Domenico era uma lenda viva. Tinha apenas 33 anos, mas já era considerado o homem mais poderoso do país. Com uma inteligência estratégica afiada, uma frieza nos negócios que intimidava até os mais experientes, e um charme devastador, ele era conhecido como o Leão de Monterra. Gentil em público, arrogante nos bastidores e absolutamente dominante quando se tratava de tomar decisões.
A VTX Corporation dominava os setores de segurança digital, inteligência artificial e energia limpa. Em cada esquina da cidade, havia algo criado ou patrocinado por Domenico. Seus olhos estavam em toda parte. Seu nome era sinônimo de progresso, ambição e medo.
Mas ninguém ousava contrariá-lo.
Naquela manhã, Domenico estava sentado na cobertura da VTX Tower, o prédio mais alto de Monterra, com 95 andares de vidro que refletiam o céu como se fossem uma extensão dele.
- Senhor Vitale - disse sua assistente pessoal, Luísa, entrando com passos firmes e uma prancheta nas mãos -, o ministro ligou novamente. Quer agendar uma reunião para discutir o projeto de câmeras inteligentes nos presídios.
- Cancele - respondeu Domenico, sem levantar os olhos do tablet. - Ele está tentando negociar algo que já perdeu. Eu avisei que o prazo acabava ontem.
- Ele insistiu que...
- Não me importa. Ele precisa aprender que comigo, ou se anda na linha, ou se sai do jogo.
Luísa assentiu, já acostumada com aquele tom direto. Domenico era justo, mas inflexível. Era o tipo de homem que dava oportunidade uma vez - apenas uma. Se fosse desperdiçada, não havia segunda chance.
Apesar disso, com os funcionários da empresa, Domenico mantinha um comportamento inesperadamente gentil. Sabia o nome dos programadores, cumprimentava recepcionistas e dava aumentos generosos aos que se destacavam. Mas esse lado não se confundia com fraqueza. Era apenas parte de seu jogo de poder - a dominação por respeito.
Luísa hesitou por um momento, antes de continuar:
- Também chegaram os relatórios da filial de Viena. O setor de energia sustentável está com 23% acima do previsto.
- Ótimo. Mande flores para o diretor da unidade. Ele merece. - Ele finalmente levantou os olhos, frios como o mármore escuro que cobria a sala. - Mas não me venha com essa história de brunch com a prefeita de novo. Eu odeio eventos inúteis.
Luísa sorriu de lado. - Infelizmente, está confirmado. Hoje, às 11h30, no Centro de Artes Monterra. A senhora Reina agendou com semanas de antecedência.
Domenico bufou.
- Que inferno. Muito bem, me traga o carro em dez minutos. Vamos logo com isso.
Domenico era elegante de uma forma letal. Com seus 1,90m de altura, ombros largos e cabelos escuros sempre perfeitamente alinhados, ele era o tipo de homem que não precisava falar duas vezes. Sua voz grave bastava. A barba bem feita realçava o maxilar marcado, e seus olhos, de um castanho quase negro, tinham a intensidade de quem sempre obtém o que quer.
Na entrada do Centro de Artes, todos os olhares se voltaram. Era impossível não notar a chegada dele. Vestia um terno sob medida azul-petróleo, sapatos italianos impecáveis e um relógio de pulso que provavelmente custava mais do que um carro popular.
- Senhor Vitale, é uma honra recebê-lo - disse a prefeita Reina, com um sorriso forçado.
- Igualmente, prefeita - respondeu ele, com uma educação afiada. - Mas já adianto que tenho apenas quarenta minutos.
O evento era um tour pela nova ala do museu, patrocinada pela VTX. Domenico era um dos maiores mecenas de arte da cidade, ainda que raramente comparecesse a essas cerimônias.
Enquanto os convidados se encantavam com as esculturas contemporâneas e os murais interativos, ele apenas caminhava em silêncio, observando os detalhes, a estrutura, os sensores - coisas que poucos notavam. Ele não via arte, via engenharia, propósito e resultados.
Até que algo - ou alguém - o fez parar.
Foi por acaso. Ou destino, dependendo do ponto de vista.
Íris Martins tinha vinte e quatro anos e trabalhava como atendente em uma floricultura simples no bairro antigo da cidade. Naquela manhã, ela tinha sido contratada para levar arranjos florais até o Centro de Artes. Estava nervosa, com as mãos geladas e o cabelo preso em um coque apressado. Vestia roupas simples, mas seu rosto tinha uma delicadeza rara, quase etérea.
Ao tentar atravessar um corredor para colocar um dos arranjos em um pedestal, ela escorregou levemente no chão recém-polido e soltou um pequeno grito.
Domenico virou-se no mesmo instante.
O vaso que Íris carregava escapou de suas mãos e tombou no ar - mas não chegou a tocar o chão. Em um gesto rápido, Domenico se aproximou e o segurou com firmeza, evitando o desastre.
- Cuidado - ele disse, com um tom firme, os olhos fixos nela. - Você está bem?
Íris ficou paralisada por um segundo. Era como se o tempo tivesse parado. Ela ergueu os olhos e encarou aquele homem, aquele rosto que já tinha visto em capas de revistas, em reportagens, até mesmo em outdoors pela cidade. Mas ali, ao vivo, ele era ainda mais impressionante. Dominador. Magnético.
- Eu... desculpe - ela murmurou, tentando recuperar o fôlego. - Sim, eu estou bem. Obrigada.
Domenico franziu o cenho, observando-a com atenção. Havia algo estranho nela. Não era apenas bonita - era natural, diferente, sem pose, sem a falsidade que ele estava acostumado. Seus olhos castanhos pareciam conter mundos que ele não entendia.
- Qual é o seu nome? - ele perguntou, sem pensar.
- Íris. Íris Martins.
- Você trabalha aqui?
- Não, eu só vim entregar as flores. Trabalho na Floricultura Aurora.
Domenico assentiu lentamente. Ainda segurando o vaso com uma mão, ele a olhou mais uma vez antes de devolver o arranjo cuidadosamente ao pedestal.
- Deveria tomar mais cuidado. Isso poderia ter se quebrado.
- Sim, senhor. Me desculpe. - Ela abaixou o olhar, envergonhada.
- Não se desculpe tanto - disse ele, em um tom mais suave. - Ninguém morreu.
E então, para surpresa de Íris... ele sorriu.
Não um sorriso arrogante, mas um daqueles raros, genuínos. Apenas por um segundo. Mas foi suficiente para ela sentir o coração bater mais forte.
- Volte ao trabalho, senhorita Martins - disse ele, virando-se em seguida. - E obrigado pelo arranjo. É bonito.
Ela ficou ali, parada, como se tivesse sido atingida por uma onda de calor inesperada.
E ele? Seguiu adiante, mas não conseguiu evitar de lançar um último olhar por cima do ombro.
Porque, por alguma razão que nem ele compreendia, aquele encontro rápido o marcara de um jeito diferente. Como se algo tivesse começado a se mover dentro dele.
Algo perigoso.
Algo novo.
Algo que nem todo o seu poder poderia controlar.