Aprendi deste pequena que não são os laços de sangue que definem uma família. Embora geneticamente pertencemos a um grupo, os laços de coração ainda são os meus favoritos. Para mim, não existem regras exatas que definam uma família de verdade. Existe, porém, um ingrediente especial, aquele que dá liga e faz tudo dar sentido: o amor!
Encontro-me num pesadelo. Duas vozes distintas chamam por mim, mas são vultos, dos quais não consigo distinguir quem eram.
- Kate! Kate! - voz masculina
- Nos ajude! - voz feminina
Acordo assustada com o despertador, após mais um de meus pesadelos. Escuto a voz da minha mãe adotiva me chamando do outro lado da porta de meu quarto.
- Kate, querida? Já acordou?
Levanto-me da cama ainda processando a realidade e caminho até a porta. Em seguida, destranco-a.
- Sim, mãe. Já acordei. Desculpa demorar para respondê-la - Minha voz soa cansada, logo bocejo e minha mãe observa a cena considerando engraçada.
- Meu Deus! Pelo visto terei que dar um reforço extra no café desta manhã
- Melhor, mãe. Parece que levantei mais cansada do que quando fui dormir ontem - afirmo
- Tome um banho que lhe ajudará também a despertar, querida - ela fala e sai dali
Vou até o banheiro, tomo um belo banho para acordar e esquecer em parte o pesadelo que acabei de ter. Após minha higiene, visto uma jaqueta descolada com cachecol e calça de moletom, uma vez que o dia promete ser frio segundo a metereologia.
Ao chegar na cozinha, meu pai adotivo está lendo as notícias impressas no jornal do bairro. Assim que me vê, ele sorri e fecha o jornal colocando-o sobre a mesa.
- Bom dia, filha
- Bom dia, pai - respondo-o feliz
- Hoje consigo dar uma carona, para a filha mais linda do mundo - ele fala sorrindo para mim
- Ah, que bom! Hoje, nossa filha acordou mais cansada - revela minha mãe
- Não dormiu bem? - Questiona meu pai
- Dormi, eu acho. Tive uns sonhos estranhos, apenas isso - Seus pais se encaram, mas não percebo
- Bom, nada que um café reforçado da sua mãe não resolva tudo, certo?
- Claro! Pronto, querida. Seu café bem quente - serve minha mãe
A xícara de café estava quente e ao dar um gole, nitidamente o sabor forte do café é sentido.
- Nossa, mãe! De fato, um café puro e forte! - Exclamo rindo
- Esse é tiro e queda. Bebeu, acordou - Afirma também rindo minha mãe
- Sua mãe caprichou no meu café também, Kate. Mas, ao contrário da mocinha, eu gosto dele forte.
- Kate... lembre-se de fazer novos amigos e amigas, está bem? - Fala minha mãe mais séria
- Tentarei, mãe - respondo-a tranquilamente
Este já é o quinto colégio que seus pais te mudam, por conta de bullying. O ano começou melhor que em outras escolas das quais frequentei.Após tomar o café da manhã, meu pai me leva até o colégio. No trajeto, meus pensamentos estão longe.
- "Será que pergunto ao meu pai adotivo sobre meus pais de sangue?" - observo-o dirigido calmamente, enquanto a música toca nos auto falantes. Reúno coragem e faço o questionamento para ele.
- Pai, o que você sabe sobre meus pais?
Percebo que ele suspira baixo e mantém o foco no trajeto.
- Apenas sei que eles te amavam muito e... - Interrompo-o, pois fico nervosa com o que escuto
- O quê?! Como pais que amam uma filha a largam na porta de uma casa qualquer?! - grito revoltada
- Filha, por favor... Preste atenção no que vou dizer e se acalme - ele tenta abrandar a situação e continua
- Como pai adotivo, não julgo as ações deles. Provavelmente, eles tinham dificuldades em cuidar de você, em mantê-la sob os cuidados deles. E, optaram que outra família fornecesse todo apoio e cuidado, dos quais eles não podiam lhe dar.
Viso ficar mais calma, mas mesmo assim ainda não sei sobre mim direito. O carro, em que estamos, para no semáforo e uma família composta por mãe, pai e uma filha atravessam a avenida.
Observo-os com atenção e penso.
- "Será que eles continuam vivos? Será que eles ainda pensam e se lembram de mim? Por que eles me abandonaram? Espero um dia obter as respostas..."