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Submissa Ao Herdeiro Do Crime

Sinopse

Siliana nunca pertenceu a lugar nenhum. Rejeitada antes mesmo de nascer, cresceu à margem da sociedade, aprendendo a sobreviver com sangue nas mãos e vazio no peito. Sua vida sempre foi uma sequência de batalhas perdidas-até que uma missão coloca Nikolai em seu caminho. Filho do homem mais poderoso do submundo, Nikolai cresceu cercado por violência, mas nada nele grita mais alto do que sua frieza. Impiedoso, calculista e sem paciência para distrações, ele nunca se importou com nada além dos negócios da família. Mas Siliana desperta algo que ele não entende-e não quer entender. Ela deveria ser apenas mais um nome na longa lista de criminosos que cruzaram seu caminho. No entanto, quando uma missão dá errado e Siliana fica entre a vida e a morte, Nikolai percebe que não pode deixá-la partir. Agora, enquanto ela luta para se reerguer, ele precisa decidir: seguir as regras do crime ou quebrá-las por uma mulher que nunca deveria ter sido sua. Entre desejo e destruição, ódio e obsessão, Siliana e Nikolai são duas forças opostas presas no mesmo inferno. E, desta vez, pode não haver saída para nenhum dos dois.

Capítulo 1 Saindo do Inferno

Siliana

O cheiro de ferrugem nunca me incomodou. Dizem que o sangue tem gosto de metal, mas, para mim, ele sempre teve gosto de liberdade. Aquele gosto amargo, como se rangesse nos dentes, dando a sensação de que tudo chegou ao fim.

Eu costumava contar os passos que dava até a porta do orfanato, como se cada um deles me afastasse do vazio que crescia dentro do peito. Nunca funcionava. Eu podia andar quilômetros, mas ele continuava lá - grudado na pele, feito sombra. Não havia mais o que fazer, aquilo já estava impregnado em mim. Eu não pude ter escolhas e não dependia do que eu pensasse, dependia do que achavam "melhor" para nós, crianças do orfanato.

Fui rejeitada antes mesmo de aprender a falar. Filha de ninguém com ninguém. Criada por rostos que mudavam como as estações, cada um mais cansado e apático que o anterior. O olhar de quem não espera nada de você é fácil de reconhecer - era o que eu via toda vez que me olhava no espelho. O reflexo de um corpo vazio e sem propósito nenhum. Absolutamente vazia e sem planos, eu só existia...

Naquela noite, eu estava com quatorze anos e o céu carregava mais nuvens carregadas do que promessas vazias. Eu já sabia que algo dentro de mim tinha quebrado há muito tempo, mas foi naquela noite que percebi que não havia como colar os cacos. Não havia como voltar no passado e merda, as memórias são as coisas que mais me fodem.

Ele era só mais um dos muitos homens que acreditavam que crianças frágeis não tinham dentes. Não contava com o fato de que, no fundo, eu era um animal faminto. Eu tinha fome de vida, fome de sangue e de dor. Se eu não era feliz, não tinha motivos para zombar disso e eu fazia as coisas do meu jeito, sem pensar no que viria depois.

As mãos dele pesavam nos meus ombros, o hálito fedia a cerveja barata e intenção era podre. Ele riu, um som curto, como se já soubesse que ninguém ouviria meu grito. E ele estava certo. Ninguém teria ouvido. Mas eu também não gritei.

A faca estava onde sempre esteve - debaixo da cama, velha, enferrujada, mas afiada o suficiente. Eu nunca fui tola. Nasci em um inferno e desejo então, venho conhecendo vários ao decorrer dos anos.

Quando o sangue quente espirrou na minha pele, não senti nojo. Não senti medo. Senti um alívio doentio, como se, pela primeira vez, tivesse controle sobre alguma coisa. Não seria desta vez que alguém iria me tocar sem minha permissão.

Ele caiu no chão com os olhos arregalados, a mão apertando o buraco que eu tinha aberto em sua barriga. Não disse nada. Nem precisava. Eu já sabia que era tarde demais. Porém, o grito veio de sua garganta.

Na manhã seguinte, disseram que foi um acidente. Ninguém perguntou direito. Eu fui levada para outro lugar, para outra cama, para outro teto frio e paredes sem rosto. Mas, daquela vez, levei comigo mais do que uma mala de roupas velhas. Levei a certeza de que não havia volta. Em mim também não havia espaço para arrependimento. Não era a primeira pessoa nem seria a última. Mas as coisas estavam mudando e eu estava gostando disso.

Naquela noite, matei um homem. Mas, acima de tudo, matei a menina que um dia sonhou ser amada. Mais uma vez... mesmo depois de tantas coisas, eu ainda mantinha a fé que alguém me escolheria, mas foi tudo em vão.

Agora, só restava Siliana.

E Siliana sabia exatamente quem era e o que queria.

O som do relógio na parede era irritante. Cada tique-taque soava como um lembrete cruel de que o mundo continuava girando, enquanto eu permanecia parada - presa no mesmo ciclo sujo.

O novo orfanato cheirava a água sanitária e promessas quebradas. As paredes eram brancas demais, tão limpas que doíam nos olhos. Pessoas tentavam parecer gentis ali. Sorrisos ensaiados, vozes baixas, passos cuidadosos. Todos fingindo que não sabiam quem eu era.

Mas eles sabiam. Sabiam que eu sou uma assassina sem alma. Parece que eles conseguem ver através do meu corpo, como se vissem todos os meus pecados ali e eu... eu tô pouco me fodendo para os suas opiniões.

Era impossível não saber quando carregamos sangue nas mãos, mesmo depois de lavá-las mil vezes. Ainda ficam impregnados na pele.

As outras meninas me olhavam como se eu fosse um animal enjaulado, perigoso demais para se aproximar, interessante demais para ignorar. Algumas cochichavam meu nome pelos corredores, como se fosse uma lenda urbana. Outras desviavam o olhar quando eu passava. Eu gostava disso. Talvez pudesse fazer algum dia vantajoso para mim.

Gostava da distância que criavam, da muralha invisível que me separava de todos. Quanto mais medo sentiam, mais segura eu me sentia. Ali era o meu lugar, já que não havia outra saída, eu tinha que me proteger como conseguisse. Eu não tenho ninguém, não posso vacilar em momento algum.

Naquela noite, quando o silêncio caiu sobre a casa como um cobertor pesado, eu encarei o teto e me perguntei se um dia teria sido diferente. Se, em algum momento, alguém teria me escolhido, segurado minha mão, dito que tudo ficaria bem. Aquela maldita desgraçada.

A resposta era sempre a mesma: não.

Eu nasci para ser descartada.

Fechei os olhos e, por um instante, imaginei que estava de volta ao quarto abafado do orfanato anterior, com o chão frio sob os pés e o gosto metálico ainda fresco na boca. Aquela imagem não me dava medo. Me dava força.

Eu não era boa. Nunca fui e não faço questão em ser.

E se o mundo queria me pintar como um monstro... talvez fosse hora de aprender a ser um.

Alguns anos depois

As notícias diziam que o homem tinha sido um predador. Que alguém, finalmente, havia feito justiça. Mas eu sabia a verdade: justiça não tinha nada a ver com aquilo. Aquilo foi puro instinto. Sobrevivência.

A diferença é que, enquanto o mundo tentava justificar o meu crime, eu não precisava de desculpas. Eu sabia exatamente por que matei.

Porque ele não era o primeiro a tentar quebrar meu corpo, mas foi sua última vez tentando.

E eu não fui a primeira a quebrar alguém de volta.

Dizem que depois do terceiro assassinato, você para de contar.

Mentira.

Eu contei cada um.

Não pelos nomes - esses, eu nunca guardei. Mas pelas sensações. Cada morte deixou uma cicatriz invisível que carregava comigo como uma coleção de ossos. Quatorze corpos. Quatorze vezes que alguém tentou ser maior do que eu, mais esperto, mais cruel - e perdeu.

Era assim que eu sabia que ainda estava viva.

Eu não buscava redenção. Nunca busquei. E naquela manhã fria, enquanto o cheiro de café amargo preenchia meus pulmões, o mundo parecia anestesiado demais para mim.

A cafeteria era pequena, escondida no canto de uma rua qualquer. O tipo de lugar onde pessoas comuns fingiam que a vida era doce. Uma fuga patética. Eu gostava dali porque ninguém olhava por tempo demais. Ninguém suspeitava que uma mulher de casaco preto e olhar vazio carregava morte nos olhos.

Até ele aparecer.

Sentei no balcão, como sempre, com as costas voltadas para a parede. Hábito de quem não pode se dar ao luxo de confiar. Meus dedos batiam o ritmo do relógio no tampo de madeira enquanto observava as pessoas entrarem e saírem sem deixar marcas. Todos os dias eram a mesma coisa...

E então, ele entrou.

Vi primeiro pelos olhos. Não eram olhos de predador. Eram olhos de quem carrega perguntas demais e respostas de menos. Escuros, atentos, curiosos demais para o próprio bem. Por que há pessoas que insistem em se meter em vacilo, mesmo tendo tudo? Eu não entendo.

Ele pediu um café simples e sentou duas cadeiras ao lado da minha. Não me olhou de imediato, mas eu senti. Aquela sensação incômoda de ser observada discretamente e aquilo que me incomodava.

Quando finalmente cruzamos olhares, ele sorriu. Como se o mundo não fosse uma jaula e eu não fosse o lobo que vive dentro dela.

- Você vem aqui sempre - ele disse, sem rodeios. - O que você mais gosta daqui? Há cafeteiras melhores por aí, se o que procura é um bom café.

Minha sobrancelha arqueou, quase sem querer.

- E porque você não está em uma das suas citadas?

Ele deu de ombros, levando o copo aos lábios.

- Só com os que parecem mais sozinhos que eu.

Tinha algo na forma como ele disse aquilo. Não soava como uma tentativa barata de puxar assunto. Era quase... honesto. Isso me irritou mais do que qualquer provocação.

- E se eu disser que não estou sozinha? - perguntei, deixando a ponta do veneno escorrer na voz.

Ele sorriu de novo. Um sorriso pequeno, quase cansado.

- Então você mente muito bem.

Meu olhar desviou para suas mãos. Nenhuma cicatriz. Nenhuma marca. Não eram mãos que já seguraram uma arma ou abriram um corte na pele de alguém. Ele não sabia o que era sangue de verdade. Ou se sabia, desgraça muito bem.

- Qual o seu nome? - ele perguntou.

Eu podia ter mentido. Eu sempre mentia. Mas, por algum motivo estúpido, não menti.

- Siliana.

O nome pesou no ar entre nós como uma sentença. Ele não reagiu. Como se não soubesse que, naquele instante, estava conversando com uma mulher que já tinha enterrado quatorze almas.

- Eu sou Ian - ele disse. - E acho que você precisa de um motivo pra tomar café, além de sobreviver mais um dia.

Quase ri. Quase.

Ele não fazia ideia de quem estava tentando alcançar.

Eu sabia que aquele olhar curioso, aquela tentativa de quebrar minha muralha, não era por acaso. Nada era. O mundo não era gentil. Nunca foi. Ele era só mais um tolo tentando colorir um campo de cinzas.

Mas naquela manhã, por um segundo, algo dentro de mim vacilou.

Talvez fosse o jeito que ele não desviava os olhos.

Talvez fosse o fato de que ele parecia enxergar além da máscara sem medo do que veria. Ou talvez fosse apenas porque, pela primeira vez em muito tempo, alguém não olhava pra mim como se soubesse que eu era feita de morte.

Quando ele foi embora, deixou um guardanapo dobrado ao lado do meu copo.

"Você não precisa continuar vazia."

Ri. Sozinha. Porque ele não sabia o quanto estava errado.

Eu não estava vazia.

Eu era feita de caos o suficiente para me sentir preenchida.

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