Capítulo 5 Entre dois mundos, duas mulheres...

Seis anos depois...

Vittorio caminhava com passos firmes em direção ao seu carro, sua expressão séria refletindo a intensidade de seus pensamentos. Ao abrir a porta do veículo e pegou a lancheira esquecida por seu filho no banco. Suspirando, pegou o objeto e estava prestes a fechar a porta quando o toque insistente de seu celular o interrompeu. O visor exibia o número de Rocco, seu atual Consigliere. Com uma ponta de irritação, ele atendeu a ligação, sua voz carregada de impaciência.

"O que é, Rocco?", ele questionou bruscamente.

Do outro lado da linha, a voz de Rocco soava séria e resoluta. "Os franceses estão esperando por você na reunião, Don Vittorio."

Vittorio bateu a porta do carro, frustração pintando suas feições. "Estou a caminho. Deixarei meu filho na escola e minha esposa no trabalho antes de chegar aí."

Ele estava prestes a pedir a Rocco que atrasasse um pouco os franceses quando, ao fundo, captou uma conversa na escola.

"Obrigada, senhora Smith", disse a professora. A resposta que se seguiu ressoou em sua mente como um eco de um passado distante.

"De nada."

Um calafrio percorreu o corpo de Vittorio, como se tivesse sido transportado de volta no tempo, seis anos atrás. Lentamente, ele girou sobre seus calcanhares, encontrando uma silhueta que parecia se encaixar perfeitamente em suas lembranças: cabelos castanhos, postura confiante. Ele avançou hesitante, esperando que sua mente não estivesse lhe pregando mais uma peça.

"Senhora Smith?", ele começou, uma pitada de incerteza em sua voz, "Até alguns anos atrás, eu a chamava de senhora Amorielle."

A mulher se virou lentamente, revelando o rosto que ele havia ansiado por tanto tempo. Era ela. Era Ellis Barker.

A surpresa dominou os olhos de Vittorio, enquanto as emoções se chocavam dentro dele. Por um momento, ele teve que piscar para ter certeza de que não estava sonhando. E então, diante dele, estava a mulher que ele pensou que nunca mais veria, a mulher que havia partido e levado consigo parte de sua alma.

"Vittorio?" A voz dela era quase um sussurro, como se também estivesse com medo de que fosse uma ilusão.

Ele sentiu um nó na garganta, as palavras presas. Por um instante, tudo ao redor desapareceu e era como se estivessem sozinhos novamente, como se o tempo não tivesse passado.

O olhar de Vittorio permaneceu fixo no rosto de Ellis, seus olhos traçando cada contorno como se estivesse gravando em sua memória mais uma vez. Para ele, parecia que o tempo mal havia deixado marcas em suas características. Seus lábios carnudos, prestes a formar um sorriso debochado, mantinham a mesma qualidade sedutora que sempre o atraíra. Seus olhos castanhos arredondados brilhavam com uma luz característica que era de Ellis. Ele estudou cada centímetro do rosto dela, buscando qualquer sinal de que aquilo não fosse apenas mais uma miragem provocada pelo seu desejo.

Seus olhos desceram, absorvendo sua figura. Ele não pôde deixar de notar que agora ela tinha os cabelos mais curtos, caindo um pouco além dos ombros, mas ainda mantinha aquele estilo despojado que sempre a caracterizara. Era uma mudança sutil, mas era ela, inconfundivelmente ela.

Enquanto Vittorio estava perdido em Ellis, ela também estava completamente envolvida em estudar o homem que havia amado tão profundamente. Mesmo com o avançar do tempo, Vittorio parecia ter mantido aquela presença magnética que ela recordava. No entanto, havia um subtom de diferença, uma nuance que adicionava um toque de maturidade. Talvez fossem os fios grisalhos que agora se misturavam, tímidos, em seus cabelos outrora negros, conferindo-lhe uma aura de virilidade que ela não podia evitar achar atraente.

Enquanto seu olhar percorria seu físico forte, ela notou a sutil mudança em sua postura. Ele estava ali parado, com uma intensidade silenciosa que a lembrava de um predador, pronto para atacar. Essa percepção enviou um arrepio por sua espinha, despertando emoções que ela tentara sufocar por tanto tempo. A expressão séria de Vittorio e a maneira como ele se mantinha deixaram pouca dúvida de que ele ainda era o homem que comandava respeito e irradiava poder.

Ellis teve que lutar contra a vontade de morder o lábio enquanto sentia seu coração acelerar em resposta à presença dele. Seis anos haviam se passado, mas a atração magnética entre eles não tinha enfraquecido. Se algo, tinha apenas se fortalecido, se tornado mais palpável. Ela não pôde evitar a enxurrada de memórias que invadiram sua mente – os momentos de prazer, as risadas compartilhadas, o amor que um dia dividiram.

Seus olhares se encontraram e, naquele instante fugaz, uma conversa silenciosa ocorreu entre eles, carregada de emoções que as palavras não poderiam expressar adequadamente. O mundo ao redor parecia desaparecer, deixando apenas os dois ali, travados no olhar um do outro.

Vittorio deu um passo mais próximo, sua voz um sussurro ao finalmente pronunciar seu nome, "Ellis..."

O nome saiu de seus lábios como uma prece, carregado com anos de saudade e arrependimento. Seis anos de separação desapareceram em um instante, e ele soube, no fundo, de seu coração, que não importava o que tivesse acontecido no passado, eles estavam diante de uma segunda chance.

Vittorio deu mais um passo à frente, a distância entre ele e Ellis diminuindo rapidamente. Ela não recuou, não mostrou hesitação. Pelo contrário, seus lábios já se separavam ligeiramente, ansiando pelo toque iminente. O desejo estava presente, palpável no ar carregado entre eles. O tempo parecia suspenso, apenas para eles, enquanto cada milésimo de segundo os aproximava ainda mais.

Porém, a realidade irrompeu com a voz suave e feminina que ecoou de trás de Ellis, interrompendo o momento que estava prestes a acontecer.

"Que bom que encontrou a lancheira, querido", ela disse.

Os olhares de Ellis e Vittorio se desviaram para a fonte da voz, revelando ninguém menos do que Eleonora Gattone. O impacto da presença de Eleonora desencadeou uma sequência de reações. Ela se aproximou de Vittorio, sem perceber Ellis a princípio. Mas quando finalmente se virou e viu Ellis ali, uma expressão de choque atravessou seu rosto. Era inegável a surpresa e o desconforto que ela sentia ao encontrar Ellis naquele momento.

Eleonora cumprimentou Ellis com um breve "olá", mas a atmosfera estava carregada de tensão. Ellis, por sua vez, não pôde deixar de soltar um riso debochado, achando a ironia do destino quase cômica.

Nesse instante, Ellis apontou para Eleonora e Vittorio, que estavam agora lado a lado, e disse com um toque de sarcasmo: "Mas é claro que acabaria assim, não é mesmo?"

Foi Vittorio quem finalmente quebrou o silêncio, dirigindo-se a Ellis. "Ellis, por favor, espere. Há uma explicação para tudo isso."

Ellis o encarou, seu olhar refletindo uma mistura de emoções complexas. Ela olhou para as mãos deles, onde repousavam os anéis de casamento idênticos, e então voltou o olhar para Vittorio.

"Não há motivo para explicação, Don Vittorio", disse ela com uma firmeza que escondia a dor que estava sentindo. Era demais para ela lidar com aquele turbilhão de sentimentos do passado, misturados com o choque do presente.

Ela respirou fundo e deu alguns passos para trás, afastando-se de Vittorio e da presença desconcertante de Eleonora. Ela caminhou em direção ao seu carro, sentindo a necessidade de se afastar, de processar tudo o que estava acontecendo. O passado e o presente se chocando de uma maneira que ela nunca poderia ter imaginado.

Vittorio observou-a partir, um nó se formando em sua garganta enquanto ele lutava para encontrar as palavras certas, para explicar a verdade por trás de tudo isso. Mas, naquele momento, as palavras pareciam insuficientes diante da complexidade de suas histórias entrelaçadas. Ele estava parado entre dois mundos, duas mulheres, e a escolha que ele fez só poderia ter causado aquele final.