A música dos pequeninos mágicos havia sido cortada pelo som de espadas se chocando à medida que o humano se aproximava, ao contrário do que ele imaginava, não era Galatéia que estava treinando, na verdade ela estava encima do muro olhando para as outras que suavam enquanto treinavam seus poderes e força, ela estava acompanhada com uma jovem surpreendentemente menor que ela, vista de longe pareciam duas crianças.
Galatéia notou a presença do humano não parecendo surpresa.
- Sabe, eu fico me perguntando - começou, na hora em que ele se aproximou o suficiente para ouvir. - Pelo quê estão lutando? Pela sua vida ou pelo rei? Já que você sabe que estar aqui é meio que obrigatório.
Ele coçou o queixo, refletindo.
- Mesmo que seja obrigatório ainda sim é uma horna para qualquer um ter que participar.
Ela assentiu, aterrissou no chão de pedras em um salto. - Inclusive, você sempre fala demais quando está perto das suas senhoras?
- Você é a única que me permite falar - respondeu, baixo e tímido.
- Permito, hein? - Ela olhou para as mulheres que agora a estavam encarando. - Por que estão me olhando? - Indaga baixinho para Illis.
- Elas acham que você está zombando delas - Dáiríne aterrissa ao seu lado.
- Dáiríne, este aqui é... - encarou ele, esperando uma resposta.
- Eu sei quem é ele - as bochechas da pequena ficaram vermelhas.
Galatéia revirou os olhos.
- Mas eu não, o que custa dizer o nome dele?
Os olhos de Dáiríne esbugalharam de surpresa.
- Oh, meu deus! Me desculpa, senhora - se curvou. Galatéia ficou em dúvida se reclamava do "Oh, meu deus" ou do "senhora". - Este é Illis, ele faz parte da Guarda do Palácio. Nos conhecemos porque ele come na cozinha junto com os outros criados.
Galatéia cerrou os olhos em direção a ela, notando que devia ter mais coisas que agora a mesma não diria. Então notou algumas mulheres se aproximando, Illis e Dáiríne se afastaram um passo de Galatéia.
- Por que vocês dois se afastaram? - sua voz tinha uma pontada de desespero, olhando de soslaio para eles.
- Creio que agora elas tenham se insultado com sua atitude - Illis relata.
- Mas eu não fiz nada!
- Isso mesmo, você não fez nada, enquanto elas estão treinando arduamente - Illis se demorou na palavra "nada".
- Ei, sua putinha nojenta! - uma das mulheres gritou, chamando sua atenção.
- Putinha? - fez uma careta, virou-se para Illis.- O que significa isso?
- Se não sabe, acho melhor continuar sem entender.
- Você se acha melhor que a gente, né? Mas todos sabem que sereias fora d'água são completamente estúpidas e inúteis.
- Estão certos - Galatéia concordou, não se sentindo nem um pouco ofendida.
Illis olhou para ela e sorriu baixinho, Dáiríne fez uma carinha engraçada, demostrando surpresa. Mas a mulher robusta com o machado em mãos não tinha a mesma expressão engraçada, ela fervia de ódio, como se Gall a tivesse ofendido.
- O quê?!
- Vai me dizer que você esperava que eu ficasse ofendida? Eu não suporto nenhuma das criaturas - Galatéia gesticulou com as mãos, como de explicasse algo simples e normal.
- Você odeia o meu povo?! - soltou um rugido.
- Eita, acho que piorei tudo - olhou para Dáiríne que estava apertando os punhos no vestido florido que usava, preocupada. Voltou seu olhar para a mulher que a olhava de forma assassina. - Veja bem, eu não odeio o seu povo, eu só... não gosto de ninguém?
Mas era tarde demais para se justificar, com mais um rugido a mulher balançou seu machado lançando um feitiço de fogo na garota de cabelos brancos na intenção de a distrair, Galatéia se esquivou a tempo.
- Você quer me matar?!
- Quer mesmo que ela te responda?! - Illis gritou para ela, observando a cena de longe agora, a garota de cabelos azuis ao seu lado.
Mais uma bola de fogo passou por ela, raspando por seu braço adquirindo uma queimadura severa, fazendo-a gritar de dor.
- Você não vai fazer nada? - perguntou para Illis, sua voz saiu esganiçada. Se levantou do chão após se jogar para desviar das rajadas.
- Eu estou aqui para servi-lá, não para proteger. Eu avisei que deveria treinar.
- E não é a mesma coisa?!
Ele não respondeu. A mulher enorme de cabelos brancos girou o machado em sua mão, o rodando com maestria à medida que corria em direção a pequena que agora lutava para não ser machucada. Ela abaixou no momento que a lâmina passou perto de cortar o seu pescoço, rolando no chão tentando se manter longe dos olhos da outra. Contudo, antes que pudesse correr, o cabo do mesmo acertou suas costelas com força, fazendo a cair de cara no chão.
- Elite eles disseram - cuspiu nas costas dela, onde uma mancha avermelhada aparecia. Galatéia sentia seu corpo inteiro querer se curvar de tanto nojo. - Que piada - estava desapontada. A mesma ergueu o machado novamente, pronta para lhe decepar a cabeça o desceu com força, focando apenas em um lugar específico onde sabia que sua cabeça rolaria pelo chão com facilidade.
- O que diabos está acontecendo aqui?! - O rei Beron pergunta, alto demais, a tempo do machado parar, porém não o suficiente para evitar que um pequeno corte se fizesse. Todos os olhos se saíram do peixinho sendo esmagado no chão para ele.
- Senhor, ela zomba...
- Cala-se! - rosnou. - Se tem desavenças, que se resolva na arena, não aqui! Agora retirem-se! Agora!
A mulher se afastou, contudo Galatéia viu quando a mesma virou o rosto com um sorriso vitorioso nos lábios ao ver ela no chão. Fechou os olhos com força, sentindo uma vontade repentina de chorar até que toda água se esvaziasse do seu corpo.
O rei se agachou até a ela, estendeu-lhe a mão para a ajudar se levantar, entretanto a mesma ignorou, tentando se levantar sozinha, mesmo gemendo de dor.
- Ao menos é boa em se esquivar - tentou fazer uma brincadeira.
- Se tiver consciência não vai chegar perto de mim novamente - seus olhos cinza estavam frios agora, o pequeno sinal de sorriso de Azhill se foi.
Ignorando totalmente sua presença, seguiu em direção oposta do palácio, com o sangue do braço pingando no chão, fazendo uma trilha para o mar.