Capítulo 4 Estella

Paulo não se deteve e se aproximou do carro com seu olhar de águia, imediatamente afastei à mão do Noah que ainda a segurava.

___Sim, ele é meu amigo. - Confirmei um fato.

___Estella, pelo visto você veio acompanhada hoje. - perguntou com os olhos fincados nos meus.

___Esse é o Noah meu vizinho e novo amigo, e esse é o Paulo meu sócio e amigo. - os apresentei formalmente.

___Amigo? Não era esse mesmo cara que você disse que odiava mortalmente? - apertei os olhos me sentindo exposta.

___Você costuma falar mal de mim para as pessoas ao seu redor? Nossa! Seu ódio por mim é bem maior que imaginava. - comentou com deboche.

___Não é bem assim, eu... quero dizer...somos amigos agora. - por que estou gaguejando?

___Se você diz! - respondeu parecendo mal-humorado. ___Bom Estella, eu já te trouxe até aqui, e aparentemente está em perfeito estado, por isso peço gentilmente que desça do carro, por que tenho que ir trabalhar, não se preocupe seu carro estará entregue a tarde.

Sem coragem de voltar a olha-lo novamente, apenas concordei e desci do carro, Paulo bem que deveria ter mantido o bico fechado, como vou colocar meu plano em pratica se a cada segundo alguém resolve estraga-lo? Nesse alguém incluía eu claro! Após descer Noah roncou o motor com tanta força que pude sentir o chão vibrar por baixo dos meus pés, em seguida colocou os óculos escuros lançando um sorriso forçado e se retirou, só então pude relaxar os ombros e respirar aliviada.

___Ei, você ainda não me disse o que está fazendo com esse cara? - Me perguntou tocando meu ombro e girei o pescoço na sua direção e o olhei de forma dura.

___Não é da sua conta! - falei entre dentes indo para dentro irritada.

Comecei a ensinar meus alunos nos seus respectivos exercícios, ignorando a voz impetrante de Paulo atrás de mim. Depois de terminar as primeiras aulas, eu resolvi gastar minha energia na bicicleta, comecei a pedalar quando de repente Paulo parou na minha sem camisa, mostrando seu corpo musculoso e bem apetitoso por sinal, levei a garrafa de água na boca, foi então que ele tomou da minha mão e começou a jogar sobre a cabeça e o corpo.

___Ei Paulo, me dê isso! - o adverti me curvando por cima para tentar toma-la dele. Mas meus olhos se desviaram instantemente para as gotículas que se movimentavam no seu corpo, indo do peitoral ao abdômen trincado. Minha boca secou imediatamente, não poderia negar que Paulo era um pedaço de mal caminho, e só uma mulher cega não se sentiria atraída por ele, ainda mais uma mulher cega e na seca como eu.

___Melhor do que ver é poder provar, não acha? - comentou e ergui o rosto o pegando com um sorriso de satisfação.

___Não vai se achando, você não é tudo isso.

___Por que está brava comigo? Não me lembro de ter feito nada de errado. Voce mesmo disse que odeia seu vizinho por ele ser um grande cafajeste igual a mim. - comentou querendo rir. __ E agora você é amiga dele, essa é sua técnica, virar amiga dos homens a quais não pretende se entregar?

___Não! - tomei a garrafa de água da sua mão e joguei no rosto, e pescoço buscando me refrescar. ___Você é diferente Paulo, não é sínico, sempre disse que não quer compromisso sério, e nunca vi você ferindo nenhuma mulher. Noah já é um iludidor profissional, utiliza de palavras envolventes para persuadir suas presas a irem para cama com ele.

___Então por que virou amiga dele?

___Eu não virei. - falei quase em um sussurro e me olhou intrigado. ___Eu vou te contar tudo, mas espero que guarde esse segredo as setes chaves.

Esclareci tudo com meu amigo, pautando meus motivos para tomar uma decisão que parecia tão absurda, mas que eu acreditava ser necessária, Paulo continuava a me encarar em silencio, fazendo meu corpo flamejar de nervosismo, tudo que eu precisava agora é que ele me chamasse de louca e quisesse pagar uma terapia para mim.

___Não vai dizer nada? - perguntei cautelosa.

___Já pensou em ir fazer uma terapia?

___Paulo! - o adverti totalmente chateada, não acredito que ele disse mesmo isso, não sou nenhuma louca.

___Sério Estella, essa história é muito fora da caixinha, você quer seduzir esse cara para se vingar pela Melissa, e por todos os homens que iludem as mulheres, mas nem todos os homens são iguais, não é por que um babaca fez o que fez no passado com você que todos vão fazer o mesmo, e se esse cara descobrir? Já pensou o quanto perigoso pode ser? - murchei o rosto.

___Ele não vai descobrir, a menos se você contar.

___E quando ele descobrir? Suponhamos que seu plano dê certo, você acha que ele vai aceitar numa boa ser enganado? Ele pode querer se vingar.

___Nada de ruim vai acontecer comigo Paulo, não precisa preocupar, esse cara é um cafajeste, mas não é um homem perigoso. - Ele me olhou um segundo parecendo tentar decifrar algum mistério.

___Se ele tentar algo a força?

___Ele não vai tentar.

___Como pode ter certeza disso? Voce não o conhece o suficiente, Estella eu não apoio essa ideia sinceramente. - Bufo impaciente.

___Sabia que não deveria ter te contado! Anda! vá revele a ele toda a verdade, e envergonhe sua amiga na frente de todos.

___Calma está bem. - ergueu as mãos na defensiva. ___Eu disse que não apoio sua decisão, mas vou respeita-la, apenas se me prometer que se algo sair do controle, qualquer coisa, você vai me avisar, se ele te ameaçar, ou passar dos limites, e me prometa que não vai se entregar para ele, isso pode o deixar obcecado.

___Eu prometo! - falei convicta

___E não vai se apaixonar por ele. - seu semblante se tornou fechado.

___É claro que não! - ri como se fosse um absurdo.

___Estou falando sério Estella, se resolver se apaixonar de novo por alguém que seja por mim, não por outro alguém. - minha boca ficou entreaberta sem saber o que dizer, pensei que tinha ouvido algum tipo de alucinação auditiva.

___Paulo, por acaso...

___Ai está você, espero que já esteja no fim do seu expediente por que vim te buscar. - senti seus dedos se fecharem ao redor da minha cintura apertando, e sua fragrância tomar conta do local, Paulo desviou os olhos dos meus para ele, e abaixou a cabeça se retirando, e não consegui ter nenhuma reação. Não consigo acreditar no que acabei de ouvir.

___Tudo bem? - Sua voz rouca fala no pé do meu ouvido e me distancio imediatamente do seu toque, só agora me dando conta de quem está aqui, e como está.

___Não! É assim que trata suas amigas? com essa intimidade toda? - o alfinetei e seu semblante se tornou sério.

___Não me diz que o encanto acabou, e vai começar a distribuir patadas de graça de novo? Desculpe se fui inconveniente e atrapalhei o clima romântico seu com o seu outro amiguinho. E seu carro já está entregue eu vou nessa que ganho mais. - girou o tronco sem dizer nada indo embora, droga! o que deu nesse homem? Estella se continuar agindo dessa forma colocará o plano a perder.

___Ficou louco?! Que clima romântico, parece que está com ciúmes. -dei uma corridinha tentando alcançá-lo, será possível meu plano estar funcionando tão rápido? assim que toco no seu braço ele desvia com rapidez e coloca o dedo nos lábios.

___Romance ou não, estou apenas dizendo o obvio. Ele quer te levar para cama e disso eu tenho certeza.

___O que? Que absurdo está dizendo?! - minhas mãos tremeram de raiva. ___Paulo não é assim, ele jamais ...

___Te desejaria como mulher? Por favor Estella! Somente se ele for gay, e garanto que ele não é pela forma que te come com os olhos.

___E você acha que ele não poderia se apaixonar por mim? Acha que nenhum homem é capaz de se apaixonar? você nem o conhece.

___Você quer que ele se apaixone? - deu um passo na minha frente me olhando como se quisesse ler minha alma, e fico sem respirar por um momento.

___Não. - as palavras escapam da minha boca antes que eu pudesse segura-las.

___Foi o que pensei, agora vamos embora, eu te levarei para casa. - me lançou um sorriso sedutor e assenti sem graça.

Noah abriu a porta do carro para eu entrar, e sorri agradecida, em seguida tomou a frente entrando. Já tinha me esquecido que deixei as chaves do carro com ele, pelo visto cumpriu com o premeditado e o levou para reformar. Antes dele ligar o carro simplesmente se curvou na minha direção, esbugalhei os olhos e coloquei as mãos sobre seu peito o afastando.

___ O que pensa que está fazendo? Não dei a liberdade de me beijar! - falei brava, e franzi-o a testa sorrindo.

___Na verdade, eu não pretendia te beijar, apenas soltar o cinto de segurança que está preso na porta do carro. - Apontou em direção a porta e olhei.

___Hum... fique a vontade. - Pigarrei sentindo meu rosto queimar em constrangimento.

___Prontinho, agora vamos ver o que essa belezinha faz, devo lhe avisar que fiz alguns pequenos ajustes no seu carro. Agora sim parece um automóvel decente.

___Meu bebê sempre foi um ótimo automóvel se quer saber, nunca me deixou na mão.

___Até hoje, ele até que durou muito tempo, mas gostaria de dizer que a forma como os pneus foram furadas, foi de proposital. Deveria buscar as câmeras de segurança e verificar quem são os pirralhos, se quiser posso fazer isso para você.

Como eu explicaria minha amiga furando os pneus do meu carro?

___Nãoo! - quase gritei.. ___Quero dizer, eu mesmo posso fazer isso, já fez muito por mim.

___Como quiser. - comentou sem muita importância. Noah girou a chave na agnação e deu partida no carro, imediatamente dei um grito e me segurei firme ao cinto, esse cara é maluco? onde pensa que estamos em uma pista de corridas.

___Como esperado, você é dona de uma máquina, mas não faz ideia do seu potencial. - me lançou um rápido olhar e engoli seco. ___ Por que comprou esse carro?

___Eu gostei da cor. - ele riu

___Entendi tudo, você é sempre assim.

___Assim como?

___Costuma julgar o livro pela capa. - falou me olhando seriamente e abaixei o olhar.

___Voce eu não julguei pela capa, você me deu motivos para isso, não sei se esqueceu.

___Estella, eu sei que não sou perfeito, e embora não acredite não mergulho de algumas atitudes errôneas, mas eu tenho motivos para agir dessa forma, como você parece não gostar muito de homens, eu também não me simpatizo com as mulheres. Mas ao invés de julga-las todas estou dando a oportunidade de tentar entende-las. Por que ao menos você me parece diferente das outras. - Me encarou intensamente e desvio o olhar sem graça.

Olhei para o retrovisor e notei que Noah fazia um caminho diferente do nosso apartamento.

___Ei! essa não é a rua para nossa casa. - afirmei.

___É por que não vamos para lá, já que somos amigos, acho que deveríamos nos conhecer melhor. E dessa forma tirar suas primeiras péssimas impressões de mim. Duvido muito!

Noah fez a giratória, e passamos no Mc donald se pegamos um drive thru, Noah pediu um cubo de lanches e batata frita, ele me entrega uma tigela cheia de batatas, e pegou dois copos de refrigerante, não pude deixar de notar as bochechas da vendedora vermelhas quando ele a chamou de querida, não sabia se ele estava flertando com ela propositalmente ou só estava sendo gentil, mas obviamente ela foi atingida pelas suas palavras.

___Obrigado! Vamos? - olhou para mim sereno e assenti.

___Para onde estamos indo?

___Quando chegar lá, você vai descobrir. - piscou e girei os olhos.

Noah seguiu para uma estrada de chão fora do centro da cidade, eu deveria estar me sentindo nervosa e assustada por ir com ele, Deus sabe onde, sem nem o conhece-lo direito, mas estranhamente eu me sentia segura, algo me dizia que Noah jamais faria mal algum para mim. E se realmente quero colocar meu plano em pratica ele precisa pelo menos acreditar que vou dar uma chance de conhece-lo melhor, preciso ser menos retraída e mais pratica, minha intenção não é vira amiga do Noah, e sim seduzi-lo e o faze-lo se apaixonar por mim. Abri a janela do carro recebendo a brisa gelada, notei que estávamos indo para as montanhas rochosas, o cheiro de frescor da natureza tomou conta das minhas narinas, amava essa sensação de liberdade.

___Não sabia que era fã de natureza. - comentei sorrindo.

___Você não sabe muitas coisas sobre mim. - me olhou de relance.

Noah estacionou o carro em um ponto acessível, e avisou que subiríamos o resto da montanha de a pé, só então me dei conta de que montanha estávamos falando, Noah deu a volta no carro pegou uma mochila preta e jogou no meu colo.

___Coloca nossas comidas ai dentro, o caminho será um pouco longo.

__O Que?! Voce não está pensando em subir na pedra da gávea, está? são quatro horas de percurso sem contar na dificuldade do caminho. - o mirei indignada.

___Eu sei, estou pegando tudo que precisamos para subir com segurança.

___Noah, vai anoitecer. - rebati totalmente fora de mim.

___Você confia em mim? - perguntou repuxando os lábios.

___É claro que não! ficou louco!?

___Então vai aprender a confiar, sabia que as melhores amizades nasceram em situações de perigo, é o primeiro passo para conquistar confiança, então vai topar entrar nessa aventura comigo? ou vai querer agir de maneira covarde e voltar para casa? - arqueou a sobrancelha me desafiando. E suspirei fechando os olhos e me encostando no banco.