que assumiu o trono depois da morte dos pais. Pouco se sabe dos motivos que levaram a morte do Rei e da Rainha, e uma coisa me intriga: esse General ainda está em exercício, ele parece ter imunidade ao tempo pois ainda está com as mesmas características de anos atrás, e a filha da rainha Kira desapareceu dois anos depois de seu nascimento.

- Espere um momento, está querendo me dizer que komodus é este comandante?

- De fato.

- Então ele pode estar em poder do artefato, que por sua vez está lhe garantindo a imortalidade?

- Talvez sim.Este artefato pertence ao meu povo, meu pai perdeu sua vida por ele, é mais do que uma obrigação trazer ele de volta ao meu povo.

- Mas e quanto a mim? o Sr. disse saber muitas coisas sobre mim.

- Algumas coisas ainda não devem ser ditas e nem conhecidas antes do tempo, mas chegará o dia em que as perguntas que estão presas na sua mente, encontrarão a saída e te darão as respostas que permanecem ocultas.

- E quanto a Marcy?.

- Vejo que está muito preocupado com sua amiga. Diga-me uma coisa : você ainda se recorda de como foi o dia em que fugiu do castelo de Briá?

- Como você sabe disso?

- Eu já disse a você rapaz, eu sei de tudo o que aconteceu, agora vamos, diga.

- Eu não concordava com as coisas que aconteciam naquele lugar, muitas coisas que aconteciam ali estavam ligados a assuntos que envolviam Komodus, ele tinha ouvintes espalhados por todo o castelo. Parecia sempre estar a espreita, aguardando o momento certo para agir. Certa vez eu estava caminhando entre os corredores do castelo e pude ouvir uma conversa entre ele e a Rainha Kira :

- Milady, a garota, já esta a caminho, a "estrela" deu suas coordenadas, desembarcará no cais do vilarejo.

Depois disso pude perceber que os interesses do castelo já estavam tomando caminhos duvidosos, e que já não conhecia mais a Rainha como uma soberania segura, pois tudo o que acontecia naquele lugar, simplesmente tudo, era acatado pela rainha, ela se tornou uma mulher irreconhecível, logo em seguida percebi que era hora de abandonar aquele lugar, fui em direção ao lugar onde minha mãe estava e disse a ela que partiríamos naquela noite, pois não confiava mais na rainha, nesse momento komodus chegou ao local e disse:

- Venha Robert, venha comigo.

- Ele me conduziu até a varanda do castelo, que fica no lado esquerdo de frente a grande floresta de Sipris, e lá ele disse:

- Bem garoto, parece que você ouviu demais, ouviu mais do que precisava ouvir, escute bem o que vou lhe dizer : nada do que você ouviu lá dentro pode ser dito aqui fora, você entendeu?

- Eu não tenho medo de você, você não deveria ser o General desse castelo você é um assassino!

- Veja bem como fala comigo garoto! eu sou...

- Para mim você não é ninguém!

- Deixe-me perguntar algo a você: o que é mais importante nesse mundo para você? é a sua mãe não é? é de se entender que um verme como você só tenha a essa velha imunda pra se apegar, não é?

- O que foi que você disse?

- Ora rapaz, guarde esta espada, você não teria a menor chance, mas não nego que seria um prazer imenso decapitar os dois, seria um imenso prazer, logo depois será a vez daquela outra, que vai chegar em breve.

- Eu disse pra tomar cuidado com suas palavras, cretino!

- Vou mandar você para um lugar, um lugar onde as criaturas da magia negra farão um bom proveito de sua alma. Guardas! prendam esse Homem, ele e sua mãe que presta serviços no interior do castelo, eles serão condenados por traição a coroa Real, sua pena será a morte!

- Eu me lembro que os soldados vieram e me seguraram, e um deles me golpeou na barriga e levaram-me arrastado, jogaram-me dentro de uma cela, lá eu fiquei preso, depois de algum tempo o sentinela veio até mim e questionou-me:

- Ei rapaz, o que você aprontou para terminar ai dentro?

- Eu desafiei aquele maldito Komodus.

- Rapaz, deixa eu te falar uma coisa: você não deveria ter feito isso.

- Escuta aqui, aquele cretino está planejando matar alguém, é uma jovem que chegará em breve ao cais, e pelo que me parece, a Rainha também tem grande interesse nesta menina.

- Como você sabe dessas coisas?

- Eu ouvi os dois conversando quando fazia uma ronda pelo castelo.

- Olha rapaz, você não deveria ter ouvido estas coisas.

- Ora, não venha me dizer o que eu deveria ou não ter feito.

- Você agora está prestes a pagar um preço muito alto, justamente por querer se envolver demais. Komodus não é desse mundo, ele é um Homem estranho.

- Eu preciso sair daqui.

- E o que pretende fazer?

- Eu...eu não sei...

- Olha rapaz, eu já vi esse Homem fazer coisas banais com prisioneiros aqui, e eu não sou a favor disso, então preste bem atenção no que vou te dizer : sua sentença deve ser aplicada amanhã logo cedo, hoje a meia noite eu deixarei esta cela aberta pra você fugir, fuja, vá para bem longe, procure algum lugar que ele não possa te encontrar, eu repassarei o plano de fuga para sua mãe pessoalmente, ela estará a salvo na antiga cabana que fica a alguns metros a frente do portão de entrada do castelo, não erre, não terá outra chance, caso contrário eu mesmo terei de dar cabo de vocês e eu não quero que isso aconteça.

- Certo.

- Então, no horário combinado a porta da cela estava aberta, o sentinela estava no outro corredor, amarrou minhas mãos e pôs um capuz em minha cabeça e mandou que eu andasse, ele próprio me conduziria ao portão de saída do castelo, e quando chegamos até lá, o guarda dos portões questionou:

- Onde vai com esse Homem?

- Eu não devo satisfações a você sentinela, agora abra o maldito portão antes que eu corte seu pescoço com esta espada e não haverá magia que ponha ela de volta no lugar. Ande logo com isso!, e escute mais uma coisa: você nunca me viu passar por aqui, ouviu bem?nunca!.

- Certo, certo.

- Vamos, abra!

- Ele me levou até a velha cabana, onde encontrei minha mãe, lá havia também um cavalo para podermos fugir, ainda lembro de suas palavras:

- Fuja para longe rapaz, e que a sabedoria possa conduzir vocês a um lugar seguro.

- Ao amanhecer, fui até o cais de Briá e recebi Marcy, depois disso fugimos juntos para o vilarejo de Nibri e ficamos vivendo por lá durante os últimos quatro anos....

- Impressionante relato rapaz, realmente impressionante, mas deixe eu te fazer uma pergunta : e se eu disser a você, que durante todo esse tempo você protegeu a pessoa errada? que Marcy não é a pessoa que você deveria ter recebido no cais?

- Como? o que quer dizer com isso?

- Robert, Marcy não é quem você pensa que seja, a história de Marcy é longa, não é desse tempo.

- Como assim? eu não compreendi.

- Na hora certa você verá e as peças do quebra cabeça vão se unir novamente.

Então o dia se vai, e quando cai a noite, Robert dirige-se a beira da praia, e lá, ele olha para as estrelas e se pergunta por onde andará a jovem que envolveu sua vida em um mar de dúvidas e incertezas, ele agora já não sabe mais quem é esta jovem que pôs uma dúvida em seu caminho, e a dúvida maior : quem é a jovem que chegaria naquele dia? por onde será que ela anda? será que alguem a levou? será que está a salva?

- Papai, o forasteiro, ele ainda está às margens do mar, não está tarde?

- Não Helena, deixe-o, e não converse muito com ele, mantenha distância.

- Mas por quê?

- Apenas faça o que digo.

            
            

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