Bela Tempestade
img img Bela Tempestade img Capítulo 5 Boa sorte
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Capítulo 6 Amanhã à noite. img
Capítulo 7 Não se preocupe, bailarina img
Capítulo 8 Não me provoque img
Capítulo 9 Eu conheço esse símbolo img
Capítulo 10 Preciso de respostas img
Capítulo 11 Sobre minha tatuagem img
Capítulo 12 Estou perdido img
Capítulo 13 Informações img
Capítulo 14 Convite img
Capítulo 15 Banho img
Capítulo 16 Carnaval img
Capítulo 17 Tiro trocado img
Capítulo 18 Em família img
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Capítulo 5 Boa sorte

Os olhares atraídos em minha direção conforme eu caminhava pela boate movimentada eram bons para minha autoconfiança, que estava abalada no momento. Mesmo assim, não deixei que minha linguagem corporal revelasse minha ansiedade e desconforto.

Meu trabalho era seduzir, não desabafar com os clientes.

Henry, o segurança, me seguia pelo salão, deixando claro sem dizer nada que, naquela noite, eu estava prometida para algum cliente. Os Rashid podiam não vender sexo de maneira direta, mas as dançarinas sempre eram convidadas a fazer apresentações particulares nos camarotes.

Subi as escadas que separavam a pista de dança dos camarotes e andei até estar na frente das cortinas vermelhas e douradas, translúcidas, fechadas. Ian estava me esperando atrás delas.

- Qualquer problema, é só me chamar - Henry disse e eu assenti.

- Obrigada, Henry.

- Boa sorte, Maddie.

Abri as cortinas sem pedir licença e passei por elas, as fechando atrás de mim. O visual do camarote era lindo - com cortinas idênticas às do corredor abertas, com visão para a pista de dança e paredes paralelas dividindo um camarote do outro -, mas não foi isso e nem a decoração árabe com tapetes e belas almofadas espalhadas que chamou minha atenção em primeiro lugar, porque nada era o bastante para ofuscá-lo.

Sentado confortavelmente em um dos sofás, Ian estava com uma perna jogada em cima da outra e os braços abertos sobre o encosto, como se pertencesse ali. Suas roupas eram menos formais dessa vez, uma calça jeans escura e uma regata branca que realçava os músculos definidos e as tatuagens escuras.

- Você veio - foi a primeira coisa que ele disse.

Profissional, balancei a cabeça e sorri, mesmo que o véu em meu rosto escondesse.

- É um prazer revê-lo, senhor Morales.

Ian franziu as sobrancelhas, contrariado.

- Prefiro que me chame pelo meu nome, bailarina.

Eu também prefiro que você me chame pelo meu, pensei.

- Como preferir... Ian.

O sorriso cafajeste que brotou em seus lábios mexeu mais comigo do que eu gostava de admitir. Ele podia ser irritante mas, céus, Ian era perigosamente bonito. Quando sorria, então...

- Então, Ian... - Dei alguns passos na direção dele. - Como posso servi-lo hoje?

- Ah, bailarina - Ian soprou e ficou de pé, se aproximando de mim em passos lentos e predatórios. - Você não deveria me fazer uma pergunta dessas. Minha mente consegue pensar em tantas coisas... - Ele passou a me rodear, me medindo de cima a baixo.

- Tenho certeza que o Sr. e a Sra. Rashid falaram com você sobre as limitações.

- Falaram. - Parou na minha frente e passou a ponta dos dedos pela barra do véu fino que cobria metade do meu rosto. - Não estou autorizado nem a tocar em você. Como você costuma servir os outros, bailarina?

- Eu danço para eles.

Ian assentiu.

- Bastardos de sorte - falou de forma ríspida antes de se afastar e ir até a grade, colocando as grandes mãos tatuadas sobre elas. Com o semblante frio, ele olhava para a pista de dança. - Nenhum deles é merecedor, bailarina.

- Não tenho certeza se entendi.

Em silêncio, ele gesticulou para que eu me aproximasse dele. Parei ao seu lado, com as mãos também na grade.

- Olhe para eles. - Indicou com o nariz. A pista estava movimentada, as mesas e sofás espalhados ao redor dela cheios, com bebidas caras sobre a mesa. - Você acha que eles merecem tudo o que tem? Ou apenas deram sorte de nascer em berço de ouro? Acham que estão aqui gastando milhares de dólares todas as noites enquanto se preocupam com o que vão comer amanhã ou apenas não se importam, porque qualquer coisa que não passe da casa dos milhões não passa de troco de pão para eles?

Permaneci quieta, apenas observando as pessoas lá embaixo. Diante meu silêncio, Ian veio para trás de mim e, sem encostar em mim, apoiou as mãos do lado das minhas, me cercando. Se eu respirasse fundo, encostaria minhas costas em seu tronco.

- Nenhum deles te merece, bailarina. Sei que você precisa do dinheiro e que isso eles podem te oferecer, mas saiba que nenhum deles te merece. Cobre o que for por cada dança, arranque fortunas dos bolsos desses ricaços filhos da puta, mas não deixe que eles a possuam. Você é boa demais para eles.

- É por isso que não quer assinar o contrato? - perguntei, tirando o foco de mim e colocando sobre ele. Sem sair do meio dos seus braços, me virei de frente para ele, e estávamos tão próximos que pude sentir sua respiração em meu rosto. - Não quer que eles te possuam?

Ian me fitou por longos segundos, paciente e calculista, permitindo que eu me perdesse na imensidão de seus olhos verdes. Então, ele suspirou.

- Você não se lembra de mim, não é?

Arregalei meus olhos, confusa.

- Nos conhecemos há duas semanas no subsolo.

Ian negou com a cabeça.

- Estou falando de antes, bailarina. Eu não tinha certeza que era você quando te vi pela primeira vez, dançando sobre uma plataforma, e fiquei em dúvida quando nos cruzamos naquele corredor. Mas quando você disse seu nome... Só podia ser você.

Do que ele estava falando? Ian me conhecia? Como? De onde?

- Ian... - O nome dele saiu por meus lábios como uma prece. O mundo fora daquele camarote parecia estar em câmera lenta enquanto nós dois nos encaramos e eu buscava respostas em seu olhar intenso. - Eu não...

- Se eu assinar o contrato, eles vão te recompensar de maneira justa? - questinou de supetão. Eu assenti. - Bom. Vou assiná-lo, então.

Quis sorrir, comemorar, aprovar sua decisão, mas Ian se distanciou rápido demais e eu imediatamente senti falta do perfume dele e do calor de seu corpo.

Ele andou em direção a saída do camarote. Antes de abrir as cortinas e passar por elas, olhou por cima dos ombros e disse:

- Quero te ver antes de cada luta, bailarina. Um tempo a sós, nem que sejam cinco minutos. Quero que você tenha a chance de se lembrar de mim.

                         

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