Ter um pai chefe do crime, um dos mais bem-sucedidos no mundo do tráfico, não era fácil. Julia era filha única. Bem, pelo menos era o que ela sabia. E como tal, não poderia sucedê-lo. O que ela achava bom, pois não queria me sentar naquela cadeira.
Tendo sangue Santini, foi prometida em casamento para Pablo Bell Monte, seu protegido. Ela o odiava desde então. Esse homem ansiava para tê-la na cama e Julia o achava um escroque que faria qualquer coisa para conquistar o pai dela. Não tinha a menor intenção de se casar com ele, mas, até então, não tinha um plano para fugir dessa responsabilidade.
Mesmo vivendo em NY ela não podia aproveitar a sua juventude. Tinha que ser uma garota educada e dócil, sendo escoltada por dois homens do seu pai.
Julia queria ser livre, cursar uma faculdade, mas não tinha o direito de escolher. Confinada em casa, podendo visitar somente uma amiga e ir ao shopping, ela passava horas comprando, pois detestava permanecer em casa se lamentando.
Sempre detestou esse mundo da máfia, sobretudo pelo comportamento do pai, que era um tirano e aproveitava tudo para si. E o outro motivo era bem óbvio: tudo isso era errado. Mas ela seria hipócrita se dissesse que não usufruía do dinheiro do crime.
Saiu do carro, balançando os seus cabelos loiros e longos para trás. Não podia negar que chamava a atenção de todos e era vaidosa. Desde que Julia era pequena, seu pai dizia que uma Santini deveria ser notada e, por isso, a dava tudo que fosse de luxo.
Hoje ela percebeu o quanto isso estava sendo cobrado dela.
Seu pai tinha um inimigo, ou melhor dizendo, um adversário nunca visto pelo Santini, em NY.
O babaca italiano não era novo no mercado, mas tinha um poder que foi crescendo com o passar do tempo. Eles viviam em território inimigo, mas agora, com várias boates de luxo, vendiam todas as merdas para os ricos que optavam por frequentar o lugar, deixando o Santini irritado e com um enorme prejuízo.
Mas era uma festa e o capo não perderia aquele encontro onde encontraria seu maior inimigo e o futuro herdeiro da maior empresa de cosméticos do país.
Claro, não há nada melhor do que uma fachada para esconder as mentiras que ele fazia.
Julia não era fã de eventos como esse, apesar de não ser nada demais.
Duas famílias criminosas que se odiavam e poderiam brigar por poder.
Todos ali se conheciam, mas não tinha ideia do que estava acontecendo sob os panos.
Nesse local estavam outros membros de grupos, sejam eles aliados ou não, que se relacionavam com políticos e pessoas de alta classe social.
As meninas estudavam na mesma escola católica, recebiam as mesmas regras, mas as semelhanças acabam por existir.
As mulheres recebiam o destino sem escolha própria. Elas eram prometidas e deveriam permanecer silenciosas, enquanto os homens eram treinados para serem assassinos, sem escrúpulos, com quem se casavam.
Apesar de todo o encanto e personalidade considerada forte, ela não gostava de eventos sociais como aquele ou de estar em um mesmo ambiente com tantas pessoas.
Era tudo uma grande manipulação para ver quem era o melhor em agradar os líderes políticos e ricos que ignoravam o que ocorria nas ruas ou incentivavam o crime.
Havia sempre uma rivalidade dissimulada e uma briga que poderia ser apaziguada com uma bebida e um charuto, ou com um casamento, que eles chamavam de pacto de sangue.
Enquanto seu pai conversava com alguns parceiros, ela pode andar e manter-se longe. Julia não ligava para nada disso e nem se importava.
Apesar de ter estrelas, a noite estava gelada. Não fez uma boa escolha ao optar por um vestido de corte preto e deixar de levar algo para cobrir os seus ombros.
Eu nem queria estar aqui.
- Julia! - A voz de Pablo a dava ânsia.
Era um homem insuportável, que esperava dela algo que pudesse tirar proveito. Por sorte, Julia ainda estava perto de outras pessoas. Assim, poderia ter uma vantagem e, talvez, conseguir se livrar desse babaca.
- Está linda hoje.
- Obrigada, mas não preciso ouvir isso de você. - Revirou os olhos e virou o rosto, procurando uma maneira de se livrar dele.
- Sempre usando essa língua como uma faca - disse, parecendo não perceber o seu tom sarcástico. - Se casarmos, vou gostar de arrancá-la. Algo que está cada vez mais próximo de acontecer.
- Até lá, tenho o direito de te responder como quero. E se me der licença, vou ao banheiro - falou, irritada, saindo da sua frente.
Ela não sabia onde ficava o banheiro e nem queria ir, mas faria esse "sacrifício" para ficar longe dele. Mas foi impedida de ir para longe logo que quase tropeçou no chão instável, coberto por pequenas pedras. Por sorte, alguém a segurou.
- Deus! Me desculpe. Eu... - Ao olhar para cima e enxergar o seu salvador, quase engoliu a língua.
Dominic Stone era um homem temido e bem sombrio. Era bonito, inteligente e calculista. Dizem que, como diversão, assumia a tarefa de matar os traidores do pai, os que mereciam e os que os desafiavam.
Dom era um homem de quarenta anos, cabelos loiros, olhos azuis e barba bem feita. Julia engoliu em seco, sentindo que estava nervosa ao ter seu corpo perto dele.
Ele a encarou de cima, com seus olhos azuis e penetrantes, fazendo-a sentir todo o meu corpo tremer. Não sabia que o encontraria. Na verdade, poucos conseguiam falar com ele. Dom evitava sair do seu castelo moderno e ir em festas. Era o herdeiro da cadeia de presidente da empresa, e dos negócios sujos.
- Deve tomar cuidado, menina. - Após se certificar de que ela não cairia mais, largou-a. - O terreno é um pouco instável para saltos tão pontiagudos.
- Certo - foi o que conseguiu dizer, dando um sorriso tímido.
Ele era mais velho que ela e, além do perigo que representava, era sério demais para o gosto de Julia. Ainda a perturbava, deixando-afora de si mesma, e com o corpo aquecido quando a olhava com tamanha intensidade.
Deixando a para trás, ele seguiu o caminho em direção ao salão. Encarando-o, pensou no que faria. Sairia ou, simplesmente, voltaria de onde veio?
***
Ela passou o evento inteiro tentando se concentrar na realidade, nas pessoas ao seu redor e no seu pai, que conversava com outros homens da sua idade, mas falhou por conta de uma única pessoa.
Dominic a encarou por quase todo o tempo. Seus olhos buscavam por ele também, o que a deixava incomodada, mas não de uma forma ruim.
A partir de um determinado ponto, afastou-se de todos. Dessa vez, ela realmente queria ir ao banheiro e ficou um bom tempo se olhando no espelho. Parecia que algo havia a possuído. Suas mãos suavam e ela não conseguia parar de pensar naquele homem a segurando.
- Deus! Ele é pior que Pablo. Por que estou assim? - perguntou-se a si mesma.
Retocou o batom vermelho, deu uma última olhada no espelho e saiu, respirando fundo, com a certeza de que aquele encontro não era importante nem a afetaria.
Claro que qualquer mulher a ser encarada daquela forma por um homem como ele ficaria mexida. Nada tão exagerado como uma atração em si, porém tinha que confessar que sempre que seus olhares se encontravam, ela se sentia atraída por ele em algum sentido.
Esqueça, Julia. Isso não significa nada e você odeia esse tipo de homem. Deve focar no plano de se livrar do seu pai e de Pablo.