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Desde que colocou seus pés na escola na segunda-feira, todos os olhares recaíram sobre si; mais intensos e demorados que de costume, isso quando não estavam cochichando descaradamente. Incomodada, amaldiçoou Gaston várias vezes durante o dia.
A fofoca atingiu o pico no refeitório, onde todos se reuniram para conversar sobre o que aconteceu sábado na biblioteca com outras pessoas com a mesma idade e o mesmo tempo livre para cuidar da vida dos outros e conversar sobre coisas fúteis.
Bella olhava para as pessoas ao redor com o queixo erguido, seu olhar desafiava alguém a ter a coragem de ir incomodá-la na mesa em que ela se sentou sozinha por escolha. O sanduíche de frango, o muffin de chocolate e o achocolatado permaneciam intocados na bandeja na sua frente.
Sua melhor amiga, Ali, tinha faltado naquele dia por ter acordado com muita dor no ouvido, o que fazia Bella não ter ninguém para apoiá-la na escola.
Tudo bem. Ela lidaria com aqueles canibais sozinha e faria isso sem problema algum; já estava acostumada com a mordida deles.
Os cochichos pararam abruptamente ao mesmo tempo que todos viraram a cabeça para a entrada do refeitório.
Bella não precisava olhar para saber quem tinha chegado. Ou melhor, que grupinho havia conseguido atrair a atenção da escola inteira apenas com a presença deles. Era tão previsível. Sempre os mesmos idiotas desde que nasceram e cresceram naquela cidadezinha parada no tempo.
Respirando fundo para tentar anular a nova onda de irritação, pegou o achocolatado com uma mão e tirou o canudo de plástico da lateral com a outra.
O silêncio era tanto que ela conseguia ouvir o som dos passos deles ecoando pelo local.
"Uma manada de patetas", zombou ela mentalmente, furando a embalagem com raiva como se fosse algum deles.
Ela não ergueu os olhos da mesa nem quando sentiu que os cinco idiotas pararam em frente a ela. Colocou o canudo nos lábios e tomou a bebida tranquilamente, ignorando-os.
Alguém limpou a garganta, tentando chamar sua atenção.
Bella cogitou seriamente continuar fingindo que eles não existiam, mas sabia que Gaston não iria desistir facilmente. Engoliu sua frustração com um longo gole de achocolatado antes de ergueu preguiçosamente seu olhar para cima.
Gaston estava parado do outro lado da mesa redonda, como ela previu. Estava impecável com a jaqueta azul e branca do time de futebol da escola, os cabelos negros e espessos estavam desalinhados e úmidos de um jeito considerado sexy pelo restante feminino da cidade, os olhos incrivelmente azuis, intensos; uma visão quase etérea.
Lee estava do seu lado direito, o cabelo castanho parecia estar coberto de gel, mesmo depois do treino intenso que eles deveriam ter participado; Chang mantinha seu cabelo ruivo brilhante na altura dos ombros, deixando-o solto até no verão mais quente; Will tinha seus olhos verdes em alguma garota do refeitório e James a encarava com seus olhos prateados, avaliadores, daquele jeito que Bella odiava.
- Me deixem conversar com ela a sós - disse Gaston, dispensando seus amigos com o olhar ainda fixo nela.
Bella observou os garotos se afastarem sem dizerem uma única palavra, acatando a ordem de Gaston como se ele fosse um deus. Assim que sentaram na "mesa deles", diversas garotas que eram líderes de torcida apareceram para fazer companhia.
Com uma diversão irônica, viu uma loira chamada Britney Adams sentar no colo do Will com os olhos escuros e felinos presos em Gaston. Era realmente uma pena que ela não estava conseguindo chamar a atenção dele.
- Posso me sentar? - perguntou Gaston, atraindo a atenção dela novamente para si.
Bella deu de ombros. Gostaria muito de dizer um longo e sonoro não, mas queria acabar com aquilo o mais rápido possível e fazer uma cena só pioraria a situação.
Gaston puxou a cadeira e se sentou desleixadamente, colocando os braços em cima da mesa. No mesmo instante, a bolha de silêncio estourou, começando mais uma vez as conversas no refeitório sobre os dois, só que desta vez, acompanhando o desenrolar em tempo real.
"Ótimo, era tudo o que eu precisava", ironizou, controlando a vontade de revirar os olhos.
- Eu tenho certeza que pedi para você me deixar em paz, Sullivan - disse ela, deixando a caixinha vazia na bandeja. - O que você quer agora?
Seus olhos azuis pareciam ressentidos, um sulco entre as sobrancelhas escuras surgiu, demonstrando um grau de desagrado.
Ele se ajeitou na cadeira, visivelmente desconfortável e entrelaçou os dedos, batendo os dedões um no outro nervosamente, atraindo a atenção dela para ali por alguns segundos.
- Eu pensei que você disse da boca para fora, não que estava falando sério - murmurou Gaston, desviando seu olhar para as mãos.
- Eu quis dizer o que disse. - Ela ergueu as sobrancelhas, incrédula. - O que te fez pensar que eu falei sem querer?
Ele parou de mexer os dedos abruptamente e ergueu o olhar. Piscou uma, duas vezes.
- Eu não entendo - balbuciou, genuinamente confuso e visivelmente tentando entender. - Por quê?
- Eu não gosto nem um pouco de você. - Ele estremeceu como se as palavras dela tivessem ferido-o verdadeiramente. Bella não se importou, ela sabia que estava machucando apenas o ego dele, típico de Gaston Sullivan. - Eu não quero ser sua amiga, muito menos ter uma relação amorosa, então por que eu tenho que te suportar tentando entrar na minha vida a força?
Enquanto Bella olhava para ele, com suas palavras sendo absorvidas por ambos, algo inesperado aconteceu: os olhos dele marejaram tão repentinamente, que Bella foi pega de surpresa quando uma lágrima escorreu como um raio no rosto dele, caindo na parte azulada da jaqueta do time escolar, deixando o tecido com uma cor mais escura naquela parte, como uma mancha.
Gaston se levantou tão rapidamente que a cadeira quase caiu com o movimento brusco. Ele deu as costas para ela no mesmo segundo em que ficou em pé e saiu do refeitório com passos largos e apressados, ignorando os amigos quando o chamaram e quando tentaram alcançá-lo antes que ele saísse.
Bella sabia que todos os olhares estavam nela, ainda mais intensos e questionadores do que anteriormente, mas a mente dela permanecia focada no que havia acontecido, presa naquela lágrima tão desconexa com a realidade em que vivia constantemente com Gaston Sullivan.