A placa enferrujada na entrada da cidade dizia "Vale Noturno – População: 3.742". Sophie achou curioso que alguém ainda se desse ao trabalho de contar. O lugar parecia ter parado no tempo, com suas casas antigas de madeira, postes de luz rangendo ao vento e uma névoa que se recusava a ir embora, mesmo às três da tarde.
"Pelo menos não tem trânsito", ela murmurou, estacionando o carro velho que herdara da avó. Não havia um único outro carro na rua principal.
Sua mãe insistira que a mudança faria bem. "Ar puro, natureza, silêncio..." Ela se esqueceu de mencionar a solidão, o frio constante e a aparência sinistra da floresta que rodeava tudo. Ainda assim, Sophie tentava manter o otimismo. Afinal, era o primeiro dia de uma nova vida.
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A escola local, por sorte, não era tão esquisita quanto o resto da cidade. Pequena, sim, mas com pessoas de verdade, vozes nos corredores e até cheiro de pão saindo da cantina. Foi ali que ela viu Ivy pela primeira vez.
De cabelos vermelhos e um colar com um pingente em forma de lua, Ivy andava como se possuísse o mundo - ou estivesse entediada demais para se importar com ele.
"Você é nova", disse Ivy, sem sequer perguntar. "Sophie, certo? Eu vi seu nome na lista de matrícula."
Sophie piscou. "E você é... médium?"
"Bruxa. Mas obrigada." Ivy sorriu como se tivesse contado uma piada interna. "Vem, vou te mostrar onde os professores escondem os salgadinhos de verdade."
E foi assim que começou a amizade mais improvável - e necessária - da vida de Sophie.
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Naquela mesma noite, Sophie teve um sonho estranho. Estava na floresta, sob uma lua enorme e dourada. Alguém a observava entre as árvores. Um lobo de olhos âmbar. E quando ela tentou fugir... uma voz sussurrou seu nome. Não era assustadora. Era familiar.
Ela acordou com o coração disparado, sem saber o que significava aquele olhar - ou por que parte dela queria vê-lo de novo.
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