Capítulo 6 SEIS

Depois de um agradável almoço com as meninas, voltei para casa na mansão da família Mancuso. No entanto, minha tranquilidade logo foi interrompida quando Federica veio até mim com uma expressão séria.

"Federica, o que está acontecendo?" Perguntei, ansiosa.

Federica olhou para mim, compreendendo minha apreensão. "Don Salvatore a chamou até o escritório dele. É melhor você ir imediatamente."

Só conseguia imaginar que a minha solicitação para liderar as atividades da Ndrangheta na Toscana estava prestes a ser discutida com Don Salvatore.

Eu respirei fundo, tentando manter a calma, e agradeci a Federica antes de seguir em direção ao escritório do chefe da família Mancuso. Eu sabia que este momento era crucial e que minhas decisões teriam um grande impacto no meu futuro na máfia.

Ao entrar no escritório, encontrei Don Salvatore sentado em sua cadeira atrás da escrivaninha. Ele me olhou com seriedade e fez um gesto para que eu me aproximasse. Eu me sentei na cadeira em frente à mesa, minha mente girando com antecipação.

Don Salvatore quebrou o silêncio ao dizer: "Bambolina, acho que está na hora de entregar o seu presente de aniversário."

Ele pegou uma pasta de couro preto que estava sobre a mesa e a colocou diante de mim. Meus olhos se fixaram na pasta, e eu a peguei, curiosa sobre o que havia dentro. Abri a pasta, e meus olhos se arregalaram de surpresa quando vi o conteúdo: uma carta de admissão para a Harvard University.

Confusa, olhei para Don Salvatore. "Mas... eu não me inscrevi em nenhuma universidade, muito menos em Harvard."

Don Salvatore sorriu de forma enigmática, seus olhos experientes observando minha reação. "Eu sei, Catarina. Mas eu cuidei disso para você."

Eu estava perplexa. Ele havia se candidatado por mim? Eu não sabia se deveria ficar grata ou preocupada. "Don Salvatore, eu não tenho planos de ir para a universidade. Meu desejo é fazer parte dos negócios da família, liderar as atividades na Toscana."

Ele inclinou a cabeça, como se esperasse minha reação. "Por que você quer se envolver nisso, Bambolina? Você tem um grande potencial. Lucrezia elogiava muito sua dedicação para cuidar dela, entender os procedimentos que faziam..."

Eu respirei fundo, sentindo-me determinada a explicar minha escolha. "Meu potencial está na máfia, Don Salvatore, não em ser médica. Eu sei que o desejo da Mama Lucrezia era que eu me tornasse médica, mas minha paixão está aqui, na família e nos negócios."

Don Salvatore me encarou, avaliando minhas palavras. Sua expressão era séria, e ele sabia que essa decisão poderia afetar a dinâmica da família.

"Eu entendo o que você está dizendo, Bambolina," ele disse finalmente. "Mas acredito que você tem um potencial incrível para seguir uma carreira acadêmica. Além disso, cumprir o último desejo de Lucrezia é importante para mim."

Minha frustração começou a aumentar. Eu não queria ir para Harvard, e era difícil aceitar que minha vontade estava sendo ignorada. "Respeito o desejo de Mama Lucrezia, Don Salvatore, mas meu lugar está aqui, com a família."

Ele suspirou, sua expressão se suavizando ligeiramente. "Catarina, você precisa entender que estou fazendo isso porque acredito que é o melhor para você. Eu cuidei disso pessoalmente, falei com Lorenzo Morabito nos Estados Unidos, e agora você tem uma oportunidade única. Harvard é uma das melhores universidades do mundo, e eu não quero que você desperdice essa chance. Tenho certeza de que um dia você me agradecerá por isso, Bambolina."

Minha teimosia aumentou, e eu me levantei abruptamente da cadeira. "Eu não vou para Harvard, Don Salvatore, e pronto."

Ele também se levantou, olhando-me com firmeza. "Você vai sim, Catarina."

Minha raiva transbordou, e eu não pude mais conter minha frustração. "Não vou!"

" Catarina, sente-se agora!" Ordenou Salvatore, irritado.

Ignorando seu olhar sério e a advertência implícita em sua voz, virei-me e saí do escritório de Don Salvatore, deixando-o para trás.

Não era assim que eu havia planejado meu presente de aniversário, mas estava claro que Don Salvatore não ia ceder. Saí do escritório determinada a encontrar uma maneira de seguir meu próprio caminho, mesmo que isso significasse desafiar o homem que me resgatara e me criara como uma filha.

***

Depois da discussão intensa com Don Salvatore, eu saí do escritório dele com raiva e frustração em meu coração. Fui diretamente para o meu quarto e me joguei na cama, soltando as lágrimas que estavam represadas. Era difícil não sentir que minha família não me via como parte dela, apesar de tudo o que eu havia feito para provar o contrário.

Eu chorava em silêncio, deixando minhas emoções fluírem livremente, quando Federica, minha fiel dama de companhia e confidente, entrou no quarto. Ela sentou-se ao meu lado na cama, acariciando meus cabelos castanhos com ternura, como sempre fazia nos momentos difíceis.

"Catarina, querida, tudo ficará bem," ela disse com voz suave e reconfortante.

Eu solucei e balancei a cabeça, descrente. "Nada ficará bem, Federica. Aparentemente, nem Don Salvatore me vê como parte da família, não importa o quanto eu tente."

Federica tentou me consolar, suas palavras carregadas de amor e preocupação. "Ele está pensando no que é melhor para você, Catarina, como se você fosse sua própria filha."

Eu limpei as lágrimas com as costas da mão, sentindo a amargura da situação. "Mas eu não sou sua filha, Federica. E nunca serei vista assim. Se fosse verdade, eu já teria o cargo que pedi e não apenas uma festa fútil."

Federica suspirou e continuou a acariciar meus cabelos, escolhendo suas palavras com cuidado. "Catarina, por favor, não veja as coisas dessa forma. Don Salvatore está fazendo o que ele acredita ser o melhor para você. Ele a ama e se preocupa com seu futuro."

Eu a olhei com olhos cheios de tristeza. "Se ele me ama e se preocupa com meu futuro, então por que ele não me apoia nas escolhas que eu quero fazer? Por que ele insiste em me empurrar para um caminho que não é o meu?"

Federica me olhou com ternura. "Às vezes, o que queremos para nós mesmos nem sempre é o que é melhor para nós, Catarina. Don Salvatore quer protegê-la, mantê-la segura. E, talvez, ele esteja certo em acreditar que você deve ficar fora deste mundo perigoso."

Eu sabia que Federica estava tentando me confortar, mas minha determinação estava firme. "Eu não quero ficar fora deste mundo, Federica. Esta é a minha família, é aqui onde eu pertenço. Eu vou lutar pelo meu lugar."

Federica suspirou novamente, mas então sua expressão suavizou. "Está bem, Catarina, eu entendo sua decisão. Mas por favor, pare de chorar e se arrume. Logo o pessoal da maquiagem, penteado e do vestido estará aqui para aprontá-la para a festa."

Eu respirei fundo, sabendo que Federica estava certa. Era hora de colocar minha armadura emocional e enfrentar o mundo lá fora, mesmo que fosse um mundo cheio de desafios e incertezas. A festa de aniversário estava se aproximando, e eu estava determinada a mostrar a todos que eu era mais do que uma simples "Bambolina". Era hora de fazer meu próprio caminho e provar meu valor na família Mancuso.